O que influência a sua decisão de ler todo este texto?

(1) Evidentemente, o crédito e o interesse que você tem pelo nosso site estão entre as suas motivações. O fato de já haver lido algum texto meu que tenha causado boa impressão também ajuda. Possivelmente, você acredita que a perda de tempo com a leitura trará benefícios na forma de conhecimento geral. Sem falar na possibilidade de você ser apenas meu amigo, familiar, ou mesmo ter simpatizado comigo quando nos conhecemos. Todos estes são fatores que jogam bastante a favor das probabilidades de você perder seu precioso tempo e dedicá-lo a esta leitura.

(2) Mas existem outros fatores tão (ou mais!) importantes que estes – muito mais sensíveis e indiretos – que atuam sobre a sua decisão de forma imperceptível. Por exemplo, a forma como está exposta a introdução. A imagem que está associada ao meu texto. A hora do dia que você teve acesso ao link. O seu humor neste mesmo momento. O fato de você estar com fome ou não quando olhou a chamada para o texto. E muitos outros fatores.

Guardando as devidas proporções e fazendo uma generalização, podemos dizer que os economistas dedicaram muito tempo ao estudo dos fatores expostos em (1), conhecidos  como Teoria da Escolha. O que determina nossas preferências? Como tomamos decisões com base na nossa utilidade? Como fazemos julgamentos e ordenamentos de prioridades? Criaram pressupostos gerais e tiraram conclusões importantes que ajudaram no entendimento desta área de estudo.

Dois renomados acadêmicos israelenses, Daniel Kahneman e Amos Tversky (Z”L), fundaram um novo campo de estudo, que mistura psicologia e economia. Eles decidiram pesquisar sobre as questões descritas em (2) com base na seguinte premissa: porque algumas vezes não atuamos de acordo com (1), mesmo quando tudo indicaria que assim o faríamos? Ou seja, por que razão alguns de nossos julgamentos e decisões contrariam tanto a teoria econômica tradicional? Eles pensaram que deveria haver algo a mais que ajudasse a explicar nossos julgamentos e decisões.

Kahneman e Tversky
Kahneman e Tversky

Em uma série de artigos fundamentais para o mundo acadêmico[i], estes autores mostraram falhas na forma como a economia tradicional trabalha com a utilidade e o risco e propuseram uma teoria alternativa (Teoria da Perspectiva), descreveram fenômenos importantes como: a regressão à média, o efeito dotação, o efeito da ancoragem, além de mostrarem a necessidade da nossa mente em sempre buscar causalidade onde possivelmente existe apenas correlação.

A explicação de cada um destes conceitos tomaria o espaço de mais alguns outros posts, assim que recomendo aos interessados a leitura do livro: “Rápido e Devagar: duas formas de pensar”, de Daniel Kahneman, onde eles aparecem descritos de forma impecável.

Infelizmente, Amos Tversky (Z”L) não estava mais vivo para receber o prêmio Nobel  recebido por Daniel Kahneman em 2002. Hoje em dia, este campo de estudo está muito mais desenvolvido e tem como um dos seus principais representantes outro israelense, chamado Dan Ariely.

Dan Ariely e Daniel Kahneman compartilham de algumas semelhanças. São israelenses (para ser mais preciso, Ariely veio viver em Israel com apenas 3 anos), tiveram participações no exército, são graduados em psicologia por universidades israelenses e hoje vivem nos Estados Unidos.

Nesta última semelhança que eu gostaria de me focar. A “fuga de cérebros”  tem sido um fenômeno amplamente discutido aqui em Israel nos últimos anos. Depois do anúncio dos ganhadores do prêmio Nobel de Química deste ano, entre eles dois israelenses-americanos  (Arieh Warshel e Michael Levitt), a discussão voltou novamente às manchetes dos jornais.

O Centro Taub publicou um informe mostrando que para cada 100 membros de faculdades israelenses vivendo em Israel, 29 estavam trabalhando em universidades americanas [ii]; uma das maiores taxas do mundo. “Merecíamos um prêmio Nobel na fuga de cérebros”, apontou o jornal eletrônico ynet[iii].

"A fuga das galinhas"

“A fuga das galinhas” ?

O curioso está em observar que a maioria dos textos e opiniões a respeito deste assunto buscam entender quais são os motivos racionais (representados por mecanismos de incentivos) que levam os acadêmicos israelenses a abandonarem o país. A falta de estrutura para pesquisas, os baixos salários comparados aos salários no exterior, a possibilidade de serem mais influentes no exterior e a escassez de postos para acadêmicos são apontadas como as principais motivações de fuga em direção a outros lugares.

Não existe uma solução unânime para este problema. Alguns propõem uma mudança total na política das universidades que melhore as condições de trabalho e, desta forma, influencie a decisão destes acadêmicos de permanecer em Israel. Outros dizem que apenas uma adequação salarial já seria suficiente para mantê-los aqui.

Seja qual for a proposta, me surpreendo ao ver que todas trabalham com questões relativas à (1). Em geral, analisando as pessoas de forma racional, tentando buscar incentivos que as levem a atuar de uma forma distinta e propondo soluções do tipo melhorar a relação de custo-benefício destes pesquisadores.

De fato, estas podem ser políticas que trarão algum tipo de retorno.

Mas será que a economia comportamental não poderia nos apresentar alguns outros insights? Será que o momento da vida em que a decisão de largar o país é tomada não influencia fortemente nesta decisão? Se tivermos a tendência de observar as coisas de forma relativa e enquadrá-las de acordo com o status quo, como nos mostra a economia comportamental, poderíamos de alguma forma buscar soluções neste campo de estudo, e não apenas apelar ao sistema de incentivos da economia clássica?

Ninguém melhor do que Kahneman e Ariely para me ajudarem a entender esta questão.

Poster "A migração é bela"

Poster “A migração é bela”


[i] Apenas para citar alguns: “Judgment under uncertainty: Heuristics and biases.” , “Evidential impact of base rates.” e The framing of decisions”.

[ii] http://www.haaretz.com/business/.premium-1.551116 . Os interessados no relatorio original, devem buscar “State of the Nation Report 2013”, neste link: http://taubcenter.org.il/index.php/category/publications/lang/en/

[iii] http://www.ynetnews.com/articles/0,7340,L-4439199,00.html

[iv] Imagem de Capa: http://www.rgcarter-construction.co.uk/wp-content/gallery/education-universities-cul/cambridge-university-library-2.jpg

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