Um verdadeiro quebra-cabeças histórico. Pesquisadores da Universidade de Tel Aviv estão, com ajuda de um sofisticado programa de computador, unindo peça por peça de um dos maiores e mais conhecidos arquivos de manuscritos medievais, a chamada Guenizá do Cairo. A coleção de 350 mil fragmentos de textos judaicos encontrada na capital egípcia em 1852 e espalhada 30 anos depois por 75 museus e instituições por todo o mundo, é tida como uma das mais valiosas fontes de documentos originais sobre o Oriente Médio na Idade Média. Até hoje, no entanto, ninguém conseguia ter uma visão geral desse tesouro histórico, que inclui textos religiosos, sociais e comerciais medievais. Há também textos mais recentes, até o século XIX.

Para estudar os documentos, estudiosos precisam, no momento, passar por uma via crúcis internacional. Os fragmentos estão espalhados por bibliotecas como as de Cambridge e Nova York (EUA), Manchester (Inglaterra) e Jerusalém (Israel), além de casas de colecionadores particulares. Os pesquisadores trabalham para unir todos os fragmentos virtualmente, num projeto que deve acabar no fim de 2012.

Os professores Lior Wolf e Nachum Dershowitz, da Escola Blavatnik de Computação da Universidade de Tel Aviv, desenvolveram um programa baseado na tecnologia de reconhecimento facial. Mas, em vez de reconhecer rostos, o programa consegue identificar e “colar” fragmentos de um mesmo manuscrito através de “ligações editoriais”. Ele analisa e processa informações com base em parâmetros como estilo e tamanho da letra, espaçamento entre as linhas e tipo de material. O trabalho é feito em conjunto com o Projeto Friedberg Guenizá, uma ONG que cataloga e digitaliza os fragmentos da coleção.

Em poucos meses, os pesquisadores israelenses já conseguiram fazer mais de mil “ligações” -- o mesmo número que estudiosos conseguiram fazer à mão nos últimos cem anos. Um dos documentos, um livro escrito pelo proeminente rabino e filósofo do século egípcio Saadia Gaon, foi totalmente restaurado.

_ A analogia com o reconhecimento facial é clara. Se o computador pode identificar a mesma pessoa em fotos diferentes, mesmo que ela esteja diferente em cada uma delas, pode da mesma forma identificar vários fragmentos que pertencem a um documento em comum, mesmo que cada um deles esteja diferente, atualmente _ explica Lior Wolf.

“Guenizá” significa em hebraico “depósito de livros hebraicos sagrados que não estão mais em uso”. Em geral, existem depósitos assim em sinagogas ou cemitérios, já que é proibido jogar fora livros sagrados usados, que devem ser enterrados como manda a tradição judaica. Muitos, no entanto, acabam não sendo colocados em baixo da terra – sobrevivendo à decomposição. A maior coleção desse tipo foi encontrada na Sinagoga Ben Ezra, em Fustat, hoje na parte velha do Cairo, e no cemitério de Basatin, também na capital do Egito.

O que diferencia essa coleção de outras é o fato de que ela contém não só livros de cunho religioso, mas também laicos e comerciais em aramaico, hebraico e árabe. Há listas de mercadores, cartas pessoais, papéis de divórcio, correspondências financeiras, receitas, aulas de ciência e de escrita e outros documentos que dão detalhes da vida econômica e cultural no Mediterrâneo medieval, incluindo regiões que hoje correspondem a Egito, Israel, Palestina, Líbano, Síria, Tunísia, Itália, Espanha, Turquia e Marrocos.

Uma parte do projeto já pode ser vista no site da organização que patrocina os estudos. O progresso será revelado em novembro, em Barcelona, na Conferência Internacional de Visão Computacional 2011.

_ É uma grande vantagem quando o pesquisador não tem se cansar examinando milhares de fragmentos _ diz Nachum Dershowitz, que promete estender o trabalho para outros arquivos históricos, como os Manuscritos do Mar Morto, recentemente revelados na internet através de um projeto do Google do Museu de Israel.

_O computador, ao contrário das pessoas, não se cansa de comparar milhares de fragmentos. Mas só um estudioso humanos pode ler o que esses manuscritos dizem e entender seu contexto _ diz Dershowitz

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/ciencia/manuscritos-revelam-segredos-da-idade-media-3154143#ixzz1df1vW6UF

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