Conflito israelo-palestino é de narrativas históricas, não de essências, diz Michel Gherman, no ciclo “Israel e o Mundo”, em São Paulo.
“Este é um tema assimétrico em relação a todos os outros cursos deste ciclo. Aqui, não se trata da relação de Israel com o outro distante, mas de um processo dolorido e difícil”, afirmou o historiador Michel Gherman, na abertura de sua palestra sobre a relação entre israelenses e palestinos, no ciclo “Israel e o Mundo”, dia 7 de outubro, em São Paulo. “A lógica do confronto – sempre construída, nunca essencial – é a de duas perspectivas nacionais. É um conflito de narrativas, nascidas no âmago do próprio confronto e não da verdade histórica”, acrescentou Gherman.

O professor da UFRJ, que é mestre em Antropologia, analisou os nomes em hebraico e árabe de estações de trem e localidades na região de Jerusalém para mostrar de que forma as identidades se formam a partir de processos políticos determinados – o que não impede que os dois lados façam uma análise essencialista. Ambos se imaginamcomo povos da mesma região, e o debate de teor político, que motiva o conflito, ofusca os aspectos econômicos e religiosos.

Gherman fez uma análise histórica dos processos que levaram ao Acordo de Oslo, em 1993. Lembrou a euforia da vitória israelense, em 1967, que acabou com a percepção anterior, de um país cercado; a reação da população israelense à primeira Guerra do Líbano, em 1982, em que foram questionados os propósitos da luta; o apoio de Arafat a Saddam Hussein, na primeira Guerra do Golfo, em 1991, e o desmantelamento da União Soviética, que deixou os EUA em posição de supremacia. E afirmou que, na primeira Intifada, em 1987, os palestinos se tornaram agentes históricos: “A revolta foi fundamental no processo de descobrimento mútuo, não só entre israelenses e palestinos, como também entre os próprios israelenses – o Exército não sabia como lidar com este tipo de inimigo”.

Diante do fracasso do processo de paz desde 1993, ele observa uma secularização dos palestinos na Cisjordânia e o fortalecimento de movimentos civis não violentos. Gherman é contra os movimentos de boicote a Israel, por que se negam a ver que “a sociedade israelense é complexa e não monolítica”. Critica os palestinos pela não aceitação, hoje, do diálogo, e também o governo de Israel, por construir uma “estratégia do medo” com relação ao Irã, que deixa em segundo plano não só o acordo de paz com os palestinos, como também questões sociais internas. Para ele, a solução de dois estados é a única opção para Israel manter seu caráter democrático.

Em 14 de outubro, às 20 horas, o ciclo prossegue com a palestra “Israel e África”, com Omar Ribeiro Thomaz, especialista em História Social da África e professor da Unicamp. Sinopse: Serão discutidas desde as relações bilaterais entre Israel e diversos países da África até a recente onda de imigração a Israel de milhares de pessoas provenientes do Sudão e da Eritréia, considerada ilegal pelo governo israelense.

A curadoria do evento é do cientista social Daniel Douek.
O preço de cada palestra é R$ 65,00. Idade mínima: 18 anos.
As datas são 14, 21 e 28 de outubro, segundas-feiras. Horário: das 20h às 22h.
Informações no Centro da Cultura Judaica: secretaria@culturajudaica.org.br ou (11) 3065-4349/4337.

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