O Judaismo Secular e a Globalização - e suas novas Tendências
Jayme Fucs-Bar

Jerusalem 1 de Fevereiro 2011

"Não só somos povo, terra , Diáspora, religião, cultura ou filosofia, somos um pouco de tudo ,pois somos uma Civilização". Acho essa visão do Modechay Kaplan brilhante e atual nesse novo momento, onde o judaísmo em geral está sendo absorvido por uma nova revolução de valores que é a globalização, exatamente como fomos absorvido pela revolução francesa,o iluminismo e a revolução bolchevista nos últimos 200 anos.
No Conceito clássico do judaísmo Moderno das “Eras das Revoluções” Nos Judeus seculares,tínhamos definições ideológicas ,"claras" como ser sionista, ou anti sionistas ,bundistas, Troskistas,liberais ,direita ou esquerda.

Com a Globalização o judaísmo pós moderno nos deu a possibilidade de ser um pouco de tudo,somos um judaísmo individualizado,onde se legitima ser sionista na diaspora e de ser comunidade em Israel,de freqüentar o Beit Lubavith no shabat, fazer o barmitzva com o rabino conservador ,converter a esposa ou o marido na sinagoga reformista, incentivar os filhos a participar de um movimento juvenil de esquerda,apoiando ardente a politica dos partidos de direita em Israel .
Isso tudo se torna uma grande coerência neste judaísmo individualizado. Pertencer a tudo ao mesmo tempo não ter compromisso com nada.

O judaísmo secular virou um grande Shopping Center neste novo século , onde o "cliente" ( o Judeu), escolhe o judaísmo como se fosse um produto de mercado.
Ser judeu secular no mundo global é algo pessoal , individual não mais te exige a pertencer a um “clube ideológico” ou vestir uma só camisa ou ter uma só bandeira, grande parte dos judeus seculares no mundo global são Judeus "camaleões" , sendo legitimo ter varias identidades judaica conforme o momento,a situação e o gosto pessoal.

Esse Espaço Aberto sem fronteiras criadas pela globalização levará sem dúvidas a transformação do mundo judaico e do estado de Israel. Ele abrirá novos caminhos seculares, permitirá criar novos marcos de Judaísmo seculares , novas correntes, e novas sinagogas,novos rabinos, novos modelos de vida comunitária,novas culturas e novos judeus ,sobretudo criará uma nova visão de relações entre comunidade e o estado de israel.

Esse judaísmo pós Moderno já é parte de uma rede planetária, onde cada um pode manter uma relação virtual imediata com o seu mundo judaico, criando inclusive sua própia comunidade judaica virtual, que produz para si cultura, valores e conhecimento.

A revolução Global levará ao mundo judaico à procurar uma nova redefinição de suas identidades, terá novas formas de se manifestar como judeus, criara uma nova relação com Israel, já sentido fortemente nas novas manifestações, e nas tendências de comportamento das comunidades judaicas e dos judeus no mundo.

Uma dessas tendências está na revisão da centralidade de israel, que para muitos desses judeus seculares o Movimento sionista cumpriu o seu papel na história, e Israel se tornando mais um importante centro judaico no mundo e não mais o único.

Para os judeus seculares da Esquerda Sionista, Israel foi uma necessidade histórica do passado, que não conseguiu cumprir o seu papel moral e ético com a questão palestina, deixando a desejar de ser para o mundo um “ Or la Goim” A Luz a humanidade, em muitos casos Israel continua a ser para esse grupo um importante centro, porem um centro Judaico indesejável

Para a direita fundamentalista e ultra nacionalista, o judaísmo e Israel são fruto de uma visão messiânica, são contrário a qualquer tendência de mudança que possa ameaçar sua visão messiânica, onde acreditam que para alcançar seus objetivos deverão usar todos os seus recursos, e essa postura já teve sua prática no assassinato de Yzzak Rabin,as ameaças que sofreu o ex. primeiro-ministro Ariel Sharon na devolução de Gaza, e as atuais leis anti democráticas e posturas racistas de lideranças rabínicas contra a população árabe israelense.

Para a direita secular nacionalista, o estado de Israel vive numa realidade geopolítica de ameaça de sua existência, vê o processo de paz como uma ameaça aos seus direitos históricos da "grande Israel",apoiando e incentivando a colonização de novos assentamentos judaicos nos territórios ocupados em 1967.
Criando frentes políticas com a direita religiosa ultra nacionalista que tem em comum a "grande Israel"

Para os grupos Ortodoxo não sionista, o estado judeu foi um desastre da sua experiência secular, esses grupos usam o termo “Israel é o Lugar de Goim que falam Hebraico” essa mesma tendência nega Israel como um “Centro judaico Moderno”,e suas leis, Israel é para esses grupos um Centro Espiritual Bíblico.

E finalmente a postura mais popular nos dias de hoje entre os grupos dos judeus seculares e tradicionalistas das comunidades, é de um lado um forte apoio a existência do estado judeu “como um refugio pessoal para a sua existência em caso de momentos difíceis” e do outro lado se relacionam com Israel como uma antítese de sua própia missão criadora de “garantir a existência e a segurança física para os judeus”, considerando Israel o lugar mais inseguro no mundo para se viver como judeu, porem “um bunker necessário”.

A Globalização continuará criando novas perspectivas e avanços tecnológicos para o mundo, porém estará criando profundos abismos e paradoxos para a humanidade, sua tecnologia e economia global estará promovendo novos-ricos, mas estará deixando um grande rastro de nova pobreza, marcado principalmente na classe media judaica, cada vez mais empobrecida, e em conseqüência as novas crises econômicas, que promovera o surgimento de um novo êxodo judaico, não mas para Israel e sim para novos centros judaicos como Alemanha, Espanha, Australia e Canada.

Nesta revolução Global o judaísmo, estará tomando um novo rumo, terá uma nova cara e criará novas tendências e manifestações.
Sem sentir, estamos vivendo um ato da história da humanidade onde, estamos no meio das barricas da Revolução global, onde os sons dos canhões e dos fuzis são diferente do se escutou nas revoluções anteriores.
Nas ruas, nas escolas, nas casas e em toda sociedade se soa um Grito único regido por 3 mandamentos básicos “Individualismo, competição e o consumismo”,sendo que a antiga bandeira do estado nacional não é mais suficiente, necessitando de novas conquistas globais, novos mercados em todo o planeta.

Estamos neste momento vivendo em plena revolução global, já sentida suas transformações econômicas e sociais em todo o planeta.
Como Judeus seculares neste planeta ainda desgovernado, não temos que temer à procura de novas respostas, onde devemos fazer novas perguntas, devemos procurando novas soluções criativas, exatamente como fizemos no passado de nossa história.

Com certeza o Judaísmo secular caminhara para um novo rumo, possibilitara a legitimidade da existência de novas correntes seculares judaicas,que tera novas definições de ser judeu, e terá novos judeus,e novos rabinos, que se manifestarão em estruturas comunitárias judaica totalmente autônomas e independentes da tradicional.

A Globalização nos levará a um novo conceito de judaísmo secular, de um lado o judaísmo religioso que criara uma grande barreira para se proteger, da influência dos valores universais da globalização, onde esse judaísmo será ainda mais fechada e dogmático, do outro lado teremos um judaísmo muito mais secularizado, desgarrado da comunidade judaica tradicionais, uma massa de indivíduos judeus seculares, muitos não aceitos como judeus pelas correntes religiosas,judeus e judias a procura de novos espaços judaicos seculares, que possa oferecer um novo judaísmo; um judaismo mais aberto e sem dogmas.

Nós judeus seculares, temos que saber como enfrentar esses grandes obstáculos neste próximo século, entre tantos e outros que já enfrentamentos, estará a necessidade de uma definição mais clara desse conceito  "judaismo  como Civilização". Neste processo o filósofo e sociólogo judeu Edgar Morin nos da uma pequena dica, numa definição brilhante de como chegar a essa civilização.

“ Para chegarmos à civilização mundial, seria preciso que fossem conquistados grandes progressos do espírito humano, não tanto de suas capacidades técnicas e matemáticas, não apenas no conhecimento das complexidades, mas em sua interioridade psíquica”.

Jayme Fucs – Bar
* Este artigo foi escrito em fevereiro 2008 e revisto para o contexto de 2011

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