Preconceito e contrastes por Roberto Musatti

– Esta semana o mundo agora globalizado em tempo real, foi “brindado” com o vídeo divulgado nas redes sociais da execução do jornalista James Foiley, decapitado por um britânico do grupo terrorista islâmico fundamentalista Isis. O que deve ser discutido não é o sentido emocional do evento – uma barbárie medieval em pleno século XXI, mas sim o leque de eventos atuais do Oriente Médio, que respingam fortemente na Europa e EUA.

A forte imigração islâmica na Europa, beneficiada na França pelas leis que facilitam a entrada de membros das ex-colonias do norte da África, na Inglaterra da mesma forma de paises da Commonwealth ou antigas partes do Império e na Alemanha, Holanda e Bélgica – pela necessidade de mão de obra barata em face de uma população que se torna mais afluente, mas diminui e envelhece a cada ano – criou o que se poderia chamar de ‘Gazas’ dentro de cidades como Paris, Marselha, Londres, Amsterdã e Hamburgo – redutos islâmicos de baixa renda onde os jovens ali nascidos não usufruem da mesma oportunidade de crescimento seja cultural ou financeiro, como no resto destes países.

Não chegam a ser ‘guetos’ como os judaicos desde a Idade Media até o século XIX, pois a liberdade de locomoção é garantida, porem acabam se tornando mercado alvo prime do idealismo fundamentalista islâmico que prega a Shaaria – a volta aos preceitos islâmicos ortodoxos do inicio do islamismo, ainda no começo da Idade Média. Contrastam com o desenvolvimento árabe, mouro e otomano que dominou o Mediterrâneo por quase dez séculos desde o século IX D.C. com califados extremamente desenvolvidos como os do norte da África, Espanha e Turquia. Figuras como Suleiman dito ‘O Magnífico’ ainda são reverenciados não pelas conquistas apenas, mas pelo desenvolvimento cultural que trouxeram aos seus domínios. O mesmo se diz de El Saladin – Saladino, o conquistador de Jerusalém.

A posição dos europeus é no mínimo suicida neste contexto. Criticam com ferocidade a atuação de Israel sempre que o estado judeu é chamado a defender sua existência ou a segurança de seus cidadãos, atacados por grupos fundamentalistas islâmicos que tem como objetivo inicial – histórico e atual – a destruição da única democracia do Oriente Médio. A cobertura de seus noticiários além de tendenciosa revela o anti-semitismo histórico da época imperial do Foreign Office britânico. Esquecem que Israel (como já afirmado décadas passadas com precisão) é apenas a primeira trincheira do embate entre Ocidente o Islamismo Ortodoxo.

As sociedades européias e alguns setores da americana, promovem boicote a produtos, professores, palestrantes de Israel pelo que chamam de reação desproporcional do país em defender seus cidadãos. Oferecem como alternativa a devolução pura e simples da Cisjordânia aos palestinos que assim formariam um estado ao lado de Israel e o fim do controle das importações de Gaza. Esquecem que em 2005 Israel devolveu unilateralmente Gaza aos palestinos que transformaram o local em plataforma de lançamento de foguetes e túneis subterrâneos para atacar os Kibutzim (fazendas coletivas) da fronteira, tudo com os materiais de construção liberados por Israel, financiados pela ONU, para a construção de creches, escolas, hospitais que nunca saíram do papel. Imaginem Israel com uma chuva de foguetes em três frentes: Gaza, Cisjordânia e Líbano (Hezbollah)! Aí sim correria o país serio risco de sobrevivência.

Quanto ao boicote, não se registra que europeus ou americanos mencionados, promovam o mesmo em relação aos paises que abrigam, incentivam ou financiam estes grupos islâmicos terroristas que alem das execuções como a de Daniel Pearl (em 2002) e Foiley promovem fuzilamentos em massa de opositores, aprisionam e vendem escravas sexuais e usam crianças como escudo humano de suas aventuras terroristas. Não se tem noticia de um boicote à Emirates ou Qatar Airways, de paises notoriamente conhecidos como financiadores destes grupos terroristas, que tudo negam com a maior cara de pau, apesar de terem aberto uma ‘embaixada em Gaza e permitido o Talebã abrir a sua em Doha. Mas a laranja de Jaffa israelense e palestrantes universitários da Universidade de Jerusalém… estes sim estão na lista negra da esquerda européia.

O ex-primeiro ministro turco Erdogan, agora eleito presidente, baseou boa parte de sua campanha em ataques a Israel, antigo aliado econômico e de defesa – tudo para tentar ser a liderança do mundo islâmico tão carente de verdadeiros líderes. Mas abriga em sua sociedade parte do comando do braço armado do Hamas que confirmou nesta semana terem sido sim os responsáveis pelo financiamento, seqüestro e morte dos três jovens estudantes israelenses em Junho. Também não se fala em boicote a produtos turcos na Europa.

O mundo moderno vive de percepções – não só de marketing, mas de tudo que nos cerca – idéias e experiências que ao correr do tempo se fixam em nossas mentes, cimentadas pela repetição e difíceis de serem alteradas. As recentes críticas unilaterais que Israel recebe inclusive do Brasil, só confirmam a percepção dos judeus de que no final do dia, só podem contar consigo mesmos para sobreviverem. Foram dois mil anos de perseguições religiosas sem sentido, culminando com o único holocausto vivido até hoje na historia humana, e que não acabaram mesmo com a criação do Estado Judeu vide as distorções atuais.

Em 1948 no dia de sua criação aprovada pela ONU, o país de 800 mil habitantes foi invadido por seis nações árabes que não aceitavam sua existência. O mundo nada fez e mesmo assim sobreviveram. O mesmo ocorreu de novo em 1967 e 1973 com a ONU e o mundo deixando para Israel a incumbência de se salvar. E sobreviveram de novo.

Enquanto o Ocidente continuar priorizando seus interesses econômicos qualquer vitória contra o terrorismo islâmico é impossível, capaz de ser revertida apenas punindo quem os financia e educa: Iran, Qatar, Emirados Árabes, Kuwait e Arábia Saudita – que pagam o ‘pedágio’ para que estes tresloucados façam sua revolução longe de seus domínios nada democráticos – tudo sob o pano de ONGs beneficientes de seus príncipes. Enquanto isso Cristãos, Curdos, Yazidis que não podem se defender são eliminados e judeus que podem – continuam recebendo tratamento preconceituoso da mídia internacional e da esquerda européia. Esquecem que os atuais foguetes de Gaza podem ser os de Londres, Paris, Madrid amanhã. Gargantas já começaram a rolar…

Roberto Musatti é Economista (USP), Mestre em Marketing (Michigan State) e Professor das Faculdades Reges.

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