Todos os posts (14)

Classificar por

Nos anos que se seguiram à criação de Israel, em 1948, cerca de 900 mil judeus que viviam no mundo muçulmano foram forçados a abandonar os países onde viviam, deixando para trás séculos de história e bilhões de dólares em patrimônio. Comunidades que existiam por mais de dois milênios simplesmente desapareceram.

Edição 87 - Março de 2015

No entanto, até hoje, a história da expulsão desses judeus é praticamente desconhecida. Pouco se sabe sobre as humilhações, perseguições, pogroms, prisões e torturas sofridas por eles a partir de 1948, bem como as incontáveis dificuldades que tiveram que enfrentar até conseguirem refazer sua vida em outros países. Tampouco há consenso sobre o valor total de bens abandonados, ou melhor, sequestrados pelos vários governos muçulmanos. Os números oscilam entre US$ 10 e 100 bilhões (em valores de 2006).

Um dos grandes pontos de interrogação é o valor das propriedades comunitárias, tais como hospitais, sinagogas e escolas religiosas deixadas para trás. Para se ter uma ideia, uma estimativa sobre o montante das propriedades comunitárias judaicas no Egito gira em volta de US$ 550 milhões, em valores de 2007.

A verdade é que o drama vivido pelos judeus dos países muçulmanos não interessa à mídia nem ao mundo acadêmico, raros são os livros ou estudos que tratam do assunto e não há museus sobre a vida judaica no mundo islâmico. A expulsão dos judeus orientais tampouco interessa às organizações de direitos humanos, não sendo mencionada nos fóruns de debates sobre direitos de minorias perseguidas.

O próprio mundo judaico mostrou pouco ou nenhum interesse, durante décadas, sobre a história do fim da vida judaica no Oriente Médio muçulmano. Entre outros, a magnitude da Shoá e os mais de 6 milhões de judeus assassinados pelos nazistas sobrepujaram qualquer outra tragédia. Somente nos últimos anos a saga dos judeus dos países árabes tem atraído o interesse de pesquisadores e historiadores. Ademais, a segunda geração desses judeus tem começado a revelar o sofrimento vivido por seus pais.

Em Israel, a primeira cerimônia para lembrar o drama dos judeus orientais foi realizada no dia 30 de novembro ano passado, quase 70 anos após o ocorrido, em Jerusalém. O Knesset determinou que a partir de então, nessa data, sejam oficialmente lembrados a expulsão e o exílio dos judeus dos países muçulmanos. A data tem um significado especial, pois, foi em 30 de novembro de 1947, um dia após a aprovação da Partilha da Palestina pela Assembleia Geral das Nações Unidas, que, em vários países árabes, ocorreram os primeiros atos de violência contra a população judaica. Era o início do fim da vida judaica no Oriente Médio muçulmano.

Em discurso proferido durante a cerimônia realizada em Jerusalém, no ano passado, o presidente israelense Reuven Rivlin afirmou: “Este dia nos pede que recordemos... os tesouros culturais criados nessas comunidades judaicas dos países árabes e do Irã, e conheçamos o papel importante que desempenharam na criação do futuro comum hoje aqui entrelaçado como parte da história do Estado de Israel”. Rivlin fez um apelo aos países árabes e ao Irã para que devolvam aos judeus o patrimônio que lhes pertence. Ele ressaltou, ainda, que mais de dois terços desses judeus orientais foram para Israel, tornando-se cidadãos israelenses, apontando para o fato de que “Teerã, Alepo, Bagdá, Sana’a e Trípoli são locais onde os judeus israelenses não têm autorização de pôr os pés, e onde seus tesouros culturais e propriedades têm sido vandalizados e saqueados mais de uma vez”.

Pano de fundo

No Oriente Médio havia comunidades judaicas estáveis e pujantes desde o século 6 a.E.C, após a Babilônia conquistar o Reino de Judá, dando início à Primeira Diáspora – praticamente um milênio antes do surgimento do Islã, no século 7 de nossa Era.

Os 1.400 anos de história dos judeus sob domínio muçulmano foram marcados por períodos de paz e prosperidade e outros de opressão, dependendo da época, do local e do governante no poder. A situação da população judaica agravou-se de forma definitiva em todo o mundo islâmico com a ascensão do nacionalismo árabe, do sionismo e o acirramento do conflito sobre o controle da Terra Santa, na primeira metade do século 20.

Durante a década de 1930, o antissionismo e o antissemitismo que permeavam o mundo árabe foram alimentados pelo nazismo. Ao eclodir a 2ª Guerra, o mundo árabe se alinhou ideologicamente com a Alemanha. O exemplo mais flagrante foi dado pelo Mufti de Jerusalém, Haj Amin al-Husseini. O líder religioso muçulmano era grande admirador de Hitler, e passou os anos da 2ª Guerra em Berlim. O Mufti defendia a adoção pela Alemanha da “Solução Final” também no Oriente Médio.

Durante a 2ª Guerra, em vários países do mundo muçulmano, a população judaica foi vítima de violência e discriminação. No Norte da África, sob o domínio francês pró-nazista de Vichy, o governo implantou leis antijudaicas. No Iraque, em 1 e 2 de junho de 1941, após um fracassado golpe de estado pró-nazista, ocorreu em Bagdá um pogrom – ou Farhud, em árabe, que matou 180 judeus, ferindo inúmeros outros e causando grandes prejuízos às propriedades privadas e comunitárias. Ataques semelhantes foram registrados em outros países vizinhos. Na então Palestina as hostilidades aumentaram nos últimos anos do Mandato Britânico. No dia 2 de novembro de 1945, aniversário da Declaração Balfour, eclodiram manifestações violentas, assassinatos e destruição de sinagogas e propriedades judaicas no Cairo, em Trípoli e Alepo.

Mas, foi com a decisão da ONU da Partilha da Palestina e, em seguida, a criação do Estado de Israel que a natureza dos ataques contra judeus mudou. A perseguição tornou-se sistemática, planejada e patrocinada pelas nações árabes, que se negavam terminantemente a aceitar a criação de um Estado judeu lado ao lado de um Estado árabe.

Antes mesmo da decisão da ONU líderes árabes haviam passado a encarar os cidadãos judeus como reféns. Duas semanas antes da votação, Heykal Pasha, o delegado egípcio, disse em discurso à Assembleia: “A solução proposta poderá pôr em perigo milhões de judeus que vivem nos países muçulmanos. A Partilha da Palestina poderá criar nessas nações um antissemitismo ainda mais difícil de extirpar do que o nazismo. Se a ONU aprovar a divisão da Palestina, será responsável pelo massacre de um grande número de judeus”.

As ameaças árabes provocaram sérios temores. Em janeiro de 1948, o presidente do Congresso Judaico Mundial, Dr. Stephen Wise, fez um apelo ao secretário de Estado norte-americano, George Marshall, alertando que “entre 800 mil e um milhão de judeus no Oriente Médio e Norte da África correm o maior perigo de destruição em mãos dos muçulmanos que estão sendo incitados à guerra santa em virtude da Partilha da Palestina... Atos de violência já perpetrados, junto aos contemplados, claramente visando a total destruição dos judeus, constituem genocídio, que, sob as resoluções da Assembleia Geral, é um crime contra a humanidade”.

Em maio, dois dias após a Declaração de Independência de Israel, o jornal New York Times publicou a seguinte manchete: “Judeus em grave perigo em todas as terras muçulmanas: 900 mil na África e Ásia enfrentam a ira de seus inimigos”. O artigonoticiava um “esboço de um projeto de lei elaborado pelo Comitê Político da Liga Árabe visando definir o status dos judeus residentes nos países membros da Liga. O projeto determinava que todos os judeus – exceto aqueles que eram cidadãos de países não-árabes –, seriam considerados ‘membros do Estado da Palestina de minoria judaica’. Suas contas bancárias seriam congeladas e usadas para financiar a resistência às ‘ambições sionistas na Palestina’. Judeus suspeitos de serem sionistas seriam detidos e seus bens confiscados”. Enquanto o jornal ressaltava que “as condições podiam variar de um país muçulmano a outro”, também alertava sobre o potencial da escalada de violência: “Teme-se, entretanto, que, se uma guerra total eclodir, as repercussões serão muito graves para os judeus de Casablanca a Karachi”.

No dia 14 de maio de 1948, Ben Gurion proclamou a Declaração de Independência do Estado de Israel. No dia seguinte, os exércitos regulares do Egito, Jordânia, Síria, Líbano e Iraque invadiram o recém-fundado Estado judaico. Os governos árabes acreditavam que sairiam vitoriosos e rapidamente seus exércitos “jogariam os judeus no mar”. Estavam muito enganados.

Enquanto era travada a luta, nos países árabes as autoridades se voltaram contra os judeus de seus países que passaram a sofrer sistemáticas perseguições e humilhações. Ademais, foi criada, em todos os países, uma legislação discriminatória, altamente perniciosa, restringindo liberdades e direitos humanos dos seus cidadãos judeus.

Durante todo o ano de 1947 e 1948, os judeus da Argélia, Egito, Iraque, Líbia, Marrocos, Síria e Iêmen foram perseguidos e tiveram suas posses e suas propriedades confiscadas. Ademais, foram sujeitos a terríveis tumultos instigados pelos governos de seus países. Na Síria, irromperam pogroms anti-judaicos na cidade de Alepo, e o governo congelou todas as contas bancárias pertencentes a cidadãos judeus, tornando o sionismo crime passível de pena capital. No Egito, detonaram bombas no bairro judeu, matando dezenas de pessoas. Na Argélia, foram rapidamente promulgados decretos contra a população judaica e, no Iêmen, sangrentas pogroms anti-judaicos levaram à morte quase 100 membros da comunidade.

Há um consenso entre historiadores e pesquisadores de que o objetivo e a semelhança das medidas e dos ataques são uma clara indicação da existência de um modus operandi, sancionado e coordenado pela Liga Árabe, para forçar a saída dos judeus dos vários países. Foram adotadas medidas legais, econômicas e políticas com o objetivo de isolar os judeus, que, pouco a pouco se tornaram alvo de discriminação e isolamento socioeconômico legalizado. Entre outros, eram proibidos de atuar em vários setores da economia e, em muitos casos, valendo-se das desculpas as mais esfarrapadas possíveis, os governos confiscavam suas propriedades. Os ataques físicos se tornaram frequentes. Muitos foram presos, espancados, torturados e ameaçados de morte. Os poucos judeus que não deixaram rapidamente os países ficaram, num segundo momento, impedidos de sair e foram reduzidos a uma minoria sem direitos, sem liberdade e sua saída do país foi vetada. Para todos os efeitos, ficaram reféns dos governos dos países onde viviam.

Estudo sobre os refugiados judeus

In 2003, a organização “Justice for Jews from Arab Countries” (JJAC)1 publicou um estudo, Jewish Refugees from Arab Countries: The Case for Rights and Redress” (Refugiados Judeus dos Países Árabes: A Defesa de seus Direitos Pessoais e de Reparação).

O estudo, o primeiro do gênero, lançou uma nova luz sobre a natureza das pressões que forçaram 97% de todos os judeus dos países árabes a abandonar comunidades muito bem integradas em seus países de origem. No decorrer da pesquisa foram encontrados novos documentos que mostram que a crueldade generalizada dos governantes árabes com seus cidadãos de origem judaica foi uma represália à criação do Estado de Israel. Revelam, também, que foi uma perseguição patrocinada pelo governos dos países árabes, de forma consciente e metódica, orquestrada com um objetivo: o fim das comunidades judaicas nesses países.

O professor de Direito e ministro da Justiça canadense Irwin Cotler escreveu que a campanha árabe contra os judeus incluiu não apenas o incitamento e ataques esporádicos, como são descritos em vários estudos, mas foi mais sistemática do que se supunha e acompanhada pelo que ele definiu como “violação em massa dos direitos humanos... incluindo leis semelhantes às leis nazistas de Nuremberg contra os cidadãos judeus”. Atos que, segundo Cotler, ativista de direitos humanos, evidenciam a “intenção criminosa, senão mesmo a conspiração criminosa”. “Se olharmos para o planejado modelo estatal de repressão e para a legislação sistemática que criminalizou, cassou os direitos civis e se apossou dos bens dos judeus, concluiremos, então, que o que aconteceu faz parte dos anais da limpeza étnica”.

O caso dos judeus expulsos

Não há como negar que cada vez que se faz alguma referência aos “refugiados do Oriente Médio” está-se pensando apenas nos refugiados palestinos. Mas a verdade é que, em decorrência do conflito árabe-israelense, foram deslocadas tanto populações de árabes quanto de judeus, sendo os refugiados judeus numericamente superiores aos palestinos. Mais de 850 mil judeus foram obrigados a deixar dez países muçulmanos, enquanto, segundo fontes das Nações Unidas, 711mil árabes palestinos deixaram, em 1948, a zona de guerra entre os exércitos de cinco países árabes e as Forças de Defesa de Israel.

Diferentemente dos palestinos, os judeus não fugiram de áreas que eram zonas de guerra, mas o fizeram em decorrência de violentas e sistemáticas perseguições. Os primeiros êxodos em grande escala de judeus ocorreram no Iraque, Síria, Iêmen e Líbia. Cerca de 90% dos membros destas comunidades deixaram os respectivos países em poucos anos. O auge do êxodo do Egito ocorreu em 1956, logo após a Crise do Suez; e nos países do Magreb, nos anos 1960. Na década de 1980, foi a vez dos judeus do Irã deixarem o país.

Mais de 85 % desses judeus expulsos foram para Israel, o restante se estabeleceu no Líbano, até a década de 1970, quando tiveram que deixar esse país, na Europa e na América do Norte e do Sul. Os que foram para Israel foram amparados pelo recém- criado Estado, e os que se estabeleceram em outros países contaram com a ajuda de familiares, dos membros das comunidades e de organizações judaicas internacionais.

As dificuldades que tiveram que enfrentar para refazer a vida foram imensas. Muitos se viram sem nenhum ou com muito poucos recursos. A maioria tornara-se apátrida, sem passaportes válidos, pois os governos dos países árabes haviam cassado sua cidadania. Os que não foram para o Líbano, se estabeleceram em países de idiomas e hábitos diferentes. Mas, onde quer que se estabelecessem, seguiram em frente, recebendo a cidadania dos países nos quais se refugiaram, lutaram para se reerguer economicamente, reconstruindo suas vidas e suas comunidades.

Os que foram para Israel passaram por sérias provações. Grande parte chegava com poucos pertences, na maioria das vezes, uma única mala. É importante lembrar que o recém-criado Estado, além de ter que lutar uma guerra de sobrevivência contra seus vizinhos, enfrentava todo tipo de dificuldades econômicas e sociais e uma profunda crise habitacional. Entre 1948 e 1954 o fluxo de imigrantes dobrou a população de Israel e a triplicou no início da década de 1960. A magnitude do esforço de Israel para acudir os refugiados vindos da Europa pós-Holocausto e dos países árabes foi extraordinário. Um país de 650 mil habitantes conseguiu absorver uma população totalmente destituída de recursos de 685 mil. Apesar das imensas dificuldades, o então primeiro-ministro David Ben-Gurion não queria que os judeus que retornavam a seu Lar Nacional fossem classificados como “refugiados”. Portanto, não houve pedidos à comunidade internacional, como no caso dos palestinos, para que lhes fosse concedido o status formal de refugiados.

O caso dos refugiados palestinos

O caso dos refugiados palestinos árabes é historicamente diferente. Após a decisão da Partilha, eles conclamaram seus irmãos árabes a invadir e destruir o Estado Judeu. A decisão da Liga Árabe, de 10 de abril de 1948, de invadir o novo país para “salvar a Palestina” foi um divisor de águas.

A Declaração da Independência de Israel garantia liberdade e cidadania para os árabes palestinos, assim para como todas as minorias. Mas isso não bastava para eles. Os árabes não aceitavam a existência de um Estado Judeu. No dia seguinte à Declaração de Independência, os exércitos árabes invadem Israel. Cerca de 70% da população que vivia no território que se tornara o Estado de Israel fugiu, sendo que os primeiros foram seus principais líderes. Isso criou um colapso absoluto das instituições árabes.As estações de rádio árabes incentivaram os palestinos a deixar suas casas, assegurando-lhes que voltariam com os exércitos árabes vitoriosos. Vele ressaltar que apenas uma pequena parte, que vivia em locais militarmente estratégicos, teve que sair sob pressão das forças de defesa de Israel. Os governos árabes incentivaram a fuga em massa não só para abrir espaço para a invasão, mas também visando criar comoção e apoio para a causa palestina. Rapidamente, o mundo acabou “esquecendo” que, ao não aceitar a Partilha e ao declarar guerra ao Estado de Israel, os Estados árabes foram responsáveis pelo deslocamento dos palestinos.

Como vimos acima, a ONU contabilizou na época 711 mil refugiados palestinos. Tendo o status formal de refugiados, eles recebiam anualmente – e ainda recebem – milhões de dólares em auxílio das Nações Unidas. (De 1950 até 2007 receberam US$ 13,7 bilhões).

Ao fugir, a maioria deles se refugiou na Jordânia, principalmente na chamada “Margem Ocidental”, na época sob domínio jordaniano; em Gaza, então sob domínio egípcio; na Síria e no Líbano. Na maioria dos países onde se estabeleceram foram tratados como cidadãos de segunda categoria. Milhares foram instalados em “acampamentos provisórios” de refugiados, principalmente, no Líbano, em Gaza e na Jordânia. Este foi o único país que lhes ofereceu cidadania, mas, apesar disso, os palestinos mantiveram o status de refugiados. Com o decreto 1547 de 1959, a Liga Árabe determinou que não seria consentida cidadania aos palestinos nos países árabes “com o intuito de preservar a entidade e identidade palestina”.

Há uma clara motivação política por parte dos países árabes em manterem os refugiados palestinos como párias da sociedade. Seu objetivo é ganhar, através da diplomacia, o que foi perdido nos campos de batalha. Essa manipulação política tornou única a questão dos refugiados palestinos. É a situação mais antiga ligada a refugiados gerenciada pelas Nações Unidas e a única na qual o status de refugiados é garantido aos seus descendentes diretos por linhagem patrilinear. Hoje, eles somam quase 5 milhões de pessoas consideradas refugiadas após 60 anos – ou seja, três gerações.

A ONU e suas agências

A ONU e suas agências estão entre os piores ofensores em relação aos refugiados judeus. A visão da organização sobre o Oriente Médio é distorcida, pois sequer menciona a existência dos refugiados judeus no contexto do conflito árabe-israelense. A organização deveria deixar bem claro que quando se fala em refugiados deve-se reconhecer que no Oriente Médio há duas populações refugiadas, e que ambos os assuntos devem ser abordados da mesma maneira. A realidade, porém, é outra.
Desde 1947 a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou 687 resoluções relativas à questão dos refugiados, porém todas só fazem referência aos refugiados árabes.

Na realidade, a única agência da ONU que agiu em relação aos refugiados judeus foi o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, que procurou atuar para agilizar a transferência de bens dos judeus do Egito que já haviam fugido do país, e conduziu negociações diplomáticas sigilosas para tentar aliviar a situação dos que ainda eram mantidos como reféns em países árabes.

Tais medidas não podem ser comparadas com o forte apoio que recebe da ONU o tema dos refugiados palestinos, tanto em termos de financiamento, criação de comitês especiais para analisar o tema, como de uma série de resoluções que criaram direitos para os palestinos.

Espoliação Econômica

Qual o montante dos bens e propriedades deixados para trás? Apesar de na primeira fase das perseguições e, em certos países, uma minoria de judeus abastada ter conseguido fazer sair do país onde vivia algum dinheiro, a grandíssima maioria teve que deixar tudo para trás. Em todos os países árabes, raríssima foram as exceções. Após a criação do Estado de Israel, os governos, de olho nos bens e propriedades dos judeus, determinaram que todos os ativos líquidos, contas bancárias e propriedades individuais ou comunitárias fossem sistematicamente colocados em “custódia” e, a seguir, nacionalizados, tomados para fins de resgate e simplesmente roubados quando eles partissem. E foi o que ocorreu.

A Síriaapreendeu, em 1949,os ativos financeiros judaicos e proibiu a venda de suas propriedades. Mediante uma medida emergencial, em abril de 1950, o governo confiscou várias propriedades judaicas – casas, propriedades rurais, lojas. De 1958 a 1961, os judeus que abandonavam o país foram forçados a transferir seus bens ao governo sírio e a pagar consideráveis impostos de partida. No Iêmen, em 1949, foram listados os bens e propriedades dos judeus a fim de retê-los para resgate.

No Iraque, em julho de 1948 e em março de 1951, foram congelados bens dos judeus que deixavam o país. Em 1951, o Governo iraquiano discretamente concordou em deixar os judeus emigrarem para Israel, e quase todos o fizeram. Paralelamente, promulgou uma lei que decretava a nacionalização de todos os bens de propriedade judaica – casas, fábricas, bens, joias e contas bancárias. No Egito, em fevereiro de 1949, foram sequestrados todos os bens de judeus autóctones e daqueles que viviam no exterior. Gamal Abdel Nasser promulgou leis similares às adotadas pelo governo iraquiano após a Guerra do Sinai. Na Líbia, em 1961, o governo decretou o confisco dos bens dos judeus que deixavam o país com destino a Israel. Em 1970, propriedades dos judeus foram confiscadas.

O Marrocos sequestrou com fins de resgate bens e propriedades dos judeus que queriam emigrar para Israel, em 1961, e o Congresso Mundial Judaico teve que pagar US$ 250 por cada judeu autorizado a deixar o país. Na Tunísia, em 1961-1962, os judeus que deixavam o país podiam levar consigo apenas um dinar (o equivalente, hoje, a US$ 3). O Irã confiscou bens e imóveis dos judeus em 1979.

Não há consenso entre pesquisadores e as organizações judaicas sobre o valor total dos bens pertencentes aos judeus dos países muçulmanos. O economista Sidney Zabludoff, ex-funcionário do governo americano, fez estimativas de que as propriedades totalizavam cerca de US$ 700 milhões, na década de 1950, ou seja, cerca de US$ 6 bilhões, em 2007. Uma organização judaica calcula que os judeus deixaram nos países árabes entre depósitos bancários, bens e propriedades por volta de US$ 30 bilhões, mas segundo a JJAC seriam mais de US$ 100. Essas fontes argumentam que os judeus eram proprietários de muitos terrenos e imóveis e que só os do Iraque deixaram US$ 2 bilhões apenas em depósitos bancários.

Mesa das negociações

Organizações judaicas, entre outras a Justice for Jews from Arab Countries(JJAC), Congresso Judaico Mundial, a Federação Sefardita Americana e a Organização Mundial de Judeus dos Países Árabes, têm lutado em fóruns internacionais para assegurar-se de que os direitos dos judeus dos países árabes também estejam nas mesas das negociações no Oriente Médio. Segundo o fundador do JJAC, Stanley Urman, “talvez nossa conquista mais significativa tenha sido a adoção, em abril de 2008, pelo Congresso Americano, da Resolução 185, que concedeu o primeiro reconhecimento aos refugiados judeus dos países árabes. Agora, é preciso que os diplomatas americanos, em todas as negociações sobre o Oriente Médio, se refiram a uma citação dessa Resolução com uma prescrição específica que estipule que qualquer referência aos refugiados palestinos deve ser equiparada por uma referência explícita aos refugiados judeus”.

A verdade é que o fato de os judeus refugiados das terras muçulmanas terem reconstruído suas vidas em Israel e em outros lugares não minimiza as injustiças que sofreram em seus países de origem. Não minimiza as perdas culturais e econômicas sofridas. Qualquer narrativa do Oriente Médio que não inclua a história do êxodo dos judeus dos países árabes no século 20 é uma afronta à verdade, à memória e à justiça.

BIBLIOGRAFIA
Hertz, Eli E., Arab and Jewish Refugees – The Contrast, 2007
Gelber,Yoav, “Why Did the Palestinians Run Away in 1948?” History News Network, http://hnn.us/articles/782.html
Prof. Trigano,Shmuel,The Expulsion of the Jews from Muslim Countries, 1920-1970: A History of Ongoing Cruelty and Discrimination, Jerusalem Center of foreign affairs, 4 de novembro, 2010
Shulewitz, Malka Hillel, The Forgotten Millions, The Modern Jewish Exodus from Arab Lands, Ed. Continuum, 2000
Beck, Noah, Jews From Muslim Lands:The Forgotten Refugees of 1948,artigo de 2013, http://www.frontpagemag.com/2013/noah-beck/jews-from-muslim-lands-the-forgotten-refugees/

Saiba mais…

CHEGOU O SHABAT!

O Crepúsculo já iniciou-se, as sombras começam a vestir o nosso tempo, em poucos minutos duas velas estarão a brilhar, enquanto no alto pelo menos três estrelas complementam a chegada em cada lar que assim procede, da presença da Shekinah do Criador como uma Rainha.

É o Shabat testemunhando um grande casamento Cósmico, do Criador com suas criaturas, renovando o pacto do Sinai, agora tão iluminadas com a festa de Chanuchá, que está tão próxima. SHABAT SHALOM!

Saiba mais…

O milagre verde de Israel por David Gruberger

Quem aterrissa no Aeroporto Ben Gurion pode olhar pelas janelas do avião e verá campos e plantações de diferentes cores. Quem anda de carro em estradas do sul do país dirá que viu campos verdes e estufas em meio a um deserto seco, um milagre ou uma miragem? Israel  é conhecido mundialmente por sua avançada […]

Expresse a sua opinião Continuar lendo →
Saiba mais…

Vivemos um dia-dia bastante estressante e somos bombardeados pelo constante de informações e situações, que geram um ambiente de negatividade. Geralmente resolvemos as coisas pelo primeiro impulso que chega a nossa mente, e quantas situações trágicas acontecem pelo nosso comportamento reativo.

Essa postura em geral ocorre entre amigos, familiares, no ambiente de trabalho, e também no ambiente religioso. Nós não conseguimos vencer as nossas angústias e a qualquer instante explodimos com palavras que machucam, e nem pensamos na lei da causa e efeito, por entendermos que só funciona para os outros , para nós não.

Ao praticarmos somente a religião, há um crescimento egoico sem precedentes e achamos que só nós estamos conectados com o Criador, e que os outros vão pro beleléu. Ledo engano, estamos adentrando a escuridão, magoando pessoas, desprezando princípios, perdendo a humildade, sendo soberbos, e deixando de descobrir quantas bênçãos existem na prática da Espiritualidade. "CRIADOR, FAZE-NOS VOLTAR E VOLTAREMOS, RENOVA OS NOSSOS DIAS COMO NOS TEMPOS ANTIGOS"!
by Moréh Altamiro Paiva

Saiba mais…

Ser judeu tem muito a ver com o comportamento

Jacob é na Mesopotâmia, na casa do irmão de sua mãe; ele se apaixona por Raquel sua filha mais nova. Labão, seu tio promete dar a ela em casamento. No entanto, quando chega a noite de núpcias, Labão muda Raquel para Lia, sua filha mais velha.

 

Assim, lemos em Gênesis capítulo 29 versículo 25:

 

" Quando chegou a manhã, lá estava Lia.

Então Jacó disse a Labão: “Que foi que você me fez?”

 

A tradição judaica não foi benigna com Labão chamando a ele de "enganador", o que é difícil negar. No entanto, casando a sua filha mais velha, Labão está agindo de acordo com as normas de seu povo.

 

Além de seu engano, Labão age generosamente. Ele dá Jacob sua filha mais nova, Raquel, e além disso ele adiciona grandes presentes.

 

Labão ensina duas lições importantes para Jacob. A primeira é que aquele que engana os outros pode esperar ser enganado por outros.

 

A segunda lição é a resposta de Labão dada a reclamação de Jacob:

 

Não se faz assim no nosso lugar, que a menor se dê antes da primogênita.

 

Jacob até agora tem feito pouco das tradições ignorando que elas consagram a ética de uma comunidade, definindo quem são as pessoas daquela comunidade.

 

 A lição, porém, é aprendido e construída pelos descendentes de Jacob:

 

Tamara filha do Rei David - critica a torpeza moral de seu meio-irmão Amnon com as palavras :

 

"Tal coisa não é feita em Israel."

 

Por gerações os pais têm ensinado seus filhos o que significa ser judeu com a simples frase:

 

"Os judeus não fazem isso"

 

Definir o que é o judaísmo, e o que ele faz não é muito complicado.

 

Conforme explicado pelo proeminente estudioso judeu americano Arthur Hertzberg:

 

"Muitos judeus, como eu, se lembram de uma avó que, das profundezas de seu ser, muitas vezes ela diz sobre certas questões que" um judeu não faz isso. "Como doutrina política e social, isso pode parecer vago, mas quem não é estranho a experiência judaica herdada encontra este padrão preciso e deliciosamente moral."

 

Se, finalmente, o judaísmo é o que os judeus aprenderam com suas experiências ao longo da história, maneira como eles se comportam é o que é chamado de "ética judaica."

 

Tradicionalmente os judeus têm sido muito conscientes do seu comportamento como um grupo, como "am Israel," como o povo de Israel. Unidade, solidariedade têm sido aspectos distintivos deste comportamento.

 

Se a ideia de que "os judeus não fazem isso" não continua fazendo sua aparição cada vez que os judeus se comportam mal entre si e com os outros,  o reflexão de Erich Fromm que ainda temos um patrimônio ético, mas que que em breve será dissipado, poderia tornar-se realidade.

 

Saiba mais…

Bandeja de Prata Escrito por Amir Szuster

Esqueça a ameaça nuclear iraniana ou o terrorismo do Estado Islamico. Deixe de lado o conflito com os palestinos. A maior ameaça a sociedade israelense nos próximos anos é a concentração de poder e riqueza nas mãos de um grupo muito seleto de pessoas. Assim apontam três importantes personalidades (1) que apresentaram suas visões no […]

Expresse a sua opinião Continuar lendo →
Saiba mais…

Amor incondicional

Estudamos a Torá respeitamos os mitzvot compreendemos a importância do eterno em nossas vidas. Aprendemos o quanto é belo suas obras, mas esquecemos do amor que o eterno nutre por cada filho independente de ser uns diferentes dos outros e suas crenças muitas vezes levarem seus filhos a atos tristes este amor se assemelha o de uma mãe que gera cuida e tem  que deixar seguir os seus próprios caminhos.

Amar é o maior conhecimento que devemos aprender e compartilhar esse amor .

A todos m11419596099?profile=originaleus irmãos um momento de de paz e amor.

Saiba mais…

Vivemos instantes de intolerância, violência e morte num compasso crescente que nos deixa perplexos. Nações poderosas vivem o pânico generalizado do temor da manifesta maldade oculta numa perspectiva eminentemente dogmática.

Por mais que seja aplicada medidas relacionadas com dar o troco diante dos fatos horrendos, mais ficará acirrado o ódio, que faz parte de uma história pós edênica, que deságua no Ticum das Nações envolvidas no passado com fatos semelhantes de perseguição religiosa, que provocou sucessivas diásporas, e ainda persiste.

Não se deve fazer presságios, mas tal situação atípica que está a ocorrer, só poderá ser neutralizada, com a mudança de compreensão dos mundos espirituais, que sugerem a prática do amor incondicional. Fora disso, só teremos dor e sofrimento, escuridão espiritual, a menos que façamos teshuváh, para que a Luz, ou a fôrça torne este mundo possível de sobreviver a um próximo holocausto nuclear, até que voltemos em outra galáxia, como se fosse o Retorno de Jedi. Shalom!
Moré Altamiro Paiva

Saiba mais…

Sem arrependimento Escrito por Yair Mau

Artigo de Dan Ariely, publicado originalmente em hebraico no jornal Haaretz, no dia 3 de novembro de 2015. Qual é a causa da estagnação diplomática? Se examinarmos esta questão do ponto de vista da economia comportamental, poderemos encontrar dois princípios centrais de racionalidade que causam a estagnação. Um deles é a aversão à perda e […]

3 Opiniões Continuar lendo →
Saiba mais…

MILAGRES NA FILOSOFIA JUDAICA MEDIEVAL - REVISTA MORASHA


Era difícil explicar certos milagres bíblicos em termos de ciência contemporânea e, por outro lado, a aceitação de milagres requeria a crença na Criação e na Divina Providência -noções rejeitadas pela filosofia grega.

Saadia Gaon (882-942)

Saadia ben Joseph, também conhecido como Rabi Saadia Gaon por ter sido apontado como Gaon (chefe) da Academia de Sura, na Babilônia, pode ser considerado o pai da filosofia medieval. Seu sistema filosófico é amplamente detalhado em seu livro Emunot Vedeot, O livro das Crenças e Opiniões. Ele não questiona os milagres. Saadia Gaon coloca a possibilidade de que D'us considere apropriado alterar sua Criação com o intuito de confirmar Suas revelações aos profetas. Em seu livro, O livro das Crenças e Opiniões (cap.3:4,5), Saadia insiste que o propósito dos milagres é confirmar o profeta como mensageiro de D'us e suas palavras como verdadeiras. Ele também acredita que há uma correlação completa entre o conteúdo da revelação e as conclusões da investigação racional - a existência de D'us, Sua unicidade e a criação do mundo. Entretanto como a verificação intelectual das doutrinas reveladas é acessível a poucas pessoas, Saadia é da opinião que revelações e milagres eram necessários para a maioria do povo.

A interpretação alegórica dos milagres é feita por Saadia apesar do próprio Midrash ter registrado muitas interpretações alegóricas. Enquanto aceitava o fato de que todas as palavras da Torá eram divinas, ele insistia que a verdade da Bíblia está na razão e que sempre que a Bíblia parece entrar em conflito com a razão, as palavras devem ser entendidas em um sentido metafórico e alegórico. (Gênese 3:1) Desta forma ele explica as palavras da serpente e do asno falante de Bilaam (Números 22:28).

Em relação à compreensão do texto da Torá em geral, Saadia argumenta que um texto pode ser interpretado contrariamente ao seu sentido literal, quando contradiz a razão. Tudo isto é baseado em provas ou comprovado por milagres. Os profetas, por exemplo, deve-riam, em sua opinião, provar sua missão através de milagres públicos. Esta teoria levou à doutrina da tradição, de Saadia, que afirma existirem três fontes de sabedoria: percepção sensorial, evidência racional e conclusões racionais tomadas a partir de dados fornecidos pela razão e aliadas à percepção. A convicção numa tradição fidedigna fundamentou sua noção de fé religiosa.

Yehuda Ha-Levi (1075-1141)

Os ensinamentos de Rabi Yehuda Ha-Levi se baseiam no conceito de que a experiência religiosa imediata é superior às deduções racionais. Desta forma Ha-Levi define o profeta como aquele que atingiu o mais alto grau de perfeição possível à imaginação. Apesar do raciocínio humano negar facilmente a possibilidade da ocorrência de milagres, estes fatos são sustentados pela autenticidade da tradição que os presenciou. Yehuda Ha-Levi não considera os milagres como Saadia Gaon, que os considerava uma afirmação da Revelação. Por sua vez ele considera os milagres como uma revelação direta de D'us. Considera milagre a comunicação direta de D'us com as pessoas ou com as nações. O desvio da ordem natural das coisas com o propósito de guiar o ser humano a seu destino religioso é um milagre. A autenticidade da revelação de D´us no Monte Sinai foi estabelecida pelo fato de que todos os israelitas, tanto crianças como adultos, foram presenteados com a profecia por intermédio de Moisés e puderam testemunhar a Revelação como experiência própria.

Resumindo, para Yehuda Ha-Levi a Revelação bíblica é a fonte da verdade religiosa e como foi um ato público no Sinai, é inquestionável. Somente a clara determinação do relacionamento entre D'us e o indivíduo está além do que pode ser conhecido como filosofia.

Maimônides (1135-1204)

A maior obra filosófica escrita por Rabi Moses ben Maimon, também conhecido como Maimô-nides, é o Guia dos Perplexos.

Esta obra foi feita para conciliar algumas diferenças entre revelação e filosofia e para ser uma espécie de guia àqueles que têm dúvidas sobre a filosofia ou a religião devido à aparente contradição entre ambas. Maimônides não considera que uma seja contrária à outra. Filosofia é o meio através do qual o indivíduo compreende a Revelação. A fé religiosa é uma forma de sabedoria. A filosofia é um elemento central dentro da própria religião. Desta forma aprender a filosofia é uma tarefa religiosa e a filosofia pavimenta o caminho para D'us.

Para Maimônides, os milagres foram predeterminados no momento da Criação e desta forma não constituem uma mudança na vontade de D'us. Em sua opinião, são necessários para sustentar a autoridade da Revelação perante o povo. Maimônides é muito cauteloso em não definir o milagre como uma anulação das Leis Divinas sobre a natureza.

Ele também é cuidadoso ao evitar que a afirmação da atividade sobrenatural de D'us seja utilizada como meio de interrupção da ordem natural da criação. Em seu comentário da Mishná, Maimônides ensina que os milagres foram inseridos na natureza no momento em que D'us criou o mundo.

Em seu Guia dos Perplexos, Maimônides não parece mais se ater a esta posição extrema que excluiria qualquer interferência de D'us no curso da natureza. Ele admite a possível suspensão temporária da ordem natural das coisas como parte do plano Divino. Muitas narrativas milagrosas, especialmente as mais extraordinárias, como a de Bilaam falando com um asno ou a fala da serpente no Jardim de Éden, são explicadas por Maimônides alegoricamente ou através de interpretações de histórias como parte da visão profética. Quando um profeta descreve a ruína de um reinado ou a destruição de uma grande nação com expressões como "as estrelas caíram" ou "a terra está perdida e treme", utiliza metáforas para se referir aos derrotados. Enquanto os vitoriosos aproveitam a Luz e a alegria, os derrotados estão na escuridão.

Para explicar a linguagem figurada da Bíblia, em seu Guia dos Perplexos, Maimônides cita o Salmo 77, cap. 17-19, referindo-se à morte dos egípcios no Mar Vermelho: "As águas viram-nos e ficaram com medo, as profundezas tremeram... a terra tremeu e estava confusa." Maimônides afirma que um milagre não pode provar aquilo que é impossível. Serve apenas para confirmar o que é possível.

Maimônides, pois, explica que realidade deriva da Razão Divina e que nem tudo que é imaginável é necessariamente possível. Ele eleva os milagres de Moshé acima de todos os outros. A verdade metafísica vem de momentâneos flashes de iluminação, algo comum na filosofia e na profecia.

Os profetas costumavam usar parábolas e metáforas porque o indivíduo comum não consegue compreender a verdade em sua forma pura. Somente o filósofo é capaz de fazê-lo, já que o conhecimento metafísico exige a perfeição do intelecto e a purificação da personalidade humana.

Gershon ben Levi (1288-1344)

Para explicar a natureza dos milagres, Rabi Gershon ben Levi (Gershonides) estudou os milagres bíblicos, concluindo que podem ser classificados em aqueles que envolvem mudança na matéria e outros em que a matéria permanece a mesma. Como exemplo dos primeiros, há a transformação do bastão de Moshé em serpente, e do rio Nilo em sangue. E como exemplo dos segundos há a mão de Moshé quando se torna leprosa. Indo mais além, divide os milagres entre aqueles em que o profeta foi avisado antes (Dez Pragas do Egito) e aqueles nos quais não houve aviso prévio. Sua análise dos milagres mostra que todos foram realizados ou relacionados com os profeta e que foram feitos com bom propósito. Segundo Rabi Gershon, como os milagres não parecem ser acidentais, devem ter como autores alguém que tem conhecimento espiritual de D'us, a chamada Inteligência Divina ou o próprio profeta). Conclui que o Autor de milagres é o mesmo que o Inspirador dos profetas, cujo Intelecto tem como conteúdo o sistema da criação unificado como uma idéia abstrata (por exemplo, o Intelecto Ativo). Assim, para Gershon ben Levi, o profeta sabe dos milagres porque o Intelecto Ativo, seu Autor, é também a Causa da inspiração profética.

Nachmânides (1194-1270)

Durante a vida de Rabi Moshe ben Nachman havia filósofos que continuavam a repudiar a crença em milagres, explicando-os com alegorias, enquanto outros tentavam provar que eles de fato ocorreram. Nachmânides, diferentemente de Maimônides, sugere que o milagre precede a natureza. Desta forma, para Nachmânides o milagre não é um acontecimento isolado, mas uma realidade sobrenatural imutável. Em sua opinião, a natureza e a ordem do mundo não afetam o propósito da Torá e desta forma o destino de Israel é passível de milagres. Entretanto os milagres não conflitam necessa-riamente com a ordem natural das coisas. Nachmânides postula uma distinção entre os milagres evidentes (por exemplo, aqueles que desviam da ordem natural, servindo para trazer fé aos céticos), e os milagres ocultos, que consistem de coincidências não usuais de um certo número de eventos. Os milagres ocultos e sua natureza milagrosa serão evidentes somente para os que têm fé.

Hasdai Crescas (1340-1410)

Rabi Hasdai Crescas desenvolve a mais completa crítica da posição de Maimônides sobre os milagres. Assumindo que o mundo foi criado a partir do nada, mas não teve início temporal, o mundo é continuamente renovado pela infinita graça de D'us. Já que D'us é o Todo Poderoso e a Bondade Infinita, os milagres (instrumentos do bem) não estão meramente no poder de D'us mas são um efeito necessário de Sua existência. Para Crescas, os milagres nem são desvios da natureza nem conflitam com esta, mas sim uma expressão da ordem sobrenatural. Enquanto as ocorrên- cias naturais são trazidas por D'us indiretamente, expressando sua força limitada, o milagre é trazido diretamente por D'us, expressando o seu poder ilimitado e tendo uma existência absoluta. Para Crescas, o mundo em si é na verdade um milagre perpétuo que abrange a ordem natural. O milagre precede a natureza e seu verdadeiro propósito é trazer a fé aos céticos e reforçar a fé daqueles que já a têm. Para Crescas, a cada evento no qual a onipotência de D'us é revelada, D'us Se torna presente para os humanos. Como a graça de D'us é infinita, deve forçosamente se revelar a toda a humanidade.

Saiba mais…

O judaísmo é uma cultura com base no destilado das experiências acumuladas através de sua história, esta é a raiz de todos os valores judaicos.

A história judaica é a área em que os valores são atualizados, portanto, não há mais ameaça o tecido do judaísmo que o esquecimento.

Em outras palavras, uma grande parte de ser judeu é o resultado de fazer parte da história judaica, seu passado, presente e futuro.

O falecido filósofo e historiador de ideias Isaías Berlin escreveu que:

" Uma vez que foi dito, pelo famoso revolucionário russo Alexander Herzen, escrevendo em meados do século XIX que os eslavos tinham nenhuma história, apenas geografia. A situação dos judeus é o oposto. Ao contrário, eles tiveram muita história e pouca geografia. Por conseguinte, a fundação do Estado de Israel deve ser considerado uma parte histórica de reparação desta situação anormal. Os judeus tiveram certamente mais do que sua parte da história, ou, como alguns poderiam dizer, martirológio."

Esta reflexão poderia lançar alguma luz sobre a importância que o capítulo 23 do Livro do Gênesis tem para o judaísmo hoje:

“E morreu Sara em Kiryat Arba, que é Hebron, na terra de Canaã; e veio Abraão lamentar Sara e chorar por ela.”

Após esta abertura, o capítulo passa a relatar com extraordinário detalhe como Abraão comprou a caverna da Macpela, na cidade de Hebron para enterrar sua esposa Sarah lá.

Jerold S. Auerbach, um professor de história na Universidade de Wellesley, que escreveu um livro sobre os judeus de Hebron, observa que

"A descrição detalhada do local da Macpela em Gênesis é incomparável na narrativa bíblica. Ele contrasta fortemente com a localização intencionalmente vaga em Deuteronómio na colocação do túmulo de Moisés. Lá nós simplesmente lemos que " ninguém sabe o lugar de sua sepultura até hoje." (Bem, como também lá de seu irmão Aaron e sua irmã Miriam, que foram enterrados no deserto sem marca alguma.) O local de sepultamento de Moisés, em algum lugar a leste do Jordão, mas fora da terra, "lá", permanecerá para sempre desconhecido, enquanto que o lugar do enterro da Macpela manteve-se um santuário reverenciado desde o enterro de Sara. "

A "Macpela" é o lugar onde, segundo a tradição todos os patriarcas e matriarcas de Israel acabaria por ser enterrados, é o primeiro pedaço de imóveis na terra prometida.

Herodes- o último rei de Israel- como parte de sua programa massivo de construção lançado no ano de 37 a.e.c. construiu o enorme recinto para os túmulos de Macpela, que depois de 2.000 anos ainda está de pé hoje.

Hebron é a principal cidade de Judá, foi a capital de Judá durante o reinado de David, a cidade onde Sadoc o sacerdote da Judeia de David veio.

Mencionada 87 vezes no Tanakh, Hebron é realmente a mais antiga comunidade judaica no mundo.

"Se fôssemos uma nação normal", disse o ex-primeiro-ministro israelense Ariel Sharon, "quando um visitante chega aqui, não teria tomado a Yad Vashem [o memorial do Holocausto museu em Jerusalém] mas em Hebron. Nós gostaríamos de levá-lo para onde estão as nossas raízes. "

Hebron é o único lugar onde judeus vivem entre os palestinos. "Em nenhum lugar na Cisjordânia", escreve o jornalista investigativo Robert I. Friedman, o fundamentalismo islâmico é tão forte ou tão inóspito para os estrangeiros como em Hebron, onde não há bares ou salas de cinema e onde muitas mulheres palestinas usam vestidos longos e cobrem suas cabeças com lenços. Além disso, não há lugar, acrescentou, onde o fundamentalismo judaico é tão intransigente. De fato, para muitos judeus ortodoxo, Hebron é uma cidade que inspira quase tanta paixão e compromisso como Jerusalém. "

Hebron é uma cidade em que o conflito palestino judaico assumiu sua forma mais intensa, porque, junto com Jerusalém, é o campo de batalha pela possessão da história da terra

Um número significativo de judeus e até mesmo de israelenses têm sérias dúvidas sobre as reivindicações históricas, particularmente quando essas afirmações são a alegada fonte do conflito. A verdade é que a maioria dos conflitos só precisam de uma desculpa, qualquer desculpa.

Para os judeus as raízes históricas são existencialmente importante.

 Anthony D. Smith um sociólogo britânico histórico que é professor emérito de nacionalismo étnico na Escola de Economia de Londres e é considerado um dos fundadores do campo interdisciplinar de estudos do nacionalismo destacou que:

"Aqueles cujas identidades raramente são contestadas e que nunca conheceram o exílio ou a escravidão da terra e cultura, têm pouca necessidade de encontrar suas" raízes ", a fim de estabelecer uma identidade única e reconhecível"

Assim, para a maioria dos judeus, como notou o professor Auerbach:

"Chaye Sarah [Gênesis, capítulo 23] narra o momento preciso em que o apego do povo judeu à Terra de Israel e para Hebron foi selado para sempre. Sua leitura anual afirma a ligação ininterrupta de identificação entre o presente e o passado."

Saiba mais…

Entre Gaza e o Kibutz Escrito por Gabriel Paciornik

– Íamos cedo de manhã para praia. Às vezes, era para (kibutz) Zikim, ou Gaza City mesmo. Eu passava a manhã jogando futebol na areia. Mais tarde, voltávamos para casa com peixes frescos comprados por lá mesmo para fazer de almoço. Minha mãe sempre fazia compras no shuk (mercado) em Gaza. No kibutz mesmo, quase […]

1 Opinião Continuar lendo →
Saiba mais…

Tópicos do blog por tags

  • e (5)

Arquivos mensais