- De uma invenção verdadeiramente revolucionária. Você entra nesta máquina, por aqui, e sai do outro lado um sujeito absolutamente singular.
- É mesmo?
- Sim. Todos, sem excessão, devem passar por ela. Quer experimentar?
- A singularidade do sujeito, então, está a depender de uma máquina por onde todos, sem excessão, devem passar?
- Isto mesmo.
- Mas não há, aí, um contra senso? Para ser um sujeito singular é preciso entrar numa máquina onde todos, sem excessão...
- Não, não há contra senso.
- Mas como não há?
- A singularidade do sujeito é função de ele se sujeitar à lei.
- À lei desta máquina?
- Sim.
- E se eu não quiser me submeter a esta lei em nome da minha singularidade enquanto sujeito?
- Aí, cara, você está fudido. Será sempre um cidadão de segunda classe.
- Então está bem. Eu entro.
- Ok, mas não se esqueça de uma coisa...
- O quê?
- Do outro lado não é como aqui.
- O que você quer dizer com isto?
- Que do outro lado você está proibido de falar em outra realidade que não a realidade psíquica.
- Está bem. E o quê mais?
- O sistema religioso do outro lado é monoteísta...
- Certo...
- E o nome de Deus deverá ser evocado em todas as circunstâncias, mesmo - e principalmente - em vão
- Hum, hum...
- Como Deus é incognoscível e Seu nome indizível, você deverá designá-lo sempre pela abreviatura Ics...
- Até aqui tudo bem.
- Quanto à vida, tome nota: só há uma e responde pelo nome de vida afetiva. Esta é a vida aflitiva, quero dizer, efetiva. Querendo, pode chamá-la de vida amorosa. É mais chique e está em grande voga.
- Acabou?
- Só um instantinho...
- Tem mais?
- Só mais esta recomendação: os seres humanos, do outro lado, são agrupados em estruturas clínicas, ouviu bem? Nada de falar em classes sociais!
- Mas...
- Não tem mais nem meio mais! Você quer ou não quer entrar na máquina?!
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