Dispensa de serviço por parte de ultraortodoxos pode provocar racha em coalizão
Netanyahu tem de cumprir decisão judicial, mas pode perder apoio
O primeiro-ministro de Israel teve de atuar ontem para conter a primeira grande crise de sua recém-expandida coalizão de governo, depois que seu principal parceiro ameaçou deixar o grupo por causa de uma divergência sobre como revisar a lei de convocação militar. Benjamin Netanyahu corre para cumprir o prazo judicial de 1 de agosto para encerrar um controverso sistema que excluiu milhares de judeus ultraortodoxos do serviço militar.
A questão ameaça provocar a saída do Kadima, o novo parceiro da coalizão de Netanyahu, do governo. O Kadima é liderado por Shaul Mofaz, ex-chefe do Estado Maior das Forças Armadas, que se juntou à coalizão de governo meses atrás com o objetivo de revisar a lei. “Se Netanyahu não mantiver suas promessas, a crise será grave e não haverá parceria. Não há meio termo aqui”, disse Mofaz ao jornal Yediot Ahronot.
A questão da dispensa do serviço militar tornou-se um grande ponto de discórdia na sociedade israelense. Por meio de um antigo acordo, estudantes de seminários ultraortodoxos podem deixar de cumprir o serviço militar obrigatório e continuar com seus estudos religiosos. O sistema, que foi iniciado há seis décadas pelos fundadores de Israel, tinha originalmente como objetivo permitir que centenas de talentosos estudantes ressuscitassem as instituições de ensino do judaísmo após o assassinato de seis milhões de judeus durante o Holocausto. O número de isenções subiu muito com o passar dos anos e, atualmente, mais de 60 mil jovens religiosos não precisam cumprir o serviço militar.
Essas isenções, aliadas à recusa dessas pessoas em fazer parte da força de trabalho e à sensação de que os ortodoxos tentam forçar a aplicação de sua moral ao público em geral, resultaram em ressentimentos entre a maioria secular israelense. Homens do país têm de prestar serviço militar por três anos, e as mulheres durante um período pouco menor do que dois anos. Muitos ainda permanecem na reserva por décadas.
No início deste ano, a Suprema Corte considerou o sistema atual ilegal e deu ao governo até 1 de agosto para formular uma nova lei. Netanyahu encarregou o Kadima de criar o esboço de uma nova legislação. Mas, na segunda-feira, ele dissolveu o comitê por causa das profundas desavenças entre seus membros.
Partidos ultraortodoxos se opõem a qualquer alteração no sistema atual e se recusam a cooperar com o comitê. Outros dois partidos deixaram o painel porque a nova lei pode não ser aplicada à minoria árabe-israelense, grupo que também não cumpre o serviço militar. Após a decisão de Netanyahu, Mofaz disse que o comitê, embora dissolvido, divulgaria suas recomendações hoje. Ele disse que, se Netanyahu não tomar as “medidas necessárias” para usar o relatório como base para o esboço de um novo sistema, “o governo de união nacional chegará ao fim”.
Respostas