As cores e a magia dos mercados de Israel - MORASHA

Flores, doces, verduras, roupas, souvenires, artesanatos, bijuterias e muito mais podem ser encontrados nos diferentes mercados espalhados por Israel. Com seus cheiros e cores, maiores ou menores, simples ou mais sofisticados, são pontos de visitação obrigatória para os turistas que chegam ao país, além dos tradicionais marcos históricos, religiosos e arqueológicos.
Edição 96 - Junho de 2017

Entre as cidades israelenses, Jerusalém  e Tel Aviv são as que concentram maior número de mercados para os visitantes de todos os gostos. O mosaico de línguas e etnias – há décadas, Israel recebe imigrantes de diferentes continentes – é um reflexo da diversidade que hoje caracteriza o país. Para garantir a proliferação de mercados ao ar livre, Israel conta com quase nove meses ensolarados, ao longo do ano.
O viajante pode começar seu roteiro por Jerusalém, sagrada para as três grandes religiões monoteístas, que anualmente atrai milhares e milhares de peregrinos.  Lá, o Mercado Machané Yehuda é mais uma atração que se soma aos tradicionais sítios históricos e religiosos da cidade. São mais de 250 lojas espalhadas por vários quarteirões que vendem de tudo que se possa imaginar – verduras, frutas, laticínios, carnes, peixes, legumes e a longa lista de produtos é quase interminável.  Quase todos os legumes e verduras vendidos são produzidos em Israel. Há ainda pequenos bares e restaurantes, que oferecem pratos e sanduíches rápidos. Frequentado por moradores da região e turistas, é um marco na cidade e as horas de maior movimento são as que antecedem o Shabat.
Machané Yehuda é anterior à dominação otomana na região. Surgiu quando camponeses da região, no século 19, começaram a vender seus produtos em uma área abandonada. Gradativamente, as vendas informais acabaram por se transformar em um mercado organizado, que se tornou um sucesso principalmente pela sua localização mais próxima dos bairros e pequenos povoados fora da Cidade Velha.
O local passou por uma mudança importante durante o Mandato Britânico na então Palestina, entre 1917 e 1948, quando o primeiro governador da cidade,  Sir Ronald Storrs, percebeu a importância do mercado para a atmosfera singular da cidade. Ele contratou o urbanista Charles Robert Ashbee para fazer um projeto no local, incluindo uma ampla reforma com a implantação de infraestrutura de esgotos, sistemas de coleta de lixo, iluminação e água encanada. Ele planejava erguer um grande mercado cercado por muros de todos os lados, com portões em estilo oriental e domos em arco.
No entanto, apesar de todo o seu empenho, o projeto de Ashbee não foi executado principalmente em função das limitações financeiras – e o mercado continuou com a aparência que tinha até então. Com o passar do tempo, mais e mais habitantes passaram a frequentar o local. O perfil dos mercadores começou a mudar e muitos árabes venderam seu espaço para os imigrantes judeus. Na época, a Yeshivá Etz Chaim, localizada no meio do mercado, abriu uma série de lojas ao longo do seu muro e alugou-as aos interessados, aumentando sua renda e também atraindo a recém-chegada população judaica.
Visando estender o mercado, em 1930, os mercadores se uniram e, com o auxílio do Comitê Municipal de Jerusalém, compraram uma área localizada ao sul da Rua Ha’Agás, onde estabeleceram um novo mercado. Os britânicos criaram uma série de exigências em relação ao design das lojas, mas a Prefeitura assumiu a responsabilidade pelas condições sanitárias e limpeza do novo local. Cerca de um ano depois, alguns comerciantes e proprietários decidiram pedir auxílio financeiro às autoridades para construir lojas permanentes. Assim, em 1931, foi comprada mais uma área no lado ocidental do mercado original para ampliá-lo. Muitos dos novos imigrantes eram oriundos do Iraque e essa área ainda hoje é conhecida como Mercado Iraquiano.
Machané Yehuda continuou a  se desenvolver ao longo das décadas seguintes e, atualmente, cobre  uma área que vai da Yeshivá Etz Chaim até a Yeshivá Bet Yaacov, e da Rua Yaffo até a Agrippas. Muitas coisas mudaram desde os primeiros anos de  informalidade e, atualmente, o mercado é uma empresa organizada, com representantes indicados pelos lojistas. Machané Yehuda deixou de ser apenas um mercado para ser um local de eventos. Seus bares e restaurantes realizam uma série deles, como jantares temáticos, degustação de vinhos e alimentos, mostras de artes, além de tours organizados durante a semana e  nos finais de semana para os interessados em conhecer com mais profundidade o local e sua história. São também realizados eventos diretamente ligados ao calendário judaico.
Entre os sucessos de público na agenda do mercado está o Tabula Rasa – Urban Art Project, em setembro, quando pintores, escultores, fotógrafos e artistas gráficos se unem para transformar o local e seus arredores em um amplo projeto de arte urbana.  
O interessante é que as obras à mostra são criadas em tempo real, diante dos visitantes, utilizando as mais diferentes matérias-primas, com ênfase em produtos recicláveis. O projeto surgiu de uma parceria entre o Departamento de Arte da Prefeitura de Jerusalém, a Associação dos Vendedores do Shuk (mercado, em hebraico) e o Conselho Comunitário de Lev Ha’Ir (o “centrão”). Outra grande e imperdível atração de Jerusalém é o Mercado Árabe – Shouk Khan Ez-Zheit, ou simplesmente Shouk. A parte principal do Mercado da Cidade Velha de Jerusalém está localizada no bairro Muçulmano, mas na verdade seus becos intrincados podem sobrepor-se e percorrer as fronteiras de todos os quatro cantos da Cidade Velha: o bairro Cristão, o Armênio, o Muçulmano e o bairro Judeu.  O Portão de Yaffo, nas proximidades do Hotel e Shopping Mamilla, é a melhor opção para se entrar no mercado e desvendar seus mistérios. Entre os locais religiosos cristãos, passa-se por lojinhas que vendem artigos religiosos. Os preços são muito parecidos, mas barganhar  faz parte da diversão. O lugar  é uma opção para comprar todo  tipo de objetos de decoração e souvenires que fazem referência à Terra Santa.
Cores, aromas e sons abrangentes, vindos de diferentes direções, lojas e lojistas árabes marcam a atmosfera do local, fazendo do passeio pelo mercado da Cidade Velha uma experiência única e inesquecível.  É também uma oportunidade para se descobrir a verdadeira culinária árabe entre as vielas do mercado, saboreando hummus, tahine, falafel e outros quitutes regionais.
Para os visitantes interessados em prolongar sua aventura pelos mercados em Jerusalém, basta  seguir em direção ao portão que, além de levar ao Monte do Templo, levará também ao Cardo, o mercado judaico da Cidade Velha. Localizado  no que costumava ser uma das principais ruas de Jerusalém durante o Período Romano, é o espaço no qual se pode ter uma amostra da sofisticação e da criatividade dos designers israelenses contemporâneos em termos de joias e bijoux, esculturas e arte em geral, além de produtos religiosos com selo emitido pelas autoridades rabínicas do país que garantem sua procedência.
Desvendando Tel Aviv
Tel Aviv, metrópole cosmopolita também conhecida como “a cidade que nunca dorme”, concentra, entre outros, quatro opções atraentes – duas mais antigas, como o Shuk Ha’Carmel – feira tradicional que reúne desde alimentos, roupas,  CDs e muitas outras quinquilharias, e a Feira de Artes e Artesanato Nahalat Binyamin. O Porto de Tel Aviv é mais uma opção para alimentos saudáveis e diferentes.
No entanto, a mais recente atração da cidade é o Sarona Market, que oferece as mais variadas opções da área de gastronomia – das mais simples às mais sofisticadas.
O Shuk Ha’Carmel está localizado em uma das principais avenidas da cidade, a Allenby, perpendicular à Hayarkon, avenida da praia, e se estende por centenas de metros em direção ao mar em uma trajetória não muito linear. O Ha’Carmel é a maior feira de frutas e vegetais da cidade, mas não é apenas isso. Ali, em meio a um universo multicultural de idiomas e costumes, os visitantes têm a oportunidade de conhecer alimentos típicos, como a bureka (folhado salgado de queijo, cogumelos, espinafre e outros recheios), oriunda da Turquia e que em Israel ganhou mil e uma variações, além de barracas de comidas orientais (muito comuns hoje em Israel) como o sushi, o yakissoba e muito mais. Além do tradicional falafel, bolinho de grão de bico servido no pão sírio (pita) e acompanhado de hummus, tahine, saladas e batatas fritas – e que faz a alegria de todos que se lambuzam com a deliciosa iguaria.
Barracas de bijuterias ao lado de capas para celulares, camisetas de times internacionais e israelenses, chapéus e bolsas das mais variadas cores e tamanhos, sapatos, cáftans multicoloridos, calças saruel, blusas e pantalonas estampadas com o rosto de Bob Marley fazem a diversão de quem tira algumas horas de suas férias para se familiarizar com o dia-a-dia de Israel. Sim, apesar de ser uma opção para turistas, este é um mercado para a população israelense. Pechinchar, ali, não é tão simples como em outros locais turísticos do país. Um alerta importante aos visitantes: mãos gesticulando e vozes cada vez mais altas, diferentemente do que se possa imaginar, não são sinais de briga ou desentendimento. É apenas uma das características da forma como os israelenses se comunicam.
Imperdíveis também são os sucos naturais feitos a partir da variedade de frutas produzidas no país com a mais alta tecnologia – melões, limões, mamões, laranjas, romãs – dão um toque todo especial à caminhada, seja pelas várias artérias que formam o Ha’ Carmel quanto pelo calçadão que cobre a orla de Tel Aviv de ponta a ponta – em qualquer estação do ano.
Próxima ao Carmel está a Feira de Arte e Artesanato Nahalat Binyamin, que leva este nome por causa da rua onde se localiza. Funcionando apenas na quinta e sexta-feira, é o retrato da criatividade israelense em todas as suas manifestações. Para expor seus produtos, artistas e artesãos devem ser aprovados por um comitê, que, segundo os organizadores, garante o alto padrão do evento. Ali são encontrados produtos mais sofisticados, realmente feitos um a um e não em escala industrial, como no mercado vizinho.
Para complementar, é muito comum músicos, artistas circenses e dançarinos aproveitarem o espaço para também mostrar sua arte. Na mesma rua, vários cafés e restaurantes possuem mesas ao ar livre, aproveitando a atmosfera diferenciada que a presença de tantas expressões artísticas cria na região. A feira da Nahalat Binyamin, como é simplesmente conhecida, é uma ótima pedida para quem quer vivenciar um pouco da tão falada Tel Aviv cosmopolita. Lá, como no mercado vizinho, também se ouve um mosaico de idiomas.
O Porto de Tel Aviv, em hebraico Namal Tel Aviv, que passou por um amplo processo de revitalização nos últimos anos e atualmente é um dos principais points da cidade – de dia e de noite – mantém um mercado de produtos alimentícios orgânicos que se tornou rapidamente um dos principais atrativos da área, com sessões de degustação. É a primeira feira coberta de verduras, legumes e frutas da cidade e está localizada no extremo oposto ao antigo Porto de Yaffo, que também passa por um processo de transformação. Cerejas, romãs, abacates e muito mais criam um arco íris de cores que enfeitam a paisagem.
Revitalização, aliás, é a palavra de ordem na cosmopolita Tel Aviv. A área de Yaffo é um exemplo claro deste processo. Lá, ao lado de restaurantes, cafés e lojas sofisticadas, está localizado o Mercado de Pulgas, em hebraico, Shuk Hapishpishim, onde ao lado das bancas repletas de jeans de grife usados, vestidos vintage, potes de cobre e outras bugigangas encontram-se várias pequenas butiques com produtos de grife e artesanato de artistas israelenses famosos, como Michal Negrin e Ayala Bar. No passado um reduto quase exclusivo de comerciantes árabes, hoje já registra a presença significativa de judeus, incluindo inúmeros religiosos.
Ali, barganhar faz parte do processo de compra e venda, diferentemente do que acontece no Shouk Ha’Carmel. No verão, às quintas-feiras à noite, os donos dos quiosques costumam expor suas mercadorias nas ruas, como também o fazem bares e cafés. Grupos amadores aproveitam a ocasião para mostrar suas habilidades artísticas.

Em junho de 2015, Tel Aviv ganhou mais um mercado, que reúne restaurantes, lojas de produtos alimentícios, entre as quais  nomes famosos como Marinado, Ika e Fauchon. É considerado um dos maiores mercados de culinária e gastronomia do país e, desde sua abertura, é um sucesso de público, tanto pela variedade de seus quiosques quanto pelos  preços, considerados justos pelos visitantes. Segundo os frequentadores locais e do exterior, o Sarona  Market pode ser comparado ao tradicional mercado La Boqueria, em Barcelona; o Chelsea Market, em Nova York; e o Bourough Market, em Londres.
O Complexo Sarona, erguido  em uma antiga colônia dos templários, ocupa uma área de  8.700 metros quadrados e oferece uma variedade de produtos  de todo o mundo, desde queijos holandeses a especiarias  asiáticas. No total, são mais de  100 empreendimentos incluindo 40 quiosques de alimentação com nomes famosos no país como Hummus Abu Hassan, de Yaffo, e Basher Fromagerie, de Jerusalém, além de chefes famosos, como  Israel Aharoni e Segev Concept.  Do lado de fora, livrarias, lojas de roupas e sapatos, além de uma  ampla área verde e brinquedos  para o lazer das crianças.
Israel, terra do leite e do mel... e dos mercados com produção farta, em todas as estações do ano.

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