Queremos de volta o Estado de Israel de todos e para todos!


Reflexões de um judeu humanista e sionista, farto de ver como Israel perde peso e substância na mão daqueles que, eleitos para defendé-la, fazem exatamente o contrário: a esvaziam do conteúdo universal que o Judaismo dos nossos sábios e o sionismo dos que transformaram sonho em realidade, injetaram nas suas veias. 

 


METEMPSICOSE

 

 

Ainda que com atraso, comunico os “falecimentos” do bom senso, da imparcialidade, do humanismo, do respeito aos direitos humanos de todos os humanos, da solidariedade, que residiam nas entrelinhas e nos pressupostos básicos do Estado de Israel, numa culminação de um processo de deterioro iniciado em 1977 (com um intervalo de melhora na Era Rabin), sendo a “causa mortis” uma terrivel infecção chamada fanatismo, combinada com os efeitos letais dos fundamentalismos laico e religioso (Avigdorlibermanitis aguda* e síndrome de Yesha**)

A análise “post-mortem”  indica que a intolerância messiânica, o ódio ao diferente, a imposição de cima para baixo de condutas fascistóides e contra natura, foram algumas das causas principais do “falecimento” de um sonho gestado durante cem gerações e implementado durante cinco. Foram necessários 33 anos de "agonia" (1977/2010), duas “guerras” sem sentido no Líbano e em ambas saindo de lá cabisbaixos e derrotados; uma perda de respeito às minorias residentes no país; um aumento desproporcional da imposição de leis religiosas em detrimento das leis civis; uma barbárie sem nome cometida em Gaza, superando em brutalidade aos terroristas que se dizia combater; uma ocupação ilegal que mais do que controlar temporariamente um território, degrada e animaliza definitivamente ao ocupante; uma visão unilateral do mundo onde apenas uns poucos são os bons e todo o resto o inimigo a combater; governos de direita e extrema-direita que se desentenderam e desentendem das leis e do espírito de integração plantado pela esquerda laica fundadora do Estado, para que esses valores essenciais e inerentes ao Judaismo exalassem o “último suspiro”.

Mas não nos enganemos: o auge da direita/extrema-direita em Israel não apenas afetou ao regime de liberdades, de princípios e valores, de Humanismo, no que diz respeito à relação entre o país e os seus vizinhos ou à visão macro do conflito bélico, mas também e principalmente – como consequência desse absurdo regime de prioridades - fez e faz estragos dentro da sociedade israelense, pois se trata de governos cuja filosofia económica é neoliberal de cabo o rabo. Ou seja, geraram uma exclusiva classe de milionários e uma enorme classe de desprotegidos, pobres e miseráveis.

Reduziram a ajuda ao velhos, aos sobreviventes do Holocausto, às crianças, aos desempregados, às ajudas para a vivenda, à cobertura médica antes totalmente gratuita, etc.

Instauraram uma sociedade onde o individualismo (sai da frente que eu quero passar!) destruiu a rede de solidariedade que era a marca registrada da sociedade israelense.

Este tema daria para um livro de 500 páginas. Milhares de judeus morando nas ruas. Milhares de crianças sem poder ir à escola; milhares de velhos sem condições de comprar os remédios para paliar os efeitos das doenças que não mais estão cobertas pelo seguro de saúde, e muito mais que a imprensa judaica comunitária evita mencionar, por razões que só eles conhecem.

Entretanto, não poucos milhões de judeus humanistas residindo majoritariamente na diáspora, consideramos que ainda há chances de "ressuscitar" esse velho e querido sonho, bastando com que alguém com peso e poder (o quarteto?) obrigue aos sepultureiros de hoje a enterrar as idéias que separam; os projetos que dividem; a ocupação que contamina, para depois desenterrar e devolver ao lugar que lhes corresponde, os princípios e valores herdados dos fundadores do Estado e que mesmo soterrados pela monocultura da falsa supremacia judaica, ainda respiram e esperam.


Bruno Kampel, 14 de novembro de 2010

 

*Avigdorlibermanitis: Avigdor Liberman, atual ministro das relações exteriores. Russo criado no império do pensamento único. Antidemocrático. Racista. Xenófobo. Odéia os árabes em geral e os palestinos em particular e o declara publicamente. Propõe a expulsão dos cidadãos israelenses muçulmanos. Ouvindo-o falar, é difícil encontrar diferenças entre o âmago do seu discurso e a essência do de Goebbels.

**Síndrome de Yesha: Yesha: movimento que aglutina todos ou quase todos os fanáticos residentes nos territórios ocupados. Perambulam armados como xerifes. Batem, roubam, cortam olivais pertencentes aos palestinos. São um verdadeiro câncer no seio do povo judeu. Fazem com os palestinos o mesmo que Hammás e Hezbollá sonham fazer com os judeus.




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