Postado por Jayme Fucs Bar em 30 de Outubro de 2009 às 2:37am
A contribuição judaica à música gaúcha
(parte 1, veja a continuação em seguida) escrito em quinta 22 outubro 2009 23:36 arnaldo cohen, brasil, cláudio levitan, contribuição, eva sopher, figner, gaúcha, imigração, israeli, ídish, juca chaves, judaica, kid vinil, klezmer, léo gandelman, léo henkin, mpb, música, nico nicolaiewsky, pablo komlós, roberto szidon, tânia grimberg
por Rogério Ratner
Os judeus correspondem a uma das muitas etnias que integram o cadinho populacional gaúcho. Em que pese a comunidade judaica gaúcha, atualmente, conte com cerca de 10.000 membros (sendo, portanto, de proporções, em número de membros, bem mais modestas do que as maiores comunidades judaicas do Brasil, especialmente em relação às do centro do país, São Paulo e Rio de Janeiro ), a sua contribuição ao universo da música feita no RS pode ser considerada bastante significativa. Vamos tentar mapear um pouco desta contribuição, tanto no campo da música erudita, como na área da música popular.
Inicialmente, antes de adentrarmos em nosso assunto propriamente dito, cumpre fazer algumas observações mais gerais acerca da relação do povo judeu com a música. Será útil também nos situarmos dentro do contexto da colonização judaica no Brasil, a fim de podermos melhor contextualizar o tema.
OS JUDEUS E A MÚSICA
A música sempre teve um papel muito importante para o povo judeu, desde os primórdios da formação desta etnia, originária do Oriente Médio. A origem do povo judeu pode ser encontrada na Mesopotâmia, tendo em vista que o patriarca da religião hebréia, Abraão, nasceu em Ur, na Caldéia, uma das regiões mesopotâmicas. Para diversos povos daquela região, a música exercia relevantes funções em suas sociedades, o que também se refletiu na cultura dos judeus, com desdobramentos inclusive em sua liturgia. As referências à música são inúmeras no texto bíblico, podendo-se indicar muitas passagens. Apenas para exemplificar, basta lembrar que, de acordo com os redatores bíblicos, as muralhas de Jericó teriam sido derrubadas pelas famosas trombetas/trompas. Ainda que se compreenda hodiernamente que o texto bíblico corresponde a um conjunto de relatos de contornos históricos, mas também em grande medida mitológicos, esta passagem já serve como uma demonstração da importância da música dentro da cultura judaica, a ponto de ela ser elevada à condição de veículo de expressão literalmente consubstanciado em instrumento da própria vontade divina.
Outro exemplo que vale lembrar é o do próprio Rei David, o maior líder político-religioso do período bíblico, que era músico. Aliás, foi justamente por ser músico que David teve acesso ao séquito real de Saul, seu antecessor no trono judaico. Em face dos conhecidos efeitos terapêuticos “para acalmar os nervos”, que desde aquela época já se atribuía à música, David foi convocado para tocar sua harpa e entoar melodias com o objetivo de acalmar o rei Saul, soberano de conhecido humor instável, e que passava por crises de melancolia. E David foi bem sucedido na tarefa. Assim, é basicamente através da música que praticamente começa a história política de David, até chegar à sua ascensão à liderança do povo.
Ao nível da religião judaica, a música exerceu uma função tão importante no ritual que no próprio Templo de Jerusalém, construído por Salomão, filho de David, o serviço envolvia o entoamento de diversos hinos e rezas pelo sumo sacerdote (a cantilena), inclusive contando com um coro de doze vozes, e um conjunto de doze instrumentos a acompanhá-lo. Os salmos e os cânticos eram formas musicais muito comuns no seio do povo judeu.
Após a destruição dos dois templos, o de Salomão e o de Herodes, os rituais litúrgicos passaram para o âmbito das sinagogas, sendo que a música continuou exercendo um importantíssimo papel em sua configuração. De um modo geral, o acompanhamento instrumental nas sinagogas era mais exceção que regra, cabendo ao cantor sacro a responsabilidade pelo entoar das melodias santificadas. De fato, todo o culto judaico até hoje envolve uma pessoa que lidera o serviço religioso (seja o rabino, ou o chazan, que é o cantor litúrgico), o qual entoa as rezas ritmicamente, geralmente valendo-se de notáveis melodias. Assim, o chefe do serviço coordena o acompanhamento dos fiéis à leitura dos textos sagrados e das benções, e estes, em determinadas partes das rezas - que seguem a seqüência prevista nos livros litúrgicos para cada espécie de ato (rezas da manhã, da tarde, da noite, ou das festas) -, juntam suas vozes em coro. Com efeito, muitas destas rezas são adornadas por belíssimas melodias, que, acrescidas aos cantos milenares, foram sendo compostas ao longo dos séculos, incorporando inclusive influências dos mais diversos locais em que os judeus se radicaram, a partir dos exílios impostos pelos vários povos que conquistaram a Judéia, e muito especialmente em face da profunda dispersão imposta pelos romanos, cerca de um século após a morte de Jesus Cristo. Cabe ressaltar que a circunstância de o rito judaico prever a possibilidade de que a figura de um cantor coordene os atos religiosos (sejam aqueles ordinários realizados na sinagoga, seja em casamentos, circuncisões, enterros, etc.), sem que este detenha necessariamente toda a formação e especialização em conhecimentos religiosos que é exigida de um rabino, já é bastante ilustrativa da importância que a música representa para o culto religioso hebreu. Cumpre observar também que o envolvimento do fiel judeu com a música também é bastante precoce, uma vez que, além de poder acompanhar desde pequeno as sessões religiosas na sinagoga (praticamente desde o berço), já aos treze anos, na cerimônia de ingresso à maioridade religiosa (Bar Mitzvah), seus dotes vocais são testados frente à toda a comunidade, seja ele “afinado” ou não. No Bar Mitzvah, o menino judeu lê diversas bênçãos especiais, e uma parte do texto bíblico diretamente nos rolos da Torá, ocupando o altar da sinagoga e o centro das atenções. A cerimônia corresponde, guardadas as proporções, e perdoada a “heresia”, a um verdadeiro show musical (costumo dizer, de brincadeira, que o primeiro show que fiz foi em meu Bar Mitzvah, na sinagoga da União Israelita, em Porto Alegre; aliás, aproveito para registrar, com muito orgulho, que fui o primeiro aluno do rabino Efraim Guinsburg, de saudosa memória para a comunidade judaica de Porto Alegre, a “apresentar-se” ao ishuv). Hodiernamente, as meninas também podem executar um ritual semelhante, aos doze anos, no chamado Bat Mitzvah. Nas sinagogas mais tradicionais, atualmente não se costuma utilizar instrumentos musicais no acompanhamento das rezas, mas um instrumento milenar é convocado nas ocasiões especialíssimas que são o Iom Kipur (dia do perdão) e o Rosh Hashaná (ano novo judaico): o shofar, que consiste em um chifre de carneiro oco (podem ser utilizados também chifres de cabras, gazelas e antílopes), que é soprado vigorosamente, gerando sons muito peculiares e estridentes. O momento do toque do shofar é o ponto culminante destas cerimônias tão importantes dentro do calendário religioso judaico.
A importância da música dentro da cultura religiosa e tradicional judaica também cresceu muito com a consolidação da cabala e do movimento chassídico. Com efeito, para o chamado misticismo judaico, a música tem um caráter divino, e é uma das formas primazes de integração do fiel à divindade, sendo um dos melhores caminhos que se pode utilizar para chegar ao êxtase religioso e à comunhão com o sagrado. Para os “chassidim”, a conjugação da música com a dança, de caráter alegre, são dos principais meios ideais para chegar-se ao “nirvana” espiritual, ao contato direto com o divino. De outro lado, o movimento reformista, que surgiu no rastro da chamada “haskalá”, ou iluminismo judaico - a partir da idéia acerca possibilidade de integração maior dos judeus à sociedade cristã, antevista especialmente a partir do final do século XVIII, e que sofreu um duríssimo golpe na Europa com o advento do Holocausto -, foi bastante influenciado, em termos rituais, pelo culto das igrejas cristãs, reincorporando, de uma certa forma, o acompanhamento instrumental aos serviços religiosos judaicos. Também a complexidade melódica e de arranjos apresentadas na música litúrgica cristã passaram a ter grande relevância nos rituais das sinagogas vinculadas a esta linha. Aliás, cumpre assinalar aqui que, no aspecto musical, como, de resto, em tantos outros, os pontos de contato do judaísmo com o cristianismo são muito grandes, tendo havido intercâmbios culturais mútuos ao longo da história. De fato, os rituais das igrejas cristãs primitivas em muito se assemelhavam aos das sinagogas, tendo os cristãos herdado, por exemplo, o canto salmódico. O mesmo, sem dúvida, pode-se dizer da religião muçulmana, que também tem na música um de seus elementos rituais importantes. Enfim, o que cumpre sublinhar é que praticamente não existe ritual religioso judaico que não conte com elementos de música.
A música não voltada para fins especificamente religiosos também sempre foi muito cultivada pelos judeus. Na Europa, até a chamada Emancipação, já no limiar da Idade Moderna (por meio da qual passaram a ter a possibilidade de se integrar de forma mais efetiva, em maior ou menor grau, à sociedade cristã), os judeus construíram um repertório de música laica em seus locais de morada, que geralmente eram constritos em guetos, schtetels e judiarias. Há notícias também de músicos judeus atuando nas cortes de reis, em mercados, em tabernas, etc.
Sob o ponto de vista folclórico, pode-se identificar duas vertentes principais para a música feita na diáspora judaica: a música “ídiche”, criada a partir da língua homônima (também conhecida como idish/yidish/ídich, enfim, a grafia varia), que mistura palavras de alemão e hebraico, com alguns acréscimos, para as populações da Europa Oriental, de expressões eslavas, e a música sefaradi, feita pelos judeus de origem ibérica, e que é baseada no ladino, dialeto que mistura fundamentalmente palavras do espanhol e hebraico.
A música ídiche, que mais recentemente vem sendo denominada como klezmer, mistura diversos elementos da tradicional música oriental judaica com outros dos países da Europa Oriental, Central e Ocidental, especialmente da Rússia, da Polônia, da Ucrânia, dos países bálticos e dos Bálcãs, bem como da cultura cigana. Em verdade, o klezmer poderia ser melhor definido como uma subdivisão da música ídiche, pois, em sua origem, estava mais voltada à animação de festas e celebrações, ou seja, focava-se primordialmente na produção mais “eufórica” da música judaica da Europa Oriental. A música ídiche, em sentido mais amplo, contudo, abrange ainda uma grande produção de canções lentas e melancólicas, de muita dramaticidade (meu avô materno, Leão Ratner, com sua bela voz de barítono, e que chegou a fazer teatro ídiche na Lituânia, antes de vir para o Uruguai, e finalmente radicar-se no Brasil, cantava uma infinidade destas melodias, que exigiam uma grande expressividade do intérprete, especialmente para emular um quase-choro, tão característico deste cancioneiro). A música ídiche, em sua divulgação, esteve quase sempre ligada intimamente com o teatro ídiche, o qual foi muito forte na Europa Oriental (até o Holocausto) e também nos Estados Unidos. Para ter-se uma idéia da importância do teatro ídiche neste contexto, basta dizer que George Gershwin chegou a compor canções para produções do gênero, sendo que o seu biógrafo Charles Schwartz aponta estudos no sentido de que a canção “S’Wonderful”, grande clássico do cancioneiro americano, é, em verdade, inspirada em uma melodia ídiche. O grande astro, em termos de composição musical do teatro ídiche americano, foi Sholom Secunda, com quem, aliás, Gershwin colaborou. A estrutura dos espetáculos era muito semelhante à da Broadway do início do século passado, com operetas, musicais, danças, revistas, etc., além da parte teatral propriamente dita. Pode-se dizer, sem margem de erro, que o teatro ídiche deu uma contribuição importantíssima para a formatação do espetáculo musical moderno americano. Existiu uma vasta produção fonográfica desta música étnica, cujos discos inclusive chegaram em alguma quantidade por aqui. Eu mesmo tenho um bom número de “bolachões” de música ídiche, que tenho catado por aí em sebos, os quais venho acrescendo a alguns discos que arrecadei na casa de meus pais. Nesta produção, verifica-se que houve uma incorporação bastante ampla de diversos outros elementos estéticos à cultura ídiche; por exemplo, evidenciam-se influências do tango, do jazz, da música erudita, etc., além daquelas fontes “tradicionais” ao gênero. Há uma estação na internet produzida por um engenheiro brasileiro que roda somente música ídiche, e vale a pena visitá-la: http://www.yidishmusic.com.br
Conforme referido, a música sefaradi mescla influências hebraicas e ibéricas, a partir da língua denominada “ladino”; é de grande beleza, sendo vastíssimo o repertório criado por seus criadores. Esteticamente, é muito próxima à sonoridade que se encontra ainda hoje na música tradicional feita na Espanha e Portugal, a qual, como é consabido, também sofreu claras influências orientais, decorrentes, em grande parte, da ampla influência moura e judaica na formação daqueles países, na mescla com os povos visigóticos e outros ancentrais autóctones. Atualmente, no Brasil, a grande “embaixadora” da música sefaradi é a cantora Fortuna, que tem gravado belos discos enfocando esta herança cultural tão profícua.
Cabe sublinhar aqui que o advento da própria figura do músico como artista individualizado e reconhecido enquanto tal, exercente de um papel de destaque nas sociedades ocidentais (seja como compositor, cantor ou instrumentista), é um fenômeno mais reconhecível e claramente delineado ao final da Idade Média, o que se configurou ainda com mais força já na Idade Moderna. Dentro deste contexto, na medida em que aos judeus foi sendo gradativamente concedida a possibilidade de maior interação e integração com a sociedade em geral (integração esta, é bom assinalar, sempre marcada por avanços e retrocessos, especialmente a partir da Revolução Francesa e da Era Napoleônica, até a terrível hecatombe do Holocausto), começaram a surgir nomes de judeus ligados à música feita na sociedade ocidental.
É muito significativa, neste sentido, a contribuição judaica à música erudita européia, sendo que podemos citar os seguintes nomes, à guisa de exemplos, todos da maior importância neste cenário: Giácomo Meyerbeyer, Felix Mendelssohn, Salomone Rossi, Lorenzo da Ponte (Emmanuele Conegliano, libretista de óperas de Mozart, como Don Giovanni e As bodas de Fígaro), os Strauss (Josef I e II), Jacques Offenbach, Georges Bizet, Gustav Mahler, Arnold Schoenberg, Bruno Walter, Paul Dessau, Darius Milhaud, Friedrich Hollander, Arthur Rubinstein, Otto Kemplerer, Berthold Goldschmidt, Ernst Bloch, André Previn, Kurt Weil, Andrew Lloyd Weber, André Previn, Arthur Rubinstein, Arthur Fiedler, Isaac Stern, Jascha Heifetz, etc. Nos Estados Unidos surgiram também muitos nomes importantes no campo da música erudita, tais como George Gershwin, Leonard e Elmer Bernstein, Aaron Copland, Philip Glass, etc.
Na Europa, ainda, alguns judeus contribuíram relevantemente com a consolidação do mercado da música popular, seja na condição de artistas, seja na de produtores musicais.
De outro lado, a consolidação da música popular enquanto indústria do entretenimento, no sentido em que a conhecemos hoje, deu-se praticamente no exato momento em que os judeus justamente estavam imigrando para os Estados Unidos em grande número, especialmente saídos da Europa Oriental, e, em menor grau, da Central.
Assim, o mercado musical americano, em grande parte ligado ao teatro “vaudeville”, de operetas, “music hall” e de revista, foi um campo fértil para os imigrantes judeus e seus descendentes, até pelas possibilidades que esta atividade oferecia de fugir da vida dura de pobreza que a grande maioria estava passando, chegados do leste europeu no mais das vezes apenas com “a roupa do corpo”. Foi especialmente em Nova York, mais especificamente na Tin Pan Alley (rua que reunia um grande número de casas editoras de música), e nas inúmeras produções da Broadway (entre as quais, por exemplo, ficaram célebres as Ziegfeld Follies), que um expressivo número de compositores, músicos e cantores judeus pôde revelar ao mundo o seu talento. Posteriormente, com o advento da indústria cinematográfica, muitos compositores, instrumentistas e cantores judeus, eruditos ou populares, dedicaram-se a participar da produção de filmes musicais, à frente das telas ou mesmo nos bastidores. A participação de artistas judeus na construção da música pop feita nos USA desde então - passando pelo jazz, blues, rock, pop, soul, rap, etc., -, sem dúvida, é das mais expressivas.
Neste sentido, merecem menção (em que pese a enxurrada de nomes de enorme destaque, a dificultar uma listagem mais digna de demonstrar toda a amplitude desta contribuição): George e Ira Gershwin/ Irving Berlin/ Jerome Kern (focalizei estes compositores maravilhosos em um show que apresentei no Theatro São Pedro e no Teatro Renascença, em 1994, denominado “Três Judeus na Broadway”)/ Richard Rodgers/ Oscar Hammerstein II/ Lorenz Hart/ Harold Arlen/ Burt Bacharah-Hal David/ Al Cohn/ Sammy Cahn/ Howard Dietz/ Al Johnson/ Mitchel Parish/ Cy Coleman/ Jerry Leiber e Mike Stoller (autores de vários “clássicos” do repertório de Elvis Presley)/ Howard Dietz/ Arthur Schwarts/ Stan Getz/ Benny Goodman/ Diane Warren/ Barry Mann/ Norman Gimbel/ Alan e Marilyn Bergman/ Cynthia Weil/ Jule Styne/ David Raskin/ Victor Young/ Stephen Sondheim/ Dinah Shore/ Harry Connick Jr./ Bette Middler/ Meredith Monk/ Artie Shaw/ Mel Tormé/ Paul Anka/ Danny Gottlieb/ Lyle Mays/ Jack Beckenstein (Spiro Gira)/ Paul Desmond/ Dave Brubeck/ Barney Kessel/ Shely Manne/ Herbie Mann/ Lee Konitz/ Brothers Brecker/ Les Brown/ Paul Whiteman/ Zoot Sims/ Gerry Mulligan/ Gene Simmons, Ace Frehley e Paul Stanley (Kiss)/ Carole King/ Simon e Garfunkel/ Bob Dylan/ David Lee Roth (Van Halen)/ Geddy Lee (Rush)/ Susane Hoffs (The Bangles)/ Arlo Guthrie/ Neil Diamond/ Neil Sedaka/ Slash (Guns)/ Phil Spector/ Paula Abdul/ Barbra Streisand/ Blood, Sweet and Tears/ Randy Newman/ Neil Sedaka/ Barry Manilow/ Michel Bolton/ Robbie Krieger (The Doors)/ Lisa Loeb/ Alan Paul e Janis Siegel (Manhatan Transfer)/ Carly Simon/ Helen Shapiro/ Eric Carmen/ Neil Diamond/ Barry Sisters/ Davitt Singerson/ Billy Joel/ Danny Elfman (Oingo Boingo)/ Cass Eliot (The Mamas and the Papas)/ Leonard Cohen/ Paula Abdul/ Chris Barron, Eric Schenkman, Aaron Comess (Spin Doctors)/ Perry Farrel, Stephen Perkins (Porno for Pyros e Jane’s Adiction)/ Dee Snider (Twisted Sisters)/ Herp Albert/ Kenny G/ Chris Cornell (Soundgarden e Audioslave)/ J. Geils Band/ Blue Oyster Cult/ Charles Fox (autor de Killing me soflty)/ David Brian (Bon Jovi)/ Donald Fagen (Stely Dan)/ Marty Balin e Jorma Kaukonem (Jefferson Airplane)/ Beastie Boys/ Adam Levine (Maroon 5)/ Richard Hell (Television)/ Joey (Ramones)/ Marty Friedman (Megadeth)/ Chris Isaak/ Lou Reed (Velvet Underground)/ Marc Ratner, etc., etc.
Judeus também tiveram um papel fundamental no desenvolvimento das novas técnicas e tecnologias que estavam surgindo no início do século XX para o registro de sons, especialmente a partir do advento da eletricidade. De fato, o primeiro aparelho de registro de som em discos (gramofone) foi desenvolvido pelo judeu Emil Berliner, que havia se radicado nos EUA, e que, quando voltou à Alemanha, fundou a gravadora Deutsche Grammophon, selo que existe ainda hoje, e que é especializado em música erudita (durante o período nazista, o selo foi “arianizado”). Realmente, a indústria fonográfica, no início, contou com importante contribuição por parte judeus no seu desenvolvimento e consolidação. Alguns selos fonográficos estavam ligados à indústria de cinema e da imagem, caso da RCA, da CBS e da Warner. Outros, ainda, foram surgindo, tais como os labels Verve, Pablo e Blue Note, especializados em jazz, e outros tais como Chess Records, Geffen Records, MCA, Arista, Elektra, Atlantic, Rhino, etc., cujas gravações foram fundamentais para os registros da produção musical popular americana.
É bom ressaltar que hoje, se formos tentar mapear as características da música feita pelos judeus no mundo, vamos chegar à conclusão de que esta é infinitamente multifacetada: além de os judeus estarem engajados na construção das linguagens musicais autóctones dos países em que estão radicados, mundo afora, a música feita ao redor do mundo também influencia enormemente a produção musical do próprio Estado de Israel.
De fato, a chamada música israeli, composta e executada por músicos radicados na Terra Santa, é das mais plurais. Tal produção engloba desde as versões locais para os ritmos ocidentais (tais como o rock, o blues, o jazz, o reggae, e até mesmo de MPB, etc., etc.), até os rastros das músicas ídiche e sefaradi, e, muito especialmente, da música dos países árabes. De fato, a influência da música feita no Oriente Médio na música judaica moderna, indiscutivelmente aprofundou-se a partir da fundação do Estado Moderno, muito também em face da expulsão de enormes contingentes de judeus que viviam nos países árabes, em número que, segundo estimativas, equivale ao de árabes palestinos que deixaram a Terra Santa quando da invasão desta pelo exércitos unidos (Egito, Jordânia, Síria, Líbano, Arábia Saudita, etc.), em 1948, naquela que foi denominada como “Guerra de Independência”. Os chamados judeus orientais (mizrahi), agregaram fortemente a herança cultural da música que cultivavam – em alguns casos, milenarmente - nos países árabes em que estavam radicados, ao moderno Estado Judaico. Também a imigração de judeus negros da África para Israel, especialmente os falashas (que, segundo diz-se, seriam descendentes da rainha de Sabá e do rei Salomão), trouxe influências da música africana ao cadinho musical do Estado israelense. Isto além, evidentemente, da própria influência que a ampla população árabe radicada em Israel oferece. A música israelense contemporânea, sem esquecer as origens da música judaica, mas agregando influências da música feita ao redor do globo, é, sem dúvida, uma das mais variadas, ricas e polifacetadas de todo o mundo. Neste sentido, basta lembrar que, por exemplo, Israel é um dos principais pólos da música eletrônica no mundo, sendo que diversos DJs israelenses têm se apresentado mundo afora, vindo inclusive ao Brasil “tocar” em festas raves. Podemos indicar como grandes expoentes da moderna música popular israelense Ofra Haza, Etti Ankri, David D’or, Matti Caspi, entre muitos outros. Aliás, para quem quiser ter alguma noção sobre a música judaica mais atual, tanto israeli como klezmer e sefaradi, um bom início pode dar-se através da escuta dos lançamentos do selo americano de world music Putumayo (fundado, aliás, pelo judeu Dan Storber), cujos discos são encontrados nas Livrarias Cultura, Saraiva e FNAC, e que também são achados pela internet, inclusive para downloads.
IMIGRAÇÃO JUDAICA NO BRASIL
Com relação à imigração judaica ao Brasil, é possível falar em uma colonização lato sensu e em outra strictu sensu. Vale dizer, podemos considerar, em sentido amplo, a imigração judaica iniciada pelos cristãos-novos, ou, em sentido mais estrito, a daqueles judeus que vieram para o Brasil especialmente a partir da metade do século XIX, quando o ingresso desta etnia, publicamente assumida enquanto tal, deixou de sofrer maiores restrições por parte das autoridades do império.
De fato, em sentido amplo, pode-se dizer que a história do Brasil confunde-se, em verdade, com a colonização judaica, se levarmos em consideração que os cristãos-novos, judeus convertidos à força, buscaram refúgio aqui para as perseguições sofridas na península ibérica, sendo que, em muitos casos, tentaram retomar sua religião ancestral, de forma muitas vezes secreta e clandestina, nas novas terras. A ampla colonização da região pelos cristãos-novos não é um fato aleatório, pois o descobrimento da América e o do Brasil coincidiram, de forma quase imediata, com a expulsão dos judeus da Espanha e a conversão forçada em Portugal, de forma que as novas terras foram um dos principais refúgios para aqueles que tiveram sua religiosidade de origem oprimida, ou que, simplesmente, mesmo que relativamente conformados com a adoção obrigatória da religião cristã, queriam escapar das perseguições sempre presentes nas metrópoles, especialmente a partir da consolidação da Inquisição. Assim, e neste contexto, os cristãos-novos participaram ativamente do financiamento das expedições portuguesas ao Brasil, e também tomaram parte diretamente nelas, podendo-se apontar, por exemplo, a figura de Gaspar da Gama, integrante da tripulação da frota de Cabral. Já na época da colonização propriamente dita, figuraram com destaque cristãos-novos tais como Fernando de Noronha, o bandeirante Raposo Tavares, entre inúmeros outros que povoam a história do Brasil e figuram abundantemente em nossos livros escolares. A opção pelas terras brasileiras muitas vezes decorreu da circunstância de que o simples fato de um judeu ingressar na cristandade não lhe garantia liberdade pessoal ou mesmo garantia de vida na metrópole, uma vez que havia uma grande diferenciação hierárquica entre os cristãos “velhos” e os “novos” dentro das sociedades lusitana e espanhola, antecipando, em grande medida, o antisemitismo “moderno”, de conotações racistas. As acusações dos cristãos-velhos e da Igreja contra os cristãos-novos, de infidelidade religiosa e outras “perfídias”, eram corriqueiras, movidas por interesses financeiros, inveja, rancor e fanatismo religioso, dentre outros motivos. Assim, repise-se, o Brasil foi uma grande opção de refúgio - a princípio seguro - para os conversos, denominados por seus conterrâneos ibéricos pela pouca elogiosa expressão “marranos” (porcos), pelo menos até que as garras da Inquisição chegassem ao chamado Novo Mundo.
É fato que a maioria dos sobrenomes de colonizadores portugueses é encontrada em listagens de vitimas da Inquisição no Brasil, em Portugal e na Espanha. Isto não deixa de trazer uma grande dificuldade ao pesquisador, pois, para identificar se a origem de alguém com um destes sobrenomes é cristã-nova ou velha, muitas vezes é necessário fazer um levantamento genealógico bastante acurado, incluindo muitas gerações passadas. Contudo, o certo é que os estudos feitos por historiadores/pesquisadores especializados têm apontado que cerca de 1/3 da população brasileira de origem portuguesa da época colonial era composta por cristãos-novos e seus descendentes. Estes imigrantes, acompanhando a própria história da ocupação do solo brasileiro, no início geralmente radicaram-se no Nordeste (Bahia, Pernambuco e arredores). Nesta região, especialmente, desempenharam um papel fundamental na exploração do Pau Brasil (chamado na Europa de “madeira judaica”) e da cana-de-açúcar, dentre outras atividades. Migraram muitos deles, posteriormente, para o Sudeste, e para o interior do sertão do Nordeste, especialmente em face das perseguições religiosas que começaram a ocorrer também no novo mundo, mormente nas capitais nordestinas, tendo desempenhado papel primaz na colonização de São Paulo (muitos dos bandeirantes eram cristãos-novos) e de Minas Gerais (sua participação no chamado “ciclo do ouro” também foi muito significativa). Esta população, à medida em que o cerco da perseguição religiosa se estreitou também no Brasil, através da brutal ação da Inquisição, cada vez mais incisiva, teve tolhidas as possibilidades de retornar à adoção de práticas judaicas, algumas que fossem. De forma que, na medida em que as gerações de descendentes foram se assomando, poucos traços destas origens restaram aparentes, embora, em alguns casos, evidenciem-se em costumes familiares centenários, dos quais, muitas vezes, sequer os seus praticantes conseguem identificar a origem exata e a sua razão de ser. Da descoberta de suas origens judaicas por parte de muitos brasileiros cristãos, tem se consolidado o fenômeno dos “Anussim”, ou seja, aqueles que tentam, de alguma forma, retomar o seu vínculo com a religião de seus antepassados, ou, ao menos, travar contato com a cultura de seus ascendentes.
Cumpre ressaltar que grande parte dos sobrenomes de músicos/compositores brasileiros importantes que povoam a história da música brasileira, erudita e popular, são também encontrados entre aqueles adotados pelos cristãos-novos no período colonial. Com isso, repise-se, não estamos querendo dizer que necessariamente quem tem estes sobrenomes seja descendente de cristãos-novos, o que, conforme ressaltado, para ser averiguado de forma conclusiva, demanda geralmente uma pesquisa detalhada das raízes genealógicas. Mas, para ter-se idéia a respeito da abrangência desta descendência, podemos citar um único exemplo, que é, sem dúvida, dos mais significativos: a ter-se por verdadeira a informação constante do livro “Furacão Elis”, de Regina Echeverria, a cantora Elis Regina, de sobrenome Costa, é descendente de cristãos-novos. Assim, feitas todas as ressalvas, pode ser de algum interesse apontar alguns dos inúmeros patronímicos de cristãos-novos, muitos dos quais secundam os nomes de diversos músicos brasileiros: Veloso, Seixas, Antunes, Mendes, Costa, Quental, Ribeiro, Silva, Valença, Ramalho, Rosa, Gonzaga, Vargas, Buarque, Hollanda, Dias, Pinto, Sampaio, Santos, Barros, Baptista, Franco, Silva, Cardoso, Bastos, Andrade, Gonçalves, Barbosa, Cortes, Miranda, Souza, Mesquita, Barroso, Maia, Lopes, Fernandes, Teixeira, Ulhoa, Araújo, Mesquita, Fonseca, Almeida, Carneiro, Cunha, Nunes, Leão, Alvarenga, Viana, Jobim, Reis, Coelho, Cordeiro, Freire, Mendonça, Martins, Bezerra, Veiga, Villela, Tovar, Mendanha, Leitão, Carrilho, Brito, Ximenes, Peres, Freire, Freitas, Moraes, Ferreira, Amaral, Azevedo, Abreu, Borges, Chaves, Monteiro, Ribeiro, Moraes, Freitas, Carvalho, Moraes, Pestana, Duarte, Gonzaga, Galvão, Ramos, Lago, Gadelha, Ávila, Alencar, Guedes, Valle, Vergueiro, Paes, Paiva, Aguiar, Sá, Rodrigues, Barbosa, Porto, Furtado, Siqueira, Brandão, Campos, Cabral, Bastos, Toledo, Telles, Castro, Nobre, Neves, Machado, Gomes, Cazado, Loureiro, Lima, Lacerda, Coronel, Medeiros, Moreira, Montes, Moura, Horta, Silveira, Pedrosa, Alves, Gomes, Limeira, Reis, Cintra, Corrêa, Rocha, Borges, Oliveira, Pereira, etc., etc.
Como vê-se, os sobrenomes de cristãos-novos não se limitam, como inicialmente se pensava, quando a questão começou a vir à baila nos meios acadêmicos e na mídia, aos relacionados a árvores e frutos; a bem da verdade, a grande maioria dos sobrenomes portugueses foram adotados ou atribuídos aos cristãos-novos. E tudo isto está amplamente confirmado a partir de estudos e pesquisas realizados em fontes diversas, e, em muitos casos, a partir de exames diretamente feitos nos arquivos da Inquisição em Portugal, a partir dos nomes dos réus arrolados nos processos em que eram acusados de “judaizantes”. A professora da USP Anita Novinsky notabilizou-se nestes estudos, sem dúvida pioneiros, realizados, em grande parte, na “fonte”, em Portugal. Também cabe apontar o trabalho incansável de uma maravilhosa plêiade de pesquisadores, tais como Paulo Valadares, Rachel Mizrahi, Henrique Veltman, e instituições como o Arquivo Histórico Judaico Brasileiro (que gentilmente colaboraram com nossa pesquisa), Guilherme Faguelboim, Hélio Daniel Cordeiro, entre muitos outros, que vêm rastreando as raízes judaicas do Brasil. Além do mais, vários destes sobrenomes são encontrados ainda hoje em muitos membros de famílias de judeus sefaradis brasileiras praticantes da religião mosaica.
A colonização judaica no Brasil strictu sensu, a que aludimos acima, deve ser considerada enquanto tal a partir da abolição da Inquisição em Portugal pelo Marquês do Pombal. A partir daí, de forma aproximada, começou a ser permitida a vinda para o Brasil de alguns judeus, o que ocorreu especialmente desde a metade do século XIX. Radicaram-se no Brasil então judeus franceses (em geral alsacianos) e alemães, e alguns sefaradis (judeus cujos antepassados saíram da península ibérica, fixando-se em outras regiões, justamente quando das conversões forçadas antes aludidas). A imigração, neste período, foi mais acentuada no centro do país e na região amazônica (nesta, principalmente por marroquinos). Pode-se dizer que a partir daí começam a se estruturar as modernas comunidades judaicas nas principais capitais do país, e em algumas cidades do interior dos estados, embora o número limitado de seus integrantes, até, aproximadamente, a década de 30 do século XX.
Em termos de contribuição dada por judeus à música brasileira, em suas mais variadas tendências (erudita, choro, MPB, rock, jazz, instrumental, bossa nova, etc.), podemos indicar vários nomes, considerados desde a época imperial até o momento atual: maestro Isaac Karabtchevski/ maestro Henrique, Eduardo e Jacques Morelembaum/ Louis Moreau Gottschalk/ Alexandre e Luís Levy/ Haroldo Goldfarb/ Benjamin Taubkin/ I. Fater/ Henrique, Nelson, Jaques, Michel e Ivan Nirenberg/ Carlos Acselrad/ Vera Astracan/ Arnaldo Cohen/ Alberto e Cláudio Jaffé/ Yara Bernette/ Anselmo Zlatopolsky/ Estelinha Epstein/ Clara Sverner/ Jacques Klein/ Salomon Rubin/ Natan Schwartzman/ Eugen Szenkar/ Esther Fuerte Wajman/ Rosinha Spiewak/ José Alberto Kaplan/ Adolfo Tabacow/ Felícia Blumenthal/ José Kliass/ Martin Krause/ Anna Stela Schic/ Henrique Fedorowsky/ Marcelo Wrona/ Lanny Gordin (guitarrista fundamental na Tropicália, que tocou com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa)/ Maurício Einhorn (um dos mestres da bossa nova)/ Tico Terpins (os Baobás e Joelho de Porco)/ Daniela e Netty Spielman/ Sheila Zagury/ Marcelo Fromer (Titãs)/ Frejat (cujo pai é árabe e a mãe judia)/ George Israel (Kid Abelha)/ Elias Mizrachi (Veludo)/ Ricardo Guinsburg (Equipe Mercado)/ Abrão Levin (Kafka)/ Elias Glik (AgentSS)/ Paul Liberman/ Leonardo e Alexandre Bursztyn (Móveis Coloniais de Acaju)/ Maurício Duek/ Jean, Joana e Paul Garfunkel/ Henrique e Léo Gandelman/ Roberto Sion/ Ithamara Khorax/ Kátia Bronstein/ Flora e Yana Purim/ Jorge Mautner/ David Tygel (Boca Livre)/ Jacob do Bandolim (Pick Bittencourt)/ Michel e Bernardo Bessler/ Hélio Ziskind (grupo Rumo)/ Tânia Grimberg/ Cláudio Goldman/ Juca Chaves (Jurandir Czackes)/ Michel Freidenson/ Arnaldo Niskier (letrista)/ Morris Albert (Maurício Alberto Kaiserman)/ Ivo e Mauro Perelman/ Sacha Amback/ Alberto Rosenblit/ Daniel Stein/ Michel Haran/ Walter Weisflog/ Kid Vinil (Magazine)/ Juca Chaves (Jurandir Chakes)/ Ari Borger/ Sara Cohen/ Cláudio Cohen/ Ricardo Herz/ Roberto Ring/ Eduardo Faigemboim/ Lívio Tragtenberg/ Tuna Dwek/ Patti Ascher/ Henrique Vogeler/ Ronaldo Lupo/ Ronaldo Serruya (letrista)/ Gustavo Rosenthal/ Claudio Besnos/ Ilana Hazan/ David Assayag/ Silvia Ocougne/ Carlos Slivskin/ Henrique Levy/ José Kliass/ Ludmila Ferber/ Roberto Fuchs/ Alberto Rosenblit/ Abrão Altegauzen/ Gustavo Kurlat/ Estela Govssinsky/ Gabriel Levy/ Daniel Szafran/ Marcelo Cohen/ Pipo Gratz/ Sérgio Scliar/ Eduardo Hazan/ Renata Jaffé/ Marcelo Jaffé/ Yael Pecarovich/ Marcelo Berman/ Denny Kessaus/ Roberto Kauffman/ Daniel Szafran/ Martin Sarrasague/ Ruben Feffer/ Marcelo Guelfi/ Nicole Borger/ Sima Halpern/ Vicente Falek/ Tânia Novak/ Varda Usiglio/ Clarita Paskin/ Tânia Grimberg/ Jerzy Milewsky/ Gabriela Geluda/ René Bensausson/ Cláudio Weizmann/ Sheila Hannuch/ Ary e André Sperling/ Bia e André Grabois/ Bruno Golgher/ Adolfo Tabacow/ Marcus Nissensohn/ Walter Burle Marx/ Michelli Livchitz/ Bernardo Segall/ Anselmo Zlatopolsky/ José Alberto Kaplan/ Hélio Bobrow (presidente da Hebraica –SP)/ Simon Blech/ Sonia Goussinsky/ Manu Lafer/ Jacques Sasson e Roberto Livi (ambos da jovem guarda)/ Bernardo Katz/ Maria Luiza Corker-Nobre/ Felipe Lozinsky/ Cliff Korman/ Martin Sarrasaguem/ Siney Waissmann/ Cenira Schreiber/ Daniel Kacelnik/ Jair Bloch/ Rubem Feffer/ Gabriela Hess/ Sami Douek/ Pedro Bronfman/ César Lerner/ Horácio Schaefer/ Márcia Salomon/ Sima Halpenr/ Abigail Wimer/ Renato Cohen/ Rodrigo Paciornik/ Régis Karlik/ Lev Veksler/ Régis Karlik/ Eliah Sakakushev/ Marcelo Moguilevsky/ Miriam Weitzman, etc., etc. Também dedicaram-se à propagação da música judaica, os grupos Mawaca e Celebrare, dentre outros.
No campo da música típica, em seus vários matizes, podemos citar os seguintes nomes: Fortuna (música sefaradi), Paulinho Rozembaum (que mistura samba e outros ritmos brasileiros com temas ortodoxos judaicos), e os grupos de música ídiche/klezmer Azdi, Zemer, Klezmer 4, Duo Klezmer, dentre outros. O Coral Israelita Brasileiro, de longa atuação, também deve ser destacado, assim como o Coral da Sociedade Hebraica de Niterói, o Coral Litúrgico da CIP, o Coral Sharsheret (WIZO-SP), e a Orquestra Jovem das crianças da CIP, dentre outras formações.
Também cabe apontar a figura de Fred Figner, fundador da Casa Édison e da gravadora Odeon, responsável pelas primeiras gravações de música brasileira no século XX. De fato, Figner pode ser considerado como um dos principais nomes da história da indústria fonográfica brasileira, fundamental para o seu desenvolvimento. Outras gravadoras também desempenharam ou desempenham um papel importante no mercado fonográfico brasileiro, tais como a Companhia Industrial de Discos (CID) de Herman e Harry Zuckerman, a Revivendo Discos (de Leon Barg) e a Rozemblit (selo de Recife, responsável pelo lançamento de grande parte da produção musical de Pernambuco e do Nordeste, e inclusive pelos primeiros discos da chamada “psicodelia nordestina”, de Zé Ramalho e cia.), e a Abril Music, do grupo editorial dos Civita.
Cabe destacar aqui a figura do crítico e historiador musical Otto Maria Carpeaux, outro dos “presentes” de Hitler à cultura brasileira, cujos livros são obras indispensáveis para quem quer aprofundar-se no campo dos estudos teóricos sobre a música erudita. O escritor Hugo Schlesinger também dedicou-se a escrever sobre música, o mesmo acontecendo com Cláudio Galperin, dentre tantos outros.
A atuação do produtor musical Carlos Alberto Sion, no campo da MPB e do rock brasileiro, é das mais importantes. Outrossim, Roberto Medina, criador do “Rock In Rio”, é figura de grande destaque na área da produção de shows musicais. Vários outros produtores destacam-se semelhantemente neste campo.
Cumpre destacar, ademais, a atuação de vários judeus no rádio e na televisão, que, em seus respectivos programas, abrem espaços para a música, em maior ou menor grau: Sílvio Santos (Senior Abravanel, criador do SBT), Serginho Groisman, Luciano Huck, Didi Wagner, Kid Vinil, etc. O apresentador infantil Daniel Azulay também é músico.
A revista e TV Manchete também abriram importantes espaços para a divulgação da música. A editora Abril, da mesma forma, vem se destacando pela atenção que tem dado à divulgação da história musical, sendo clássicas diversas de suas coleções, como as que abordam a história da MPB, do jazz, da música erudita, etc.
O cineasta Jom Tob Azulay desempenhou um papel importante no registro visual da música brasileira, sendo o responsável pelo clássico documentário “Os Doces Bárbaros”, show que reuniu os baianos tropicalistas (Caetano, Gil e Gal, e mais Bethânia).
A advogada Débora Sztajnberg, especializada na área de direitos autorais, é presidente da ABRAFIN, associação brasileira de festivais independentes.
É importante lembrar aqui a significativa contribuição que os clubes e associações judaicos deram e dão à difusão da música, em suas mais variadas formas, abrindo espaços não apenas para apresentações voltadas à comunidade judaica, mas também para a comunidade mais ampla. Basta lembrarmos que o primeiro show em que foi utilizada a expressão “Bossa Nova”, para definir os artistas que iriam se apresentar em uma noitada musical, foi na sede da Grupo Universitário Hebraico, do Rio de Janeiro. Neste sentido, no centro do país é destacada a atuação de clubes tais como a “Hebraica”, bem como do Centro de Cultura Judaica, dentre outras entidades.
IMIGRAÇÃO JUDAICA NO RIO GRANDE DO SUL
No caso específico do Rio Grande do Sul, a imigração, então ainda bastante rarefeita, começou pelo sul do Estado, região que foi uma das primeiras a ser ocupada territorialmente de forma mais efetiva no extremo sul do país. Assim, especialmente a partir do final do século XIX, começaram a surgir alguns judeus em Pelotas, Rio Grande, e outras cidades da chamada região sul do Estado, e logo aportam outros em Porto Alegre, tanto ashkenazis quanto sefaradis. Contudo, a imigração judaica no hemisfério sul da América teve realmente como seu grande impulso o fato de o Barão Maurice de Hirsch ter adquirido colônias agrícolas na Argentina, no Uruguai e no Rio Grande do Sul, numa tentativa de salvar alguns judeus assolados pelos pogroms na Rússia e nas regiões eslavas, no início do século XX, fixando-os como agricultores no Novo Mundo. Assim, em 1903 foi criada a primeira colônia agrícola da ICA (Jewish Colonization Association) no Brasil, em Filipson, fazenda localizada hoje no município de Santa Maria, tendo se radicado ali algumas famílias da Bessarábia. Posteriormente, nas cercanias dos atuais municípios de Erechim, Getúlio Vargas e Passo Fundo, na fazenda Quatro Irmãos, foram criadas outras colônias agrícolas, tais como as de Barão Hirsch e de Baronesa Clara (este último nome foi dado em homenagem à esposa do Barão, e a colônia também é conhecida como Chalé; foi ali que se fixou meu bisavô materno, Isaac Schuchman e família, incluindo minha avó, Maria Ratner).
Devido a uma série de fatores, dentre eles a má qualidade do solo, que resultou em várias colheitas frustradas, as pragas que consumiram lavouras e abateram os animais, a inexperiência em atividade agrícola de alguns colonos (embora vários deles já exercessem a agricultura na Europa, caso de meu bisavô), e, especialmente, o advento da Revolução de 1923 (e depois da de 1930), em que as colônias foram assaltadas e saqueadas pelas tropas em conflito - chegando a ter sido morto um dos colonos -, fatos que trouxeram à lembrança dos moradores as perseguições infligidas aos judeus pelos cavaleiros cossacos, boa parte deles passou a fixar-se nas cidades do entorno das colônias; outros, ainda, vieram a estabelecer residência em várias cidades do interior do RS, e também na capital do Estado. Até hoje, contudo, boa parte das terras adquiridas pela ICA é de propriedade de fazendeiros judeus (um dos quatorze irmãos de minha avô, o “Tio Chico” Schuchman, esteve à testa de suas terras até falecer, há uns anos atrás). A vinda destes colonos para a capital do Estado “engrossou” sobremaneira a comunidade já instalada aqui (que contava especialmente com ashkenazis, mas também com alguns sefaradis), gerando ou fortalecendo a maioria das instituições que até hoje se mantém ativas na comunidade judaica gaúcha (Colégio Israelita Brasileiro, sinagogas, cemitérios, clubes sociais, movimentos juvenis, e a própria Federação Israelita). A estes foram se somando, lá pelos anos 20 e 30, rapazes solteiros e alguns casados vindos da Polônia e cercanias, que, trabalhando em atividades geralmente braçais, e, especialmente, no pequeno comércio ambulante, conseguiram juntar algumas economias, de forma a possibilitar o envio das “cartas de chamada” a familiares que haviam ficado na Europa (foi o caso de meu avô paterno, Aron Isaac Kirschbaum, que chegou sozinho a Porto Alegre, e, mascateando, conseguiu juntar o suficiente para trazer a família que havia ficado em Sokal, na Polônia, por navio, incluindo o meu pai, Joel Kirschbaum, então com quatro anos). Com o advento do nazismo, começaram a aportar também na capital gaúcha judeus alemães, que, embora geralmente tivessem um nível social, intelectual e cultural bem mais elevado em seu país de origem, em relação aos judeus do leste europeu, aqui passaram grandes dificuldades para reestruturar suas vidas, espoliados que foram pelos nazistas. Após o Holocausto, alguns poucos sobreviventes vindos da Europa também chegaram a fixar-se aqui. E, com a perseguição ocorrida nos países árabes, acirrada especialmente a partir da criação do Estado de Israel, judeus sefaradis, vindos em sua maioria do Egito, completaram uma das últimas ondas imigratórias de maior expressão, assomada nos anos posteriores por alguns migrantes vindos de outras partes do Brasil, e, ainda, por outros imigrantes chegados da Argentina e do Uruguai. Esta é a origem, em linhas gerais, da comunidade judaica gaúcha atual, que, naturalmente, dá substrato e lastro à contribuição feita por elementos a ela vinculados à música do sul do país, que pretendemos agora abordar.
No campo da música erudita, temos figuras de grande importância. Alguns são descendentes dos primeiros colonos; outros, vieram para a América do Sul e o Brasil escapando das hordas nazistas, e já atuavam profissionalmente como músicos em seus países de origem, especialmente na Alemanha e na Hungria. Podemos citar, então, nomes tais como o do maestro Pablo Komlós, que organizou a Ospa (Orquestra Sinfônica de Porto Alegre) quando de sua formação, e esteve à sua testa como regente por décadas; o do maestro Hans Henrich Peyser (que atuou à frente da orquestra da Rádio Farroupilha); os de Roberto Szidon, Flávio Chamis (que também foi maestro da Ospa), Ida Weisfeld, Boris Waiss, Helena Wainberg, Dirce e Carla Knijnik, Nei Fialkow, Esther Scliar, Maly Weisenblum, Norberto Zuckerman, Rodolfo e Gertrudes Meyer, Daniel Wolff, Marcelo Guerchfeld, Alexandre Starosta, dentre outros.
Cumpre ressaltar que a Ospa já contou com três regentes judeus: além de Pablo Komlós e Flávio Chamis, atualmente está à sua testa Isaac Karabtchevsky.
Em termos de música popular, a contribuição judaica ao universo musical gaúcho foi/é das mais importantes. De fato, em praticamente todos os movimentos e tendências relevantes da história da MPB e da música gaúcha, vamos encontrar representantes judeus dando a sua dose de contribuição. Assim é que, por exemplo, na “velha guarda”, encontramos nomes como o do compositor Jayme Lubianca, que compôs a clássica “Porto dos Casais”, gravada por inúmeros cantores, inclusive por Elis Regina e Sílvio Caldas. Destacaram-se também a orquestra de jazz de Maurício Kahan, e Maurício Kothlar, saxofonista que participou da orquestra de Paulo Coelho, este um dos mais destacados nomes da cena musical gaúcha da primeira metade do século XX. O pianista Herbert Gehr igualmente foi muito atuante. Os Pipinelas, grupo dos pais e do tio de Cláudio Levitan, também marcaram presença, especialmente animando festas (Cláudio, aliás, no CD “Minha longa milonga”, fez uma tocante homenagem ao primo do pai, morto no Holocausto na Lituânia, misturando ritmos próprios da música gaúcha, como a milonga, com elementos da música ídiche). Na bossa nova, temos compositores tais como César e Paulo Dorfman, e Manoel Chotguis (que formavam o Grupo Mutirão, com José Sinovetz, Alberto Gropocopatel, Moisés do cavaquinho, Renato Axelrud, mais Ivaldo Roque). Simão Goldman compôs o clássico “Hino ao Rio Grande”, interpretado por ninguém mais, ninguém menos, que o “papa” do tradicionalismo regionalista, e mentor dos CTG’s, Paixão Côrtes, que serviu de modelo à estátua do laçador, símbolo universal do gaúcho. Em termos de rock sessentista, por exemplo, podemos apontar os Bachfuls (banda que se formou no CIB, de que participou Cláudio Levitan). Mas é, sem dúvida, no campo do rock gaúcho, do jazz e da MPB, considerados especialmente a partir dos anos 70, que vamos encontrar uma grande participação dos netos e bisnetos dos primeiros imigrantes: Levitan e os Tripulantes (Cláudio e Karina Levitan)/ Charles Master e Nei Van Sória (ambos do TNT)/ Frank Franklin/ Ilan Himelfarb/ Os Eles - Leandro Branchtein, Régis Dubin (posteriormente da Off the Wall), Darwin Gerzson, Léo Henkin (atualmente no Papas da Língua), Dannie Dubin)/ Carlos Maltz (Engenheiros do Hawaii)/ Grupo Ensaio - Mauro Rotenberg, Beto Rotenberg, Breno Starosta, Ricardo Faertes, Keko, José Irineu Golbspan/ Marisa Rotenberg/ Luisinho (Kruter) Santos/ Rogério Hochlitz/ Dzaghury/ Sidnei Schames (Sidito, atualmente na Sombrero Luminoso)/ Cláudio Spritzer (Banda de Banda, editor do jornal Hienas)/ Eliane Strazas/ Os Dorfman: Paulo, César, Charlote, Michel, Jorge, Lúcio (ex-Engenheiros do Hawaii)/ Daniel Tessler (Os Efervescentes)/ Lúcio Chachamovich (Miscelânea K)/ Márcio Grobocopatel (Ultramen)/ Nico Nicolaiewsky (Saracura/ Tangos e Tragédias)/ Renato Cohen (Motivos Óbvios)/ Arthur Nestrowsky/ Cláudio Bonder (da banda Nethra, e que foi chazan da SIBRA por muitos anos)/ Sérgio Olivé/ Rogério Goldman/ Edu Kautz (DJ)/ Clarah Averbuck (mais conhecida como escritora)/ Israel Tchernin (o Suli, que foi meu professor de música israeli no CIB, e que está radicado há tempos em Israel, onde mantém um conjunto de MPB)/ Mauro Kwitko/ Roberto Meimes (Doctor Jazz band)/ Celso e Fábio Iuck/ Paulo Brody (10000KPNR)/ Philip Braunstein/ Luis (Neco) Turkienicz/ Dan Berger/ Gilberto (Giba) Skolnikov/ Joel Faerman/ Fernando Maltz/ Clóvis Soibelman/ Guilherme Procianoy/ Banda Selton – Ramiro Levy, Daniel Plentz, Eduardo Dechtliar, Ricardo Fischmann/ Fábio Milman/ Gustavo Hercovits (Os Torto)/ Marcelo Citrin/ Paulina Nudelmann, dentre tantos outros.
A atuação de apresentadores, radialistas e locutores judeus em programas de rádio e televisão, de auditório e de estúdio, também é relevante. Basta lembrar dos nomes de Maurício Sobrinho (Sirotsky, fundador da RBS), Pedrinho Sirotsky (com seu antológico “Transasom”), Hélio Wolfrid, Guilherme Sibemberg, Gildo e Túlio Milman, Jayme Copstein, dentre muitos outros. Júlio Rosenberg, gaúcho de Pelotas, que por muitos anos esteve radicado no centro do país (até voltar, no início dos anos 70, ao sul), foi um dos apresentadores de programas de auditório mais importantes do país, sendo um dos primeiros a abrir espaços para a ainda não assim denominada “jovem guarda”, nas figuras dos então iniciantes Roberto e Erasmo Carlos, Wanderléa, Jerry Adriani, etc.
Cumpre ressaltar também a importantíssima atuação do ator Aron Menda e de dona Eva Sopher, à testa do Theatro São Pedro, a centenária e mais importante casa de espetáculos do RS. Dona Eva, que já desenvolvia um importante papel na difusão da música erudita no RS, por estar à frente aqui da “Fundação Pro-Arte”, foi a “grande timoneira” da reforma que reergueu o teatro centenário, e está à testa de sua ampliação, consubstanciada no “multipalco”. Impende sublinhar a circunstância, a par de várias outras, de que, sob sua gestão, diversos projetos culturais importantes, gratuitos e abertos ao público em geral, foram criados, ampliando o contato da população em geral com esta casa de espetáculos que, tradicionalmente, era bastante associada como espaço privilegiado da elite, abrindo igualmente oportunidades a um grande número de artistas locais. Vale invocar, neste sentido, os projetos “O Choro é livre”, “Blue Jazz” (de que participei algumas vezes) e “Música ao meio-dia”, dentre outros.
Herbert Caro, além de ser um dos principais tradutores da literatura de língua alemã (especialmente Thomas Mann), era grande conhecedor de música erudita, e mantinha uma importante coluna no Correio do Povo, então o maior jornal gaúcho. Caro foi um dos integrantes da comissão que fundou a Ospa. O advogado Miguel Weisfeld foi diretor e fundador da Ospa. Rubem Oliven também merece destaque pelos livros e artigos que escreveu sobre a música popular brasileira. Maurício Rosenblatt, nome que se imortalizou em relação ao mercado literário gaúcho e brasileiro, em vista de sua atuação junto à Livraria do Globo e outras editoras, tendo sido um dos idealizadores da Feira do Livro de Porto Alegre, antes de dedicar-se ao mercado das letras teve também atuação destacada no ramo da comercialização de aparelhos fonográficos, tendo gerenciado a Casa Victor, loja importantíssima para o desenvolvimento do mercado fonográfico e inclusive da radiodifusão na capital gaúcha. No campo do jornalismo cultural, temos nomes como o de Fábio Prikladnichi, que atuou na revista Aplauso.
No mercado fonográfico, deve ser sublinhada a atuação da gravadora RBS Discos, que deu uma importantíssima contribuição ao registro de diversos trabalhos no campo da música popular (MPB, rock e nativismo) e erudita. Mais recentemente, o selo Orbeat, dedicado ao pop rock gaúcho, desempenhou um forte papel. A gravadora Kives também realizou alguns lançamentos de música popular gaúcha.
Naturalmente, o papel desempenhado pela RBS, através de seus diversos veículos (jornais como Zero Hora, Diário Gaúcho, Pioneiro, Diário Catarinense, etc.; rádios como a Gaúcha, Farroupilha, Atlântida, Cidade, Porto Alegre; canais de TV como a RBS TV – antiga TV Gaúcha – e a TVCOM), é de grande importância para o universo da música feita no RS.
Também destacam-se produtores que atuam no campo da música, tais como Ilton Carangacci, e de Renato Sirotsky, responsável pela organização do Planeta Atlântida, da Rádio Atlântida FM (RBS).
Cabe apontar também lembrar dos programas de rádio especificamente voltados à comunidade judaica gaúcha, veiculados, no mais das vezes, em emissoras de grande expressão, e alguns casos ocupando horários nobres, que tomaram para si a tarefa de difundir a cultura judaica junto a seus membros e também à divulgação desta mesma cultura ao público em geral. O principal deles, e que até hoje vem prestando um serviço imensurável à comunidade do RS, é a “Hora Israelita”, que já passou por várias emissoras. O programa, ao longo do tempo, foi comandado por diversos locutores membros da comunidade judaica gaúcha, que, apesar de geralmente serem amadores, fizeram sempre um trabalho radiofônico da melhor qualidade. Aproveitamos para homenageá-los na figura do querido professor David Iasnogrodsky, que, por exemplo, concedeu-me a honra de um convite para ser entrevistado nos microfones da Rádio Princesa (Jornal do Comércio) em uma ocasião. O programa, de fato, sempre abriu espaço para a música feita por membros da comunidade judaica gaúcha, além de veicular muita música ídiche e israeli. Atualmente, é apresentado por Roberto Schotkis (Betão), meu contemporâneo do CIB e da Faculdade de Direito da UFRGS.
Igualmente, merecem ser destacadas as formações musicais constituídas dentro da comunidade judaica, para o seu consumo interno, e, eventualmente, externo, tais como, por exemplo: a Orquestra de Baronesa Clara (formada pelos filhos dos primeiros colonos, e que animava as festividades na colônia), o Coro de Passo Fundo (organizado por Samuel Chmelnitzki), o Conjunto Shalom (do CIB), o Coral Viva Vida, o Coral Zemer (das Pioneiras), o Coro da Sibra, o Grupo Lechaim, dentre outros. Também merecem ser lembrados, pela sua atuação em eventos e festas da comunidade, os irmãos Menashe e Bioniomin Roitman, e Busi Trachtenberg. Cabe também aqui invocar os nomes dos regentes de coros, como Josef Neumann, Werner e Kurt Katz.
Vale registrar, naturalmente, a atuação destacada de inúmeros chazanin que atenderam à comunidade judaica nas sinagogas e nos serviços religiosos do RS. Seria evidentemente impossível listar todos aqueles que atuaram no comando dos serviços religiosos das diversas sinagogas ao longo de praticamente um século, mas podemos citar, à título de exemplo, os nomes de Benzion Spritzer, Abrão Chuchman, Henrique Soibelman, Maurício Laks, David Eizerik, Rubens Turkienicz, Ricardo Brozensky, Moacir Sibemberg, Benjamin Strazas, Isaac Rubinstein, Júlio Glock, dentre tantos outros. A SIBRA, - sinagoga de rito liberal que congrega os judeus de origem alemã -, muito especialmente vem se destacando pela grande qualidade musical de seus serviços religiosos, que contam com chazanim (cantores) e instrumentistas de grande desenvoltura. Se formos homenagear a todos os chazanin em um nome, Jacob Citrin, sem dúvida, merece sê-lo, por tratar-se de uma grande figura humana, dotada de muito humor e afeto. Quando do falecimento de meu pai e de meu avô, em um período em que compareci à sinagoga do Centro Israelita, a fim de realizar as rezas em sua homenagem, pude privar um pouco do convívio deste grande personagem, algumas vezes descendo a rua Fernandes Vieira orgulhosamente de braços dados com este ícone do judaísmo gaúcho, que deixou muitas saudades.
Cumpre ressaltar que o teatro ídiche exerceu um papel muito importante para a coesão e a confraternização da comunidade judaica do RS ao longo do século XX, especialmente até os anos 60. Seguidamente, a comunidade se mobilizava para trazer à capital gaúcha artistas e companhias de teatro ídiche internacionais, lotando as dependências do Theatro São Pedro. Aliás, os levantamentos acerca do conjunto dos espetáculos realizados no Theatro, até o seu fechamento para reforma, indicam que o teatro ídiche foi uma das atividades de maior constância e sucesso de público. Aos artistas destas companhias, muitas vezes, acresciam-se artistas amadores locais, que compunham o elenco. Como é sabido, e já ressaltamos anteriormente, a música é um dos elementos mais importantes na estética do teatro ídiche. Espetáculos do gênero também eram realizados no Círculo Social Israelita e no Centro Israelita.
Em termos de espaços culturais, diversas salas vinculadas à comunidade judaica exerceram um papel relevante dentro do cenário cultural de Porto Alegre. O Clube de Cultura e o teatro do Círculo Social Israelita deixaram a sua marca como importantes locais para a difusão da música feita na capital gaúcha, abrindo espaços para muitos artistas, especialmente no campo da música popular.
O Círculo Social Israelita, pode-se dizer, desempenhou o papel mais importante em termos sociais dentre os clubes da comunidade judaica gaúcha (além dele, havia o Grêmio Esportivo Israelita, mais centrado no esporte, que foi fundido ao mesmo, formando a Hebraica, e o Campestre, cuja atuação continua considerável). Os bailes do clube eram muitíssimo concorridos, até pelo menos os meados dos anos 70. Nestes bailes, em que geralmente eram contratados para a animação conjuntos consagrados da capital gaúcha, muitas vezes ocorriam shows de grandes nomes da música brasileira e até internacional. Passaram pelo palco do clube nomes bastante famosos, no auge de sua fama, tais como Chico Buarque, Jorge Ben, Eliana Pitman, Wilson Simonal, Malcom Roberts, etc.
O CIB (Colégio Israelita Brasileiro) chegou a realizar alguns festivais de música, sendo que determinados eventos foram abertos à participação da comunidade gaúcha em geral. Estes festivais foram importantes como espaços de abertura aos músicos então iniciantes. Nico Nicolaiewsky, por exemplo, foi o vencedor do festival de 1974. O CIB, aliás, sempre teve como proposta proporcionar aos alunos, em alguma medida, o contato com a música, não apenas judaica, mas também gaúcha, brasileira e universal. Só para dar um exemplo, assisti, como aluno, um célebre show de Teixeirinha e Mery Terezinha, ícones maiores da música regional gaúcha, no auditório do colégio. Também era costumeiro assistirmos a apresentações da OSPA. Esta proposta continua sendo levada a efeito nos tempos atuais, estimulando a criação musical e artística do corpo discente (aliás, cabe dizer que foi num concurso de músicas sobre a poluição, feito em minha turma, que pela primeira vez experimentei compor uma música e me apresentar em público, numa parceria “vencedora” com o meu amigo e colega Joel Fridman, hoje presidente da Hebraica-RS).
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