Áustria, Hungria e Alemanha

Uma das tradições mais difundidas durantes as noites de Chanucá, principalmente entre as crianças, é jogar uma espécie de pião chamado de sevivon, em hebraico, ou dreidel em iídiche.

Acredita-se que o costume tenha surgido na época dos macabeus. Quando o rei Antíoco IV tentou eliminar o judaísmo, declarando guerra contra o espírito judeu, proibiu o estudo da Torá - a não ser que fosse destituído de santidade. A solução, então, foi fazê-lo clandestinamente. As crianças estudavam tendo nas mãos sevivons; assim, se fossem descobertas pelas autoridades, poderiam alegar que estavam reunidas para jogar.

O dreidel, como todo pião, tem quatro lados; em cada um há uma letra hebraica, que é a inicial de uma palavra. Juntas, as quatro compõem uma frase. Numa das faces está o nun, inicial da palavra ness, ou "milagre"; em outra o guimel, primeira letra de gadol, que significa "grande"; na terceira face do sevivon aparece o hei, primeira letra de hayá, que significa houve; e, na quarta face, shin, inicial de sham, que significa "lá". Juntas representam a frase: "Ness gadol hayá sham" ou seja, "um grande milagre houve lá", fazendo referência à Terra de Israel, onde o milagre de Chanucá de fato ocorreu.

A festividade conta, também, com outro costume: o de, após acender as velas, dar às crianças Chanucá guelt, isto é, "dinheiro de Chanucá", expressão também em iídiche. São várias as explicações para esta tradição, uma delas sendo que 22 anos após a vitória dos macabeus, seus descendentes - que se haviam tornado os reis de Israel - cunharam moedas para celebrar a conquista da liberdade e autonomia. Imagens do Templo e da Menorá eram gravadas nas moedas como lembrança da grande vitória. Daí ser a distribuição de moedas uma forma de relembrar o sucesso dos valentes macabeus.

Polônia

Os Rebes chassídicos distribuíam moedas entre aqueles que os visitavam em Chanucá. Para esses chassidim, esse Chanucá Guelt representava uma bênção de seu Rebe e uma segulá* para obter sucesso em seus empreendimentos. No Talmud, há uma referência cruzada entre dinheiro e Chanucá. Nesta festa, devemos acender pelo menos uma vela por noite, em cada lar, mesmo se para tanto tivermos que vender as roupas ou bater de porta em porta, pedindo recursos para a finalidade. O costume de distribuir Chanucá Guelt era uma forma de ajudar os pobres a comprar as velas e cumprir a mitzvá.

Israel

Desde a reunificação de Jerusalém, na Guerra dos Seis Dias, os sevivonim que as crianças usam, em Israel, contêm uma pequena diferença: ao invés da letra shin (para designar sham, 'lá'), em uma das faces do pião, aparece a letra pei, de pô, 'aqui'. Assim as letras do sevivon formam a frase: "Um grande milagre aconteceu aqui", isto é, aqui em nossa Terra de Israel.

Marrocos

No primeiro dia, após os oito da festa, era costume entre os judeus marroquinos festejar o "Dia do Shamash". As crianças iam de casa em casa recolhendo restos de velas de Chanucá, que utilizavam para fazer grandes fogueiras, ao redor da qual dançavam e cantavam. Muitos saltavam por cima do fogo, pois acreditavam ser uma segulá: no caso de jovens solteiras, o objetivo era ajudá-las a encontrar seu futuro companheiro de vida; e, para as casadas sem filhos, não tardem a engravidar.

Como o milagre girava em torno do óleo que ardeu durante oito dias, na ocasião as donas de casa costumavam fritar el makhriud, uma panqueca, e sfinge, sonhos.E logo após acender as velas, os membros da família mergulhavam as iguarias no açúcar e as saboreavam, acompanhadas de goles de brod datei, uma refrescante bebida de menta.

Afeganistão

No Afeganistão, os judeus não usavam chanuquiot, aliás, nem sequer as conheciam! Para acender as luzes de Chanucá, usavam oito pequenos pratos em bronze, prata ou barro, enfileirados, e um pratinho menor, para o shamash. A razão para o costume era o fato de que os judeus do Afeganistão serem, em sua maioria, anusim (convertidos à força ao islamismo), vindos da cidade de Mashad, no Irã. Como na região, a partir de 1839, foi proibido o judaísmo, se um muçulmano porventura entrasse numa casa de um judeu sem avisar, seus moradores poderiam alegar que as luzes eram usadas para iluminar o local - já que não havia eletricidade - sem despertar nenhuma suspeita de sua fé. Mesmo após emigrar para o Afeganistão, os judeus de Mashad continuaram a manter o costume.

Iraque

Já nas comunidades iraquianas, a tradição é comer pratos à base de leite, em homenagem a Yehudit, que conseguiu salvar nosso povo e derrotar Holofernes, o poderoso general grego, comandante dos exércitos de Antíoco Epifânio, imperador selêucida, oferecendo-lhe um pedaço de queijo. Além disso, era comum as crianças lerem a história da heroína. Em Bagdá, muitas famílias usavam chanuquiot redondas, raramente utilizadas em outros países, onde são usadas as do tipo em que as velas são alinhadas em fila reta. Rabi Yosef Chaim, um dos maiores sábios do Iraque, ao responder sobre o uso deste tipo de chanuquiot afirma em sua responsa que se devia dar preferência às em linha reta, mas não desqualificava o uso das redondas, desde que houvesse espaço entre as velas.

O problema haláchico quanto às redondas é que as chamas poderiam dar a impressão de ser uma única, o que invalidaria a chanuquiá. O código máximo da Lei Judaica, o Shulchan Aruch, discorre sobre a questão, afirmando que cada um dos pavios pode ser considerado como uma vela, desde que sejam separados entre si (Orach Chaim, 67, 1:4).

Síria

Na Síria, costumava-se acender uma chanuquiá em cada casa, de preferência com azeite. Somente o shamash era sempre aceso com uma vela. As mulheres não trabalhavam enquanto as chamas estivessem ardendo. Em Alepo, aqueles cujos ancestrais tinham vindo da Espanha, no século 16, acendiam uma vela adicional a cada noite. Na primeira, por exemplo, acendiam mais duas velas além do shamash, e, assim por diante. Há várias explicações para a adoção deste costume, entre estas o fato de que, ao chegar à Síria, os judeus sefaraditas não foram de pronto aceitos pela comunidade. Quando, finalmente, foram aceitos pelos mustarabim, que eram os judeus que já viviam no local, era Erev Chanucá, véspera da festividade. A partir de então, acendem uma luz adicional por noite como expressão de sua gratidão. Entre outras versões para o costume, há uma que alega que a introdução da vela adicional simbolizava o júbilo dos judeus sefaraditas por terem escapado das garras da Inquisição. Uma terceira defende que, no século 16, um grupo de judeus sefaraditas que viajava de navio rumo a Alepo foi salvo de um naufrágio justamente na véspera de Chanucá. Este costume continua em uso até hoje e revela as origens de cada família - se descendentes de judeus espanhóis ou de mustarabim, ou seja, judeus orientais.

Tunísia

Os judeus da Tunísia comemoram o sétimo dia de Chanucá, o primeiro dia do mês de Tevet, Rosh Chodesh Tevet. Também chamado de Chag Habanot - Festa das Mulheres, é um dia de grandes alegrias para todo o gênero feminino, pois celebra a fé e coragem de Yehudit, filha de Yochanan, o Sumo Sacerdote à época da revolta dos macabeus. Segundo nossa tradição, foi em Rosh Chodesh Tevet que Yehudit salvou a vida de nosso povo matando Holofernes.

Em Chag Habanot, os judeus da Tunísia costumavam dar presentes às crianças e preparar verdadeiros banquetes, com docinhos de mel para a sobremesa. Na ilha de Djerba, participavam da celebração principalmente as jovens solteiras, pois acreditavam ser uma segulá para se casar naquele ano.

Líbia

Em Trípoli, Rosh Chodesh Tevet é chamado de Rosh Chodesh La'Banot - o Novo Mês das Mulheres. Nesse dia era costume as mães enviarem bandejas de sfinge, sonhos, para as filhas casadas, enquanto as noivas recebiam doces da família do futuro marido. Era um dia de alegria e lazer para as mulheres, que, na data, eram liberadas de seus trabalhos domésticos.

A Turquia e os judeus espanhóis

O Shabat de Chanucá era conhecido como Shabat Halbashá (ou seja, o Shabat de se vestir os pobres). Os rabinos sempre fizeram questão de ressaltar a importância da ajuda aos necessitados, guemilut hassadim. Assim, os membros da kehilá encaminhavam doações à sinagoga que, por sua vez, se encarregava de distribuí-las em Rosh Chodesh Tevet.

Um dos pratos característicos da festa, entre os oriundos da Espanha, são os bermuelos (ou bimuelos), bolinhos fritos salpicados com açúcar. Os judeus turcos dão o mesmo nome a um doce frito semelhante aos sonhos, servido com mel ou açúcar e canela.

Os judeus sefaraditas da Turquia mantêm a tradição de fazer uma refeição, la merenda, uma espécie de almoço ou jantar do qual participam familiares e amigos. Cada um dos convidados leva um prato para completar a refeição, ao final da qual as crianças são presenteadas com pequenas somas em dinheiro.

Fonte : Revista Morasha Edição 59 - dezembro de 2007