Humanismo (3)

O Tikkun Olam de não-judeus: Irena Sendler

Acredito que o Judaísmo Humanista tenha como dever resgatar e honrar a memória dos não-judeus que praticaram a Tsedaká com nosso povo nos momentos mais difíceis. São tantos... e a maior parte desconhecidos de nós e de nossos filhos. Temos que legar a eles essa história. Destaco apenas alguns:

  • Irena Sendler - seria uma desconhecida no Brasil se não tivesse sido por iniciativa de Lia Diskin, do Comitê Paulista pela Década da Cultura de Paz, que escreveu um artigo sobre ela para a revista 18. Saibamos mais sobre ela clicando aqui.  Um filme sobre sua vida foi premiado no ano passado no Festival de Cinema Judaico do Reino Unido.
  • Aracy Guimarães Rosa, sobre quem já se falou um pouco mais.
  • Aristides de Souza Mendes, diplomata português que pagou caro pela sua desobediência ao governo de Salazar salvando judeus.
  • e tantos outros.

Acho que nós, Judeus Humanistas, temos essa entre as nossas tarefas. Oxalá um dia possamos ter um museu virtual que honre a memória dessas pessoas, incluindo entre elas os árabes que salvaram 500 judeus do massacre de Hebron em 1929, e incluindo também judeus que salvam e ajudam palestinos hoje em dia.

Temos conosco nesta semana uma representante deste último grupo, a rabina Jill Jacobs, diretora do Rabbis for Human Rights North America. Os RHR em Israel se dedicam principalmente à reconstrução de casas demolidas injustamente pelo Exército israelense.

Ou seja, esse espírito que trouxe uma Irena Sendler está vivo e presente hoje, e aberto para que todo judeu humanista o assuma como parte de seu judaísmo.


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SIONISMO É RACISMO?

Não, claro que não é. Da mesma forma que Islamismo não é terror nem sexo é promiscuidade nem dinheiro é necessariamente o produto da exploração do homem pelo homem.

O que sim é verdade é que existem sionistas racistas, e muçulmanos terroristas, e não poucos degenerados sexuais, e não menos capitalistas sem entranhas.

No saber e querer diferenciar a uns dos outros, os doentes de ódio dos sãos de espírito, os inimigos mortais dos amigos leais, é onde reside a principal qualidade que nos faz diferentes dos irracionais. Hitler e Torquemada, Mussolini e o Mufti al-Husseini, não o souberam nem o quiseram, e por isso nos legaram como herança a ignomínia das suas idéias, a sem-vergonhice dos seus atos, e bastantes páginas negras da nossa História escritas com o sangue inocente das suas vítimas.

Hoje e agora, as minorias fundamentalistas islâmicas, judias e cristãs, tropeçando de novo na mesma pedra, transitam por igual caminho em direção ao mesmo precipício.

O fundamentalismo islâmico, com os seus ataques suicidas, que além de matar judeus inocentes da forma mais covarde concebida pela mente humana, salpicam com esse sangue a honra e a imagem da sua própria religião, já que o nome de Alá fica irremediavelmente associado a essa barbárie cometida em seu nome.

O fundamentalismo judeu, organizado em seitas religiosas e gangues laicas, ao tentar impor suas loucas idéias de um deus vingativo e exclusivo, e de um Grande Israel Bíblico do ponto de vista territorial, ao qual o povo judeu renunciou expressamente ao assinar a partição da Palestina, usando para tal fim não apenas o discurso ou a propaganda, mas as armas e o assassinato dos líderes do Estado de Israel (começaram com Rabin).

O fundamentalismo cristão, incitando ao ódio às outras religiões e apoiando e aplaudindo a tortura dos inimigos de seu deus todo-poderoso, transformando o conflito numa guerra santa contra o Islã, e o exército dos Estados Unidos em Soldados do Cristianismo (por analogia, os novos cruzados).

Compete a todos os que não nos deixamos arrastar por slogans pré-fabricados ou por medos manipulados pelos porta-vozes do além, enfrentar-nos a esse tudo ou nada que eles propõem, construindo uma estrada transitável que conduza à concórdia e não ao cemitério; a bom porto e não ao naufrágio da esperança.

Visto isso, só resta então formular a pergunta do milhão: afinal, o que é sionismo?...

A minha modesta resposta a esse enorme interrogante começa no início do túnel do tempo, quando o povo judeu abandonou a terra prometida por razões alheias à sua vontade (ou sumir ou sucumbir).

Durante milênios então, o sionismo hibernou no útero de uma frase simples, representando apenas a verbalização de um desejo irreprimível, um sonho condensado em poucas e premonitórias palavras: no ano que vem em Jerusalém (be shaná haba’á birushaláim, em hebraico).

E assim o sionismo, que nem mesmo sabia que esse era o seu verdadeiro nome, vivia e sobrevivia em estado latente dentro dessa simples frase que foi passando de geração em geração, de boca em boca, de coração a coração, até um dia qualquer do um ano qualquer do século XIX, em que alguns judeus decodificaram a vontade de grande parte da diáspora de voltar para casa, considerando que havia chegado a hora de traduzir a mensagem genética contida na pequena frase herdada, à linguagem dos fatos, propondo táticas e estratégias que permitissem transformar o exílio imposto em retorno; a prece milenar em pátria.

E foi assim que esse sionismo ganhou nome próprio, sobrenome comum e um projeto de viabilização, começando então a construção de uma ponte que unisse o sonho herdado à realidade possível.

Era o começo do fim do desarraigamento para todos aqueles que assim o quisessem, ainda que as resistências não fossem poucas nem banais, já que a maioria do Establishment religioso se opunha (e ainda o faz depois de tantos anos de independência) esgrimindo argumentos paridos na diáspora, sem qualquer relação com os livros sagrados, segundo os quais o retorno só será permitido com a chegada do Messias.

Essa foi a razão pela qual o Sionismo pioneiro foi fundamentalmente laico, e ainda o é, apesar de ter deixado de ser um projeto virtual para transformar-se no Estado de Israel real. Não o Israel maximalista dos fundamentalistas, mas sim o Israel possível dos realistas.

Indivíduos primeiro e grupos depois, foram pouco a pouco desembarcando do navio do tempo nos portos da velha pátria, e iniciaram a empreitada, plantando famílias no deserto e nas cidades; secando pântanos e sobre eles implantando produtivas fazendas coletivas; erigindo escolas para todos os alunos, hospitais para todos os doentes e prisões para todos os criminosos.

Isso é sionismo: o puro e simples direito de reconstruir a casa nacional sobre parte do território primitivo e nela acolher a todos os que desejarem fazer a viagem de volta (as fronteiras – não o esqueçamos - foram democraticamente aceitas pelos representantes do povo de Israel, renunciando a qualquer reivindicação de territórios fora dos limites aprovados).

Hoje, entretanto, constatamos com pesar e temor, que no corpo do Estado de Israel crescem e se multiplicam pequenos tumores malignos cujas metástases comprometem seriamente a saúde do país. É o tal do hiper-sionismo ou mega-sionismo, inspirado no fundamentalismo religioso radical, aliado a uma visão fundamentalista laica de extrema-direita, de ignorar todo o trabalho feito para a construção do Estado de Israel, das suas leis, das suas fronteiras, das assinaturas nos acordos internacionais, do respeito aos direitos humanos de todos os humanos, com a malsã intenção de implantar a pátria bíblica dos contos de fadas, tanto no que respeita à sua dimensão territorial (expulsando a milhões de palestinos de suas terras e anexando-as) quanto à imposição de um Estado clerical ao estilo das repúblicas islâmicas mais retrógradas. E isso – que não caiba nenhuma dúvida ao respeito - não é sionismo. Isso é pura e simplesmente anti-sionismo, e deve ser combatido por todos aqueles que vêm no Estado de Israel (e não na terra de Israel) a tradução fidedigna do sonho gerado e gestado pelo povo judeu ao longo dos séculos no seu caminhar diaspórico.

O sionismo é um direito e não um dever, e o Estado de Israel é o fecho de ouro dessa travessia de ida e volta do povo judeu.

Bruno Kampel, Suécia

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Judaismo humanista?... Será isto?...

1.- Nos dias que antecedem a qualquer data festiva do calendário judaico - principalmente Rosh Hashaná (Ano Novo), quando se preparar para o evento e sair para comprar uma camisa de seda que combine com a calça comprada em New York na DKNY ou um sapato italiano ou uma bolsa de Gucci ou um corte de linho irlandês para as camisas ou uma jóia de Cartier ou um cruzeiro pelos fiordos da Noruega ou a moto para o filho ou o carro para a filhoca ou finalmente o chalê em Chamonix ou coisa parecida, lembre que nesses dias nascidos para festejar com alegria, na cidade em que você reside há muitos judeus vivendo em estado de extrema necessidade, e que mesmo querendo não podem comprar a roupa básica ou os livros escolares do filho ou os sapatos da filhoca ou os remédios para a artrite ou pagar o aluguel ou arranjar emprego ou coisa parecida.

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2.- Quando decidir o que fazer com o dinheirinho que sobrou ou com o lucro inesperado da venda de ações ou com os alugueres recebidos dos apartamentinhos de temporada ou com o dinheiro extra apurado na venda dos saldos da loja ou com os juros recebidos dos depósitos que tem nos Bancos de Miami ou Bahamas, de Cayman ou Montevidéu, pense que há muitos judeus - certamente algum que você conhece - que perderam o emprego ou que ficaram sem casa ou que estão ameaçados de despejo, e que muitos pararam de pagar o seguro de saúde e que não todos podem mandar os filhos ao dentista ou que por causa de tudo isso e de mais ainda estão pensando em acabar com a própria vida ou coisa parecida.

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3.- Quando descobrir que ainda que seja um gesto solidário ele é insuficiente, pois não basta com mandar um quilo de feijão ou dois pacotes de arroz ou tres quilos de matzá ou alguma roupa de criança velha e rasgada a alguma instituição de caridade ou uns trocados na caixinha da sua sinagoga - esmola que representa um milionésimo daquilo que poderia dar sem atrapalhar as finanças próprias - ou quando entender que doando dinheiro para que algum líder político financie a sua nababesca campanha eleitoral às suas custas, ou para que algum líder comunitário viaje como um nababo a Israel ou até a Cuba com o falso pretexto de visitar aos “coitados” judeus de lá às custas dos dinheiros que poderiam ser usados em benefício dos necessitados de cá, ou para que outros construam mais um andar na casa de fim de semana, não ajuda aos judeus carentes, mas pelo contrário, soma riqueza à riqueza dos ricos, então poderá desfrutar de uma festa realmente feliz. Caso contrário fará como a maioria, usando e abusando do egoismo para usufruir sem partilhar, para aproveitar sem dividir, para olhar para o outro lado, o que, convenhamos, é a marca registrada do gênero humano, ainda que eu espere e deseje que vocês sejam a exceção que confirma a regra.

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4.- Chega de esmolas e de chás de beneficiência. Basta de sentar nas coberturas e de lá remendar a vida daqueles aos que a vida não lhes sorriu. É hora de parar de jogar no lixo as sobras da opulência própria e investir um pouquinho de nós na construção da infra-estrutura da solidariedade, porque com uma lata de goiabada ou um pacote de feijão ou um litro de óleo ou coisa parecida você poderá pensar que cumpriu com a sua parte, mas eu lhe digo que não, porque o feijão e o óleo e a goiabada ou a matzá são a minúscula peneira com que se quer cobrir o sol. Todos podemos fazer muito mais.

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5.- A felicidade própria não pode fechar os olhos à infelicidade alheia. Vamos abri-los e também os bolsos. Qualquer instituição séria dará prazeirosamente o endereço de alguma família judia que está esperando há muito tempo a sua visita com uma oferta de emprego que lhes devolva a dignidade, com uma proposta de ajuda na educação dos filhos, com um empurrão que lhes proporcione a chance de escapar às garras da miséria.

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Vamos lá, gente. Chega de fingir que ajudamos. É hora de mostrar que o fazemos. Vocês nem imaginam a felicidade que produz constatar os resultados de nossas ações. É só ver para crer.

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Bruno Kampel

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