Israel é um país curioso.

Aqui se observam contrastes, diferenças, esquisitices e peculiaridades. Pessoas do mundo inteiro construíram o Estado e seguem até hoje, com suas mais diferentes culturas, fazendo parte da sociedade neste pequeno país. O atento leitor logo dirá que assim também é no Brasil. Verdade. A maior diferença está no fato de que em Israel, os contrastes são visíveis no dia-a-dia, em cada caminhada na rua, em cada subida no ônibus, a cada ida ao mercado ou em um simples dia de trabalho. Isso tudo, eu sei, pode ainda não ser suficiente para transformar essa sociedade em “tão peculiar assim”, então vejamos um caso bastante comum por estes lados:

Há muitos anos atrás, principalmente na Europa, estimulados por grandes rabinos, judeus ortodoxos passaram a se vestir com roupas longas, com o intuito de resguardar, fortalecer a religião e até mesmo se diferenciar dos demais povos (nem sempre por vontade própria).

Dependendo da vertente e da localização geográfica, as cores da roupa podiam variar, mas a mais comum era a preta. Os princípios que regiam os códigos de vestimenta dos Charedim (ultra ortodoxos) eram a modéstia, o respeito e a limpeza, a diferenciação para os goym (não judeus) e o luto (pela derrota na “Grande Revolta Judaica”, no ano 66 d.C.). Pois esse costume foi mantido, mesmo passados centenas de anos. Ainda que não seja uma “lei” judaica, boa parte dos ultra ortodoxos mantém a tradição de usar as mesmas roupas utilizadas naquelas épocas, no rigoroso frio europeu. Esses cidadãos, geralmente, preferem viver isolados e concentrados em algumas cidades e bairros. É inevitável, no entanto, que eles circulem por todo país. Eles são parte integral do cenário israelense.

As últimas pesquisas estimam que vivem em Israel aproximadamente 700 mil ultra-ortodoxos, quase 10% da população. Em alguns lugares e ocasiões, não chega a chamar atenção a presença de um Charedí, justamente por já fazer parte do cenário, em outras, pode ser algo bastante atípico.

charedipraia

Em qual país, no auge do verão, com temperaturas beirando os 40 graus e a umidade relativa do ar batendo recordes, alguém se sujeitaria a vestir roupas escuras, longas, pesadas e quentes? Pense por alguns instantes, mas não se esforce muito, porque certamente não encontrará. Aqui é comum.

Nesses dias de intenso calor, eu só consigo pensar no momento em que estarei saindo da rua e entrando em ambiente fechado, com ar condicionado funcionando nas mais baixas temperaturas. O desconforto em andar por alguns minutos na rua é tão grande, que as pessoas planejam suas rotinas sem precisar perambular por muito tempo sob o sol que aquece e muito nossas cabeças.

charedipiscina

Qual o preço que se paga por um costume? Vale todo sacrifício para manter viva uma tradição? A roupa que você usa mostra, necessariamente, os valores que você tem? Seria o sofrimento uma virtude? Que judaísmo é esse que – em pleno Oriente Médio – não pode abrir mão do vestuário utilizado no rigoroso frio europeu? São perguntas que me faço ao dar e receber bom dia a meu ortodoxo vizinho de porta, cedo da manhã, quando ele sai para trabalhar já secando o suor que escorre do seu rosto.

http://www.conexaoisrael.org/e-se-minha-roupa-falasse/2013-08-19/beg

Foto de capa: http://azjewishpost.com/files/0721crowd-surfing1.jpg

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