A África é composta por múltiplos grupos étnicos. Entre eles, os Igbos, da Nigéria. São cerca de 30 milhões de pessoas, com uma forte crença: a de que são descendentes de judeus.
Tal crença fez com que o advogado Remy Illona pesquisasse durante anos sobre a origem de seu povo, escrevendo, inclusive, diversos livros sobre o assunto.
Nascido ao final da guerra civil nigeriana, a Guerra de Biafra, no final dos anos 1960, ele foi batizado como católico. A guerra foi causada pela disputa de poder na Nigéria entre dois de seus principais grupos étnicos, os Haussas e os Igbos. Estes, que eram em cerca de 8 milhões, formavam a elite do país e tentaram tomar o poder. Sofreram o contragolpe, mas conseguiram declarar sua independência na República de Biafra, o que levou a uma guerra de três anos, na qual os Igbos foram massacrados pelos Haussas.
A Guerra de Biafra deixou mais de 1 milhão de Igbos mortos e fez com que a identificação dos igbos com os judeus assumisse uma nova profundidade. Eles chamam esse episódio de “nosso próprio Holocausto”.
“Características judaicas” lhes eram atribuídas antes da guerra: eram conhecidos por ser economicamente privilegiados e politicamente fortes, sendo, inclusive, chamados pela mídia internacional de “os judeus da África Ocidental”.
Como católico, Illona não se sentia feliz. “Antes da guerra, nossa comunidade era muito mais alegre. Estávamos perdendo a unidade étnica”.
O advogado, então, decidiu provar que os igbos são judeus. Entrevistou anciões de seu povo, que alegaram ter vindo de Israel. Também entrou em contato com a Kulanu, uma organização sem fins lucrativos que fornece suporte para comunidades judaicas isoladas no estrangeiro, que o auxiliou na pesquisa.
Alguns antropólogos e missionários já haviam comprovado a presença de israelitas na região, que fica em uma região da Nigéria sem qualquer tipo de demarcação oficial. Entretanto, Illona, por ter nascido e crescido como um Igbo, pôde provar com maior autenticidade suas crenças e tradições e relacioná-las ao judaísmo. Além dessa pesquisa na Nigéria, ele também viajou pela África para refazer os passos de seus antepassados e descobrir a origem deles.
O advogado descobriu que não estava sozinho nessa busca de identidade judaica. Muitos outros Igbos tinha tomado o mesmo caminho ao longo das últimas décadas: uma rede de comunidades nigerianas já havia abandonado todos os elementos do cristianismo. Estes Igbos passaram a aprender hebraico, a leitura de Torá, se definindo como judeus. Hoje, existem cerca de 4.000 dessas comunidades, com 70 sinagogas, localizadas principalmente em Igboland e Abuja.
"Quando conhecemos o judaísmo rabínico, vimos que ele é igual às nossas tradições", disse Illona."Os Igbos que descobriram isso largaram o cristianismo”. Alguns de seus costumes são a circuncisão após o oitavo dia de nascimento, luto de sete dias após a morte e reclusão de mulheres após o parto.
Os Igbos passam por um longo processo para ser reconhecidos como judeus. Diversos rabinos foram à Nigéria a fim de conhecer a comunidade. Todos, sem exceção, ficaram encantados com a maneira que o grupo pratica o judaísmo: “Fui levado pela forma como eles oram e cantam”, disse um deles, Barry Dolinger. Assim, o foco deixou de ser o passado dos Igbos e passa a ser a forma única com que exercem suas crenças.
Graças a Illona, milhares de Igbos começaram não apenas a se identificar com os judeus, como também a praticar o judaísmo.
Respostas