Em abril do ano passado, critiquei Israel aqui no blog por querer deportar o livreiro do American Colony, na parte oriental de Jerusalém, fundado por um casal de missionários americanos no fim do século 19 e sempre considerado uma ilha de neutralidade no conflito entre israelenses e palestinos.
“No hotel, intelectuais palestinos cristãos e muçulmanos, diplomatas europeus, espiões americanos, políticos e escritores israelenses se misturaram ao longo de décadas nos bares, nos restaurantes e na piscina deste hotel não muito distante do Portão Damasco, que serve de entrada para a cidade antiga de Jerusalém.
Antes de saírem do hotel, do outro lado da entrada, os visitantes passam por uma pequena livraria que, para muitos, pode ser considerada a melhor de todo o Oriente Médio. Ali, se encontram todos os livros que um estudioso da história da região pode sonhar. Alguns em árabe, outros em hebraico e francês e a maioria em inglês. Eu vi o Richard Gere saindo uma vez.
O livreiro, Munther Fahmi, recomenda suas leituras favoritas. Eu e minha mãe passamos quase três semanas no American Colony em 2004, quando viajamos por Israel e os territórios palestinos. Eu comprei vários livros. Antes de ir embora, Munther me presenteou com o Iron Wall, do israelense Avi Schlaim. Para minha mãe, ele deu um livro usado, chamado de Children From Bethany, que conta a história de uma vila palestina no início do século 20.
Israel não permitirá mais que Munther permaneça em Jerusalém. E escritores israelenses, como Amos Oz e David Grossman, que merecem o Nobel de Literatura há algum tempo, estão escandalizados com a decisão das autoridades de Israel e saíram em defesa do livreiro.
Munther nasceu em Jerusalém. Ao anexar a cidade em 1967, Israel ofereceu a cidadania para os palestinos nascidos ali (mas não os da Cisjordânia). Assim como a maior parte dos palestinos, o livreiro não aceitou, pois isso significaria concordar que a parte árabe da cidade não será parte de um futuro Estado palestino. Em 1973, se mudou para os Estados Unidos. Ao partir, Israel retirou o seu direito de residência. Isto é, o livreiro, que é de Jerusalém há séculos de gerações que se perdem no tronco de sua árvore genealógica, não poderia mais residir na cidade. Ele ficou anos sem ir, até o início dos anos 1990, quando conseguiu a cidadania americana.
Com o passaporte dos EUA, Munther entrava e saia de Israel como turista a cada três meses, indo até a Jordânia e voltando. Tudo para poder viver em Jerusalém, cidade onde nasceu e cresceu. Agora, o governo de Israel afirmou que ele não poderá mais fazer isso e o deportará.”

http://blogs.estadao.com.br/gustavo-chacra/israel-volta-atras-e-nao-deportara-livreiro-palestino-de-jerusalem/

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