NEM TODAS AS ABORDAGENS TÊM QUE SER VIOLENTAS... - parte 2

Juro de pés juntos, ser mera coincidência - alguns diriam que tal coisa não existe...- que o tema desta modesta crônica também fale de abordagem( não violenta)...

 

 

“SÓ COM MINHA CONSCIÊNCIA”  (Da série contos de Jerusalém 97) – 16/09/97

 

 

Quantas e quantas vezes, me perguntei, se é a vida que alimenta de conteúdo as histórias dos escritores; ou se são eles que precisam persegui-las? Eu realmente não sei a resposta. Portanto, levanto a questão perante vocês, e os convido a respondê-la, se for de sua vontade.

 

Numa segunda-feira, como qualquer segunda-feira de verão em Jerusalém, fui “arrastado” para o centro da cidade, por razões que não cabe explicar agora – pois é uma outra história... “como o homem vermelho, na história do homem verde...”

 

 Ali estava eu, no ponto a espera do próximo ônibus para o Monte Scopus. Foi quando se aproximou de mim um jovem, imagino eu, em seus 15 anos no máximo, ortodoxo – a tal conclusão cheguei pela obviedade que impunha sua aparência externa: solidéu na cabeça, “peiot” e franjas para fora da camisa – e me perguntou:

“Você estuda na Universidade, não?”

 

Respondi que sim, num misto de desconfiança e curiosidade sobre quais seriam suas intenções – no Brasil, quando alguém nos aborda assim de forma súbita como ele o fez – logo pensamos no pior: “vai pedir ou querer me roubar dinheiro”.

 

Assim pensei eu com minha paranóia de cidadão carioca. E no mesmo instante em que buscava uma desculpa para livrar-me dele, chegou a linha 9, e então eu disse aliviado:

“Sinto muito, meu ônibus chegou” e corri em sua direção ( a do ônibus). E presumi precipitadamente: “ Ufa! consegui me livrar dele com facilidade, que sorte a minha”!

 

Porém, para a minha surpresa, não aconteceu assim: o jovem correu em minha direção, segurando na mão uma nota de $50 shkalim e um pedido que me surpreendeu totalmente: “ por favor, você poderia levar este dinheiro para a sinagoga da universidade”?

 

Eu não soube como reagir e tão pouco poderia, pois o ônibus já estava de saída:

“Onde na sinagoga? Na caixa de donativos”?

“Sim” me respondeu o jovem e o ônibus zarpou bem à moda sabra, e eu dentro dele atônito, e a nota de $50 shkalim em minha mão, enquanto, procurava pelo jovem que já havia dado meia volta e seguido o seu caminho...

 

Caminho? Mas, qual era o seu caminho? Que intenções teria? Seria ele real? O que significava tudo aquilo?

 

Imaginem vocês em que situação constrangedora ele me colocou, aquele jovem! Eu que imaginei que ele queria me pedir, ou até mesmo me roubar dinheiro – aquele mesmo jovem enigmático, entrega a um estranho na rua, dinheiro para uma boa-ação?!

 

Entre todas as coisas que me vieram à cabeça, lembrei-me da conversa curta que tivera aquela manhã com Karmia, a professora de hebraico, sobre o significado da palavra consciência e o seu valor. Se não me falha a memória, eu disse a ela que consciência na minha opinião é algo que todos nós possuímos: só que a de alguns é positiva e a de outros, nem tanto...

E agora estou eu aqui, sentando frente a minha consciência e uma nota de $50 shkalim... E pensando: “ neste mundo não faltam histórias para alimentar histórias. E que tudo pode acontecer – até mesmo  o time do Betar Jerusalém, vencer a Bélgica no futebol, quando todos os prognósticos eram contrários...

 

Mas o que fazer com a minha consciência e os $50 shkalim daquele jovem misterioso?

 

 

 

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