As feministas islâmicas


Há uma jihad totalmente nova que, há alguns anos, gira o mundo: vai do Marrocos ao Irã, passando pelos Estados Unidos, pela Malásia, a Turquia e o Egito. As suas armas não são kalashnikovs, mas livros e conhecimento. Os seus porta-bandeiras não são kamikazes, mas estudiosas persistentes e determinadas.

A "gender jihad", a batalha de gênero que as muçulmanas estão combatendo para afirmar o seu papel dentro da sociedade, é a protagonista de dois livros que chegaram às livrarias [italianas] há poucas semanas. "Femminismo islamico: Corano, diritti, riforme", de Renata Pepicelli (Ed. Carocci, 160 páginas) e "Teologhe, musulmane, femministe", de Jolanda Guardi e Renata Bedendo (Ed. Effatà, 160 páginas), relatam como duas ideias aparentemente distantes – a do feminismo e a do Islã, justamente – se misturaram nos últimos anos para dar vida a um movimento novo e variado que está animando o debate cultural no Ocidente, assim como na África e na Ásia.

A reportagem é de Francesca Caferri, publicada no jornal La Repubblica, 07-04-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Os livros nos explicam que, diferentemente do que ocorre na Europa e nos EUA, onde a palavra feminismo saiu de moda, no mundo muçulmano essa ideia vive uma nova primavera: nascido nos anos 90 em resposta ao reforço de um islamismo conservador e retrógrado (não por acaso, nota Pepicelli e confirmam as notícias destes dias, ele é mais forte no Irã) e acentuado após a representação violenta do Islã causada pelos atentados do 11 de setembro de 2001, o feminismo islâmico se propõe a redescobrir o papel e os direitos das mulheres não em contraposição ao Islã, mas em seu interior.

E faz isso partindo de uma releitura dos textos sagrados – o Corão e os Hadith – e evidenciando neles todas as liberdades e os direitos que Maomé e os seus primeiros seguidores garantiram às mulheres: papel de primeiro plano na família, na divisão dos bens, na educação dos filhos, na sociedade. E também o faz redescobrindo as mulheres fortes do Islã das origens, que encarnaram e transmitiram esses direitos: de Khadjia e Aisha, mulheres do Profeta, a Umm Salama, sua conselheira, até Zaynab, sua filha.

Essas figuras, o seu papel e, com elas, a mensagem de libertação que Maomé trouxe ao sexo feminino, segundo as feministas islâmicas, foram progressivamente colocadas de lado por interpretações sempre mais conservadoras: agora é o momento de redescobri-las e restituir às mulheres o seu lugar original.

Quem chega a essa conclusão comum são movimentos e personalidades profundamente diferentes uns dos outros, por origens geográficas e formação. Sujeitos que muitas vezes custam a se reconhecer no conceito de feminismo, por causa da conotação ocidental que a palavra assumiu ao longo do tempo, mas que, no fim, aceitam essa etiqueta e dão a ela um sentido novo: as marroquinas Fatema Mernissi e Asma Lamrabet, ambas comprometidas, mesmo que de modos diversos, a redescobrir o valor libertador do Islã das origens. Amina Wadud, teóloga afroamericana, na vanguarda para levar as mulheres a um papel de primeiro plano nas mesquitas. E personagens enigmáticos como Nadia Yassine, porta-bandeira da ala mais conservadora do movimento, aquela que se reconhece nos partidos islâmicos, como o seu al-Adli wa'l Ihsan do Marrocos, Hezbollah no Líbano e Hamas nos Territórios Palestinos: mas que exigem para a mulher um papel de primeiro plano na sociedade.

Os livros têm como objetivo relatar tudo isso: Pepicelli o faz com uma revisão rápida que percorre as origens históricas do movimento e falando sobre suas expoentes mais famosas, suas histórias pessoas e suas ideias, colocando bem em evidência como o mundo islâmico é um universo aberto, diverso e muitas vezes contraditório em seu próprio interior (ao contrário da imagem que muitas vezes é transmitida pela mídia). Guardi e Bedendo são mais técnicas e se concentram sobre o discurso teológico em sentido estrito: com uma flechada final na Itália, país em que o debate sobre essas temáticas está, culpadamente, atrasado.

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