Se o livro Cântico dos Cânticos (ShirHashirim) fosse escrito hoje, talvez sofresse uma grande censura por certo grupos religiosos, talvez fosse condenado e, quem sabe, sua leitura boicotada. Esse livro bíblico é parte integral da Torá e contém uma série de canções de amor expressas de forma livre.
No tempo antigo, parece que não tinham medo de falar desses assuntos, ao contrário de hoje, em que certos grupos religiosos não podem se manifestar livremente em suas Yeshivot sobre esses temas. A tendência de determinadas correntes do mundo religioso é se afastar dessa linguagem.
A sabedoria da Torá expressa essa temática sem barreiras, de forma poética em idioma bíblico. E talvez esse seja o caminho que possa nos ajudar a entender o significado da divindade e da nossa própria existência.
A tradição judaica considera que o livro é uma obra escrita pelo rei Salomão. Entretanto, muitos historiadores atribuem o Cântico dos Cânticos ao rei Ezequias, que viveu aproximadamente duzentos anos depois de Salomão. Outros pesquisadores entendem que esses poemas já deveriam estar escritos desde o período do rei Salomão, porém somente foi organizado em manuscrito no período do rei Ezequias. Independentemente de quem realmente escreveu, o mais importante é entender que a Torá não é uma obra puramente teológica, e sim uma saga humana. Talvez seja esse o motivo de os escritos integrarem a Torá.
O mundo judaico sempre teve o seu próprio dinamismo. Muito do que foi o judaísmo no período bíblico mudou e se transformou após a destruição do segundo templo. Também o livro Cântico dos Cânticos passou a ser questionado por certos rabinos, e isso gerou um intenso debate sobre o seu lugar na Torá. Muitos viam esses textos como algo impuro, nada apropriado a uma escritura considerada sagrada.
As opiniões sobre esse tema começaram a divergir nesse período. O sábio Rabi Akiva se pronunciou de forma clara e categórica: "O Cântico dos Cânticos foi dado ao povo de Israel e todas as escrituras são sagradas. E pronto! O Cântico dos Cânticos é sagrado" (Mishná, Tratado Yadim III).
A partir de Rabi Akiva, o mundo religioso adotou uma nova visão do conteúdo do Cântico dos Cânticos. Esses escritos da Torá não foram mais interpretados como uma relação entre homem e mulher, e sim entre Israel e seu Deus. Foi assim que esses grupos conseguiram aceitar e conviver com esses textos.
O Cântico dos Cânticos é uma pedra preciosa da poesia bíblica que nos ajuda a entender e, até imaginar, o que era o conceito de amor e as relações entre homem e mulher nos tempos bíblicos. Além disso, esses escritos nos apresentam um cenário ímpar da geografia de Israel, sua fauna e sua flora, a beleza e a magia de suas paisagens.
Não deixa de ser curioso que algumas comunidades judaicas cabalistas em Israel têm o costume de ler esse pergaminho todas as sextas-feiras, antes da entrada do Shabat, pois, segundo os sábios da Cabala, o Shabat em geral é um momento de proximidade entre Israel e o Único, e também um momento especial para homem e mulher para estarem juntos.
Portanto, essa joia literária bíblica foi e sempre será interpretada, pesquisada e lida de formas diferentes por várias gerações, de acordo com a perspectiva de quem a lê, seja pelo olhar do amor pessoal ou até coletivo.
O Cântico dos Cânticos nos convida a abrir uma porta para dentro de nós mesmos e assim iluminar nosso próprio interior e nossa própria alma com fragrâncias de amor, paixão e sensualidade.
Alguns fragmentos do Cântico dos Cânticos (ShirHashirim)
Anseios de Amor
Ela .
Sua boca me cubra de beijos! São mais suaves que o vinho tuas carícias,
e mais aromáticos que teus perfumes
é teu nome, mais que perfume derramado;
por isso as jovens de ti se enamoram.
Leva-me contigo! Corramos!
O rei introduziu-me em seus aposentos.
Coro.
Queremos contigo exultar de gozo e alegria,
celebrando tuas carícias, superiores ao vinho.
Com razão as jovens de ti se enamoram.
Canção da amada
Ela.
Sou morena, porém graciosa,
ó filhas de Jerusalém,
como as tendas de Cedar,
como os pavilhões de Salomão.
Não me olheis com desdém, por eu ser morena!
Foi o sol que me bronzeou:
os filhos de minha mãe, aborrecidos comigo,
puseram-me a guardar as vinhas;
a minha própria vinha não pude guardar.
Ambição do amor
Ela.
Indica-me, amor de minha alma: onde pastoreias?
Onde fazes repousar teu rebanho ao meio-dia?
Para eu não parecer uma mulher perdida,
seguindo os rebanhos de teus companheiros.
Coro.
Se não o sabes, ó mais bela das mulheres,
segue os rastos das ovelhas
e leva teus cabritos a pastar
perto do acampamento dos pastores!
Ele.
Às parelhas das carruagens do Faraó
eu te comparo, minha amada.
Graciosas são tuas faces entre os brincos,
e teu pescoço entre colares.
Faremos para ti brincos de ouro
com filigranas de prata.
Exaltação do amor
Ela.
Enquanto o rei está em seu divã,
meu nardo exala seu perfume.
O meu amado é para mim
como bolsa de mirra sobre meus seios;
o meu amado é para mim
como um cacho florido de alfena dos vinhedos de Engadi.
Ele.
Como és formosa, minha amada!
Como és formosa, com teus olhos de pomba!
Ela.
E tu, meu amado, como és belo,
como és encantador!
O verde gramado nos sirva de leito!
Cedros serão as vigas de nossa casa,
e ciprestes, as paredes.
Fontes:
שיר השירים - דו שיח בין אוהבים | מחברת: עליזה מנדל
http://www.daat.co.il/daat/ktav_et/maamar.asp?ktavet=2...
https://www.facebook.com/nadav.halperin
Cântico dos Cânticos: o livro erótico que está na Bíblia Sagrada - Edison Veiga
Cântico dos Cânticos Bíblia - Antigo Testamento - http://www.dhnet.org.br/.../espirit.../salomao/cantares.html

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