Judaísmo Humanista - EMUNA BA ADAM
Jayme Fucs Bar – março 2010
Ao longo dos últimos anos, o judaísmo secular humanista vem se tornando um movimento, que procura ser uma alternativa prática para milhares de pessoas que se definem como judeus.
Em minha opinião, judeus e judias, são todos aqueles se definem como parte integral da historia, cultura e tradição judaica, independente dos dogmas exigidos pelas correntes religiosas, que definem que para ser judeu é preciso ser filho de mãe judia, Ser judeu esta totalmente relacionado com uma identidade cultural judaica, e uma relação profunda com a historia e tradição milenar do povo judeu.
Eu estou ciente que esse tema está impregnado de um grande dogma dentro dos judeus e das comunidades judaicas, mas é preciso falar, debater sobre ele, e não ter medo de enfrentar e romper com esse dogma, pois de fato existe fora da vida comunitária, milhares de judeus que foram criados, educados e se identificam com parte integral de nosso povo, porém, estão marginalizados e excluídos. Essa situação é cada vez mais grave dentro do mundo judaico atual, onde o judaísmo organizado se torna cada vez mais uma opção religiosa, onde existe milhares de famílias que institucionalmente “perdem” sua condição judaica, surgindo uma necessidade vital de criar e se congregar em comunidades seculares humanistas, que possam proporcionar a esses judeus uma nova opção de continuidade judaica organizada.
Eu como um judeu secular e humanista tenho uma grande EMUNA (Crença) nos seres humanos, onde acredito que A VIDA HUMANA É SAGRADA, onde seres humanos são o centro das preocupações e não Deus, Talvez muitos pensem que este seja um discurso ateísta. Na verdade não sou ateísta nem tão pouco teísta, me considero um agnóstico, isso é, não desacredito na existência de Deus, pois sei que não tenho como provar; como também não tenho como provar a sua inexistência. Sei que estou dizendo algo que parece confuso, pois não tenho a mínima possibilidade de comprovar ou (dês)comprovar esse argumento: o direito de crer ou não crer é uma manifestação legítima e deve ser respeitado, assim como todos os tipos de crenças (emunot), de todas as correntes judaicas e não judaicas, devem ter o seu lugar e devem ser respeitadas e o judaísmo humanista também.
Acredito que jamais devemos esperar, culpar, ou exigir, que Deus venha solucionar os nossos problemas humanos, como a fome, a miséria, a disparidade social, as guerras, as diversas formas de violência e a destruição ecológica. Esperar por Deus para solucionar nossos problemas humanos, de certa forma, é uma blasfêmia, que vem sendo adotada por varias gerações, com certeza, uma grande insensatez humana , pela qual se vem pagando um preço muito caro em vidas humanas por assim acreditar . Vamos tirar de Deus a responsabilidade de ser o nosso Salvador, e vamos assumir nos mesmos as responsabilidades humanas um com o outro e deixar Deus em Paz.
Estou totalmente vinculado a idéia que a Torá, o Único e o judaísmo não são e não podem ser um monopólio dos religiosos. A Torá nos deu a razão e a consciência para podermos agir e nos relacionar uns com os outros de forma ética, sabendo respeitar com dignidade a cada um, independente de sua nacionalidade, religião, raça ou crença. Para mim o Judaísmo tem como base comum o conceito do ÚNICO, da unidade que rege todo esse universo, e nós seres humanos somos parte inseparáveis dessa unidade, por isso, somos iguais dentro desse contexto do ÚNICO, onde tudo que é vivo e natural é sagrado e somos um conjunto de partículas que constitui a cadeia de vida do ÚNICO.
Não somos nós judeus um povo privilegiado ou prodígio, somos sim, um povo de uma cultura milenar, com uma grande experiência histórica que nos permite ajudar e contribuir muito para o bem-estar da Humanidade.
Acredito que não devemos usar o nome do " ÚNICO" para alcançar objetivos particulares, de grupos, estados ou religiões que justificam em nome do ÚNICO a destruição do outro. Se existe o pecado, este sim é um grande pecado mortal dos nossos tempos, onde a fusão de fundamentalismo religioso, nacionalismo e militarismo vem sendo a fórmula de semear o ódio, a violência, o terrorismo e a opressão entre seres humanos, onde o fortalecimento desses grupos e estados pode nos levar a grave conseqüências de um holocausto nuclear e a nossa autodestruição.
As idéias do judaísmo secular Humanista organizado que propõem uma alternativa compatível a muitos judeus do século XXI , vêem sendo muito criticadas por grupos religiosos e tradicionalistas, e eu como judeu secular humanista, exijo o meu legitimo direito de me congregar e me definir como uma corrente judaica legitima, que tenha seus próprios rabanim,shilichm tziburiim, batei midrash, centros culturais,etc, realizando todos os serviços judaicos como Kabalat Shabat,Brit Milá, Bar –Bat Mitzvah,casamento, todos festejos judaicos, conversão, sepultamento, enfim, o ciclo da vida judaica completo.
O Movimento do Judaísmo Humanista organizado tem suas origens no Movimento Kibutziano , no Bundismo, e também na ação de Sherwin Wine, um rabino Reformista, que deixou o Movimento Reformista , pois concluiu que o judaísmo era muito mais que uma religião. Apesar das diferenças do processo histórico de cada um dessas organizações ,o Kibutz, o movimento Bundista e as comunidades do rabino Wine têm em comum a crença num judaísmo amplo, que se compartilha na sua comunidade todos os aspectos culturais, como: música, história, filosofia, educação, artes, humor, folclores , literatura, tradição e ritual judaico e muita fé no ser humano .
O Movimento Kibutziano, o Bund e o movimento do rabino Wine entenderam que os rituais e as tradições do passado seriam uma excelente fonte para criar um judaísmo do futuro, adaptado à realidade e as profundas mudanças que vêm ocorrendo no mundo judaico , onde se possa congregar milhares de judeus seculares humanistas afastados do meio judaico, a praticar e manifestar um judaísmo humanista secular aberto e sem dogmas.
Para mim o Judaísmo Secular Humanista deverá ter muito claro a questão da identidade judaica, Vivemos hoje numa sociedade globalizada onde cada um de nós tem várias identidades. Acredito que devemos fortalecer essa nossa identidade secular humanista, que está intimamente ligada à criação de espaços para educação judaica, principalmente, a informal. Educação Judaica e a juventude deverão ser as prioridades das comunidades organizadas do judaísmo Humanista, em Israel e no mundo judaico.
O Meu Judaísmo Humanista é também inseparável do compromisso com o destino do Estado Judeu, acredito que o Judaísmo Secular Humanista deverá ser uma manifestação moderna de um Sionismo renovador e progressista, que deverá cumprir, na prática, a carta magna da independência do Estado Judeu de almejar um estado dos sonhos dos profetas de Israel, um estado judeu baseado na paz e respeito mútuo entre os povos, e na justiça e solidariedade para todos os seus cidadãos.
O Judaísmo Humanista deverá ter, hoje mais do que nunca, um papel político claro e critico sob o rumos atuais do estado Judeu, Isso quer dizer não abrir mão de reivindicar pela necessidade da separação entre estado e religião, e o direito de todas as correntes judaicas à legitimidade institucional; não ter medo de lutar pelo reconhecimento mútuo ao direito legítimo do Estado Judeu e do Estado Palestino de viver um ao lado do outro com fronteiras reconhecidas e seguras.
Judaísmo Secular Humanista organizado, é um novo desafio do judaísmo pós moderno,e o crescimento ou não desse movimento na atualidade, dependerá somente de cada um de nós judeus,nas nossas possibilidades de sairmos do nosso conformismo e individualismo e assumir na prática a responsabilidade de se organizar e criar nossas próprias keilot, dando respostas diretas para nossas necessidades como judeus seculares ,e principalmente, uma opção real para um judaísmo de roupas novas que possa encarar o século XXI com fé ( EMUNÁ) no ser humano, e também uma profunda e intima ligação com o ÚNICO, pois tudo que seja vivo deve ser sagrado.
Jayme Fucs bar
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