Começaram a surgir os defensores de uma intervenção externa na Síria. Segundo eles, algo precisa ser feito para interromper a matança do regime de Bashar al Assad. A ONU já coloca o total de mortos em mais de 5 mil. Para este número parar de crescer, dizem, a comunidade internacional precisa agir na prática, e não apenas com retórica.
A intervenção externa pode se dar através de uma zona de exclusão aérea, de um corredor humanitário, de bombardeios ou de envio de tropas. No primeiro caso, não faz muito sentido. Afinal, até agora, o regime de Assad não utilizou aviões para atacar os opositores, sejam eles civis ou grupos armados.
Os bombardeios funcionaram na Líbia, onde o terreno geográfico era simples – uma estrada plana na costa ligando Trípoli a Benghasi, sendo que a capital sob controle de Kadafi e outra cidade nas mãos dos rebeldes. Na Síria, todo o território, bem mais acidentado e diverso do que na nação norte-africana, está sob autoridade governamental. Nenhuma área do país está com a oposição.
Além disso, a Líbia não tem divisão sectária. Todos são sunitas. Na Síria, não. Assad até poderia cair facilmente, mas cristãos e alauítas passariam a ser perseguidos por milícias salafistas bancadas por grupos do Golfo Pérsico em massacres ainda maiores do que os do atual regime. Pelo menos, algo similar aconteceu no Iraque depois da fácil queda de Saddam Hussein.
O corredor humanitário poderia funcionar próximo à fronteira com a Turquia ou Jordânia. Daara, perto da monarquia Hashemita, e as vilas curdas do norte, poderiam ser favorecidas. Mas esta via seria inútil para atingir Homs, onde se concentram os protestos. Isso sem falar no vasto apoio a Assad em Damasco e Aleppo, que são as duas maiores cidades.
O envio de tropas é uma alternativa imbecil. Não dá nem para comentar. Apenas quem não conhece história defenderia. Basta observar o que aconteceu quando Reagan enviou os marines para o Líbano nos anos 1980 ou a desastrada intervenção americana no Iraque.
Por enquanto, tem sido aplicado sanções. Não funcionaram para derrubar o regime em Cuba, no Iraque, no Irã e na Coreia da Norte. Pode até ser que dê certo na Síria. Mas não impediria a Guerra Civil. Isto é, a queda de Assad não significa a pacificação da Síria.
Infelizmente, de longe, muita gente acha que há soluções para todos os problemas do mundo. Na Síria, não há. Já existe uma guerra civil sanguinária que deve se agravar quando os confrontos atingirem Damasco e Aleppo. Não tem Obama, Sarkozy, Putin, Erdogan ou ditadores árabes como o rei Abdullah da Arábia Saudita que possam fazer algo. Aliás, podem sim, evitando que os choques sectários atravessem a fronteira para o Líbano. Fora isso, mais nada.
A melhor política externa para a Síria até agora é a de Israel. Apenas observar, sem falar muito. Critico muito Netanyahu. Mas ele é o único governante que parece entender a dimensão da crise síria.
http://blogs.estadao.com.br/gustavo-chacra/facam-como-israel-e-entendam-que-nao-existe-solucao-para-a-crise-na-siria/

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