As dez pragas famosas que estão registradas no livro do Êxodo não devem ser vistas apenas como um conjunto de ocorrências sobrenaturais que destruiu o império egípcio cerca de 3.300 anos atrás. A Torá é um projeto para a vida, um manual para o desenvolvimento da raça humana, não apenas um registro de contos antigos. Os episódios registrados na Torá representam contos espirituais atemporais que ocorrem continuamente no coração de cada homem.
Como aplicar a história remota das dez pragas na nossa vida pessoal?
Anatomia da alma
A Cabalá ensina que cada alma humana é composta de dez blocos de construção, dez características que formam sua personalidade interior. Os três primeiros formam a identidade do inconsciente da alma e os seus poderes cognitivos. Os sete finais constituem a personalidade emocional da alma.
Estas dez características, também conhecidas como "dez sefirot", dez luzes, ou dez pontos deenergia, estão representados na Cabalá da seguinte maneira (aqui relacionados às 10 pragas):
10 - Keter – Super consciente - Morte dos primogênitos
9 - Chochmah – Concepção - Escuridão
8- Binah – Inteligência - Gafanhoto
7 - Chessed - Amor - Granizo
6 - Gevurá – Rejeição – Bolhas Ardentes
5 - Tifferet – Compaixão - Peste
4 - Netzach – Ambição – Animais Selvagens
3 - Hod – Submissão - Piolhos
2 - Yesod- União - Sapos
1 - Malchut – Confiança - Sangue
A cada um de nós foi dada uma escolha na vida.
Podemos refinar e reparar esses dez atributos de forma que eles expressem a nossa luz interior divina, ou podemos perverter e corromper esses atributos, usando-os de forma insalubre e imoral.
O último caminho foi escolhido no Antigo Egito, através de seu programa sistemático de eliminação demoníaca de todo o povo judeu. A nação egípcia perverteu todos os dez atributos de sua alma. A energia negativa gerada pela perversão de tantos espíritos humanos voltou ao Egito na forma das dez pragas que se abateram sobre o país.
Em nossas vidas pessoais, o Egito reflete um estado de disfunção psicológica, na qual um ou muitos dos atributos da alma tornam-se distorcidos e disfuncionais, o que dificulta a capacidade de um ser humano para uma verdadeira auto-realização e satisfação. Isto é indicado pelo nome hebraico para "Egito" (Mitzraim), que pode ser traduzido como "inibições" ou "restrições" (Meitzarim). Quando deixamos de enfrentar nossos próprios demônios, nossos atributos pervertidos, isso pode voltar contra nós, na forma de pragas psicológicas.
As Dez Pragas, portanto, correspondem às Dez Sefirot (de baixo para cima, como na tabela acima).
Sangue - Confiança Destrutiva
A primeira praga, na qual o rio Nilo se transformou em sangue, foi um símbolo físico da confiança destrutiva que se tornou a marca do Egito; em vez da confiança que constrói o caráter espiritual e promove a sensibilidade com os outros. Quando a percepção de confiança torna-se verdadeiramente corrupta.
O rio Nilo encarnando a fonte da confiança e da segurança egípcia, se transformam em sangue refletindo o estado de uma nação perversa que transforma a sua confiança em sangue.
Sapos - Intimidade Fria
A segunda praga, em que enxames de sapos inundaram Egito, simboliza a intimidade fria e desapaixonada que caracterizam um homem vivendo num Egito psicológico.
Rãs são criaturas de sangue frio que depositam seus ovos em buracos frio e úmidos. Devido a isso, e ao fato de que os ovos depositados dessa forma não recebem a proteção dos pais, refletem na Cabalá um estado emocional de desapego, apatia e frieza.
Esta condição rouba um ser humano da capacidade de experimentar a intimidade emocional genuína com qualquer outra pessoa - um cônjuge, um filho ou um amigo. Quando perguntado "Qual é a diferença entre a ignorância e a apatia?" A personalidade “sapo” responde: "Eu não sei e não me importo."
Piolhos - Submissão doentia
A terceira praga, em que o pó do Egito se transformou em piolhos, reflete os sintomas de submissão doentia.
O atributo de submissão, como todos os atributos da alma, tanto pode ser produtivo ou destrutivo.
Permanecer para sempre um estudante humilde das lições da vida é um dos traços mais nobres do caráter que um indivíduo pode ter. A capacidade de submeter o ego a uma verdade mais elevada é a base para todo o crescimento espiritual, assim como a capacidade de confessar um erro ou uma irregularidade. "Que minha alma seja, como a poeira", é uma oração diária judaica, expressando nosso desejo de permanecer humilde na presença dos mistérios da vida.
A submissão destrutiva "egípcia" é uma humildade que esmaga o espírito e impede o entusiasmo pela vida. Neste tipo de submissão, onde se pensa de si mesmo como uma criatura sem valor, a percepção do eu como poeira inútil se desenvolve em piolhos que desmoralizam e aviltam a vida. Como piolhos, este tipo de humildade suga o sangue de uma pessoa, privando-o da sua vitalidade e fluxo energia.
O rabino Aaron de Karlin expressa isso com estas palavras: "A depressão não é um pecado, mas o mal que a depressão faz, nenhum pecado pode fazer."
Feras Devoradoras - Ambição Selvagem
A quarta praga, na qual vários animais devoraram o Egito, é o símbolo físico da ambição selvagem.
Ambição é um dos maiores presentes da vida. É o motor que impulsiona o homem a alcançar a grandeza e fazer a diferença no mundo. No entanto, se esse traço de caráter não for refinado, as nossas ambições podem nos transformar em "bestas devoradoras" que esmagam e destroem as pessoas que atravessam nosso caminho no cumprimento das nossas metas.
Peste —Compaixão Dissimulada
A quinta praga, uma epidemia que aniquilou o gado dos egípcios, serviu como a personificação física do atributo da compaixão dissimulada, que, como uma epidemia, prejudica as pessoas de forma silenciosa e discreta.
O que é compaixão? Os textos da Cabalá dizem que a compaixão é mais poderosa e duradoura que o amor. O amor geralmente ignora as falhas de um ente querido, por isso, quando aparecem de verdade, podem enfraquecer o amor, se não destruí-lo totalmente. A compaixão, por outro lado, leva em consideração todas as falhas do indivíduo e estende o coração ajudando e dando a mão de qualquer maneira.
Esta é a compaixão moral, a capacidade de uma alma de experimentar a dor e as necessidades do outro ser humano.
O ‘egípcio’ é astuto, esperto e enganador, e sua qualidade de seduzir compassivamente é usada a fim de explorar as fraquezas das pessoas para fins egoístas e objetivos destrutivos. Quando se usa a compaixão dessa forma, inflige danos a uma pessoa no caminho com o silêncio mortal de uma epidemia.
Bolhas Ardentes - Rejeição Brutal
A sexta praga, em que as brasas de um forno quente foram lançadas sobre a terra se transformando em furúnculos na pele da população egípcia, é o símbolo físico da rejeição cruel.
Na Cabalá, o fogo incorpora a capacidade da alma de rejeitar. Assim como o fogo, um ato ou uma palavra de rejeição pode queimar ou até mesmo demolir aquele que é rejeitado. Uma conexão adicional entre o fogo e a rejeição reside no fato de que o fogo anseia em subir, afastando-se de terra. A rejeição também constitui um ato de viajar para cima em seu próprio mundo, removendo-se das pessoas e acontecimentos ao seu redor.
No entanto, uma alma saudável precisa saber como rejeitar assim como deve saber abraçar. Dizer não a uma criança mimada ou uma oferta de negócio antiético é um fogo saudável. Destrói o negativo, a fim de construir o positivo.
No entanto, quando a nossa capacidade interna de rejeição se transforma em ódio, amargura e crueldade, as brasas da nossa alma se tornam uma força destrutiva. Como furúnculos, que infectam as nossas vidas e as vidas das pessoas ao nosso redor.
Granizo – Amor Congelado
A sétima praga, na qual granizo caiu sobre o Egito, é um símbolo do amor egoísta.
Se o fogo simboliza a rejeição, a água, naturalmente descendente de um plano superior a um plano inferior, personifica as qualidades de generosidade e bondade. Na Cabalá, o fluxo do amor é comparada a um fluxo de água, irrigando e nutrindo a alma de um ser humano com sua vitalidade refrescante.
No entanto, um homem que se encontra na escravidão "egípcia" seu amor é congelado, baseado inteiramente em motivos egoístas. O fluxo do amor torna-se frio e gelado como granizo, prejudicando seus entes queridos em vez de alimentá-los.
De Coração à Mente
Não é por acaso que os primeiras sete pragas são registradas na Torá numa ordem, enquanto que as três últimas são registrados noutra.
As primeiros sete pragas refletem a perversão egípcia das sete emoções.
As últimas três representam a corrupção mais grave das faculdades intelectuais e a super- dimensão consciente da alma egípcia. Quando as emoções e instintos ficam prejudicados, as faculdades mentais saudáveis oferecem esperança para a cura. No entanto, quando a mente começa a jogar nagativamente, o caminho para a recuperação torna-se dolorosamente difícil.
Gafanhoto - Inteligência Pervertida
A oitava praga, em que gafanhotos invasores devoraram a vegetação no seu caminho, serve como um símbolo das conseqüências destrutivas de uma mente corrompida.
A capacidade de investigação intelectual e escrutínio permanece o dom mais precioso e singular da raça humana. Ela nos permite explorar o universo, melhorar nossa vida e descobrir a vocação moral da família humana.
No entanto, o mesmo poder pode servir como uma ferramenta para racionalizar todo o mal praticado sob a face do sol, e para justificar cada estilo de vida destrutivo. Como o gafanhoto que consumiu todas as instalações existentes do Egito, deixando em seu rastro um solo estéril, a mente corrupta pode arrancar toda a estrutura moral existente, deixando em seu rastro uma sociedade desolada e desprovida de valores espirituais e princípios absolutos. Essa é a tragédia do Egito, como o intelectualismo desequilibrado, onde uma pessoa passa a ter um a mente tão aberta que o seu cérebro cai para fora.
Escuridão - Uma Mente Trancada
A nona praga, em que a escuridão envolveu todo o Egito, reflete a incapacidade da alma "egípcia" para realizar sua capacidade de concepção: o poder da mente em conceber uma idéia nova e original, que era inacessível até então. Como? A mente afiada percebe suas limitações e fronteiras, suspendendo seu ego intelectual, e se abrindo para uma luz mais elevada. Assim iluminando o vácuo recém-criado.
Quando se é arrogante e presunçoso, ele priva sua mente da capacidade a experiência de iluminação, obrigando-se a permanecer nas trevas, para sempre restrito a uma visão estreita da vida.
Morte do primogênito - Morte da Identidade
A décima e última praga, a morte de todos os primogênitos egípcios, foi a mais devastadora de todas. Ela refletia o fato que o abuso egípcio da alma não só afetam suas faculdades conscientes, mas passou a distorcer e destruir o seu superconsciente também.
Na Cabalá, o primogênito é um símbolo dos instintos e motivos da alma que se encontram abaixo da superfície da consciência. Essa dimensão da personalidade é naturalmente mais difícil de violar, porque ela está escondida e inacessível. Mas um estilo de vida de dependência permanente e abuso acaba por provocar a morte do primogênito, ou a morte do elemento superconsciente da própria alma.
Esta foi a "bala" final que pôs fim ao ciclo vicioso dependência e abuso egípcio. O povo judeu foi libertados e seguiu seu caminho para receber os Dez Mandamentos.
Quais são os Dez Mandamentos? Eles correspondem às dez pragas. Assim como as pragas refletem a perversão dos dez faculdades da alma, os Dez Mandamentos representam o caminho da cura espiritual em cada uma dessas dez faculdades, permitindo que todos os dez expressem a harmonia e o esplendor da essência divina de uma pessoa.
Fonte: Coisas Judaicas
Obs.: Muitos de nós sofremos essas influências em nossas vidas. É preciso muita Parashá para combatê-los. Muita dedicação, muito conhecimento, muito ensino e muita prática.
80 % dos judeus residentes no Egito foram contaminados por essas influências. E muitos hoje, estão indo pelo mesmo caminho, principalmente os assimilados religiosos ávidos por dinheiro. Desprezam o pobre por que acham que esse não tem nada para dar e acolhe o rico pelo seu prestigio social. Assim eram os judeus dos palácios egípcios.
Shavua Tov!
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