O RETORNO DO SEFARADITA

Em certa ocasião ao ler um artigo do professor doutor Sérgio Feldman, a quem expresso grande admiração, ainda que não o conheça pessoalmente, vi que o mesmo manifestava o desejo de ser Sefaradi. Tenho certeza de que pelo mesmo encanto quase misterioso da mistura Árabe/Israelita com a qual me identifico quando imagino que nossa presença na Espanha permitiu ao engenheiro David Zumerkorn pesquisa em que aponta no mínimo 20 nomes de Rabinos cientistas da era medieval, nos dando um caminho a ser seguido entre a Ciência e a Fé.
Ser Sefaradi é isto! Ter a convicção de que quando meus antepassados navegaram das Ilhas Canárias até a costa do Estado de Santa Catarina o fizeram não apenas porque mesmo quando se declaravam cristãos-novos continuavam vítimas da intolerância, mas porque sentiam que no fundo jamais haviam deixado de crer exatamente como crê o judeu. Um cristianismo babilônico, desfigurado. Uma pré-disposição à vontade humana, onde o poder político de controle em relação à maioria, aliado a necessidade da conquista de territórios permitiu quase que a nulidade da fé genuína. “Vejam que eu disse quase”, porque acredito que muitos absorveram os ensinamentos do Messias Judeu, entretanto, a religião romana jamais permitiria que “ os do caminho” continuassem judeus. Seria muito fácil desmascarar a nova doutrina, onde o domínio até hoje empregado sobre as pessoas causou uma cegueira com conseqüências irreversíveis.
Temos visto a proliferação de movimentos chamados Judaico/Messiânicos e de Denominações Religiosas que pela semelhança doutrinária com a fé de Abrahão tentam reclamar para si a originalidade da fé contrariando o preceito de que somos um Povo Livre. Livres para decidirmos, inclusive se queremos ou não retornar às nossas origens. Por que não podemos retornar, sem que para isso precisemos negar nossas convicções? É certo que vivemos em uma época em que muitos, após várias decepções em relação aos lugares por onde andam em busca de um relacionamento mais íntimo com D’us, acabam por individualizarem sua fé,  se sentido assim mais confortáveis.
Quantos são os Sefaradis espalhados por esse Brasil afora? Quem é essa multidão de pessoas que inegavelmente buscam o conhecimento? Vítimas de uma sociedade que sofre da Síndrome da Irreflexão (Teoria da filósofa Hannah Arendt), cujo mal gera principalmente a despreocupação em preservar sua própria história.
Precisamos permitir esse retorno, daqueles que assim desejarem, entretanto, sem esquecermos de que será impossível resgatar e/ou preservar a história sem nos preocuparmos com a Tradição. Sou Sefaradi e conheço inúmeros iguais a mim a quem tem sido negada a possibilidade de retorno. Brasileiros que se identificam apenas como descendentes de portugueses remontando uma história forjada de descobrimento sob o domínio ainda do Império Romano, disfarçado de Religião dos pobres.
Marcelo Barzilai.



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