Uma homenagem aos judeus de Portugal vitimados pelo Pogrom do Pessach de 1506 - Jayme Fucs Bar
Oficialmente, já não havia judaísmo em Portugal desde 1496.
Contudo, em Lisboa, um grupo de judeus cristãos-novos foi denunciado em 17 de abril de 1506, por realizar um seder de Pessach clandestino, comendo o pão sem fermento e contando a história da libertação do povo hebreu do cativeiro do Egito.
Aquele dia fatídico era também a primeira noite de Pessach, data que, por acaso, coincidiu com a Páscoa dos cristãos nesse ano em particular.
A cerimônia deles foi interrompida pelos religiosos fanáticos de Portugal, que prenderam em flagrante dezessete pessoas, as quais, em seguida, foram imediatamente encaminhadas para a prisão. Enquanto isso, a multidão de curiosos que assistia a tudo, aos gritos, pedia que fossem queimados vivos por heresia.
Esses dias foram um período difícil em Lisboa, onde a peste inclemente matava dezenas de pessoas por dia de forma desenfreada. Para completar, a forte seca que se abatera em Portugal havia trazido também a fome. Essa era uma situação altamente propícia para o ódio e para o fanatismo religioso contra os cristãos-novos, os “hereges” que não abraçavam a fé no catolicismo.
Devido à peste, o Rei Dom Manuel I e grande parte dos fidalgos
lisboetas abandonaram a capital portuguesa. Sem uma ordem pública, a cidade ficou nas mãos dos fanáticos padres dominicanos, que realizavam preces públicas nas praças e nas igrejas de Lisboa.
No dia 19 de abril de 1506, um domingo e terceiro dia de Pessach, a igreja do Convento de São Domingos estava lotada de fiéis. Em um altar, havia um relicário de vidro que muitos acreditavam estar iluminando a imagem de Cristo de forma sobrenatural. Os fiéis gritavam “milagre, milagre!” ao observar a luz no rosto da estátua. Um cristão-novo que estava na igreja, talvez por sua ingenuidade, disse que aquilo não era milagre, e sim o reflexo da luz da candeia pendurada ao lado da imagem de Jesus.
Ouvir aquelas palavras ingênuas saindo da boca de um odiado judeu cristão-novo foi mais do que suficiente para que a multidão de cristãos dentro da igreja, sob o comando dos padres dominicanos, se enchesse de ira, a ponto de agarrar, matar e esquartejar o cristão-novo. Em seguida, jogaram os pedaços do corpo numa imensa fogueira construída de imediato diante da igreja, na Praça do Rossio.
Os padres dominicanos lideraram a turba. Dois deles atuaram como verdadeiros carrascos, cujos nomes eram João Mocho e Bernardo Aragão. Da igreja, saíram comandando as massas carregando um grande crucifixo nas mãos e gritando: “Morte aos hereges judeus!”. A massa popular, sedenta de sangue, capturou, perseguiu e arrancou os cristãos-novos de suas casas, levando-os para as fogueiras onde seriam queimados vivos.
As casas e os pertences das vítimas foram saqueados. Crianças e bebês foram jogados pelas janelas e contra as paredes. Por três dias, Lisboa foi palco de um massacre em que um grande número de cristãos-novos sofreu mortes violentas.
Calcula-se que mais de 2 mil judeus foram assassinados no massacre da Páscoa de 1506 em Lisboa.
O Pogrom do Pessach de 19 de abril de 1506 terminou apenas com
a intervenção de Dom Manuel I, que, furioso, mandou prender os dois carrascos dominicanos como exemplo. Como punição, os padres foram garroteados e mortos. Além deles, a Coroa, a fim de dar um bom exemplo, mandou enforcar cinquenta pessoas em praça pública, por participarem do massacre dos judeus cristãos-novos de Lisboa.
Esse foi um dos episódios mais terríveis da história dos judeus de
Portugal. Tudo isso se passou na semana de Pessach, nos dias em que comemoramos a nossa libertação como escravos do Egito.
A memória de judeus e judias massacrados pelo Pogrom do Pessach de 19 de abril de 1506 jamais será esquecida!

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