Messias, Messianismo na Judeia no periodo da dominação Romana - jayme Fucs Bar
Não é atoa que muitos Messias surgiram na Judeia em tempos de muita tensão, no meio de um período obscuro que levará o Povo de Israel a viver angústias e opressões diversas.
Nessa realidade caótica, a crença no fim dos tempos sairá fortalecida, enquanto o povo sentirá a necessidade de invocar uma força superior para sua redenção que foi a força Messianica!
O judaísmo, sob domínio romano, entre os anos 63 e 324 da Era
Comum, estará não apenas sob a ameaça de perder sua total liberdade e autonomia cultural e religiosa, mas sob o risco da aniquilação de sua própria existência física. Esse será um período de reações turbulentas, diante da escolha de se romanizar ou de lutar para a manutenção dos valores judaicos. Nesse momento, os judeus terão que decidir entre “existir ou não existir!”.
Foi nessa atmosfera que se manifestaram diversas reações à romanização por parte de judeus, em busca da sobrevivência do judaísmo na Judeia. De fato, o judaísmo esteve fragmentado em facções distintas, com propostas e comportamentos diferentes, criando entre si disputas, intrigas, traições e até mesmo a violência física e a guerra civil.
É muito fácil entender isso nos moldes de nossa realidade atual, com grupos partidários de concepções, interesses, culturas e ideologias diferentes, competindo entre si desde todos os cantos do mundo.
Na Judeia, porém, todas as facções partidárias eram do mesmo povo, com um detalhe importante: todos eram dominados por um poder externo tremendamente forte e violento: Roma!
O judaísmo, através de sua história, sempre que se sentiu ameaçado em sua própria existência, empenhado na busca de respostas para sua sobrevivência!
A Judeia dominada pelos romanos fortaleceu o surgimento de uma
aristocracia judaica romanizada, rica, gananciosa e corrupta, com a liderança religiosa que monopolizava o serviço sacerdotal no templo.
O Sinédrio foi nomeado pelos próprios romanos, para que servissem aos interesses de Roma em troca de dinheiro, regalias e benefícios.
A situação é desastrosa na Judeia: diferenças sociais alarmantes, altos impostos, fome, miséria, opressão, desarmonia, decadência espiritual, cultural e religiosa.
A fragmentação do judaísmo na Judeia não somente vai acontecer
em sua divisão entre saduceus, fariseus, essênios, zelotes e os próprios samaritanos, que não são parte da tribo de Judá, e sim se definem como bnei Israel, mas também por pequenos grupos que abandonam os grandes segmentos partidários para se organizarem ao redor de líderes espirituais.
Essas lideranças populares, por vezes, eram tão fortes e carismáticas que terminavam sendo consagradas por seus seguidores como “messias” — isso quando os próprios líderes não se autoproclamavam como o “messias” profetizado.
Ao longo dos milênios da história judaica, surgiram dezenas de messias! Isso não é uma novidade no judaísmo. Vocês podem ficar surpresos, mas isso acontece até os dias de hoje. Contudo, na história judaica, nada se compara a esse período, pois havia um grito de clamor pela necessidade imediata da chegada do messias, que redimisse o povo judeu em sua terra natal da opressão dos romanos.
Em outras palavras: não dava mais para esperar um messias que está para chegar. Naquele momento, o messias era para já! O messias imediato!
Importante entender que o conceito messiânico que conhecemos hoje somente vai começar a se transformar a partir do período em que o Povo de Israel retornou do Exílio da Babilônia, já durante a construção do Segundo Templo de Jerusalém, por Zorobabel, em 535, antes da Era Comum. Foi nesse período que surgiu a ideia de
“mashiach beit David”, o messias da Casa de David, termo que continua sendo utilizado até os dias de hoje.
“Que no futuro próximo um homem da descendência do Rei David aparecerá como o mensageiro de Deus, trazendo a salvação ao Povo de Israel e a destruição de seus inimigos, realizando finalmente a redenção e a paz mundial”.
Nas palavras do Profeta Isaías [Yeshayahu], revela-se que o messias
virá da “semente” [zerah] do Rei David. Por sua vez, o Profeta Ezequiel [Yehezkel] identificou que o messias viria da Tribo de Judá, porque, de acordo com a bênção de Jacó a seu filho Yehudah [Judá], “a Tribo de Judá é digna do trono”.
Também temos que tomar em consideração o fato de que os escritos que conhecemos, já no período da dominação romana da Judeia, foram compostos por pessoas profundamente vinculadas ao Reino de Judá, cujos habitantes já eram conhecidos como yehudim.
Sabemos que a Tribo de Judá foi praticamente a única das doze tribos que sobreviveu e que se manteve sob o governo, durante várias gerações, de reis vinculados diretamente aos descendentes de David, até a destruição do Primeiro Templo.
O sábio Maimônides, o Rambam, que viveu no século XII, dizia
que o messias chegaria e que seria da “semente” [zerah] de Salomão, o filho de David. É interessante que o sábio Maimônides usa o nome de Salomão, e não o de David, que, apesar de ter sido um grande rei e estrategista, era um grande cafajeste, com muito sangue de inocentes em suas mãos.
Eu acredito que, para um grande sábio como Maimônides, ficava difícil consagrar David como a origem do messias depois de conhecer bem esse lado menos admirável de sua biografia.
Maimônides sabe que Salomão será considerado mais honrado e
mais digno do que seu pai. Não é à toa que será Salomão, e não David, aquele que terá o direito de construir o Primeiro Templo.
Apesar de ter sido David quem teve o mérito de conquistar Jerusalém dos jebuseus, de forma brilhante, ele não terá o direito de construir o lugar sagrado onde se guardará a Arca da Aliança, no interior da qual, nas Tábuas da Lei, está escrito, nos Dez Mandamentos: “Não Matarás. Não cobiçarás a mulher
do próximo”.
Anterior ao segundo templo o título “messias” é atribuído somente ao ato de ungir o rei de Israel, pois eles jamais foram coroados, eles deveriam ser um exemplo no cumprimento das leis da Torá, que na pratica nunca aconteceu!
Essa pode ser a razão pela qual, com o tempo, foi necessário modificar o sentido do conceito de “messias”, que passou a estar mais ligado à ideia de um enviado celestial com a missão de resolver os problemas que os reis de Israel jamais conseguiram resolver.
Na atualidade, na liturgia judaica religiosa e em suas orações, que são ditas três vezes por dia durante toda semana, se menciona expressamente o pedido e a expectativa da vinda do Mashiach ben David, com nada mais nada menos que sete bênçãos.
Apresento uma breve lista dos messias que surgiram no Periodo da Romanização da Judeia:
Shimon de Pereia ou Shimon ben Yosef, ano 4 antes da Era
Comum
Theudas viveu no século I da Era Comum.
Yoshua - Jesus de Nazaré viveu no século I da Era Comum
Yohanan ben Zacariah - João Batista viveu no século I da Era Comum.
Menahem ben Judah - Viveu no Seculo 1 da era comum
Shimon Bar Kokhba- Viveu no seculo 2 da era comum
Moshe de Creta viveu no seculo 5 da era comum.
SHABAT SHALOM!
Respostas
Muito boa essa reflexão sobre o messias e messianismo na judeia no périodo da dominação romana? faz a gente refletir bastante! obrigado rabi Jaime Fucs Bar. Shabt Shalom
Shabat Shalom Rabino