O que Yossef nos ensinou.

 

No artigo intitulado "José, Retrato de um Tzadik" (Morashá nº. 48, abril 2005), recontamos a história extraordinária da vida de Yossef, filho de Jacob e Rachel. Nele discutíamos por que razão ele, entre todos os personagens bíblicos, merecia o título de HaTzadik - o Justo. Aqui, tomaremos um versículo da Torá - contendo uma pergunta que Yossef fez a dois egípcios a quem encontra na prisão - e exploraremos as grandes lições que nos transmite sobre aquilo que o judeu deve aspirar a ser e sobre a visão do judaísmo sobre a vida e a história.

Antes, no entanto, iniciaremos com um breve relato da vida de Yossef.

Da pobreza à riqueza

Yossef tinha um irmão por parte de pai e de mãe, Benjamin - a quem sua mãe, Rachel, dera à luz pouco antes de morrer - e 10 meio-irmãos, que eram os filhos de Leah, Zilpá e Bil'há. Esses meio-irmãos o invejavam pelo fato de ser o filho favorito de Jacob e esse sentimento se converteu em ódio após ele ter contado à família que tivera dois sonhos que indicavam que, em algum tempo futuro, ele reinaria sobre os demais.

Certo dia, quando estava com 17 anos, seu pai o envia em busca dos irmãos que apascentavam as ovelhas da família nos arredores da cidade de Shchem (Nablus). Quando Yossef os encontra, eles tentam matá-lo e, não conseguindo, vendem-no a ismaelitas, mercadores de escravos. Yossef é levado ao Egito onde é vendido como escravo para Potifar, homem de grande autoridade e poder na hierarquia egípcia.

Durante um ano Yossef trabalha na residência de Potifar. Desincumbe-se de suas tarefas com tanto sucesso, que o patrão o nomeia administrador de seu palácio. Mas, tão logo sua vida começa a melhorar, a mulher de seu amo, hipnotizada por sua beleza, tenta seduzi-lo. Por mais tentado que estivesse - não esqueçamos que era rapaz jovem, solitário, ao passo que a mulher era linda e poderosa - ele repetidamente repele as investidas e as artimanhas da mulher.

Um dia, no entanto, quando estavam apenas os dois em casa, o rapaz sucumbe à tentação. Se deita ao lado da mulher de Potifar. Mas, antes de qualquer contato, ele tem uma visão de seu pai. (Foi por essa visão que o ajudou a não  sucumbi - D'us apareceu  para Yossef na figura do pai - Como era temente a D'us, fugiu - grifos nosso) Assustado, põe-se em fuga. Raivosa e frustrada, a mulher leva as roupas de Yossef como prova da mentira que engendra, de que ele tentara violentá-la. As diferenças sociais entre ambos - ela poderosa princesa egípcia e ele, um escravo hebreu - atiram Yossef no cárcere, com pena indeterminada.

Dez anos se passaram e Yossef continuava preso. Certa manhã, ele viu que dois funcionários da Casa Real, o sommelier e o confeiteiro do Faraó, que já estavam presos há um ano, pareciam muito deprimidos. Foi até eles e lhes fez uma pergunta. "Madúa Pneichem Rayim Hayom?" Em tradução livre, "Por que seus rostos estão abatidos, hoje?". E os dois egípcios lhe respondem que, na noite anterior, ambos haviam tido um sonho perturbador, cujo significado não conseguiam decifrar. Yossef, tentando aliviar a melancolia que se abatera sobre os homens, pede-lhes que contem o sonho para que ele os interprete. Dito e feito - ele lhes decifra o significado. O do sommelier era o prenúncio de sua libertação; o do confeiteiro, de sua execução. De fato, a interpretação de Yossef fora pontual: o primeiro retorna ao serviço na Casa Real enquanto o segundo é enforcado.

Dois anos depois, o Faraó teve dois sonhos parecidos, ambos perturbadores, que nenhum dos magos egípcios conseguiu interpretar a contento. É então que o sommelier conta ao Faraó sobre o grande interpretador de sonhos que conhecera na prisão. Yossef é chamado à presença real e não só decifra a profecia transmitida em ambos os sonhos do Faraó - de que sete anos de fartura seriam seguidos de sete anos de escassez - mas sugere, também, uma estratégia que poderia salvar o país da desgraça por inanição. O Faraó, deslumbrado com o prodigioso homem, alça-o ao cargo de primeiro ministro do Egito. Para o escravo hebreu, aquilo representava uma reviravolta em sua sorte: tendo despertado prisioneiro, naquela manhã, deitar-se-ia como o homem mais influente de um império poderoso! Nos 80 anos que se seguiram, ele teve plenos poderes na Casa Real egípcia. Mas fez por merecer. Pessoalmente, encarrega-se de implementar a estratégia que arquitetara para salvar o país, sua família e o Oriente Médio inteiro da mais terrível fome. Como pressagiado em seus próprios sonhos, anos antes, de fato ele acaba tendo poder governamental sobre seus irmãos.

Obs.: O que realmente fez com que Yossef não sucumbisse?  R: Foi os sonhos que tivera ainda estando na casa de seu pai. A experiencia de Yossef com os sonhos, foram tal reais, que  o convenceu que num futuro, sem data marcada, aconteceria sua elevação. Como? Ele não sabia. Mas, sabia que de uma forma ou de outra iria acontecer.

Nós temos que ter em que nos apegar. E Yossef teve não um, mais vários sonhos proféticos (todos significando  a mesma coisa) para ancorar sua  crença de que, valeria a  pena esperar, custe o que custasse, para galgar tão grande elevação.

O que Yossef fez, foi  entregar-se ao "destino", para que, o próprio  destino lhe preparasse o caminho para sua ascensão.

Yossef não  temeu. Por que sabia que era o escolhido.

Por um momento, quase sucumbiu. Mas, D'us interveio na "figura" do pai, fazendo-o lembrar que apesar da distância, o "pai" estava ali com  ele.

E ele ser  preso  pelo  escândalo  da  mulher, foi  a melhor coisa para Yossef. Por que, se a mulher consegue uma  outra investida, poderia ser fatal. A melhor coisa, foi  ele ter saído  do  caminho  dela.

Há momentos que, estar preso não  é  um castigo. É  uma salvação.

Fonte: Revista Morashá.

Para adicionar comentários, você deve ser membro de JUDAISMO SECULAR HUMANISTA.

Join JUDAISMO SECULAR HUMANISTA

Enviar-me um email quando as pessoas responderem –