Ser, Estar Agir e Pertencer.
Nesses dias que vivenciamos mais intensamente a essência da vida, percebendo pelo menos uma vez ao ano, que nada depende exclusivamente da nossa vontade e que para sermos alguém, estarmos em algum lugar e para que pertençamos a um grupo ou clã, precisamos ter consciência de que aprendemos a cada dia através da interação com o meio e com os outros indivíduos.
A educação é um processo complexo, que não é passível de explicações lineares. Muitas vezes nos deparamos com situações-problema e informações, que nos servem como desafios para que possamos nos superar e re-elaborar os nossos conhecimentos, sentimentos e ações.
É interessante como a construção do conhecimento acontece perante a interpretação que damos aos fatos vivenciados e de como fundamentamos os nossos saberes através da confrontação da visão de mundo, concepções e valores pessoais com a informação que nos é apresentado, pelo meio externo.
Quero dividir, com vocês, uma experiência especial vivida por mim neste último Tashlich, na praia do Arpoador, no Rio de Janeiro.
Ao chegar as 04h30minh, ainda sonolenta, cumprimentei o Rabino Nilton Bonder entre outras pessoas conhecidas da CJB. Senti-me confortável, segura, pois conhecia muita gente que ali estava.
Comecei a caminhada ao local em que faríamos as orações de Tashlich, fui subindo a pedra do Arpoador em conjunto com muitas pessoas, sentindo-me pertinente a um grupo que estava ali reunido, todos unidos com um objetivo de realizarmos a cerimonia de Tashlich.
Tudo ia muito bem até que a luz do holofote que iluminava o local foi ocultada pela sombra da pedra. Tudo ficou absolutamente escuro; naquele momento fiquei paralisada, pois o meio confortável em que eu me encontrava há segundos atrás não fazia mais parte daquele instante e da minha realidade momentânea. Senti-me em perigo, sem chão, só...
Eu estava ali totalmente insegura, num lugar estranho sem enxergar quem estava ao meu lado, sem saber que caminho seguir. Eu estava só comigo mesma, apesar de ter tanta gente ao meu redor. O que aconteceria comigo dependia em parte da minha intuição e parte estava fora do meu controle.
Naquele momento percebi a importância do que estava experimentando. Temos a impressão que controlamos as nossas vidas, que temos o poder de administrar o que gira ao nosso redor, de manipular situações de acordo com os nossos interesses.
De repente alguém percebeu que eu havia paralisado que eu estava insegura e esticou a mão oferecendo auxílio. Eu não conseguia identificar a pessoa, nem a voz, mas resolvi aceitar a ajuda e sair daquela situação delicada e incômoda de perder o controle da situação.
Procurei um lugar para me sentar e acompanhar o nascer do sol daquele dia. Fiquei quieta ouvindo: primeiro o meu silêncio interior que falava muito alto naquele momento, o batimento do meu coração, o barulho do mar, o burburinho do bate-papo das pessoas e devagar os perfis que estavam escondidos nas sombras, começaram a ser definidos com a claridade do amanhecer.
Na escuridão não tínhamos a dimensão do mar de pessoas que ali se encontravam, unidas por um objetivo, por uma crença, por valores afins. A voz do rabino, sem microfone, num esforço sobrenatural de alcançar a cada um de nós que lá estávamos, foi dando um novo significado ao amanhecer, junto com as melodias, meditação, bênçãos, pedidos, verdadeiras intenções...
Cada um de nós jogou fora simbolicamente os seus pecados e desvios, pediu com esperança que individualmente e em grupo fossemos incluídos no livro da vida, da paz, da prosperidade, da saúde e das vivências positivas.
Foi sem dúvida um momento ímpar, de experimentar sentimentos e emoções diferentes, de ouvir o som que vem de dentro e o de fora, percebendo a finitude a magnitude de tudo do que estava acontecendo. O SER, ESTAR e PERTENCER em absoluta intercessão, à busca pela essência, pela ação verdadeira e por um sentimento de inclusão tão necessário ao equilíbrio do ser humano.
O processo educacional é necessariamente inclusivo. Acredito que as vivências positivas e negativas que experimentamos durante a nossa caminhada seja parte fundamental deste processo de construção permanente.
Desejo a todos que este ano de 5769, e os próximos de 5760,61.... sejam plenos em SER, ESTAR E PERTENCER, de construção ou reconstrução.
Betty Dabkiewicz.
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