Os tumultos sangrentos que atingiram as missões diplomáticas no Oriente Médio e culminaram com o assassinato do cônsul norte-americano Christopher Stevens em Benghazi, a segunda maior cidade da Líbia, podem ser compreendidos dentro do conjunto maior das disputas entre muçulmanos.
Os tumultos foram organizados pela escola radical salafista que fornece à Al-Qaeda a sua ideologia puritana. No caso de Benghazi, o ataque ao consulado foi planejado com antecedência pela Al-Qaeda para comemorar o onze de setembro.
As raízes da violência perpetrada por grupos islâmicos em todo o Oriente Médio derivam da comoção causada pela Primavera Árabe. A ascensão da Irmandade Muçulmana no Egito abriu as portas para que o discurso religioso prevaleça sobre o discurso liberal e secular, e o discurso islâmico já provou ser violento.
Já é sabido que o conflito principal dentro do Islã se deve à divisão entre xiitas e sunitas. Uma investigação mais profunda do mundo islâmico, no entanto, mostra tendências variadas dentro das complexas divisões religiosas. Enquanto os xiitas são controlados pela escola Twelver que domina o Irã (existem outras escolas xiitas, mas sem significado político relevante), os sunitas têm três escolas básicas que não coexistem pacificamente.
Entre os xiitas e os sunitas a diferença é tão ampla quanto a discordância entre salafistas e xiitas. A Irmandade Muçulmana sunita, por outro lado, está pronta para reconciliar-se com o Irã por motivos pragmáticos. A escola sufista, que é considerada a “bela adormecida” da corrente religiosa é o movimento sunita mais amigo dos xiitas. Os sufistas formam a maioria nos países árabes sunitas, mas não são politicamente ativos.
Assim, os salafistas e os sufistas estão em pólos opostos entre as variedades sunitas. Os salafistas são puritanos no seu monoteísmo, mas aceitam a veneração de pessoas ou locais sagrados, além de peregrinações à locais sagrados. Os sufistas, no entanto, entram em contato com Deus através de médiuns. Eles são também mais tranquilos em sua observância e nas suas crenças, enquanto que os salafistas são violentos e tendem a destruir os locais sagrados sufistas. A Irmandade Muçulmana encontra-se no meio do caminho entre as duas correntes procurando não hostilizar os sufistas, mas também não apoia a interpretação que estes fazem do Islã e preferem um estudo erudito sério, como se pode ver em sua associação com a Universidade Al-Azhar.
Atualmente, a tensão que resultou dos violentos ataques salafistas contra os sufistas fez com que estes últimos se aproximassem do Irã, com muitos deles se convertendo à corrente xiita. A conversão, no entanto, pode ser vista como um retorno às suas raízes, já que a dinastia que estabeleceu a corrente xiita como a religião do estado na Pérsia – a dinastia safawi – começou como uma ordem sufista. Mesmo hoje, os sufistas no Egito veneram Fátima, a filha do profeta Maomé e esposa de Ali, o único califa verdadeiro para os xiitas.
A disputa entre salafistas e sufistas enfraquece a Irmandade Muçulmana frente ao Irã. A Irmandade acredita na busca de um califado global que prevê uma eventual reconciliação com os xiitas do Irã. No entanto, enquanto perdura a guerra interna entre os sunitas a Irmandade não pode aproximar-se do Irã e da coesa instituição xiita.
Os salafistas são também uma ameaça econômica para a Irmandade Muçulmana. Como a reconciliação com o Irã ainda está muito longe, a relação do Egito com os Estados Unidos e seu apoio financeiro é vital para o funcionamento do país. Os salafistas, no entanto, vêem os Estados Unidos como Satã e rejeitam violentamente qualquer reaproximação entre os dois países. A violência vista no Sinai, com o assassinato do soldado egípcio e o recente assassinato do cônsul americano na Líbia, é a representação da tensão dentro do Islã político.
Fonte: WJC – World Jewish Congress em 19 de setembro de 2012.
Tradução: Adelina Naiditch – Naamat Pioneiras Brasil
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