Traduzido por Marcelo Treistman
É possível que a guerra já tenha terminado quando estas palavras chegarem ao mundo.
Se isso acontecer, este artigo poderá ser lido tranquilamente durante a próxima guerra, que, sem dúvida, ocorrerá em breve. O acordo que está tomando forma é incapaz de impedi-la. Eu já escrevi muitas vezes sobre o estatuto do Hamas , que reflete a visão e os objetivos dos fundadores da organização. Sei que alguns têm aceitado o meu conselho e notaram que a visão de mundo de muitos dos autores deste estatuo não é diferente dos autores dos escritos anti-semitas mais desprezíveis.
Os judeus, os governantes secretos do mundo, são os culpados por todas as suas mazelas. Eles iniciaram as grandes guerras que eclodiram desde os tempos antigos até os dias de hoje, espalharam epidemias que mataram milhões de pessoas e causaram todas as injustiças sociais. São um vírus e devem ser destruídos.
Alguns dos meus amigos acham que eu estou dando muita importância para palavras porque quem ganha a vida fazendo delas a sua produção tende a superestimá-las. A realidade, eles dizem, é mais forte que os documentos fundamentais escritos por ideólogos desesperados, e quando a realidade muda para melhor, ainda que as janelas abertas da esperança sejam estreitas, as velhas fórmulas são interpretadas de forma a estar de acordo com a própria existência. Depois de um tempo, ninguém se lembra o que está escrito.
Judeus que expressam esta afirmação estão esquecendo que o movimento sionista foi impulsionado por palavras originárias do que foi escrito há milhares de anos que ainda são memorizadas de forma incessante.
Não se assuste com essa comparação. Eu não estou tentando justificar ou condenar visões incorporadas em palavras, mas com o seu poder de motivar os movimentos políticos, provocarem revoluções e enviar as pessoas para matar e morrer. O estatuto do Hamas é um texto que expressa uma ideia e, criando uma ideia está criando ações. Se ele não tem importância, então aqueles cânticos de “morte aos arábes” e os escritos dos rabinos que recomendam a remoção da maior quantidade de prepúcios filisteus também não tem.
Aqueles que minimizam a importância do estatuto também afirmam que poucos palestinos leram o que estava escrito. Acho que isso é verdade, mas quantos de nós podem citar a Declaração de Independência de Israel, leram a “Auto-Emancipação” de Leo Pinsker, memorizaram “Der Judenstaat” de Theodor Herzl e já ouviram falar sobre o “Muralha de Ferro” de Ze’ev Jabotinsky?
A essência dos escritos fundamentais se infiltra na língua falada, nos sistemas de ensino, na linguagem da imprensa, nos discursos políticos, nos sermões dos clérigos religiosos e se infiltram na consciência nacional. O estatuto do Hamas é um componente importante na consciência de quem dispara mísseis contra nós, mesmo senão se deram ao trabalho de ler uma única linha sequer.
Há aqueles que têm prazer no sofrimento dos palestinos, e há aqueles que sentem pena dos habitantes de Gaza inocentes que se machucam, apesar dos esforços do exército para abater apenas aqueles que nos agridem. Podemos tentar reduzir a matança de pessoas inocentes, mas a conduta de uma entidade política é a criação de um coletivo e não de indivíduos.
Nem todos os judeus apoiam a política de ocupação e colonização, e eu sou um daqueles que se opõem a ela, mas eu sei muito bem que no final do dia eu vou pagar o preço por essa política, bem como meus filhos e netos, e eu nunca pensaria em afirmar que eu não sou responsável por isso.
Sou responsável pois compartilho a responsabilidade pela sociedade em que vivo, e se eu falhei ao tentar mudar sua conduta, a responsabilidade cai também sobre os meus ombros. Assim é em nações, cujas regras de conduta são diferentes das regras de conduta dos indivíduos.
Palestinos em Gaza, que reclamam que a culpa não é deles, porque são as vítimas de seus governantes, porque tudo que eles querem é ganhar a vida e viver em paz, podem estar dizendo a verdade. Mas se eles estão realmente dizendo a verdade, deveriam ter se rebelado contra seus governantes e lidado de forma corajosa contra aqueles que constroem bases de mísseis sob as suas casas.
Por eles não conseguirem fazê-lo, terão que pagar um preço que eu gostaria de tê-los poupado.
Yaron London
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