A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada por Vatican Insider, 21-01-2014. A tradução é do Cepat.
O tema da abertura aos estudiosos do arquivo vaticano que contém o enorme acervo de documentos relacionados ao pontificado de Pio XII continua sendo, há décadas, fonte de polêmicas. Voltou a falar sobre a questão, em uma entrevista ao jornal “Sunday Times”, o rabino argentino Abraham Skorka, reitor do Seminário rabínico de Buenos Aires e amigo do papa Francisco, com quem conversou amplamente sobre muitos temas da atualidade. Skorka declarou: “Acredito que abrirá os arquivos. A questão é muito delicada e devemos continuar analisando-a”. Segundo o que afirmou o rabino, Francisco teria a intenção de proceder com a abertura, antes de continuar com o processo de canonização de Pio XII.
O padre Federico Lombardi, diretor da Sala de Imprensa vaticana, respondeu em alusão às palavras de Skorka, que “a abertura dos arquivos vaticanos, pouco a pouco, e dos diferentes aspectos relacionados ao pontificado de Pio XII, ainda fechados, trata-se de uma orientação que há décadas a Santa Sé seguiu e que insistiu em várias ocasiões”. “A abertura, que está programada há anos – acrescentou Lombardi – exige tempos técnicos para o trabalho de catalogação dos documentos, antes de permitir sua consulta. Os arquivos, em definitivo, deveriam ser abertos quando, terminado a catalogação, sejam efetivamente consultáveis”.
Vale recordar que, por desejo de Paulo VI (que pôde viver ao lado de Pacelli o drama da guerra, e, como papa, defendeu-lhe publicamente durante a peregrinação à Terra Santa, cinquenta anos atrás), uma considerável e significativa seleção de documentos relacionados àquele período foi colocado à disposição dos estudiosos, sendo publicada uma série de onze volumes (em doze tomos). São as “Actes et Documents du Saint Siège relatifs à la Seconde Guerre Mondiale” (ADSS). Uma equipe de jesuítas historiadores foi a responsável em realizar a seleção, formada pelos padres Pierre Blet, Angelo Martini, Burkhart Schneider e Robert A. Graham. Os volumes, muitas vezes ignorados pelos polemistas, foram publicados pela Libreria Editrice Vaticana, entre 1965 e 1981.
O desejo de proceder com a abertura dos arquivos marcou a todos os últimos pontífices. Em junho de 2009, o Prefeito do Arquivo Secreto, o bispo Sergio Pagano, anunciou que ainda seriam necessários cinco ou seis anos antes de colocar à disposição os documentos do pontificado de Pacelli. São aproximadamente 16 milhões de documentos que compreendem o período que vai de 1939 a 1958. Antes de se tornar possível o acesso a esses documentos, é necessário que tudo esteja devidamente catalogado segundo os critérios científicos. Isso exige tempo e dinheiro. E não se pode esquecer que, uma vez abertos, os arquivos muitas vezes não são consultados, uma vez que nem sempre todos aqueles que exijam em alta voz a sua abertura estão dispostos a dedicar o tempo necessário, e necessariamente longo, à consulta dos documentos.
Em relação ao processo de beatificação de Pio XII, não se pode esquecer que, em maio de 2007, os cardeais e bispos da Congregação para as Causas dos Santos foram favoráveis à proclamação da heroicidade das virtudes de Pacelli. No entanto, Bento XVI não promulgou imediatamente o decreto e ordenou uma investigação histórica adicional, exatamente sobre os documentos dos arquivos vaticanos. Um trabalho que durou mais de dois anos e cujas conclusões resultaram positivas para a causa. Assim, supreendentemente, em dezembro de 2009, o papa Ratzinger promulgou o decreto sobre Pacelli, concluindo o processo. O que falta para uma eventual beatificação é o reconhecimento de um milagre atribuído à intercessão de Pio XII.
Em julho de 2013, por ocasião do 70º aniversário do bombardeio do bairro romano de San Lorenzo, o papa Francisco citou seu predecessor Pio XII em uma carta ao cardeal vigário de Roma, na qual recordou que naquela ocasião “demonstrou-se um pastor apuradíssimo, que está no meio do próprio rebanho, especialmente na hora da prova, pronto para combater os sofrimentos de sua gente”.
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