Epicurismo - Fonte: www.silvino.blog.br

O epicurismo foi uma das respostas dadas pelas escolas filosóficas, ao momento histórico em que vivia a grécia da época helenística. A primeira em ordem cronológica, surgiu em Atenas por volta do fim do século IV a.C. Seu fundador, Epicuro, nasceu em Samos em 341 a.C. Tendo ensinado em Cólofon, Mitilene e Lâmpsaco transferiu sua escola para Atenas. Os sucessores de Platão na Academia e de Aristóteles no Liceu, estavam deturpando os ensinamentos de seus mestres, oque não passou despercebido por Epicuro, que sabia ter algo novo pra dizer. Embora o passado de importância das escolas de Platão e Aristóteles estavam próximas no tempo, estavam distantes do espírito dos novos eventos. Uma possibilidade de revolução espiritual para Epicuro.

A novidade revolucionária, que acompanhava o pensamento de Epicuro, começava pelo espaço dedicado à escola: um prédio com um jardim nos subúrbios de Atenas. Longe do barulho da cidade, o silêncio do campo se adequava melhor à mensagem do filósofo.

Proposições gerais do filósofo do jardim:

a) A realidade é perfeitamente penetrável e cognoscível pela inteligência do homem.

b) Nas dimensões do real existe espaço para a felicidade do homem.

c) A felicidade é falta de dor e perturbação.

d) Para atingir essa paz e esse felicidade, o homem só precisa de si mesmo.
e) Não lhe servem absolutamente a cidade, as instituições, a nobresa, as riquezas, todas as coisas e nem mesmo os deuses: o homem é perfeitamente “autárquico”.

Como escreve Giovanni Reale: “no contexto desta mensagem, todos os homens são iguais, porque todos aspiram à paz de espírito, todos têm direito a ela e todos podem atingi-la, se quiserem”. Em consequência disso,para nobres ou não, livres ou não, homens ou mulheres e até prostitutas em busca de redenção, os jardins estão de portas abertas.

O movimento epicurista não era de cunho intelectualista mas, um modo de vida fundamentado na razão. À partir dos jardins, irradiava um movimento comparado ao missionário pois, a casa funcionava como um centro de propaganda da filosofia epicúreia.

Se movermos o movimento do epicurismo para o campo da fé, poderemos dizer que a fé epicúreia é uma fé ligada à dimensão do mundo natural e físico, que nega toda transcendência, a metafísica da segunda navegação de Platão e todo desenvolvimento Aristotélico.

A tripartição da filosofia em “lógica”, “física” e ética” é adotada por Epicuro, em que a lógica estabelece as leis segundo as quais reconhecemos a verdade; a física estuda a constituição da realidade; a ética estuda a felicidade e os meios para alcançá-la. A existência das duas primeiras dá-se em função da terceira.

Para Epicuro os sentidos eram os “mensageiros do ser” e, só os sentidos podiam captar toda a verdade do ser de modo infalível. Temia que se descobrise uma única sensação metirosa, por tornar todas elas iguais. Apresentava os seguintes argumentos para a veracidade absoluta de todas as sensações:

1. A sensação é uma alteração e, em consequência, passiva; é produzida por alguma coisa da qual é o efeito correspondente e adequado.

2. A sensação é objetiva e verdadeira, porque é produzida e garantida pela própria estrutura atômica da realidade. As coisas emanam de si complexos de átomos que constituem “imagens ou simulacros”, as sensações são exatamente esses simulacros penetrando em nós.

3. A sensação é a-racional, incapaz de retirar ou acrescentar qualquer coisa a si mesma sendo, por isso, objetiva.

O segundo critério de verdade para Epicuro são as “prolépses”, “antecipações” ou “pré-noções”, as imagens mentais que as coisas deixam registradas nas mente, como memória da experiência com o objeto que é exterior. Na futura presença do objeto ou, até mesmo na sua ausência, a sensação participa com a impressaõ deixada em nossa mente por ocasião da primeira experiência; é a prolépse.

Prazer e dor são o terceiro critério de verdade pelas mesmas razões que são as sensações. Por ser critério de distinção entre ser e não-ser, verdadeiro e falso, é também critério de escolha entre bem e mal e, portanto, critério de ação ética.

A evidência imediata do valor de verdade pelas sensações, prolépses e sentimenos de prazer e dor, são possibilidades de exclusão de enganos pelos nosso sentidos por quê as sensações não podem nos enganar. As coisas não podem mostrar oque não têm, nem acrescentar ou retirar algo de si mesmas. Mas o raciocínio não pode ir direto ao ser porque é uma operação mediada pelos sentidos, assim pode ocorrer o engano da opinião que nasce dessa mediação.

Para distinguir as opiniões verdadeiras das falsas, Epicuro determina que são verdadeiras as opiniões que::

1. Recebem testemunho comprobatório, confirmado pela experiência e evidência.

2. Não recebem testemunho contrário, não recebem desmentido da experiência e da evidência.

São falsas as opinões que:

1. Recebem testemunho contrário.

2. Não rcebem testemunho probante.

A física epicúreia

Para Epicuro a evidência é o parâmetro de reconhecimento da verdade. Trata-se da evidência empírica do ser, e não como este aparece à razão. Mas essa evidência é insuficiente e inadequada para corroborar os conceitos básicos da física epicúreia. Átomos, vazio e queda dos corpos não são evidentes por si só, por não serem sensorialmente perceptíveis. Mas Epicuro tenta contornar o problema argumentando que essas coisas são opinadas e supostas para explicar os fenômenos por estarem de acordo com eles. Porém muitos outros fenômenos poderiam se beneficiar da falta de testemunhos contrários. A resposta não tem, pois, validade lógica.

Diz Epicuro: “Se não nos perturbasse o pavor dos fenômenos celeste e da morte, algo que nos toca de perto, e se não perturbasse o desconhecimento dos limites dos prazeres e das dores, não teríamos necessidade da ciência da natureza”. Essa visão do objetivo das ciências naturais estabelece a necessidade da fundamentação da ética. Essa é a finalidade da física. Epicuro procura uma visão geral da realidade e seus princípios. Não cria uma nova ontologia. Busca nos pré-socráticos as figuras teoréticas necessárias à sua proposta materislista.

A Física epicúreia se fundamenta em:

a) “Nada nasce no não-ser”; pois tudo poderia gerar-se à partir do nada. “Nada se dissolve no nada”; pois tudo poderia se reduzir ao nada, As duas proposições negadas seriam um absurdo.

b) A totalidade da realidade é constituída essencialmente por dois componentes: os corpos e o vazio. A existência dos corpos é provada pelos próprios sentidos. O espaço é intuído à partir dos corpos. O espaço não é um absoluto não-ser mas, propriamente “espaço”. Nada existe fora das duas possibilidades.

c) Opondo-se a Platão e Aristóteles, Epicuro concebe a realidade como infinita. Totalidade infinita de corpos e vazio.

d) Alguns corpos são compostos, outros são simples e indivisíveis. A solução atômica é necessária, pois do contrário, levaria à admissão da divisibilidade dos corpos ao infinito e à dissolução ao não-ser que para Epicuro é uma absurdo.

Difrerenças entre as concepções de átomos dos antigos atomistas e Epicuro:

1. Na concepção dos antigos as cracterísticads fundamentais do átomo eram a “figura”, a “ ordem” e a “posição”. Para Epicuro as características são a “figura”, o “peso” e a grandeza”. As diferentes formas atômicas explicam as diversas qualidades fenomênicas. A grandeza dos átomos também participam na diversidade.

2. Para Epicuro todos os átomos são indivisíveis física e ontologicamente. No entanto, pelo fato de serem corpos dotados de figura, portanto de extensão e grandezas diversas, implicam que eles tenham partes. Mas não são partes separáveis entre si ontologicamente, mas lógica e idealmente por serem indivisíveis. Mesmo a grandeza das partes atômicas são limitadamente redutíveis para não contrariarem o princípio da redução ao nada. A esse limite de redutibilidade Epicuro chama de “mínimo”, que é a unidade de medida do átomo, do espaço, do tempo, do movimento e da queda dos corpos. Unidade de medida analógica.

3. A terceira diferença do modelo atômico epicúreio é em relação ao movimento e exige imaginação para visualiza-lo. Esse movimento se dá de cima para baixo; um movimento de queda no infinito devido ao peso dos átomos, sem que a diferença de peso implique na velocidade que se equipara à do pensamento. Epicuro introduz a teoria da declinação dos átomos ( clinámem) para explicar que os átomos podem se desviar a qualquer momento e em qualquer ponto do espaço para encontrar outros átomos.

Epicuro precisa ajustar toda sua proposta de forma que não fira o conceito de liberdade. No mundo materialista anterior, tudo era definitivamente estabelecido pela necessidade unversal. Mas num mundo onde se pretende que a vontade humana deva ser dirigida pela ética e a moral, a teoria do destino não pode se firmar. Não há lugar para tamanha contradição por serem excludentes. Se há uma, não pode existir a outra. Mas no mundo moral de Epicuro o sábio se faz na liberdade da vontade própria. Mas a contradição em Epicuro não está ausente de todo. A queda dos átomos nesta teoria, sugere que eles são gerados no não-ser, oque contradiz a base da filosofia epicúreia, que predica que, “do nada,nada procede”. Logo o mundo físico de Epicuro é um mundo de casualidade, pois não está vinculado a leis; e a liberdade só pode ser encontrada no mundo superior do espiritual e não no mundo físico.

Existe infinitos mundos pois, infinitos são os princípios atômicos. Nessa infinidade de mundos há mundos iguais e diferentes deste nosso. Essa infinidade de mundos acontece na infinidade dos tempos infinitos. Todos nascem e dissolvem-se lenta ou rapidamente. Como são infinitas as possibilidades neste munfo infinito, todas elas são presentes e o mundo em si, permanece sempre o mesmo com todos os seus componentes. Mas nenhuma inteligência ou finalidade está presente neste configuração do universo, pois o mesmo é o resultado do fenômeno do clinámen, fortuito e casual.

A alma é um agregado de átomos. Esses são em parte ígneos, aeriformes e ventosos que constituem a parte irracional e lógica da alma, a outra parte é de átomos diversos, sem nome específico e constituem a parte racional. A alma não é eterna, mas mortal. Consequência do materialismo do sistema.

Para Epicuro os deuses são reais, mas não se ocupam dos homens. Vivem nos “intermundos”, falam uma língua parecida ao grego, que é língua de sábios. São numerosos e transcorrem a vida em alegria, nutridos por suas sabedorias e companhias. Para o filósofo, os conhecimento que temos dos deuses é evidente e incontestável, possuído por todos, em todos os tempos e lugares e, produzidos por eflúvios e simulacros que provêm deles como conhecimento objetivo.

Na filosofia epicúreia há problemas sem solução lógica. As dificuldades estão nas bases dessa proposição filosófica. Para Epicuro existem os corpos e o vazio mas, os deuses, que são imortais, não podem estar sujeitos à corrupção dos corpos e, no entanto, não podem também pertencer ao não-ser, que em Epicuro é o vazio propriamente. A solução está em pôr os deuses numa situação média entre as duas possibilidades. Os deuses passam a ser “quase corpos” e “quase almas”. É uma solução precária, para justificar o materialismo da teoria. O estatuto diferenciado dos deuses leva em consideração a condição especial da quase matéria dos compostos dos deuses. Epicuro justifica a condição imortal divina como o movimento eterno dos eflúvios nos deuses. Assim os “átomos”especiais que “preenchem” o “campo” ou simulacro de um deus são eternamente substituídos por outros. Isso de forma alguma contorna o problema e, muito menos o resolve.

A ética epicuréia

Para Epicuro, se não há intermediários entre os corpos e o vazio, o bem deve ser, necessariamente, material. O pazer está entre as duas extremidades de uma escala de excessos: entre a dor e a euforia; na quietude. As dores psíquicas são superiores às físicas pois, mais duráveis nas ressonâncias interiores. Entre a (aponia) dor no corpo e a (ataraxia) perturbação da alma, está o verdadeiro bem, que deve ser buscado pelo homem. A natureza é o bem imediato a ele e, é nela que ele deve encontrar o seu bem, que é o seu prazer. Esta é uma opção refletida pela razão humana que se apóia numa ética racional e exige a liberdade da açaõ verdadeiramente moral. As antecedências do prazer epicúreio, no caminho de busca do bem, são uma vida exercida sob os princípios do comedimento. O prazer não está nas festas orgiásticas e nos excessos de todo tipo mas, na sobriedade que perscruta as consequências de cada ação e decide pela melhor escolha. A melhor escolha é a que expulsa as falsas opiniões que levam ao sofrimento da alma; não elege o gozo em detrimento da sabedoria que evita a dor. Portanto mais que na liberdade, está na responsabilidade de guiar a vontade para atingir o bem.

Para atingir a aponia e a ataraxia Epicuro distingue:

1. Prazeres naturais e necessários.
- entre esses prazeres estão incluídos apenas aqueles que são nescessários à conservação da vida, que são os únicos verdadeiramente válidos. Incluem-se neles: comer quasndo se tem fome, beber quando se tem sede e, repousar quando se está cansado.O desejo e o prazer do amor são fontes de perturbação da alma e portanto, estaõ fora do grupo.

2. Prazeres naturais e não necessários.
- neste grupo se encontram as variações supérfluas dos prazeres que conservam a vida como:comer bem, beber com refinamento, vestir-se com elegância etc.

3. Prazeres não naturais e não necessários.
- neste grupo se encontram os prazeres que são totalmente dispensáveis às nescessidades da conservação da vida como riqueza, poder, honra etc.

Os prazeres do primeiro grupo são os únicos que podem ser satisfeitos, pois têm por natureza um preciso limite e consiste na eliminação da dor. Os do segundo grupo consistem no grau de prazer que podem oferecer e justamente por isso, podem causar danos e dor. Os do terceiro grupo são totalmente dispensáveis para a vida e outra coisa não oferecem que não seja a dependência e a dor psicológica. Toda a necessidade humana está em satisfazer a dor imediata que causa a fome, a sede e a falta de abrigo. A felicidade pois, está em refrearmos nossos apetites e desejos do supérfluos dispensáveis porque bastamos-nos a nós mesmos e nisso se encontra a maior riqueza e felicidade.

Os males:

Físicos – se são leves, são suportáveis e não interferam de todo em nossa possibilidade de felicidade. Se é agudo, passa logo. Se é agudíssimo, conduz logo à morte, o que elimina toda a dor.

Psíquicos – são erros e produtos de opiniões falazes da mente. A observância de uma vida nos princípios da moral epicuréia é o remédio para os males da alma.

Morte – a morte só é um mal quando nutrimos falsas opiniões sobre ela.A morte não é mais que a dissolução dos compostos alma e corpo. Os compostos físicos se degradam no ambiente e toda consciência cessa, não restando nada do homem. Não restando nada do homem, nada pode estar no seu além, assim nenhuma expectativa é legítima. Nada a vida leva do homem, pois nada ele teve de eterno e nem ele é eterno.

Política

A política nada trás ao homem que não seja dor para alma, através das ilusões de riqueza e poder. É no cárcere dos desejos e das ambições que o homem aprisiona sua vida quando se submete à política e compromete a aponia e a ataraxia. O bem não está na coroa real mas, na ausência das perturbações e dores que o homem pode e deve evitar, se retirando para dentro de si mesmo.

A justiça deve ser um valor útil para Epicuro. O estado,agora tutor dos valores vitais, não deve existir senão em função da sua utilidade para a vida comum. Portanto não tem um valor absoluto e não é mais o que fora no passado em que o homem não se separava da sua condição de cidadão. Sua interpretação para a lei, justiça e direito, está em antítese com a filosofia clássica grega e as teses de Platão e Aristóteles em que o estado era guardião dos valores morais.

A Amizade encontra em Epicuro seu justificador. O único laço admitido entre os homens é a amizade. Laço livre que unem pessoas com interesses e objetivos comuns. Na amizade o indivíduo encontra seu outro eu, igual a si mesmo, e se encontra. “ De todas as coisas que a sabedoria busca, em vista de uma vida feliz, o maior bem é a amizade”; “A amizade anda pela terra anunciando a todos que devemos acordar para dar alegria uns aos outros”.

Os quatro remédios e o ideal do sábio

1.São vãos os temores em relação aos deuses e ao além.

2.O pavor em relação à morte é absurdo, pois ela não é nada.

3.Se entendemos corretamente o prazer, ele está à disposição de todos.

4.O mal dura pouco ou é facilmente suportável.

Epicuro mostrou aos homens do seu tempo, necessitados pelas condições gerais históricas, que é possível encontrar a felicidade. Que ela deve ser buscada onde pode ser encontrada: no interior da própria pessoa. Para aquele tempo ou para esse, Epicuro mostrou uma resposta que não deve ser ignorada. A razão pode e deve ser uma ferramenta de construção da felicidade.

Fonte: www.silvino.blog.br

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