Termos, costumes e expressões populares de origem judaica no Brasil e em Portugal. Jayme Fucs Bar
 
Apresento a vocês uma lista de termos e expressões populares, usados até hoje em nosso idioma. Muitos não sabem, mas esses termos têm origem na herança judaica de Portugal e do Brasil colonial:
Fazer mesura pode estar relacionado à mezuzá, peça colocada
no umbral das portas dos judeus.
O nome Seridó, região do Rio Grande do Norte e da Paraíba, pode ter origem na palavra hebraica “she’erit”, que significa “refúgio de Deus”, ou no termo “serid”, que significa “refúgio”.
Ficar a ver navios se relaciona ao decreto do Rei Dom Manuel I, quando em 1497 concentrou os judeus de Portugal no porto de Lisboa, sob a promessa de que haveria navios suficientes para que todos partissem de Portugal. Na verdade “ficaram a ver navios” e foram batizados à força.
Passar a mão na cabeça é uma expressão que pode ter relação com o hábito judaico de benzer com a mão na cabeça um filho ou filha, um neto ou neta, um sobrinho ou uma sobrinha.
Que Deus te crie, expressão popular utilizada quando alguém dá um grande espirro ou durante a bênção de um familiar, vem da herança judaica, originalmente da frase “Elohim shmor”, que pode ser traduzida como “Deus te guarde”.
Pedir a bênção ou, no Nordeste do Brasil, “pedir a ‘bença’” é um costume judaico que se tornou muito popular na cultura popular católica.
Entrar e sair pela mesma porta é uma expressão supersticiosa sobre o ato de entrar e sair de um lugar, como forma de obter sorte e felicidade, cuja origem se relaciona ao conceito da mezuzá, item afixado nos umbrais das portas das casas dos judeus.
Que massada! é dita sempre de forma relacionada a algo muito negativo. Esse dizer provavelmente se refere à história de Massada, fortaleza localizada no deserto da Judeia, que serviu como o último baluarte de resistência e utilizado pelos judeus zelotes em sua rebelião contra o Império Romano, onde, no ano 73 da Era Comum, ocorreu um suicídio coletivo realizado pelos judeus, para que não fossem escravizados, mortos ou torturados pelos romanos.
Apontar para as estrelas faz nascer verrugas nos dedos, essa expressão se relaciona à superstição popular, utilizada para proibir as crianças de ficarem esperando a chegada das estrelas que anunciam a entrada e a saída do shabat. Este fato, na época da Inquisição, poderia ser tornar perigoso caso fosse visto em público, motivo de provável denúncia por prática judaizante.
Caiu a carapuça ou a carapuça serviu são expressões que provavelmente se relacionam com o traje obrigatório utilizado pelos judeus para se distinguir da comunidade cristã. Era um tipo de gorro mais parecido com um chapéu cônico de três pontas.
Lá onde Judas perdeu as botas é uma expressão que pode se relacionar aos lugares do interior para onde os judeus fugiram e se refugiaram. Mas, mesmo assim, foram descobertos pela Inquisição.
Judiar, termo muito comum na cultura popular com fortes traços antissemitas, significa fazer mal ou maltratar o outro. Quando alguém pisava no pé de outra pessoa, o dono do pé machucado tinha o costume de dizer: “O debaixo é meu, o de cima é do judeu”.
O sábado é o dia da glória é uma forma de desejar “Shabat Shalom” às outras pessoas.
Dia Puro é uma forma de se referir ao Yom Kipur ou de dizer “Chag Sameach” nas comemorações judaicas proibidas.
Passar mel na boca de fulano. Essa expressão vem da antiga cerimônia de circuncisão, quando se passava o mel na boca da criança para evitar o choro, durante a remoção do prepúcio.
Sisa , nome de um imposto português, é um termo que vem do aramaico: “sizah”, que designa quando se paga o imposto.
Essa é para o santo”, expressão muito popular no Brasil, onde existe o hábito, antes de se beber alguma bebida alcoólica, de derramar uma parte no chão. Esse costume pode ter raízes na tradição judaica, em que parte do vinho era reservado em um copo para o Profeta Elias, durante o Pessach.
Abracadabra é um termo que provavelmente deriva da expressão em aramaica “abra cidabra”, que significa “na medida em que falo, criarei”. Na Cabala da magia, existe a ideia de que determinadas combinações de letras hebraicas contêm poderes criativos para realizar determinadas coisas. A Cabala valoriza imensamente as palavras que contêm poderes e podem conceder a vida. Esses segredos estão reunidos em diversos livros medievais, como o próprio Sefer Yetzirah (Livro da Formação).
Sair de casa, Beija o chão e apontar para o Céu é a forma de substituir as mezuzot no umbral da porta. Hoje esse costume é muito usado principalmente pelos jogadores de futebol, que ao entrarem no campo beijam o chão, fazendo o sinal da cruz.
Ter o cotoco é um termo muito usado na região de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte para designar uma pessoa inquieta e que não fica parada em um lugar por muito tempo. A origem dessa expressão vem do fato de que se dizia anteriormente que os judeus tinham parte com o diabo e que, por isso, alguns deles tinham rabo. Por isso, os paraibanos teriam “o cotoco” por terem muito sangue judeu. O grande escritor Ariano Suassuna escreveu sobre essa expressão no seu Romance d’A Pedra do Reino e do Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta".
Pão do sábado – Na região da Beira, em Portugal, existe um pão que se chama assim. Você pode encontrar em muitas padarias regionais esse Pão do Sábado, que é parecido com o Ciabatta. Esse pão era no mesmo formato que os judeus faziam em Portugal, na região da Beira, para a mesa do Shabat.
Biscoito de Azeite – são vários formatos. Podem ser redondos, compridos, quadrados etc.. mas na região da Beira, até hoje, existe em pequenas padarias tradicionais o biscoito de azeite com a Letra Xin do alfabeto hebraico, que vem da palavra Xadai, um dos nomes de Deus. Esse era um costume judaico que tinha a influência da cultura cristã, onde os judeus eram obrigados a comer a hóstia na igreja. Já em suas casas, os judeus ingeriam a "hóstia judaica", que era o biscoito com a letra Xin, como forma de apagar tudo o que eram obrigados a fazer na Igreja.
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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