Ciganos e Judeus – O que Temos em Comum? - Jayme Fucs Bar
Sempre tive uma certa curiosidade sobre os Ciganos, temática muito pouco estudada e pouco conhecida pelas pessoas.
Normalmente o que sabemos sobre esse povo é que é um grupo estranho, que vende suas mercadorias nas ruas, pedem esmola, fazem mágicas como ler as mãos e trabalham em circo.
O mais interessante e curioso é que alguns Ciganos acreditam que eles são descendentes de algumas das dez tribos do povo de Israel.
Os Ciganos são membros de um grupo étnico que hoje, exatamente como os Judeus, estão espalhados por todo o mundo, sem filiação territorial ou política. Geralmente adotam a religião dos países em que vivem, mas procuram manter sua cultura milenar.
Difícil saber seu número exato, mas segundo estimativas que se divergem, acredita-se que existem entre seis e 14 milhões de Ciganos no mundo.
Os Historiados creem que sua origem vem provavelmente da Índia. Por serem excelentes artesãos em vários campos, foram trazidos para a Europa pelos exércitos tártaros no século XIV, com o objetivo de prestar serviços ao exército e assim começaram a se espalhar pelo mundo.
Eu, pessoalmente, somente conheci Ciganos quando fui viver em Belmonte, Portugal, onde vivem algumas famílias. Por ser muito curioso sobre essas temáticas, gosto de conversar com essas pessoas, principalmente com os ciganos anciões, pois elas têm muita sabedoria. Descobri nessas conversas que Judeus e Ciganos têm muito em comum.
Realmente, ouvi numa dessas conversas, que muitos acreditam que eles, os Ciganos, são descendentes de algumas das 10 tribos perdidas de Israel. Existe inclusive um fórum mundial dos Ciganos, concentrado na França, que se chama Forum Judeo – Tsigane. Esse Fórum realizou, em 2017, um encontro em Jerusalém, com historiadores e rabinos.
Eles têm até um de livro de 500 páginas: "Os Ciganos e as Tribos Perdidas do Povo de Israel — A Descoberta das Verdadeiras Raízes dos Ciganos". Nunca li esse livro, mas vou procurar encontrar e ler!
Esse grupo de ciganos são os que reivindicam a sua relação com o povo de Israel, onde eles têm por base os versículos de Ezequiel que refere às dez tribos: "E espalhai-os entre os gentios, e eles vaguearão pelas terras..." (Ezequiel, 19:19). Para eles, as palavras escritas na Torá são uma espécie de espírito profético e esta passagem está muito bem enquadrada aos Ciganos, que acreditam que eles são uma prova viva dessa profecia.
Realmente, se observarmos bem, a cultura cigana tem muitas coisas em comum com o povo Judeu. A primeira é o sofrimento comum, a estigma, o preconceito, as perseguições e o antissemitismo que sofrem os Ciganos e os Judeus através da história.
Os Ciganos também foram expulsos da Espanha e forçados a adotar o cristianismo. Muitos foram queimados na fogueira.
Também os Ciganos fizeram parte do plano final, idealizado pela besta nazista, para o extermínio deste povo da face da Terra, quando foram assassinados nos campos de extermínio, durante o Holocausto. Foram 250 mil ciganos mortos pelos nazistas durante a II Guerra Mundial.
Outra temática que temos em comum é a mobilidade e as formas criativas de adaptação aos lugares que vivem, sem esquecer jamais de procurar manter a sua cultura e a sua tradição.
Também em termos de estilos de vida e de costumes há semelhanças. Segundo os Ciganos que acreditam na conexão espiritual e histórica com o povo Judeu, eles afirmam que no passado costumavam observar plenamente as mitsvot assim como os Judeus, mas com o passar do tempo foram influenciados pelas religiões e culturas das nações onde viviam e abandonaram esses costumes e preceitos.
Na opinião deles, apenas alguns costumes judaicos que existem entre eles foram preservados até hoje. Entre esses princípios e costumes que caracterizam os Ciganos até hoje, estão certas semelhanças com o Judaísmo do período bíblico.
Até hoje eles mantêm um forte respeito aos mais velhos, sendo os conselheiros e sábios da comunidade um tipo de sinédrio, que existia no período do Talmude. Eles usam o termo "Kris", que na língua cigana significa "Conselho dos Sábios", que serve como um tribunal para decidir sobre várias questões na vida comunitária.
Assim como no Judaísmo, os Ciganos sempre tiveram o conceito de continuidade da identidade cigana, mesmo vivendo em nações e culturas diferentes para isso. Até hoje procuram casar-se somente entre si, fazendo assim cumprir as palavras da Torá: "Não te casarás com nenhum deles em tua casa, não darás a seu filho, e não tomarás a casa dele para teu filho" (Deuteronômio 7:3).
Fazem assim da mesma forma que muitos judeus costumam fazer até hoje, evitando os casamentos mistos como forma de preservar a continuidade da cultura e tradição judaica.
Os Ciganos, como os Judeus, têm um grande respeito aos seus mortos. Os Ciganos enlutados ficam sete dias sentados após o falecido. Nesses dias não se cortam, nem se barbeiam e se sentam no chão. Há também o costume de rasgar as roupas e é uma obrigação dos amigos e parentes vir consolar o enlutado.
Os Ciganos também costumavam observar a temática das impurezas. Se uma pessoa morria em casa, levavam para fora de casa tudo o que estava em contato direto com o falecido.
Os Ciganos também praticam uma adesão estrita aos alimentos permitidos e puros (wushu) e aos alimentos proibidos e impuros (marima).
É importante esclarecer que essa corrente de Ciganos, que acredita ser descendente de judeus, não busca retornar ao seio do povo judeu, converter-se ou emigrar para Israel. Apenas deseja ser reconhecida e ter orgulho de suas raízes judaicas e de sua proximidade com o povo judeu.
Os grupos que não aceitam essa tese, na verdade, têm um grande receio que essas afirmações possam repercutir no futuro trazendo mais perseguições e sofrimentos.
Eu não sei se há uma verdade histórica na crença dos Ciganos em serem descendentes do povo Judeu, pois é difícil provar tudo isso. Mas sempre me emociono ao ouvir essas histórias.
Para terminar quero contar algo pessoal que me aconteceu com uma anciã Cigana de Belmonte, uma senhora de nome Dona Carolina.
Eu sempre conversava e aprendia com ela sobre os Ciganos e as coisas em comum que eles têm com os Judeus.
Há alguns anos passei em frente da casa dela. Ela me abordou e disse: “Sr. Jayme, gosto muito do senhor e tenho um pedido a fazer.
Quando eu morrer, quero que o senhor faça o possível para comprar a minha casinha, que tanto gosto, pois sei que o senhor vai cuidar dela e assim a minha memória será guardada.”
Fiquei meio constrangido e disse: “Por que a senhora fala assim? Desejo que a senhora viva por muitos anos.” Ela riu e me disse: “Espero também, mas quando o meu dia chegar, faça meu desejo se realizar!”
Sorri, dei
um abraço
na Dona Carolina, e desejei muita saúde a ela. Um ano depois ela faleceu!E eu cumpri a promessa. Comprei a casa de Dona Carolina e vou reformá-la. A casa vai ficar linda e vou colocar na entrada da porta dessa casa uma placa em homenagem à Dona Carolina e ao Povo Cigano.
Fontes: דריה מעוז מסע אחר
אחים לצרות הגלות אליהו בירנבוים
Respostas