Do tallit ao topless nas areias de Tel Aviv (dia 1) por Adriana Carranca A maior preocupação de um jornalista quando desembarca em Israel não é a iminência de um novo conflito na região, mas um simples carimbo. Na imigração, eu tive de pedir, constrangida, para que o visto fosse estampado em um papel à parte. Ter o carimbo de Israel no passaporte significa não entrar na maioria dos países islâmicos – o que, para um repórter que cobre o Oriente Médio, significaria fim de carreira. O contrário não se aplica, necessariamente, mas a dificuldade de entrar em Israel com letrinhas árabes estampadas no passaporte também é maior. Como eu acabara de renovar meus documentos, tinha apenas o visto do Mexico e desembarquei sem percalços em Tel Aviv. Um painel luminoso na saída do Aeroporto Internacional Ben Gurion convida o visitante a conhecer o templo baha’í – religião que surgiu na antiga Pérsia e hoje é perseguida no Irã – na cidade israelense de Haifa. As placas com informação de trânsito estão em hebraico, árabe e inglês. A impressão inicial é a de ter desembarcado em um local cosmopolita. O motorista de táxi é tão mal humorado quanto os de qualquer cidade grande e moderna no mundo. E Tel Aviv é uma cidade moderna. Com os atentados terroristas afastados pelo aumento da segurança – o que inclui os controversos muros de concreto que separam a Cisjordânia de Jerusalém e o bloqueio à Faixa de Gaza -, ‘telavivians’ vivem dias tranquilos, desde o último ataque terrorista, em 2006, que matou 11 pessoas na calçada de uma lanchonete. Menos religiosa do que Jerusalém, Tel Aviv tem o típico ambiente relaxado das cidades litorâneas e uma Parada Gay que já causou muita confusão com os ortodoxos em vigília. Para evitar conflitos desnecessários, eles têm até uma praia particular. A área é protegida por muros altos, que avançam até o mar, e vigiada por seguranças em duas torres. Os ortodoxos não permitem praias mistas. Às segundas, quartas e sextas, a praia é reservada aos homens, que deixam para trás a roupa negra, o quipá e o tallit das rezas para tomar sol. Aos domingos, terças e quintas, é a vez das mulheres. Aos sábados os portões ficam fechados para o shabat, dia de descanso no judaísmo – o equivalente ao domingo cristão. Assim a tranquilidade reinava sob o sol até que jovens não-ortodoxas descobriram na única praia fechada de Tel Aviv um refúgio para fazer topless em paz. As religiosas não gostaram nada disso e reivindicavam sua parte no latifúndio da areias escaldantes do Mediterrâneo Oriental. Já fora dos muros que cercam a área, há uma praia gay, outra só para famílias com filhos e a seguinte destinada a casais sem crianças. Os cães também têm um lugar ao sol, previamente denifido; nas demais áreas, totós estão proibidos. É a geografia politicamente correta das areias de Tel Aviv. Nas ruas, casais passeiam de lambreta (sim, elas voltaram!), meninas caminham de minissaia no calçadão da orla, os cafés à beira-mar estão lotados de jovens tomando cerveja Goldstar. Não fosse pelos narguilés nas mesas, por um minuto eu poderia imaginar estar no Rio.
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