Resumo O processo de recepção da Bíblia hebraica no Corão revela movimentos de aproximação e de distanciamento, ora evidenciando dependência – senão da fonte escrita ao menos da tradição oral – ora marcando posição própria a partir da experiência religiosa do profeta árabe. O elemento profético, próprio das três comunidades monoteístas, tem sua origem no antigo Israel. A religião profética, entendida como religião de resistência, serve de porta de entrada para proceder o estudo comparativo entre a profecia israelita e a profecia árabe. Surpreendentes pontos de encontro podem ser detectados, mas também o peculiar das duas vertentes proféticas ganha relevância. A recepção da Bíblia hebraica, ou melhor, de alguns de seus temas em suratas corânicas, ocorre no século VII da nossa era, um mundo permeado de uma cosmovisão gnóstica, determinando a leitura de temas e tradições. A narrativa de Abraão, examinada neste artigo, revela uma interessante dinâmica de interdependência na literatura que teve sua origem na Bíblia hebraica. Tradições sobre Abraão no Corão, por exemplo, pressupõem conhecimento da narrativa de Gênesis e de materiais recolhidos no Talmude. Ao verter-se a narrativa para o árabe, acontece um novo momento de releitura no encontro com o novo público. Esse produto final, ou parte dele, pode circular novamente na comunidade judaica, como o parece evidenciar uma passagem na literatura rabínica. O diálogo tenso entre o profeta árabe e a comunidade judaica em Medina também marcou a história da recepção; procura-se entender as posições diante de outro, assumidas nessas referências corânicas, a partir do contexto histórico do surgimento da comunidade islâmica primitiva. Palavras-chave: História da recepção – Bíblia hebraica – Corão – Profecia israelita e profecia árabe.

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