Diário de Guerra 22 – Jogo de cartas conflito Israel Palestina – Jayme Fucs Bar
O conflito entre Israel e Palestina é um dos mais antigos do mundo.
O que faz este conflito ser diferente dos outros é que essa disputa não é somente uma questão territorial e sim há um caráter histórico - teológico, onde cada lado reivindica o direito a essas terras, com base no que está escrito na Bíblia ou no Alcorão.
Essa é uma disputa de terras, onde um acredita que Adonai deixou essa terra como herança ao povo judeu e o outro que Alá deixou essa terra como herança aos muçulmanos.
Em outras palavras, cada lado entende a mesma coisa de forma diferente. Isso quer dizer que se você abre mão dessas terras, você descumprirá uma lei divina. Para os fundamentalistas religiosos, tanto muçulmano quanto judeu, o seu destino será a morte, como foi o caso do assassinado de Anwar Sadat, pela irmandade Muçulmana em 1981, e depois o assassinato de Yitzhak Rabin, em 1994, por um judeu religioso fundamentalista.
A palavra Paz aqui é uma palavra muito complexa. Para muitos é até mesmo uma ameaça, para outros uma chance para uma possível solução. Dentro de uma população nada homogênea, a diversidade e as divergências são muito grandes.
Aqui estamos muito longe de termos algum consenso. O que determina o jogo político de Israel são as eleições e as disputas político-partidárias, onde sempre o que se destaca como prioridade é a questão do conflito.
Podemos dizer que, após todos esses anos, houve várias tentativas para solucionar esse conflito e até certas conquistas, quando foram assinados o acordo de paz entre Israel e o Egito (1979), os Acordos de Oslo (1993) e o acordo de paz entre Israel e a Jordânia (1994).
No Oriente Médio não existe vácuo. Sempre as grandes potências mundiais estão envolvidas. Nesses territórios, para essas potências, o envolvimento nos conflitos não é uma questão de desejarem realmente a paz mundial ou bem-estar de todos. O que está em jogo é, antes de tudo, seus interesses estratégicos.
Os Estados Unidos, como a Rússia, estão normalmente envolvidos dentro de seus interesses no processo de paz árabe – israelense. O interessante é que essas duas potências concordam com o mesmo objetivo de levar a uma solução de “dois estados para dois povos”.
O público em Israel tem opiniões e percepções diversas em relação a essa proposta de paz de “dois estados para dois povos”. Já a posição do atual governo de Israel, que domina a política israelense há mais de 15 anos, sempre foi de "administrar o conflito". Isso quer dizer deixar a situação como está, fortalecendo o Hamas na Faixa de Gaza e enfraquecendo a Autoridade Palestina, ampliando os assentamentos judaicos na Cisjordânia, criando assim um obstáculo concreto para que no futuro não possa existir qualquer possibilidade para criação de um Estado Palestino.
Essa estratégia do governo de Benjamin Nataniel, durante esses 15 anos, foi por água abaixo em 7.10.2023, quando 3000 terroristas da Hamas invadiram Israel de surpresa, rompendo totalmente o posicionamento estratégico do primeiro-Ministro de Israel e, em consequência, a entrada de Israel na atual guerra contra a Hamas.
Sem dúvidas, o caos que todos nós estamos vivendo nesse momento é a consequência desse governo irresponsável. A política anterior a Bibi Nataniel, em grande parte pelo governo trabalhista, sempre procurou uma negociação de paz, com a possibilidade de desistir, até certo ponto, do controle da Judéia e da Samaria, em troca da cessação do terrorismo e da assinatura de um acordo de paz.
Esta posição foi expressa de forma clara na Conferência de Madrid (1991), nos Acordos de Oslo (1993) e na Conferência de Camp David (2000). A entidade palestina com a qual os governos israelenses conduziram no passado essas negociações foi sempre a Autoridade Palestina, liderada por Arafat e depois por Mahmoud Abbas.
O Hamas controla a Faixa de Gaza desde 2007 (quando derrotou a Fatah numa guerra civil) e esteve sempre fora desse processo. Definido como uma organização terrorista, contrária a qualquer negociação com Israel, o Hamas tem como seu grande objetivo a destruição física do Estado de Israel, o extermínio dos judeus e o estabelecimento de um Estado islâmico (não de um Estado Palestino).
Na verdade, a pergunta que muitos de nós fazemos é: "Por que ainda não conseguimos chegar à solução de Paz ao conflito Israel- Palestina?
Não é certo dizer que existe um só culpado e que toda a culpa caia somente nas forças políticas direitistas, ultranacionalistas e fundamentalistas de Israel, que dominam os seus governos nos últimos 15 anos. O grande paradoxo é que quem fortalece essas forças, que se opõem a solução de “dois estados para dois povos”, são as próprias lideranças palestinas.
Suas lideranças, além de serem altamente corruptas, lhes faltam muito o pragmatismo, que sempre caracterizou no passado as lideranças judaicas. Se as lideranças palestinas não fossem tão intransigentes, já teriam há muitos anos a sua Palestina.
Se formos verificar essas oportunidades dentro do processo histórico, veremos diversas chances de paz que foram descartadas pelas lideranças palestinas. Várias propostas extrapolaram a possibilidade prática de uma solução.
A maior delas foi a eterna exigência de que todos os refugiados palestinos e os seus descendentes poderiam regressar às suas casas e controlar a terra em que viveram até 1948. Essa abordagem foi o real motivo que Arafat não assinou um acordo de Paz com Israel em 1999 e que se desencadeou na segunda intifada e o congelamento do processo de Paz.
Vejam a lista das oportunidades de Paz que estiveram em mãos dos palestinos, durante esses últimos 100 anos:
• Em 3 de janeiro de 1919, houve uma tentativa através dos ingleses de acordo territorial entre Faisal-Weizmann. Acordo negado pelos árabes.
• Em 29 de novembro de 1947, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou a Resolução 181, que previa a criação de um Estado árabe palestino e um Estado judeu. Israel aceitou a resolução da ONU e os palestinos negaram. Começou a guerra de Independência.
• De 1948 a 1967, durante o cessar fogo que durou 19 anos, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia e Jerusalém Oriental ficaram totalmente nas mãos dos Palestinos, que não conseguiram estabelecer nesse longo período o seu estado nacional. Sua única preocupação foi se organizar, junto com as Nações árabes, e tentar "expulsar Israel para o mar".
• Em 13 de setembro de 1993, Plano Oslo. Foi um reconhecimento mútuo de ambas as partes, onde se estabeleceu um período de transição, inferior a cinco anos, de autogoverno para Gaza e a Cisjordânia, visando o cumprimento das resoluções 242 e 338 da ONU. Esse processo foi interrompido devido ao assassinato do Primeiro-ministro de Israel Yitzhak Rabin, em 1994, por um terrorista judeu ultranacionalista e fundamentalista.
• Em 1999, Ehud Barak, primeiro-Ministro de Israel, retirou as forças israelenses do sul do Líbano. Em 2000 ele se reuniu novamente com os Palestinos na Cúpula da Paz de Camp David, mas Yaser Arafat não aceitou o acordo, onde 97% das terras da Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Faixa de Gaza ficariam nas mãos dos Palestinos;
• Entre 27 e 28 de novembro de 2007, na Conferência de Annapolis, houve uma proposta de efetivar um acordo de Paz entre Israel e Palestina, proferida pelo primeiro Ministro Yeud Omer, onde foi oferecido um acordo parecido com o que Yeud Barak ofereceu a Arafat em 2000, mas os palestinos, através de Mahmoud Abbas, negaram o acordo.
• Em 2005, Ariel Sharon retirou todas as forças militares e seus colonos israelenses da Faixa de Gaza, com a ideia de ser criado nesse território um exemplo de prosperidade e estabilidade. Mas em junho de 2007, confrontos entre os próprios palestinos (Fatah e o Hamas) se transformaram em uma guerra civil. Hamas massacra o Fatah e a disputa terminou com a vitória do Hamas controlando totalmente a Faixa de Gaza e transformando esse território em um estado fundamentalista islâmico, fortemente bélico. Desde 2008 as populações civis de Israel são atacadas e isso desencadeou várias ações militares de Israel, até a guerra atual em 2023.
Acredito que, terminando essa terrível guerra, os objetivos de Israel sejam consagrados: o extermínio das forças do fundamentalismo islâmico do Hamas na Faixa de Gaza e a libertação dos mais de 200 reféns israelenses.
Com certeza, a realidade política de Israel e dos palestinos não serão as mesmas. Acontecerão sérias mudanças entre elas. Teremos finalmente o fim do poder do Bibismo na política israelense e, quem sabe, possa ser criada uma liderança palestina, menos corrupta e mais pragmática.
Venho há anos rezando para que essas novas forças sejam capazes de criar um forte elo entre esses povos sofridos, israelenses e palestinos, e finalmente possa ser criada a paz tão esperada e o diálogo que todos nós necessitamos.
Oseh shalom bimromav Hu ya'aseh shalom aleinu V'al kol Yisrael y kol haolam
V'imru: Amém.
"Que aquele que cria a paz nas alturas traga paz para nós e para todo Israel e para todo o mundo. E nós dizemos: Amém."
Comentários
Jaime.
Fiquei curioso esta citação final. Entendi conclusão mas fiquei curioso entender sentido desta oração:
Oseh shalom bimromav Hu ya'aseh shalom aleinu V'al kol Yisrael y kol haolam
V'imru: Amém.
"Que aquele que cria a paz nas alturas traga paz para nós e para todo Israel e para todo o mundo. E nós dizemos: Amém."
Poderia por favor indicar algum texto sobre ela por favor. Entender mais profundamente esta benção ou oração?