Um incêndio na mesquita da aldeia de Jaba (Cisjordânia), na madrugada desta terça-feira, reacendeu em Israel a discussão sobre a impunidade a crimes contra palestinos, já que as autoridades israelenses ainda não capturaram os responsáveis por vários ataques semelhantes.
Durante a madrugada foram lançadas substâncias incendiárias na mesquita de Jaba, perto de Ramallah, causando danos ao local.
Os autores do ataque também deixaram pichações nas paredes da mesquita, com os dizeres "Ulpana - guerra" e "etiqueta de preço".
Ulpana é o nome de um assentamento composto por cinco prédios que deverá ser demolido segundo ordem da Suprema Corte de Justiça, por ter sido construído em terras privadas tomadas ilegalmente de palestinos.
"Etiqueta de preço" é a expressão utilizada por grupos de colonos de extrema-direita que adotaram a tática de executar represálias contra palestinos em casos de demolição de construções ilegais na Cisjordânia.
A represália contra civis palestinos assume a forma de incêndio de mesquitas, depredação de residências e veículos e destruição de plantações.
Casos prévios
Em dezembro de 2011, houve três casos de incêndio a mesquitas – na aldeia de Burka, perto de Ramallah, em Jerusalém, e na aldeia de Brukin, perto da cidade de Qalqylia.
Até agora os responsáveis não foram identificados e presos.
De acordo com Micky Rosenfeld, porta-voz da polícia de Israel, "uma equipe especial de investigação foi formada depois dos graves incidentes nas mesquitas, no verão do ano passado (julho-agosto de 2011)".
"Observamos um aumento no número de incidentes de 'etiqueta de preço' e decidimos investir mais recursos na investigação. Existem algumas investigações que ainda estão em andamento", disse em entrevista à BBC Brasil.
No entanto, Rosenfeld não deu nenhum exemplo de alguma investigação de incêndio em mesquitas que tenha obtido resultado, e cujos responsáveis tenham sido indiciados e julgados.
‘Motivações nacionalistas’
Sobre o incêndio desta terça feira, Rosenfeld afirmou que a equipe de investigação da polícia já foi ao local para verificar "de onde vieram os responsáveis e para onde fugiram".
"A principal suspeita neste momento é de que se trata de um incidente criminal com motivações nacionalistas", acrescentou o porta-voz.
Já Sarit Michaeli, diretora da ONG de direitos humanos Btselem, criticou o que chamou de “fracasso contínuo das autoridades em relação à implementação da lei aos cidadãos israelenses nos territórios ocupados".
Michaeli opinou à BBC Brasil que as forças de segurança e o sistema judiciário de Israel "não investem os recursos necessários para capturar e julgar os responsáveis por atos de violência contra palestinos".
"Um ou dois dias depois de mais um incêndio em uma mesquita, há um clima de choque no país. Os líderes politicos condenam o ataque, mas depois esquecem e não tomam as medidas necessárias para prender os responsáveis", afirmou.
Estopim
Há duas semanas houve uma reunião de especialistas em Oriente Médio com o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, na qual os estudiosos advertiram o premiê de que "um incêndio a uma mesquita na Cisjordânia poderá ser o estopim de um novo levante palestino".
O ex-rabino-chefe de Israel Meir Lau criticou a "ineficácia" da polícia em prender os responsáveis pelos incêndios nas mesquitas.
Em entrevista à radio estatal israelense, Kol Israel, o rabino afirmou que a religião judaica proíbe atos de violência contra lugares sagrados de outras religiões.
Netanyahu, por sua vez, declarou que o incêndio na mesquita de Jaba foi um ato "de criminosos, intolerantes e irresponsáveis".
"Tomaremos medidas para que eles sejam levados à Justiça rapidamente", prometeu o premiê.
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