O Brasil tem um herói muito importante e – ainda – desconhecido do grande público, Luís Martins de Souza Dantas. Souza Dantas foi embaixador brasileiro na França, servindo em Paris durante a II Guerra Mundial, e depois em Vichy, já na França ocupada pelos nazistas. Desobedecendo as ordens do Governo Vargas, que oficialmente restringiu a entrada de imigrantes no Brasil 1 e extraoficialmente distruibiu circulares às embaixadas sinalizando que semitas não eram bem vindos, Sousa Dantas distribuía vistos brasileiros para judeus, salvando muitas centenas de vidas, até ser afastado do cargo.
No ano passado tive o prazer de trabalhar com a equipe do diretor Luiz Fernando Goulart, que veio a Israel filmar um docudrama sobre a vida do embaixador. Conversando com Goulart, ele me contou como se apaixonou pela história desse “Schindler brasileiro”.
“Uma amiga querida, a Vivi Nabuco, me chamou pra jantar e sugeriu um filme sobre o Souza Dantas. Eu não conhecia a história, e ela me disse para pesquisar. Fiquei intrigado e comecei a fazer uma pesquisa, até que encontrei o livro do Fábio 2 [Koifman]. Imediatamente me apaixonei pela história e comprei os direitos. A Vivi, com toda razão, enxergava a importância de se fazer um filme contando a história do Embaixador.”
![O fotógrafo Rivaldo Agostinho de Lima, o diretor Luiz Fernando Goulart e a produtora executiva Lais Chamma no Yad Vashem.](http://www.conexaoisrael.org/wp-content/uploads/2014/02/Photo-24-11-13-11-07-36-300x224.jpg)
O fotógrafo Rivaldo Agostinho de Lima, o diretor Luiz Fernando Goulart e a produtora executiva Lais Chamma no Yad Vashem.
Passamos dois ótimos dias no Yad Vashem, o Museu do Holocausto, em Jerusalém. No museu há o Jardim dos Justos entre as Nações, título concedido pela instituição a não-judeus que salvaram vidas durante o Holocausto. O Brasil tem dois representantes no jardim, além do Embaixador temos Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, mulher do escritor e diplomata Guimarães Rosa, que trabalhou no consulado em Hamburgo.
Durante as filmagens Luiz Fernando foi me contando detalhes da história do Embaixador. A forma como ele escrevia os vistos, por exemplo, contrariando a política nacionalista do Itamaraty da época, que exigia que toda documentação oficial fosse escrita na língua portuguesa. Souza Dantas sabia que o importante para os judeus era conseguir sair da Europa, portanto emitia os vistos em francês, a língua franca da época.
Ele me contou também sobre quando, durante a ocupação alemã da França, a embaixada brasileira em Vichy foi invadida pelos alemães e o embaixador foi enviado a Bad Godesberg. Ali, Souza Dantas, ao escutar os aviões dos Aliados sobrevoando a região, tentava sinalizar onde estavam os alvos nazistas. Além de histórias deliciosas sobre a sua vida pessoal em Paris. Essas e outras vocês poderão ver no filme.
E como não podia deixar de ser em Israel, muitas pessoas vinham nos perguntar o que estávamos filmando. Toda vez eu explicava quem tinha sido o embaixador e qual era sua história. As pessoas ficavam impressionadas e invariavelmente me contavam “em retribuição” uma história de algum sobrevivente da Shoá que eles conheciam. Nosso motorista inclusive, que só sabia que tinha sido contratado para ajudar uma equipe de filmagem brasileira, quando ouviu o que o Embaixador fez ficou emocionado. Seus pais eram poloneses, e também sobreviventes do Holocausto.
No Museu, além das imagens do Jardins dos Justos, Luis Fernando entrevistou o historiador Avraham Milgram, brasileiro-israelense e um dos pesquisadores do Yad Vashem. Milgram ao final nos disse que o que um filme pode fazer por uma história como essa é muito maior do que qualquer livro. É verdade. Schindler hoje em dia é uma referência, e mesmo quem não tenha visto o filme sabe alguma coisa da sua história. Eu espero que o filme de Luiz Fernando faça isso pelo Embaixador. Tomara.
Com agradecimento especial pela colaboração de Igor Gak e Luiz Fernando Goulart.
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