Tisha B'Av é uma das datas do calendário judaico que mais me despertam mistério e curiosidade. Geralmente, quando falamos de Tisha B'Av, de imediato nos lembramos da destruição do Primeiro e do Segundo Templo, mas o mais curioso é que essa data nos persegue por muitas e muitas gerações.
Muitos não sabem disso, mas a destruição da fortaleza de Betar, que foi o principal foco da resistência na Revolta de Bar Kokhba contra os romanos, ocorreu em Tisha B'Av!
Bar Kokhba, aquele que foi considerado o messias pelo Rabino Akiva!
Talvez, pela forma impressionante com que conseguiu, sem armas sofisticadas e com um exército pequeno, mas muito determinado, expulsar e destruir a poderosa força romana na Judeia.
O grande Imperador Adriano se sentiu muito humilhado, pois não tinha como explicar em Roma como um pequeno povo pôde esmagar, expulsar e destruir as forças romanas na Judeia, mantendo-se livre por um período de 3 anos e meio.
Adriano vai criar um ódio mortal sobre os judeus, sentimento que mais tarde trará consequências devastadoras ao Povo de Israel. De certa forma, será a partir do ano 132 da Era Comum que a nossa verdadeira longa diáspora se inicia!
Muitos dizem que o Tisha B'Av coincidiu com a Fortaleza de Betar devido ao fato de que Bar Kokhba havia se declarado o messias. Bar Kokhba, com todo o seu brilho como grande militar, tornou-se muito arrogante com o poder que adquiriu, tornando-se violento e cruel até com os próprios judeus. O maior exemplo disso foi que, em um de seus ataques de fúria, esfaqueou e matou o seu próprio tio.
Com a reconquista da Judeia pelos romanos, Bar Kokhba e o Rabino Akiva foram degolados e esquartejados. O Imperador Adriano, com seu ódio mortal aos judeus, realizou mudanças drásticas na Judeia, buscando exterminar da face da terra tudo que possa ser identificado como judaico.
O Imperador Adriano decretou a mudança do nome de Jerusalém para Aelia Capitolina! Os judeus vão ser proibidos de pisar em Jerusalém! Será decretado a proibição da prática da circuncisão! O estudo da Torah foi proibido, assim como o estudo e a formação de novos rabinos! No lugar do Segundo Templo, que estava devastado, será construído o templo de Apolo e de Minerva! E a região, que sempre foi conhecida como Judeia durante o período romano, passará a ser conhecida como Província “Syria Palaestina”.
A data de Tisha B'Av ainda vai nos perseguir durante a diáspora, seja na Primeira Cruzada, quando os cruzados realizarão um grande massacre de judeus nas cidades da Europa e do Oriente Médio em que passaram no caminho para Jerusalém, seja no dia do decreto da expulsão dos judeus da Inglaterra, da França e da Espanha.
A pergunta é: por que essa data nos persegue?
Será que essa data tenta nos relatar algo que não entendemos?
Por que até hoje não conseguimos desvendar o mistério de Tisha B'Av?
Muitos acreditam que o Tisha B'Av é um grande alerta contra o ódio gratuito entre os judeus, que não entendem que sempre fomos um povo caracterizado por uma grande diversidade de ideias, de pensamentos e de concepções diferentes! E nada, nem ninguém, é dono de verdade.
Sempre quando não conseguimos conviver dentro de nossas diversidades, quando um grupo nega ao outro o direito de existir, o judaísmo se encontra em perigo.
O judaísmo é, sempre foi e sempre será um rico manancial de correntes, de pensamentos, de posições políticas e de caminhos distintos a serem seguidos. É por isso que somos um povo, ou melhor, uma civilização, e não somente uma religião.
Eu acredito que a grande dificuldade humana não é a crença em Deus! Crer em Deus é fácil, o que não conseguimos é saber amar o próximo.
Essa ideia de amar ao próximo é entendida de forma muito errada! Amar ao próximo não é sair por aí amando, abraçando e beijando todo mundo! Amar ao próximo é saber respeitar o outro e o diferente, é saber dialogar e escutar o que o outro tem a te dizer. Amar ao próximo é não desejar o mal e a morte do outro, pois todos nós somos frutos do Criador, como tudo que existe neste mundo.
Aqui em Israel, nós, os judeus não religiosos, temos uma prática muito significativa de comemorar Tisha B'Av, que é se reunir durante a noite em pequenos grupos de reflexões, procurando entender o que vem a ser esse "ódio gratuito" que existe dentro de cada um de nós, bem compreender como podemos evoluir e colocar em prática o respeito ao outro e ao diferente, para nos humanizar e ajudar a criar um mundo melhor para as futuras gerações.
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