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Doutores e Pescadores por Jayme Fucs Bar

É muito comum no Brasil que alguém como forma de respeito chama o outro de "Doutor",geralmente pessoas que se consideram "simples" e valoriza o outro por seu " grande conhecimento ".

Esse tema me fez chamar atenção de uma linda história que contou Paulo Freire antes de ele ser reconhecido como um grande pedagogo.

Se conta que dava aula de alfabetização numa aldeia de pescadores e as pessoas o chamava de Doutor por ele ter uma sabedoria que os demais pescadores não tinham.
Um dia quando ele estava dando aula, os alunos o chamaram atenção!

" Doutor Paulo Freire, é melhor o Doutor ir para casa que vai cair um temporal danado!"

Ele olhou para o céu e viu um dia claro com muitas nuvens, mais sem um sinal de chuva e pensou - " Essa gente inventa coisas mesmo!"

Passou uma hora depois e o céu ficou todo escuro e caiu um temporal que ele não pode voltar para casa.
No dia seguinte ao entrar na sala de aula perguntou - " Como vocês sabiam que ia cair um temporal?"

Eles responderam " Há é muito simples Doutor! Quando tem ventos forte sudoeste e muitas gaivotas voando nesta direção é sempre sinal de temporal"

Para Freire esse foi o momento que mudou o rumo de sua vida como educador, o fez entender que todas as pessoas têm um tipo de conhecimentos todos nos somos sábios em alguma coisa!
Freire para dar um sentido maior a essa particular situação pedagógica faz um desafio aos seus alunos.

" Eu farei 10 perguntas de minha sabedoria que vocês terão que responder!"

"Vocês farão 10 perguntas da sabedoria de vocês que eu terei que responde."

Freire o perguntou: "Que foi Sócrates? "

Todos riram pois não sabiam responder!

Eles perguntaram a Freire:

"Que período é a pesca dos camarões?"

Freire riu pois não sabia responder.

Freire nos ensina que todos nos somos "Doutores" em alguma coisa! E com certeza cada um tem muito que aprender com o outro.

A grande sabedoria de Freire não foi os seus anos de estudo de direito e depois como professor de alfabetização, mais sim a sua capacidade humana de entender que sua "sabedoria" era muito limitada, ele não era melhor que os pescadores e seu grande saber foi aprender a compreender a ter dignidade e respeito sobre o saber do outro.

O que é o conhecimento?

Essa é uma grande questão!

Médicos, professores, acadêmicos, lideranças religiosas, cientistas são com certeza seres com muito conhecimentos, mais como qualquer seres humanos são pessoas limitadas e muito limitados mesmo!

Ter certos conhecimentos não quer dizer que somos donos de verdades!

Quando minha falecida esposa estava num processo avançado no tratamento de câncer no hospital Hadassa de Jerusalém, nas mãos de uma das maiores especialistas no tratamento de leucemia do mundo, a doutora depois de usar todo o seu recurso e saberes nos declarou.

" Com todo o meu conhecimento de anos de estudo e pesquisa ainda estou muito limitada"

Sua franqueza nos tirou de um lado a esperança que seus "conhecimentos" a curaria do câncer, porém sua grandeza foi o seu lado humano que não nos deixar a cair no erro das ilusões.
Edgar Morin em seu livro os setes saberes necessários para educação no futuro nos alerta sobre o que é conhecimento!

" O ensino fornece conhecimento, fornece saberes. Porém, apesar de sua fundamental importância, nunca se ensina o que é, de fato, o conhecimento. Ao examinarmos as crenças do passado, concluímos que a maioria contém erros e ilusões."

Todos nos temos um tipo de conhecimento! Crenças, idéias, pensamentos, religiões e visão de mundo ,que estão constantemente vivendo erros e ilusões!

Temos que ter muita consciência que esses conhecimentos são extremamente importantes e validos na vida mais são conhecimentos ainda muito limitados. Vivemos no erro da ilusão onde pensamos que sabemos tudo, mais na verdade ainda pouco sabemos sobre nossas vidas e o mundo que nos rodea.

O grande desenvolvimento do conhecimento humano é um fato indiscutível e as proezas tecnológicas é deslumbrante, mais é nada mais que uma pequena partícula do que vem a ser o segredo oculto existente em nossas vidas e em nosso mundo.

O grande conhecimento e ser consciente das nossas limitações de nossas "verdades!

Eu acredito no que acredito!

Mais minha crença está muito limitada de ser uma verdade absoluta! Tenho consciência de minha limitação humana.

Sempre quando me perguntam.
"Por os rabinos usam Kipa se não está escrito na Torá?"

Eu respondo! "É para lembrar aos rabinos que eles não são Deuses e sim seres humanos de fraquezas e limitações. "

Saber de nossas limitações e fraquezas é uma forma de sabedoria, onde você complementa o seu vazio na sabedoria do outro e outro na sua sabedoria!

Exatamente como fez Paulo Freire, ao aprender através de sua limitação o grande valor que tem na sabedoria dos pescadores.

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Sant’Anna dos Judeus - Paulo Blank

“Guardai os vossos pandeiros, guardai: Porque este ano a Escola de Samba não sai”.
Asfaltaram o samba do Herivelto. De repente, neste domingo, sai o samba novamente.
Parece que vem com sotaque judeu.
Aí me lembrei do meu “ O Tal do Judeu”. Livro de 1989.
Lançado na Bookmaker da Edna Palatnik, inovadora das livrarias do Rio
Para o lançamento fizemos um filminho dirigido pelo Kaufman. Outra Praça Onze. Dos judeus vermelhos.
No filminho os roiters contam a sua história. Seu Schnaider canta Der Internatzional em Idish
Um poema do livro, interpretado pelo Jaime. Entrevistas com moradores da Praça.
As ultimas imagens da Idiche Avenide. A vila dos judeus. Tal qual era.
Um daqueles dias que marcam a vida sem a gente notar.
Sant’Anna, por onde andei, fazia esquina com a Julio do Carmo
Dobras da vida.
: https://www.youtube.com/watch?v=ZU2kJMwdM78&feature=youtu.be

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birkat hamazon versão ladino

Ya comimos y bevimos, y al Dio Santo Barour Hou ouBarour Chemo bendichimos; que nos dio y mos dara pan para comer y panyos para vestir, y anyos para bivir. Siempre mijor, nunca peor, nunca nos falte la meza del Criador.

esta oração està no livro dos judeus liberais em Genebra; lembro-me que minha mãe dizia esta reza, mas não prononciava o nome em hebreu. era a unica oração que me lembra de ouvir da boca da minha mãe, ou a oração para cozer o pão, que dizia murmurando...

obrigada  por me deixarem um espaço perto de vocês, sinto-me menos sozinha e fico contente de vos conhecer, pois sempre gostei muito dos brazileiros.

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Desde que o presidente dos EUA, Barack Obama, nomeou John Kerry como Secretário de Estado, a sociedade israelense discute em média uma polêmica a cada dois dias. Kerry, aparentemente, assumiu o cargo disposto a trocar o papel dos EUA de intermediário a catalizador do processo de paz entre israelenses e palestinos. De forma distinta de sua antecessora, Hilary Clinton, e do primeiro emissário nomeado por Obama, George Mitchell, o atual ministro do exterior, em um espaço curto de tempo, visitou a região diversas vezes, pressionou o primeiro ministro Netanyahu e o líder da Autoridade Palestina (AP) Mahmmoud Abbas a retornarem às negociações, e forçou a barra para que os dois governos tomassem posturas polêmicas, causando reações da sociedade e, principalmente, de segmentos mais linha dura do governo israelense. A grande pergunta a ser feita é: até que ponto o governo israelense, a AP e outras supostas influências compartilham da mesma vontade de Kerry?

Sou testemunha de que Kerry realmente está se esforçando: o Secretário de Estado já me fez esperá-lo passar por duas vezes até que viesse escoltado com seus mais de dez veículos, uma delas entre Guilo (bairro judaico em Jerusalém Oriental) e Belém e outra na Estrada 1 (que liga Jerusalém a Tel-Aviv). No último mês, seu nome foi visto nas capas de jornais e nas principais notícias dos maiores sites informativos israelenses, e sua foto aparecia nos telejornais quase todos os dias. Quase não se escuta nem lê mais o nome do Presidente dos EUA envolvido com o caso. Kerry assumiu o protagonismo da novela, mas para alguns ele vêm sendo uma verdadeira pedra no sapato.

Na semana passada, o jornalista Thomas Freedman, do diário norte-americano The New York Times, revelou a existência de um “Plano Kerry” para a solução do conflito. Este suposto plano causou forte repercussão na mídia israelense e provocou um terremoto no governo de Netanyahu. O plano não continha nada de novo, sendo inclusive muito parecido com a Iniciativa de Genebra: Criação de um Estado Palestino com base nas fronteiras de 1967; Jerusalém dividida, cada metade como capital de um Estado; a anexação de 80% dos assentamentos judaicos por Israel em troca de terras desabitadas próximas à linha verde; um Estado palestino desmilitarizado, mas com uma polícia comprometida com a contenção do terror e contando com tropas da OTAN em seu auxílio; o reconhecimento dos dois lados, de que a Palestina é o Estado nacional do povo palestino, e que Israel é o Estado nacional do povo judeu; e indenizações aos refugiados palestinos e aos judeus expulsos dos países árabes. Dois pontos levantados por Kerry, no entanto, são novos: a permanência de parte dos colonos israelenses na Palestina, que seriam convertidos a uma minoria judaica no Estado a ser criado; e um prazo de três anos para que todas as exigências sejam cumpridas após a assinatura do acordo.

Duas reações me surpreenderam: a não reação de nenhum elemento do governo à divisão de Jerusalém (até agora) e a aceitação de Netanyahu à existência de uma minoria judaica na Palestina. Era previsível, entretanto, que o líder do partido “HaBait HaYehudi” e Ministro da Economia e das Religiões, Naftali Bennet, reagisse. A quase tudo, diga-se de passagem. Assumindo o papel de “radical de direita do governo” 1, Bennet não faz o tipo que se dobra facilmente. À diferença de Liebermann e dos radicais do Likud, o Ministro da Economia não baseia seus argumentos somente na segurança nacional, mas principalmente em doutrinas religiosas. Bennet pertence a uma corrente nacionalista-religiosa (ou sionista-religiosa), oriúnda do primeiro movimento sionista ortodoxo. O partido posiciona-se contrário à criação de um Estado Palestino na Terra de Israel, alegando ser o povo judeu o dono deste território por direito, utilizando o Tanach 2 como referência, e chegou a propor um plano de anexação dos territórios C da Cirjordânia por Israel.

Naftali Bennet

Não só Netanyahu escutou críticas de Bennet. Nesta segunda-feira (03/fev), a atacada pelo ministro da economia foi a ministra da justiça e negociadora oficial do governo, Tzipi Livni. A líder do partido HaTnua foi repreendida por Bennet após, em uma discussão com o negociador palestino Saeb Erekat, ter respondido que ambos não deveriam atrelar-se a questões de narrativa sobre o passado, mas sim olhar para o futuro e aproveitar a oportunidade de chegar a um acordo 3. Naftali Bennet afirmou que Livni não poderia dar este tipo de resposta como membro do governo: “Narrativa? 2000 anos de nostalgia são narrativa? O Tanach é uma narrativa? Jerusalém é uma narrativa? Os dois Templos Sagrados são narrativas? Narrativa para quem busca as raizes do nosso fracasso nas últimas décadas – fracasso, pois eles falam em justiça e nós em narrativa. Desta forma eu farei o que a Ministra da Justiça, que deveria representar o povo judeu, não fez: a Terra de Israel foi recebida pelos nossos ancestrais há 3800 anos. No mesmo Tanach que acreditam muçulmanos, cristãos e judeus, está escrito: ‘vão para esta terra’. (…) A Terra de Israel pertencia ao povo judeu milhares de anos antes de os palestinos entrarem neste mundo.” Livni não respondeu. A crise entre os dois não é novidade: desde que Kerry (sim, novamente ele) começou a intermediar as negociações, os dois se estranham. A libertação de prisioneiros palestinos em troca da volta das negociações foi o suficiente para que toda a bancada do HaBait HaYehudit atacasse a Livni.

Naftali Bennet não é o único político a participar de polêmicas. O Ministro da Defesa israelense, Moshe Ayalon (Likud) foi mais um a envolver-se com Kerry: Ayalon afirmou que os palestinos não desejam paz e que o que os israelenses deveriam fazer é deixar o tempo passar até que o secretário de Estado norte-americano recebesse o Prêmio Nobel da Paz, pois era tudo o que ele desejava. O Departamento de Estado dos EUA e a Casa Branca reagiram de imediato. Ayalon foi obrigado a desculpar-se, mas seus ataques ao plano de Kerry não cessaram.

A última polêmica não tumultuou somente o governo, como também as relações entre Israel e os EUA. Determinados membros do governo (Ayalon, por exemplo) deixaram claro que com ou sem acordo Israel seguirá seu bom caminho normalmente. John Kerry compreendeu estas declarações como um certo menosprezo às suas tentativas e afirmou que, caso o acordo não prossiga, será difícil evitar um boicote internacional a Israel. Foi a senha para a bomba estourar 4! Boa parte da bancada do Likud, liderados pelo próprio Primeiro Ministro e pelo Ministro de Assuntos Estratégicos Yuval Steinitz, atacaram o discurso de Kerry. Netanyahu afirmou que o boicote não seria nem justo nem viável. Steinitz recomendou a Kerry pensar antes de discursar. Yair Lapid, Ministro das Finanças e líder do partido Yesh Atid, afirmou que não cortará os incentivos às colônias 5. Alguns membros dos partidos HaBait HaYehudi e Israel Beiteynu reagiram com menos cordialidade 6, e aproveitaram a brecha para criticar os palestinos. O assunto boicote (ou sanções) é bastante delicado no país: Israel é o país que mais faz pressão por sanções radicais ao Irã, e não admite ser colocado em igualdade de condições com a República Islâmica. John Kerry causou, ao mesmo tempo, uma grande crise interna no governo e um ódio mortal à sua pessoa.

Kerry (no meio), com Livni (à esquerda) e Erekat (à direita)

O Secretário de Estado dos EUA, no entanto, não parece próximo de desistir. Está acelerando o processo para que se assinem documentos antes da libertação da quarta leva de prisioneiros, no fim de março. A libertação de prisioneiros palestinos é sempre polêmica na sociedade israelense, uma vez que a maioria deles é acusada de ações terroristas (parte comprovada), causando a ira dos familiares das vítimas. Kerry demonstra não querer esperar este momento para progredir. Mahmmoud Abbas, até agora, desaprovou apenas um ponto: o reconhecimento de Israel como Estado judeu. Netanyahu afirma que esta recusa é suficiente para que a situação siga estagnada. Parece um ponto muito pequeno próximo a todas as outras questões juntas 7. A pergunta que fica é: o que acontecerá se Abbas vier a concordar com esta exigência? O governo Netanyahu tem vontade política de assinar este acordo? Caso este hipotético futuro chegue, eu espero que sim. Mas duvido 8. Kerry que me prove o contrário.

* O título é uma sugestão de Yair Mau.

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oração antiga dos judeus portuguêses em Amsterdam

BENDIGAMOS

Bendigamos al Altíssimo,

Al Senor que nos Crió,

démosle agradecimiento

pelos bienes que nos dió.

refrão:

Alabado sea su Santo Nombre,

porque siempre nos apiadó.

Load al Senor que es bueno,

que para siempre su merced.

 

Bendigamos al Altíssimo,

por su Ley primeramente,

que liga a nuestra raza

com el cielo continuamente.

refrão...

Bendigamos al Altíssimo,

por el pan segundamente,

y tambien por los manjares

que comimos juntamente.

 

Pues comimos y bebimos alegremente

su merced nunca nos faltó.

load al Senor que est bueno.

que para siempre su merced.

 

Bendita sea la casa esta,

El hogar de su presencia,

donde guardamos su fiesta,

con alegría e permanencia.

refrão

 

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Eu sou pedra : poésia para o canto de poétas e sonhadores

Eu sou pedra.

eu sou pedra no chão

que piza toda a gente.

eu sou pedra

do tumulo de Rachel,

que chora

pelos filhos em exilio,

agora.

eu sou muro,

resistente, onde te vens lamentar.

eu sou muralha,

presente !

eu sou pedra d'altar,

onde se abatem holocaustos.

eu sou Moria,

alicerce,fundamento.

eu sou pedra

ao teu lado

onde gravou Deus Sua Lei.

eu sou pedra de museu

tão antiga ! (...)

podes ler em mim tua historia !

eu sou pedra que grita...

mas que seria de mim

sem esta Presença de Deus

que me habita !

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Resumo    

No início dos anos 90, três pesquisadores lançaram um artigo acadêmico que prometia revolucionar todo campo científico. Um artigo que provaria a existência de Deus.

A evidência estaria oculta por meio de um código secreto contido na bíblia. O caso não ganhou de imediato a preocupação da mídia. Após o livro “Código da Biblia” (Michael Drosnin) ser publicado em 97, centenas de pessoas se impressionaram com a real possibilidade de achar uma prova de que as escrituras judaicas são de fato divinas.

A SLE 1 foi o método para desvendar os códigos secretos. Trata-se de ajustar todo o texto em linhas equidistantes, sem espaços entre as palavras, ignorando as vírgulas e os pontos.

Tabela 1 – Exemplo de Sequência de Letras Equidistantes (SLE) com os três primeiros parágrafos deste próprio texto (arrumado de 50 em 50 letras)

Introdução   

Ao longo da história, diversas pessoas se dedicaram ao estudo e à interpretação do livro mais influente de todos os tempos. O tema não se restringia apenas a rabinos ou religiosos. Acredita-se que Isaac Newton usou parte de seu tempo em busca de padrões e códigos escondidos no texto original 2.

No meio do século XX, o Rabino Michael ber Weissmandl fez um resumo de muitas descobertas a respeito do assunto. Entre os achados do rabino, encontra-se o famoso exemplo em que a partir da primeira letra ת (Tav ) encontrada no livro Gênesis, saltam-se 50 letras e encontra-se uma letra ו (Vav ). Saltando outras 50 letras, encontra-se a letra ר (Resh ) e por fim, saltando-se mais uma vez 50 letras, encontra-se a letra ה (Hey ), que juntas formam a palavra תורה (Torá). O mesmo exemplo se repete quando aplicado ao livro Êxodo, o segundo do pentateuco que compõe a Torá. Vejam ambos exemplos na figura abaixo.

Exemplo no livro Genesis

Bible_code_imagem

Este caso e outros estudos similares despertaram o interesse de dois acadêmicos israelenses, Elyahu Ribs e Doron Witztum. Eles resolveram investigar a questão com o auxílio de duas ferramentas desenvolvidas no século XX: computadores e programas estatísticos.

As evidências

Após anos de pesquisa, os autores escreveram um artigo 3 publicado no respeitado jornal acadêmico Statistical Science. O artigo buscava demonstrar que o fenômeno dos Códigos da Biblia era sobrenatural e restrito aos textos sagrados do antigo testamento. Para provar sua teoria, eles usaram como amostra uma lista de rabinos conceituados ao longo da História, que continha detalhes de suas datas de nascimento e de morte.

Seguindo o critério de SLE, estas informações (os nomes dos rabinos com suas respectivas datas de nascimento e morte) apareciam muito próximas umas das outras no livro Gênesis, quando comparadas a outros textos de tamanho similar. Ou seja, o primeiro livro da Torá apresentava um resultado significativamente melhor que os demais textos. Os achados eram impressionantes. Afinal, de acordo com a tradição judaica, o antigo testamento foi escrito por Deus, séculos antes do nascimento destes rabinos.

Em suma, os autores “sugeriam” que os códigos deveriam ter sido colocados no texto por alguma “força maior”, visto que estatisticamente falando, as probabilidades de acaso eram ínfimas. O editor da Statistical Science na época, Prof. Robert Kass, definiu no momento de sua publicação que “os códigos eram um enigma a ser decifrado” 4.

O impacto e suas implicações

O impacto inicial foi pequeno. O tema não atraiu a atenção do público em geral. Com exceção de um restrito número de acadêmicos e de um grupo de judeus ultraortodoxos. Este último grupo  5, interessado na reaproximação de judeus seculares à religião, percebeu no “Código” uma excelente possibilidade de provar que a Torá era de fato divina.

Foi apenas após a publicação do livro “O Código da Bíblia”, de Michael Drosnin, que o assunto ganhou maiores proporções. Baseado nos estudos de Rips e Witztum, mas bastante ampliado pelo próprio autor, o livro rapidamente tornou-se um best seller, ficando por treze semanas consecutivas na lista de livros mais vendidos do New York Times e sendo traduzido para inúmeras línguas.

Michael Drosnin deu um passo adiante. Além de descrever eventos passados, ele decidiu fazer previsões. Afinal, se os códigos eram divinos, eles continham informações sobre o passado, o presente e o futuro. Então, por que não fazer previsões com base neles? Foi o que fez o autor. Ele afirma em seu livro ter previsto o assassinato do primeiro ministro israelense Itzhak Rabin  6. Ver detalhes na Tabela 2.

Tabela 2 – Itzhak Rabin aparece em uma SLE de 4227 letras no livro de M.Drosnin

O descobrimento da farsa

Tomou cinco anos para que a farsa  das pesquisas sobre os códigos fosse desmascarada. Em 1999, por meio de um artigo 7 em resposta a Ribs e Witztum, publicado na mesma Statistical Science, o enigma, finalmente, foi decifrado.

Os autores do artigo original, em uma arte de pseudociência, selecionaram uma amostra que lhes favorecia, escolhendo nomes e datas (em hebraico é possivel escrever as datas de formas distintas) que lhes permitiu encontrar o resultado esperado. Este processo ocorreu ou de forma intencional (manipulação de dados) ou por desconhecimento dos métodos de pesquisa corretos.

Uma lista similar, tão boa quanto a primeira de acordo com um juiz religioso, falhou em achar diferenças nos textos 8. No entanto, o viés amostral foi apenas um dos equívocos encontrados no artigo original. Para outros problemas, vejam as referências no final do texto.

Entretanto, ainda persistia uma questão: como refutar a previsão de Michael Drosnin? Afinal, Itzhak Rabin havia de fato sido assassinado. Simples. As previsões do autor se mostraram erradas em muitos outros casos. Ele “previu”, por exemplo, a existência de um “atentado atômico” no ano de 1996 e duas guerras mundiais, uma no ano de 2000 e outra em 2006 9. A própria previsão sobre o assassinato de Rabin pode ser colocada em questão, devido a uma má tradução do hebraico para o inglês feita pelo autor. (Drosnin não sabe hebraico. Para mais detalhes, ver Bar Hillel e Margali,1999) 10.

Como muito bem colocado pelo físico dinamarquês Niels Bohr, “(Fazer) previsão é muito difícil, especialmente se é sobre o futuro”.

Hoje em dia

Este tema chamou minha atenção depois que participei, no mês passado, de um seminário de uma renomada Yeshivá . Assisti a uma aula sobre os Códigos da Bíblia sem nenhuma referência a seus críticos. Todas as evidências contra a hipótese dos códigos parecem ter sido ignoradas pelos organizadores do seminário, que seguem cegamente tentando reaproximar judeus seculares da religião. Por sinal, o objetivo do seminário era demonstrar que não existe nenhuma incompatibilidade entre a história descrita na Bíblia e as descobertas científicas.

Discordo completamente deste tipo de abordagem. Todas as vezes que religiosos tentaram me convencer em acreditar na Bíblia por meio de associações entre religião e ciência, o argumento vinha desprovido de um vasto conhecimento dos verdadeiros métodos de pesquisa científicos. Além de exagerar na retórica, na maioria das vezes, existe uma falha em compreender dois conceitos primordiais: 

I) Amostras viesadas são problemáticas. Isto quer dizer que se os dados selecionados não foram escolhidos ao acaso, eles podem estar “contando uma história” que não representa a realidade. Fazendo uma analogia, significa tirar frases de um contexto e tentar resumir e explicar todo o texto com base nelas. Por exemplo, poderia dizer que a Bíblia prega o assassinato de crianças, mulheres e recém-nascidos com base na instrução que Deus dá a Saul em relação ao povo de Amalek, no livro 1 Samuel (15:3). Uma amostra viesada poderia levar-me a escolher este trecho como representativo de todo o conteúdo. 

Amostras viesadas, no entanto, não resistem a testes subsequentes como a repetição do mesmo experimento com outros dados (tecnicamente falando: testes de robustez 11). Isso resulta em pseudociência.

II) Um acontecimento a posteriori sempre tem probabilidade de 100% de acontecer (depois que ele já aconteceu!). Eu sei que pode parecer trivial, mas não é. Um “milagre” está previsto em qualquer tipo de distribuição de acontecimentos. Ele tem uma probabilidade muito rara de acontecer, mas depois que ele ocorre, passa a ter 100% de probabilidade. Justificar algo que já passou e dizer que ele tinha uma probabilidade ínfima a priori, não prova a divindade por meio da ciência. Apenas prova a “divindade” da ciência por meio do acaso.

Particularmente, em relação à questão ‘ciência e religião’, compartilho mais das ideias do Prof. Yeshayahu Leibowitz(Z’L), um intelectual ultraortodoxo israelense, que nos diz que a Torá não serve como um livro que explica a criação; ela não substitui um livro de física ou de química. Ou seja, é inútil buscar estes tipos de associações entre ciência e religião. Cada uma delas tem um objetivo diferente: a primeira visa entender como funciona o mundo dos homens, enquanto a segunda está focada no “trabalho” em relação a Deus. Na fé e no cumprimento dos preceitos e mandamentos (Mitzvot).

Por mais que este por si próprio seja o tema de um outro texto, traduzo apenas uma analogia interessante escrita por Leibowitz em que ele relaciona a primeira carta recebida pelos jovens israelenses chamando-os para o alistamento militar, com a forma na qual devemos nos relacionar com a Torá. Leibowitz afirma: “a carta de alistamento não tem a intenção de passar informações sobre o exército ou sobre a guerra, e sim, chamá-lo para servir a pátria” 12.A Torá nao vem nos oferecer um guia de como funciona o mundo –  ela não se ocupa da relação entre o homem e a natureza, e sim, da relação entre o homem e sua fé em Deus.

Por fim, gostaria de dizer que este texto também contém um código secreto. A Tabela 3 evidencia o código oculto dentro dos três primeiros parágrafos, destacando as palavras que aparecem “milagrosamente” quando o texto está escrito na forma de SLE com 50 letras.

Tabela 3 – Exemplo de Sequência de Letras Equidistantes com os três primeiros parágrafos deste próprio texto – Desvendando o código: NAO ACREDITE, MANIPULAR DADOS, MERO ACASO

Milagre? Inspiração divina? Não, longe disso. Apenas um pouco de esforço para deixar o texto mais interessante. A mensagem codificada confirma tudo o que o texto já nos diz: não acredite em pseudociência e em manipulação de dados. Busque uma forma mais coerente de se relacionar com suas raízes judaicas. 13

Quer saber mais sobre o assunto? Além das referências contidas no texto, veja também:

http://www.talkreason.org/articles/Codpaper1.cfm

http://www.letusreason.org/current3.htm

http://www.realbiblecodes.com/experiments/aumann_experiment.php

Quer buscar “códigos” na Biblia ou em qualquer outro livro? Veja um divertido tutorial neste link:

http://dmitrybrant.com/fun-with-the-bible-code

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