Tenho 60 anos de idade , sou judeu e fiz aliá pelo movimento sionista socialista Hashomer Hatzair, na qual vivo num Kibbutz a 37 anos e nessa trajetória de vida , acompanho e participo das redes sociais Judaica e fórum de discussão , mas confesso que nos últimos anos nunca vivenciei, tanto ódio nas redes entre os própios Judeus como vemos hoje.
Em minha vida como ativista Judeu sionista já fui ameaçado e acusado em muitas ocasiões por muitos não judeus pelos simples fato de ser considerado "Judeu sionista" com uma posição muito clara na defesa ao direito legitimo da existência do estado de Israel! Entre muitas acusações fui chamado desde "Sionista carrasco genocida" até ter um titulo interessante " Judeus, Comunista, Sionista, Filho da Puta"
O que me surpreende nesse novos tempos modernos não é esse antissemitismo latente na sociedade em geral que infelizmente nos judeus convivemos com essa realidade a muitos séculos , o que me surpreende é que agora é ser acusado pelos própios judeus de ser traidor, comunista, esquerdista, e por ultimo sou até boicoitado em muitas ocasiões no meu trabalho por me identificarem como judeu de esquerda que não aceita e concorda com a atual politica do governo de Israel.
Uma vez um cliente que foi recomendado por outro no final do passeio me confessou " Puxa estava com maior medo de ter um guia esquerdista, mas fiquei surpreendido que voce não é nada do que imaginei!" Realmente a realidade é diferente quando você se defronta frente a frente entre seres humanos! Tenho muitos amigos que pensam diferente das minhas ideias , mas não escolho os amigos em função da sua possição politica.
Uma agência me contratou para fazer um trabalho como guia para uma determinada escola judaica, um mês antes do trabalho fui comunicado que a escola não aceitou meu nome porque sou " persona no grata" na comunidade . Que horror!
O mais triste de tudo isso é uma total desinformação e demonização do outro, sem ter a minima vontade em compreender a complexidade que é o estado de Israel e sua realidade politica!
Um bom exemplo é saber o que se definimos como "esquerda"e "direita" em Israel não é o econômico – social como no Brasil e no resto do mundo e sim a questão do conflito árabe , palestino – israelense , Muitas pessoas que são consideradas de "direita" no contexto do social e econômico tem um posicionamento de "esquerda" e muita gente de "esquerda" na questão social e econômica tem posições de "direita". Eu sei que é difícil de entender ! Mas aqui em Israel é uma realidade!
Para ajudar a todos entenderem essa complexidade e procurar acalmar os ânimos cheio de ódios e acusações mutuas apresento a vocês um pouco de como eu vejo essa fragmentação existente no judaismo atual!
Talvez a afirmação que possa existir algum consenso é que Israel, dentro do contexto global, continua a exercer um papel de protagonista no mundo judaico; e nossas relações com Israel existem e são constantes, em particular, porque Israel se tornou o espaço real de fortalecimento da nossa identidade judaica frente à cultura global.
O que faz o verdadeiro divisor das águas entre os judeus das comunidades não é o econômico - social e sim as tendências diferentes frente às posturas dos governos de Israel no contexto do conflito Palestino, e a questão religiosa.
Isso não quer dizer que não exista em Israel problemas econômicos e sociais , mais isso não é a prioridade das discussões nem Israel e nem nas redes sociais no mundo judaico, Na verdade o que mas discutimos e divergimos são as questões ligadas ao conflito árabe –Palestino-Israelense e a separação entre estado e religião !
Nisso é que as opiniões se divergem e os temas e os acontecimentos são tratadas de forma positiva ou negativa entre os judeus.
Judeus do mundo inteiro se sente cada vez mais cobrados a explicar, justificar, defender e, também, criticar essas posturas de Israel entre os judeus e diante do mundo não judeu.
Essas relações de opiniões, são cada vez mais manifestadas por tendências e concepções distintas, levando entre os judeus uma tensão interna que jamais vista em nossa história pós à emancipação judaica! Tudo isso se assemelha aos momentos finais da destruição do segundo templo onde chamamos de Odio Gratuito entre judeus o ( Sinat Hinam), um Judaismo que estava exatamente como hoje fragmentado e o pior cheio de odio ao outro judeu.
Para ajudar entender esse processo de fragmentação e ver se consequimos aceitar o direito legitimo de cada um ter tendência e pensamentos diferente no Judaismo, mas sem necessitar odiar o outro judeu , apresento a vocês dentro do meu ponto de vista alguns desses fragmentos e veja a onde você talvez possa se identificar e se incluir!:
Israel como mais um centro judaico:
Uma dessas tendências está na revisão da centralidade de Israel, uma vez que, para muitos judeus, o movimento sionista cumpriu seu papel histórico, e Israel se tornou mais um importante centro no mundo judaico e não o único, postura bastante comum em tendências do judaísmo pós-sionistas em Israel e no mundo, vendo a necessidade de se criar um estado de Israel onde possa ter uma maioria judaica , mas entende que a forma de garantir uma plena democracia e criar um estado para todos os seus cidadões e não mais um estado para Judeus, abolindo assim a lei do retorno, redefindo o hino nacional a bandeira de Israel e a criação de novos símbolos nacionais Israelense e não símbolos nacionais judaico, integrando dessa forma todas as minorias dentro da nação Israel como cidadãos de plena igualdade e direitos.
Israel como centro da civilização:
Os reconstrucionistas, que constituem nova manifestação pós-moderna do judaísmo criada por Modechay Kaplan (1893 -1983), defendem a ideia de que o judaísmo é uma civilização milenar, na qual, de um lado, deve estar integrada às sociedades e nações onde nasceram os judeus; mas, de outro, entende que o judaísmo tem seu próprio centro civilizatório, que é o Estado de Israel, sendo que é preciso que haja relações constante entre as comunidades e seu centro civilizatório.
Isso quer dizer que os judeus possam definir em viver nos seus estados nacionais ,mas jamais abandonar a sua relação com o seu centro civilizatório que é o estado de Israel.
Modechay Kaplan, é o Moises Mendelson dos tempos pos moderno onde podemos entender em sua mensagem que devemos viver como bons e patriotas brasileiro , mas nunca esquecer que o nosso judaismo está totalmente relacionado com nossa civilização que tem como centro o estado de Israel.
Em seu livro “Judaísmo como Civilização” define esse contexto: "Não somos somente povo, diáspora, religião, cultura ou filosofia; somos um pouco de tudo, pois somos uma civilização".
Israel como centro de visão Messiânica
Para os religiosos fundamentalista e ultranacionalista, o judaísmo e Israel são frutos de uma visão Messiânica e, por isso, posicionam-se contrários a qualquer tendência de mudança que possa ameaçar essa crença, julgando que, para alcancar seus objetivos, devem usar todos os recursos, pois estão regidos pelas leis divina, de criar o terceiro templo e um novo e grande reino de Israel essa crença levou a consequência, do assasinato de Yzaak Rabin, em 1995, cometido por um ativista religioso ultranacionalista; do mesmo modo, foi as ameaças sofridas por Ariel Sharon por ocasião da devolução do território de Gaza grande parte dessa tendência faz parte integral da coalizão do atual governo de Israel na qual vem criando Leis que cada vez mais que fortalece a visão de um estado Judeu messianico com forte base na religião ortodoxa ultranacionalista, ampliando como nunca a força das autoridades rabínicas onde sua influençia se pode sentir em toda a sociedade Israelense inclusive dentro do exército .
Israel como centro ameaçado:
Para a direita sionista liberal nacionalista, o Estado de Israel vive permanentemente uma realidade política de ameaças a sua própria existência e avalia o processo de paz como parte das ameaça aos seus direitos históricos da "Grande Israel", apoiando e incentivando os assentamentos judaicos nos territórios ocupados em 1967. Os adeptos dessa concepção vivem a "Síndrome do Medo", acreditam que Israel, como centro do mundo judaico, está constantemente com sua existência ameaçada. Preconizam a necessidade de se fortalecer militarmente cada vez mais para fazer frente às ameaças do mundo árabe e às forças terroristas islâmicas. Obviamente, a ameaça declarada de o Irã destruir o Estado judeu, e a repercussão da saida de Israel da Faixa de Gaza e suas consequência a segurança de Israel fortalecer seu posicionamento, e encara a posição da esquerda Sionista Israelense como perigosa e ameaçadora a segurança do estado de Israel.
Israel que ainda não cumpriu seu papel histórico:
Para muitos judeus da esquerda sionista, Israel foi uma necessidade histórica do passado, que ainda não conseguiu cumprir a Carta Magna de sua independência, que é o Estado de Israel dentro da visão dos profetas. Estado que almeja a paz, igualdade e justiça, e pratica a moral e a ética sobre tudo a questão palestina. Para esse grupo, Israel continua a ser um importante centro Judaico, porém sua realidade política o tornou indesejável, vendo os ideais sionistas ameaçado pelo grave problema demográfico, com a continuidade da ocupação dos territórios ocupado e a grande possibilidade de Israel se tornar um estado Binacional de maioria Arabe levando ao fim o conceito sionista do estado Judeu Democratico e em consequência o Fim do Estado de Israel.
Propõe como a única forma de garantir a maioria judaica e o conceito do estado judeu democrático é o desvinculo total da ideia da "Grande Israel " e a criação de um estado Palestino ao lado do estado judeu.
Israel como centro bíblico:
Para os grupos Ultra Ortodoxos não sionistas – que procuram cada vez mais se fechar às influências do mundo externo ao judaísmo –, o Estado de Israel é como um desastre da emancipação judaica. Eles usam um termo prejorativo em relação aos seculares judeus, que vivem em Israel, dizendo "Israel é um lugar onde Goim (Gentios) falam hebraico". Negam as leis do Estado de Israel moderno para eles, Israel continua a ser somente o centro bíblico. A Ultra ortodoxia cada vez mais procura se segregar do mundo exterior e vem sendo o setor da população judaica que mais cresce nos últimos anos, onde estatisticamente entre 30 a 40 anos serão o grupo majoritário dos judeus em Israel, parte dessa população em sua maioria não servem o exército, não trabalham e nem pagam Impostos, e devido ao sistema parlamentar são muito beneficiados devido aos acordos políticos que os partidos majoritários necessitam para formar os governos.
Israel - centro de refúgio necessário:
Finalmente, a postura mais popular e totalmente integrada aos aspectos individuais do comportamento judaico na era da revolução global é, de um lado, o forte apoio individual dos judeus à existência do Estado de Israel e ao seus governos. Para esse grande grupo, o Estado de Israel é um importante refúgio pessoal em caso de momentos difíceis, onde Israel se torna necessário somente nos momentos de crise nos países que esses Judeus vivem! Em muitos casos é uma imigração de porta giratória quando está ruim nos seus países os judeus imigram para Israel e no momento que a situação, possa melhorar voltam para seus países de origem !
Atualmente podemos perceber esse processo na grande imigração de Judeus brasileiros a Israel, parte chegam como refugiados da crise que vive no Brasil, muitos tem a ilusão que é possível criar de imediato uma nova identidade, sem saber dar tempo para abandonar os costumes e os vícios criados na cultura brasileira, isso faz com que parte desses judeus se trasformem de um dia para o outro em "Fervorosos patriotas Sionistas" sem entender ainda a grande complexidade que a realidade Israelense. Na verdade no contexto de sua realidade individual procuram como judeus muito mais um bunker pessoal necessário, para responder as suas necessidades individuais e imediatas do que ter sido realmente parte em suas vida da ideologia Sionista! Para Israel toda Alia é muito necessária , e é sempre bem-vinda
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