Vários colegas do Conexão Israel estão cobrindo, com a maior raça, o desenrolar dos acontecimentos por aqui. De novo, Hamas lança mísseis (e a mídia mundial fica quieta), depois joga mais mísseis (e a mídia continua quieta). Daí Israel faz ofensiva aérea (e a mídia cobre), depois Israel convoca reservistas (e a mídia urra de alegria: agora sim há assunto para uma manchete), daí é possível que Israel tenha que viver de novo o pesadelo de entrar em Gaza por terra – e o mundo aplaude. Não em prol do país, mas pela iminente oportunidade de voltar a execrar Israel, justificando todas as coisas terríveis que pensou e falou sobre ele sem nenhuma motivação nos últimos meses. Agora sim haverão motivos. Ah, se haverão. E assim caminhamos.

Enquanto isso, nos bastidores, a vida israelense entra num compasso sinistro.

Segunda-feira, dia 7, recebi três mensagens no Whatsapp com teor assustador. Um deles relatava uma tentativa de sequestro de uma criança judia em uma praça pública. O segundo tinha jeitão de comunicado da polícia, alertando a população para risco de sequestros. O terceiro afirmava ter havido bombardeios em Jerusalém e em Modiin. Mais tarde, soube ser tudo boataria e alarmismo, dois temperos clássicos para momentos sombrios.

Depois de um dia de tensão assoberbada, terça-feira viveu-se a tensão justificada. À tarde, uma amiga brasileira casada com um israelense soube que seu marido, reservista, foi convocado. Ficará “estacionado” em Modiin. Às três da tarde daquele dia acalorado, ela se pôs a passar a ferro a farda dele, intocada há anos. Ela mora em Rehovot, no centro do país, onde também soou o alarme antiaéreo. Mas pode ter sido um erro, como aconteceu em várias cidades nos últimos dias.

Outra amiga brasileira, moradora de Ashdod, estava no ponto de ônibus quando ouviu a sirene. Essa cidade do sul de Israel sofre um bocado com os foguetes, pela proximidade com Gaza e pela concentração urbana. Não deu tempo de correr pra um abrigo antiaéreo, onde ela e sua família têm passado muito tempo nos últimos dias, mas deu para tirar uma foto do céu no momento em que o foguete foi interceptado pelo escudo antiaéreo e explodiu nos ares. Meu namorado viu essa mesma cena na quarta-feira de manhã, mas não quis fotografar: estava, junto com um bocado de gente, enfiado embaixo de uma ponte na principal avenida de Tel Aviv, olhando pros céus e esperando os minutos que sucedem o alarme, nos quais a orientação do exército é nos mantermos protegidos (na medida do possível). Já um dos filhos dele, menino doce de 13 anos, teve seu momento “a guerra é aqui” noite dessas, em que entrou em pânico quando a  cadelinha dele deu a latir esquisito para a porta do apartamento. E a abriu com uma faca na mão. Deu de cara com o medo dele, nada mais.

Para falar de mim, não achei muito emocionante, nem pro bem, nem pro mau, ter sido obrigada a correr pro abrigo antibombas (miklat) do meu prédio quando o alarme soou aqui na suburbana Raanana, um pouquinho antes da semifinal da Copa. Acho que, de alguma forma, o notíciário nos ajuda a criar uma casca que nos deixa um pouco insensíveis, sabe como? Vi que uma outra moça brasileira desceu nessa semana ao seu miklat, não para fugir de bomba, mas para dar uma geral para quando esse momento chegasse. Reclamou da sujeira e dos colchões mofados, do monte de tranqueira que os moradores do prédio acumulam ali, utilizando-o ano afora como depósito. Fez uma pergunta para outros brasileiros que participam da página, passando uma lista do que acha que se deve levar pra lá e pedindo dicas do que poderia estar faltando. A que mais impressionou a novata que vos escreve foi a de trazer brinquedos, canetas e revistinhas para as crianças.

Ah, as crianças!

Em seguida, publicaram outro post, comentando sobre o que dizer a elas. Dicas sobre como explicar as sirenes. Como explicar que elas precisam correr para o subsolo empoeirado e encarquerado do prédio e o porquê de não poderem ir para o acampamento de férias nos próximos dias. E, o mais difícil, explicar a elas por que não é preciso ter medo.

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