Judeus no México - Revista Morasha

Apesar da presença judaica no México datar dos primórdios
da conquista espanhola, no século 16, a atual comunidade judaica data do final do século 19 e início do século 20, quando chegaram ao país diferentes levas de imigrantes judeus oriundos do Império Otomano e da Europa.

Em 1492, ano em que os judeus foram definitivamente expulsos da Espanha, Cristóvão Colombo desembarcava nas Índias Ocidentais. Sabe-se que havia conversos1 integrando essa expedição, assim como em outras que foram até o Novo Mundo, muitas vezes até financiando tais viagens. Nas décadas seguintes, quando centenas de aventureiros espanhóis foram para as Américas, não houve um barco que não levasse consigo cristãos novos, como eram também chamados os conversos.

Eles também faziam parte da expedição de Hernán Cortés, que, em fevereiro de 1519, saiu de Cuba e desembarcou na ilha de Cozumel, situada perto da costa da Península de Iucatã, localizada no sudeste do território do atual México. Iucatã havia sido descoberta dois anos antes por uma expedição espanhola liderada por Francisco Hernández de Córdoba.

As notícias da existência de ouro em Iucatã eram um grande estímulo para os homens de Cortés. Para conquistar a região, eles não temem o enfrentamento com o Império Asteca, poder dominante da região, que atingira o apogeu sob o imperador Montezuma. Além de uma tecnologia militar superior – armas de ferro e aço e cavalos – uma casualidade ajudou os espanhóis a derrotar os temidos astecas. De acordo com antigos mitos, Quetzalcóatl, um de seus deuses, estava por regressar. Ao ser informado da chegada dos espanhóis, Montezuma crê que Cortés era a personificação dessa divindade. Envia-lhe, então, presentes em ouro e prata de grande valor, o que iria atiçar ainda mais a cobiça espanhola.

Em novembro, Cortés chega a Tenochtitlan, capital do Império, localizada onde atualmente é a Cidade do México. Montezuma recebe-os amigavelmente, mas, dias depois, é feito prisioneiro. Ao se tornar evidente que estes não eram deuses, os astecas se revoltam. Montezuma acaba sendo morto e seu sucessor, Cuauhtémoc, resiste ferozmente aos invasores. Mas, em meados de 1521, após um longo sítio, as tropas de Cortés tomam Tenochtitlan. É o inicio do Período Colonial, que durou até 1810.
Durante este período, o território do atual México fazia parte do vice-reinado da Nueva España, cuja capital era a Cidade do México. Incluía, também, as ilhas espanholas do Caribe, a América Central descendo até a Costa Rica, inclusive, e o sudoeste dos Estados Unidos.

A estrutura do império espanhol nas Américas tomou forma em 1533 e manteve sua estrutura até o final do século 18. Colônia de exploração, a economia da Nueva España era baseada na exploração das minas de prata e ouro, e o comércio estava sob rígido controle monopolista. A Igreja, rica e poderosa, dona de grandes extensões de terra, vai desempenhar um papel preponderante durante o Período Colonial.

Presença judaica

Em 1502, antes mesmo de o México ter sido descoberto, a Coroa Espanhola outorgara uma lei que fechava os domínios espanhóis nas Américas para os cristãos novos. De acordo com a lei, apenas cristãos velhos poderiam integrar-se às expedições. Eram, portanto, excluídos judeus, conversos, os que possuíam sangue judeu entre seus ancestrais e qualquer pessoa que tivesse sido processada pela Inquisição, bem como os mouros.

Mas, as notícias das riquezas das Américas, aliadas à possibilidade de viver longe da intolerância e do ódio e, principalmente, das garras da Inquisição, levaram milhares de conversos a procurar meios para embarcar para o Novo Mundo.

Nem todos os conversos que vieram para o Novo Mundo mantinham-se fieis à fé de seus ancestrais, mas, mesmo os que haviam abraçado o cristianismo, eram visados pela Inquisição e não estavam a salvo. Reservava-se maior hostilidade aos chamados “judaizantes”, cristãos novos suspeitos de continuarem praticando o judaísmo em segredo, ou, pior ainda, de levar outros cristãos novos de volta ao judaísmo.
Como vimos acima, havia conversos na expedição de Cortés, que, em 1519, desembarcou em Cozumel. Sabe-se também que participaram ativamente do processo de ocupação e colonização das principais áreas da Nova Espanha. Em 1528, quatro deles foram acusados de serem “judaizantes”, dois foram queimados vivos.

No mesmo período, aumentou o número de cristãos novos que se fixaram no território do atual México, vindos principalmente de Madri e Sevilha e de Portugal. Vinham como soldados, conquistadores e colonizadores. No ano de 1536 já havia comunidades de conversos em Tlaxcala e Mérida. Com o surgimento de novos centros de mineração, havia conversos, entre outros, em Taxco, Zacualpan, Zumpango del Rio, Espírito Santo e Tlalpujahua. No final do século 16, surgiram pequenos núcleos em Guadalajara, Puebla, Querétaro, Oaxaca e Michoacan, entre outras áreas. Sabe-se que, no início do século 17, havia pelo menos um grupo de conversos em cada cidade.

Sua ativa participação na vida econômica e comercial leva-os a prosperar, mantendo relações comerciais com conversos da Espanha, de Portugal, Inglaterra, Holanda e do Império Otomano. Mas, a sociedade colonial os via com antipatia e desprezo e a Inquisição era uma ameaça constante em sua vida. Os conversos mantinham estreitos laços entre si e procuravam casar seus filhos entre os membros do grupo. Apesar dos perigos, reuniam-se para rezar em quartos secretos, nas casas de líderes comunitários, que, muitas vezes, atuavam como rabinos.

A família Carvajal

A família Carvajal escreveu um capítulo importante na história dos judeus no México. Em 1579, o converso Don Luís de Carvajal y de la Cueva, El Viejo (o Velho) foi indicado pela Coroa espanhola como governador de um distrito no México. Como agradecimento por sua indicação, colonizou uma extensa área com recursos próprios. Denominou sua jurisdição de Nuevo Reino de Leon. O território incluía uma porção significativa do México atual, bem como partes do Texas e do Novo México. A Coroa deu-lhe a permissão de trazer da Espanha 100 famílias, a maioria delas de conversos. Uma década após seu estabelecimento, já eram uma comunidade significativa. Mas suas expectativas de conseguir escapar das perseguições foram frustradas, pois muitos deles, acusados de serem “judaizantes”, foram punidos.
Outra figura importante foi Luis de Carvajal, El Mozo (o Jovem), neto de Luis de Carvajal y Cueva. A casa onde ele e vários membros da família viviam, na Cidade do México, no bairro Santiago Tlatelco, era uma sinagoga e um lugar de refúgio. El Mozo foi preso pela Inquisição em duas ocasiões e morreu na fogueira em 8 de dezembro de 1596. Após sua última prisão, foi cruelmente torturado até denunciar 21 pessoas, incluindo sua família imediata, apesar de ter repudiado sua confissão, posteriormente. Deixou significativo material escrito, que ficou escondido nos arquivos da Inquisição Mexicana durante mais de 300 anos antes de serem liberados. Luis de Carvajal é reconhecido, hoje, como o primeiro autor judeu no Novo Mundo.

A inquisição no México

A Inquisição chegou às Índias Ocidentais por volta de 1519, exatamente quando Cortés iniciava a conquista do México. Em 1527, foram nomeados os primeiros bispos do México, com autorização para atuar como inquisidores. Um dos principais alvos da Inquisição eram os “judaizantes” – conversos que retornavam ao judaísmo.
Assim como em todos os lugares onde atuavam, os inquisidores escolhiam um dia em que todos eram obrigados a assistir a uma missa especial, e ali ouvir o “édito” da Inquisição que condenava, além do judaísmo, várias outras heresias. Os que se julgavam culpados de “contaminação” deviam apresentar-se e confessar dentro de um período estipulado, sem incorrer em penitências sérias. Eram obrigados, porém, a denunciar outros supostos culpados. Na verdade, esse era o requisito crucial para poder escapar sem nada mais severo que uma penitência. Os acusados podiam ficar encarcerados durante anos, sem ao menos saber a transgressão de que se dizia serem culpados, nem quem os denunciara. A prisão era invariavelmente seguida do imediato confisco de todos os seus pertences, desde a casa até as roupas, os pratos e panelas. Não foram poucas as vezes em que acusações eram fabricadas, visando obter os bens e propriedades do indivíduo, que jamais eram devolvidos, mesmo sendo o acusado inocentado.

A Inquisição estabeleceu seu próprio tribunal no México em 1570, na Cidade do México. A Igreja fazia do Auto-de-fé um grande espetáculo e a cidade se preparava como para uma festa, sendo convidados à cidade para a ocasião dignitários provinciais.
O primeiro Auto-de-fé foi realizado quatro anos mais tarde. No dia 28 de fevereiro de 1574, era protestante a maioria dos 74 prisioneiros levados a julgamento. Estima-se que entre 1574 e 1603, mais de 115 conversos tenham sido condenados.

O ponto alto da Inquisição no México veio com o Grande Auto de 11 de abril de 1649. Anunciado de antemão por trombetas e tambores por todo o México, atraiu as multidões que começaram a chegar à Cidade do México duas semanas antes do acontecimento. No dia anterior ao “evento”, muitos espectadores chegaram à praça onde se realizaria o Auto-de-fé, permanecendo a noite toda para não perder os lugares ou a visão dos acontecimentos. No total, foram julgados e condenados 109 prisioneiros, dos quais apenas um não era cristão novo. Representavam “a maior parte do comércio do México”, pois os conversos dominavam o comércio entre a Espanha e suas colônias. Dos 109 prisioneiros, 13 foram sentenciados à estaca e 20 queimados em efígie – não estando de corpo presente. Desses 20, alguns haviam escapado da prisão, outros morreram sob tortura e dois deram fim à vida.

Os confiscos relacionados ao Grande Auto trouxeram aos cofres da Inquisição um total de três milhões de pesos. Essa quantia teria bastado para construir mais de 238 grandes prédios municipais. Entre 1646 e 1649, com seus confiscos a Inquisição obteve renda suficiente para se manter por 327 anos.

A incansável atuação da Inquisição e a violência dos Autos-de-fé semearam o medo entre os cristãos-novos e, gradativamente, as comunidades conversas foram desaparecendo. Já no século 18 há poucos indícios da presença judaica na região.

Século 19 – da Independência a 1900

A luta pela independência mexicana teve início em 1810 e prolongou-se até 1821. A guerra civil deixou o México destruído, sua economia arruinada e uma imensa dívida externa. Em 1823 nasce um novo país, independente: os Estados Unidos Mexicanos.
A guerra da independência foi um dos episódios da longa e sangrenta luta entre forças liberais e conservadoras que dominaram a história do país no século 19. Enquanto os conservadores queriam um governo de centro, eventualmente uma monarquia sob os Bourbon, em que Igreja e militares mantivessem seus poderes tradicionais, os liberais queriam um governo federalista e a limitação da influência da Igreja Católica e dos militares sobre o país. Para os liberais, o poder da Igreja era o maior entrave para qualquer avanço político ou econômico.

No decorrer do século 19, governos liberais são derrubados por forças militares conservadoras e vice-versa. O resultado foi um período de grande instabilidade política e caos econômico. A pobreza e as doenças tomaram conta do país. Na Europa, dizia-se que “no México, se não se morre de epidemia, morre-se por causa das guerras internas”.

Como foi mencionado acima, não havia praticamente judeus no país no final do século 18. As antigas comunidades de conversos haviam desaparecido e apenas uma dezena de judeus se aventurara a entrar no país. Ademais, até 1860, quando o então presidente liberal Benito Juaréz instituiu a liberdade religiosa, o catolicismo era a única religião oficial do Estado. E ainda era grande o preconceito e desconfiança do povo em relação aos judeus, uma herança da Inquisição e do fato do México ser um país de grande devoção católica.

O número de judeus foi aumentando após o México fechar acordos comerciais com empresas europeias que pertenciam a judeus e alguns de seus representantes passarem a viver no país. Em 1861, já havia uma comunidade judaica organizada. Na ocasião, a mídia judaica londrina publicara que “100 famílias judias planejam construir uma sinagoga na Cidade do México”. Muitas, porém, acabam por deixar o país em decorrência da violência das revoltas e contrarrevoltas.

As lutas internas acabam com uma intervenção francesa e a formação do Segundo Império Mexicano. Em 1864, Maximiliano de Hamburgo torna-se imperador do México. Ele traz consigo 100 famílias judias da Bélgica, França, Áustria e Alsácia. Abastados e com estreitas ligações com a aristocracia, chegaram a cogitar a possibilidade de construir uma sinagoga, mas nada foi feito nesse sentido. Em 1867 as forças liberais derrubam o império e prendem Maximiliano, que é fuzilado em junho desse ano.

A maioria dos judeus deixa o México e, na década seguinte, a vida comunitária judaica quase desaparece. Em 1879 havia apenas 20 famílias na Cidade do México, a assimilação atingira níveis altíssimos e eram frequentes os casamentos mistos. Com a subida ao poder de Porfirio Diaz, em 1876, o país entra em um período de estabilidade política e desenvolvimento econômico. Investidores estrangeiros passam a ver a nação como uma opção para seus negócios. Ainda era pequeno o número de judeus que vivia na Cidade do México, mas este foi crescendo com a chegada de correligionários europeus.
Entre os representantes de companhias estrangeiras que passaram a investir no país havia inúmeros judeus, ainda que não se identificassem abertamente como tal. Abastados, assimilados eram oriundos de vários países – França, Áustria, Alemanha, Itália, Bélgica, Estados Unidos e Canadá. Mas, apesar de não quererem se envolver em assuntos da comunidade judaica local, eles cooperaram economicamente em situações de crise, como na época dos pogroms de 1881, na Rússia.

Apesar do seu pequeno número, não foi desprezível a participação dos judeus na vida econômica e política do México, e grandes empreendimentos foram fundados nesse período por eles, entre os quais, o Palácio de Hierro e o Banco Nacional do México.

No início do século 20 começou a exploração petrolífera no país. Ainda que as concessões tenham sido entregues a companhias estrangeiras, a exploração levou o país a uma industrialização. Os judeus vão participar ativamente desse processo.

As bases da atual comunidade

As bases da atual comunidade judaica mexicana foram criadas no final do século 19 e início do século 20, quando chegaram ao país diferentes levas de imigrantes judeus oriundos do Império Otomano e da Europa. Durante o governo de Porfirio Diaz a imigração judaica era incentivada, pois era vista como muito positiva para a nação.

A deterioração da qualidade de vida dos judeus no Império Turco-otomano, além das novas leis de alistamento obrigatório, levaram jovens judeus a deixarem seus países de origem para se estabelecer em terras com melhores condições econômicas.

Os primeiros judeus sírios vindos de Damasco e Alepo chegaram ao México em 1899. Eles vão ser os primeiros a tentar reconstruir sua vida no país, pois até então o México era visto como paragem transitória. Sem recursos financeiros, sem conhecer o país e nem falar o idioma, a maioria começou trabalhando como vendedores ambulantes, na esperança de conseguir os meios financeiros para mandar buscar toda a família. A comunidade judaica síria foi-se formando, pois, de modo geral, havia entre eles estreitos laços familiares. Tradicionalistas e religiosos, reuniam-se para as preces diárias e festas religiosas em casas particulares. Nesse mesmo período chegaram, também, ao México, judeus dos Bálcãs e da Turquia.

Paralelamente, os asquenazitas tentavam organizar uma vida comunitária. Em 1904, um grupo chamado “El Comité” organizou os serviços de Rosh Hashaná num Centro Maçônico. Quatro anos mais tarde é estabelecida a “Sociedad de Beneficencia Monte Sinai”. A criação dessa comunidade se deu, em grande parte, graças aos esforços do rabino Martin Zielonka, enviado ao México pela União Americana das Congregações Hebraicas. Essa organização decidira incentivar a formação de uma comunidade judaica para evitar a emigração ilegal de judeus para os Estados Unidos. A nova sociedade beneficente não teve vida longa. Entre outros, inúmeros asquenazitas deixaram o país quando eclodiu a Revolução Mexicana de 1910, considerada o acontecimento político e social mais importante do século 20 no México.

O conflito revolucionário resultou na diminuição da população judaica. Mas, apesar da violência e da falta de alimentos, os judeus oriundos do Império Otomano e da Rússia lá permaneceram. Além de não terem meios financeiros para voltar para suas cidades, não tinham para onde voltar. O que os esperava não era melhor do que a situação reinante.
Em 1912 é, então, criada na Cidade do México a “Alianza Monte Sinai”, a AMS, por iniciativa de um judeu de Salônica, Isaac Capon. A nova entidade reuniria judeus de todas as nacionalidades. Uma das primeiras medidas tomadas foi o estabelecimento de um cemitério judaico. Graças ao bom relacionamento entre Jacobo Granat, um dos dirigentes da Alianza, com Francisco I. Madero, líder revolucionário que assumira a presidência mexicana, a AMS teve autorização para adquirir um terreno para o primeiro cemitério judaico do país.

Em 1918, compraram uma casa no centro da Cidade do México, que viria a ser a primeira sinagoga da comunidade judaica mexicana. O dia em que o presidente Venustiano Carranza assinou a autorização da nova sinagoga tornou-se uma data memorável, pois foi a primeira vez em que a comunidade judaica foi reconhecida por lei.

Apesar de altos e baixos, a AMS conseguiu manter-se unida por uma década, durante a qual a instituição realizava serviços religiosos e oferecia assistência aos novos imigrantes, incluindo aulas de hebraico, refeições casher e serviços de mohel. Havia, também, uma mikvê.

Após anos de lutas internas e penúria, os políticos mexicanos convenceram-se da necessidade de uma nova constituição. Ela vai ser outorgada em 1917. O objetivo era a independência econômica e o desenvolvimento do país. Entre as novas disposições, são definidas novas relações de trabalho, mais humanizadas. É também reafirmada a liberdade religiosa e definida uma nítida separação entre Estado e Igreja. Esta última, assim como outras entidades religiosas, devia submeter-se às leis constitucionais.
chegada de novos imigrantes

Em 1912, a população judaica do México era de 12 mil pessoas, aproximadamente, representando cerca de 0,1% da população mexicana que então somava 12 milhões. A imigração tanto sefaradita quanto asquenazita, principalmente da Europa Oriental, continuou nas primeiras décadas do século 20.

Curiosamente, os primeiros imigrantes judeus da Europa Oriental chegaram em 1917, através dos EUA. Esse país entrara na 1ª Guerra Mundial e esses imigrantes não queriam servir no exército americano. Eram homens jovens que falavam russo e iídiche. Sionistas, fundaram na Cidade do México a primeira organização cultural judaica do país: a Associação Hebraica de Homens Jovens (em inglês, YMHA), que funcionava como um clube e se dedicava à promoção da cultura e do esporte. A YMHA tornou-se um ponto de encontros sociais e auxílio econômico para os novos imigrantes asquenazitas.

A década de 1920

Esses anos foram decisivos para a consolidação da comunidade judaica local. Em 1921 o México passa a ser o segundo produtor mundial de petróleo e a nação está em franco processo de reconstrução econômica.

É, também, no início da década de 1920 que começa uma imigração maciça de judeus vindos de todas as partes do mundo, mas principalmente da Europa Central e Oriental. Somente no ano de 1920 chegaram aproximadamente 9 mil ashquenazim e 6 mil sefaradim, elevando o número de judeus no México ao total de 21 mil pessoas. A grande maioria estabeleceu-se na Cidade do México.

Para muitos, o país era apenas uma escala em sua jornada rumo aos EUA. Mas, com o estabelecimento de cotas de imigração por parte das autoridades americanas, em 1921, que se tornaram mais rígidas em 1924, grande contingente dessas famílias ficou no México. Para a comunidade asquenazita, a nova onda migratória foi muito significativa, pois até então mais da metade da população judaica era sefaradita.
Nessa década, a comunidade passou por uma reestruturação. As diferenças de língua, rituais religiosos e até hábitos do cotidiano, especialmente entre os que vinham da Europa e do Oriente Médio, levaram diferentes grupos ao estabelecimento de comunidades separadas. Cada uma ergueu suas sinagogas, mantendo casas de estudos, organizações beneficentes, escolas e até cemitérios individualizados.

A separação dos ashquenazim da AMS se deu em 1922, quando este grupo decidiu realizar serviços religiosos independentes e criou a Nidje Israel (Consejo Comunitario Askenazi). Em 1924 foi a vez dos judeus da Turquia, Grécia e dos Bálcãs – que falavam o ladino – separarem-se da AMS, fundando a sua própria organização e associação de assistência social, a Fraternidad. Em 1940 a Fraternidad, integrou-se à Buena Voluntad e ao movimento juvenil Unión y Progreso, criando a Unión Sefaradi. Judeus de Alepo também se separaram da AMS para criar o que é hoje a comunidade Magen David (antiga Sedaká u Marpé). Na realidade, mesmo antes da construção de sua primeira sinagoga, em 1931, a Rodfe Sedek, os judeus alepinos tinham seus próprios locais de reza, escolas e instituições beneficentes. A AMS passou a ser liderada pelos damascenos, que, em 1935, mudaram seu estatuto e seu nome, passando a ser conhecida como a comunidade Monte Sinai, que reunia os judeus de Damasco.

O sionismo sempre teve grande apelo entre os judeus mexicanos e, em 1925, foi criada a Federação Sionista. Mas, por não se sentirem confortáveis nas reuniões nas quais a língua predominante era o iídiche, os sefaraditas fundaram sua própria organização sionista, a Bnei Kedem.

A década de 1920 viu prosperarem os judeus do México e participarem ativamente no processo de desenvolvimento e industrialização do país. O Banco Mercantil, fundado pelos judeus, passou a financiar a aquisição de máquinas para a indústria têxtil e outros segmentos, ajudando os judeus a abrirem seus próprios negócios. Em 1931 foi criada a Câmara Israelita de Indústria y Comércio com o objetivo de coordenar o esforço judaico para se organizar economicamente e representar a comunidade junto às autoridades.

Política imigratória e antissemitismo

No final da década, há uma mudança na política mexicana em relação à imigração, que até então mantivera uma postura aberta. Antes da Revolução Mexicana não havia praticamente uma regulamentação legal desta questão e, durante toda a década, o governo convidara os judeus a imigrarem para o México.

No final dos anos 1920, porém, a situação mudou. O nacionalismo ocupa um lugar central no projeto político de reconstrução nacional. Uma nova política migratória seletiva vai ser o resultado da busca de um desenvolvimento econômico autônomo e de um perfil populacional próprio. Esse perfil seria o resultado da homogeneização da população através da “mestiçagem”, entendida como fusão, assimilação e dissolução de grupos étnicos. Além de critérios, também o viés econômico passa a orientar a política migratória. A partir de 1927 o Congresso aprova uma nova legislação para a imigração baseada em critérios éticos-raciais, a capacidade de assimilação dos imigrantes e sua contribuição para o desenvolvimento do país.

Em 1936, a Lei Populacional estabelece diferentes cotas de imigração e elabora tabelas com restrições a determinados grupos de estrangeiros. Os grupos objeto de maior hostilidade foram os chineses e os judeus.

Apesar dos intensos esforços feitos pelos judeus locais e das pressões internacionais, os judeus alemães e austríacos que haviam fugido da Alemanha nazista tinham dificuldades para entrar no país, e o governo concedia apenas dez vistos por ano para poloneses e romenos. Entre 1933 e 1945, o México recebeu apenas 1.850 judeus.

O suposto “interesse nacional” foi também utilizado internamente como estratégia discriminatória. Na década de 1930 há um aumento do antissemitismo, expresso através de ataques dos grupos fascistas locais, entre os quais, o “Camisas Doradas” e o Comitê Pró-Raça, que buscou expulsar do país os estrangeiros já residentes. Em maio de 1931, a população judaica fica chocada com a expulsão de 250 comerciantes judeus do mercado La Lagunilla. Determinados a resistir a tais situações, as inúmeras entidades judaicas mexicanas se unem para criar o Comité Central Israelita do México.
Segunda metade do século 20

Na segunda metade do século 20 a ascensão socioeconômica alçou os judeus às esferas mais altas da sociedade mexicana. Novos ventos sopram, provocando uma mudança positiva definitiva no relacionamento entre as comunidades judaicas e o Estado, em 1992. Desde 1940 as relações entre Estado e Igreja baseavam-se no acordo segundo o qual o Governo não interferia nas questões da Igreja em troca do reconhecimento da Igreja da hegemonia sociopolítica do Estado. Esta equação aplicava-se em relação a qualquer grupo religioso. Os judeus haviam-se adaptado, registrando suas congregações e sinagogas como associações civis. Mas, com a reforma constitucional de 1992, há um reconhecimento legal das instituições religiosas e de suas atividades comunitárias.

A ligação entre os judeus do México e Israel sempre foi forte, mas, apesar dos esforços, não consegue mudar, em várias ocasiões, a política antissionista do governo mexicano. Na histórica votação das Nações Unidas que, em 29 de novembro de 1947, decidiu a Partilha da Palestina, o México se absteve. E só reconheceu o Estado de Israel em abril de 1952. Mas, o momento mais grave se deu em 1975, quando o então presidente do México, Luis Echeverria, propôs à Assembleia Geral das Nações Unidas que o sionismo fosse considerado uma forma de racismo. A Resolução acabou sendo aprovada e as relações diplomáticas entre Israel e o México ficaram tensas. O México mudou sua posição em 1992, quando o então presidente Carlos Salinas propôs e conseguiu a revogação da Resolução de 1975, na ONU.

Século 21

De acordo com dados publicados pelo World Jewish Congress, atualmente a comunidade judaica mexicana soma 40 mil a 50 mil membros, dos quais cerca de 37 mil vivem na Cidade do México. Há, também, comunidades em Guadalajara, Monterrey, Tijuana, Cancun e San Miguel. Diferentemente de outros países onde a percentagem de casamentos mistos passou de 50%, no México apenas 6% dos casamentos são de judeus com não-judeus. Há cerca de 30 sinagogas na Cidade do México e número igual de locais menores para orações e estudos e cerca de 20 locais adicionais alugados para os serviços durante as Grandes Festas. Duas sinagogas são conservadoras e as demais, ortodoxas.

Cerca de 95% dos judeus na Cidade do México estão diretamente afiliados à alguma comunidade ou ao renomado Centro Desportivo Israelita (CDI). Cada comunidade fornece praticamente todos os serviços do ciclo de vida de seus membros – desde o nascimento ao falecimento. Isso abrange os âmbitos religioso, educacional, social, cultural e assistencial.

O Centro Desportivo Israelita (CDI), fundado em 1950, tem atualmente mais de 28 mil membros. Além de uma infraestrutura excelente para a prática de esportes, possui, também, uma galeria de arte, um teatro e um salão para eventos. Ali é realizado, anualmente, o mais importante Festival de Dança e Música Judaica da América Latina.
A rede judaica de educação conta com 16 escolas na Cidade do México. Segundo as estatísticas, mais de 90% das crianças judias estudam em estabelecimentos da comunidade, da pré-escola ao ensino médio.

Há, ainda, 16 movimentos juvenis com aproximadamente 2 mil membros, a maioria dos quais identificados com o Estado de Israel. Anualmente, milhares de jovens judeus mexicanos visitam o Estado Judeu através de programas organizados pelas escolas.

1 Na Espanha, após os pogroms de 1391 e até o Édito de expulsão de 1492, milhares de judeus foram obrigados, na ponta da espada, a renunciar à sua fé e abraçar o cristianismo. Ficam conhecidos como conversos, cristãos novos ou, pejorativamente, marranos. Na literatura judaica são chamados de anusim.

BIbliografia:
Los Judios de Alepo em México, coordenação Liz Hamui de Halabe , ed. Maguen David Unikel-Fasja, Monica, Sinagogas de México Perez de Cohen, Rosalynda, Levy de Behar, Simonette , Bejarano de Goldberg, Sophie, Sefarad de ayer ou i manyana, Presencia Sefaradí em México Cincuenta Años del Centro Deportivo Israelita

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