A outra vítima da guerra por Roberto Musatti

Izzy Lemberg não é apenas mais um jornalista. Foi diretor, produtor chefe da CNN durante 20 anos e num artigo interessante afirma que talvez a maior vítima do conflito em Gaza tenha sido o jornalismo. Isto a partir do momento em que os repórteres se tornaram fantoches nas mãos dos terroristas do Hamas, assim como a população palestina local, os funcionários da ONU e os clérigos cristãos.

Eram proibidos sob pena de morte de filmar os terroristas disparando mísseis de igreja, mesquitas, hospitais, creches, escolas, prédios densamente povoados ou militantes sendo feridos ou mortos, seguindo o mantra de que todos eram ‘civis inocentes’. Tinham que ignorar quando os militantes do Hamas colocavam feridos e mortos para dentro de uma escola, abrigo ou hospital para incriminar Israel ou participar da encenação quando uma criança morta era levada em três hospitais diferentes e sucessivos com mães postiças e de ocasião obrigadas a chorar para inflar o numero de vitimas. Eram obrigados a desligar suas câmeras quando os militantes obrigavam civis a subirem no telhado de edifícios de onde disparavam mísseis, para ‘morrerem como heróis’ ou ignorar os mísseis e armamentos estocados em escolas e abrigos da ONU.

A cobertura feita agora em tempo real pelas redes de TV de noticias, em especial a BBC acabaram se tornando um exemplo de preconceitos, anti-semitismo e infâmias que quando descobertas dificilmente eram corrigidas como a escola da ONU que de atingida por Israel com crianças e mulheres mortas, aparece depois em vídeo dos drones da Força Aérea de Israel, como sendo fruto de um foguete do Hamas com defeito.

Nem se pode alegar inocência. A BBC fez questão de trazer para Gaza sua repórter (já expulsa de Israel varias vezes) Orla Guerin (apelidade de Goering, o nazista) – irlandesa casada com palestino, morando no Cairo, artista consagrada no desempenho emocional da voz embargada, pausada, quase nas lagrimas, que só entrevista mães em desespero. Em sua cobertura no Líbano, foi desmascarada ao entrevistar uma das ‘mães profissionais’, carpideiras pagas, que iam de rua em rua, dia após dia chorando diferentes mortes que nunca ocorreram… Passou um tempo ‘na geladeira’ até voltar agora a Gaza. A se acreditar nas reportagens de Gaza, nenhum terrorista foi morto (apesar de 80% dos mortos serem jovens de 18 a 30 anos) nenhum deposito de armas destruído, nenhum foguete foi disparado com escudos humanos e apenas crianças e mulheres morreram de disparos israelenses.

O jornal Washington Post faz duas perguntas, segundo Lemberg, aos jornalistas cobrindo de Gaza: 1)Você viu combatentes do Hamas em Gaza? e 2) Por que você não reportou nenhuma atividade deles a não ser aquelas dadas pelo Exercito de Israel? A resposta veio com o cessar-fogo quando jornalistas do mundo inteiro puderam sair de Gaza e aí sim trazer a tona a realidade. Tardiamente, pois as imagens em tempo real criaram uma realidade virtual que levou inclusive Israel a ser denunciado por crimes de guerra pela ONU e seu departamento de Direitos Humanos. Como desfazer isso agora com as novas evidências? Como manter a credibilidade da própria ONU?

O jornalismo sério não está moribundo apenas pela cobertura em Gaza, mas no seu silencio internacional. A guerra na Síria se estende por mais de três anos e com mais de 200 mil mortos, milhões de refugiados e até o uso de armas químicas contra a população civil. Sunitas e xiitas se matam com requintes de horror, com centenas sendo decapitados de uma só vez, ou fuzilados em fossas comuns como na época de Stalin, Mao e Hitler. Mas só Israel é acusado de crimes de guerra… mesmo quando solta panfletos, liga para o local onde será feito o bombardeio pedindo para que a população civil saia para não ser atingida…

Por que a BBC e Orla Guerin não estão no norte do Iraque HOJE, cobrindo a fuga desesperada de mais de 40 mil cristãos e da minoria Yazidi no deserto em pleno verão, sem água ou comida, dos extremistas sunitas do Isis que não tem nenhum remorso ou escrúpulo de matar todos que não se sujeitem ao seu islamismo fundamentalista? Este sim será um genocídio nas próximas horas se o mundo não acordar, se Obama continuar em férias nas praias de Marta’s Vineyard e os europeus preocupados com a crise na Ucrânia. Também não se fizeram ouvir manifestações da Presidência da Republica nem do Ministro Assessor para Assuntos Internacionais, tão inseridos no contexto do ‘uso desproporcional de força’!

O discurso do Hamas agora é de que só aceita a paz se Israel e o Egito acabarem com o bloqueio que impuseram a Gaza, como se fosse este o motivo de dispararem mais de 3.000 foguetes contra alvos civis em Israel. Esquece a mídia mundial que o bloqueio foi imposto para impedir que o Hamas se armasse ainda mais de mísseis iranianos, coreanos, construísse ainda mais túneis para dentro de Israel. As toneladas de cimento e os fundos do Qatar usados nesses quilômetros de túneis moderníssimos poderiam ter sido usados para escolas, fabricas, agricultura, hospitais e creches. Israel infelizmente para contrabalançar esta ameaça à sua população teve que gastar milhões desenvolvendo o 1º sistema eficiente antimíssil do mundo, o que parece ter irritado a mídia e dirigentes da política internacional que gostariam de mortes equivalentes dos dois lados para não acusar Israel de crimes de guerra.

É doloroso quando até pessoas lúcidas como Marcelo Paiva traçam uma linha comparativa, afirmando que a crise de Gaza não existiria se Israel tivesse gasto os recursos do Iron Dome em fazer as pazes com os palestinos da Cisjordânia. Esquece ele que o Hamas e a Autoridade Palestina só agora se uniram em pura conveniência. Esquece que Gaza foi devolvida unilateralmente aos palestinos em 2005 para se tornar plataforma de lançamento de foguetes. Será que ele consegue garantir que a Cisjordânia não se tornaria também?

Enquanto facções palestinas e árabes não aceitarem o fundamental que é o direito de existência do Estado de Israel, não existe chance nenhuma de paz no Oriente Médio. Ao contrario – enquanto o Ocidente debate Gaza sob a lente distorcida da imprensa preconcebida, os fundamentalistas avançam no Iraque, na Líbia, na Síria e em breve nas grandes comunidades islâmicas européias da França, Inglaterra e Holanda.1

Seria interessante lembrar a BBC dos atentados no metrô de Londres, nos trens espanhóis, nos resorts de Bali. Deveria fazer como hoje a CNN fez pela primeira vez, graças a coragem de um seu jornalista: mostrar ao vivo o desespero das minorias no Iraque prestes a se tornarem eles sim, infelizmente, um genocídio em pleno século XXI.

Inaceitável!

Roberto Musattti é Economista (USP) Mestre em Marketing (Michigan State) e Professor das Faculdades Reges.

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