Diário de Guerra 31 - Palestina e sua identidade nacional – Jayme Fucs Bar
Existiu um povo antigo que viveu na planície costeira da terra de Israel. Ele chegou nessa região durante o século XII aC. e seu nome ficou conhecido na história como filisteu. Sua origem indica uma forte conexão com a antiga cultura grega micênica e, apesar de serem conhecidos como filisteus, não sabemos realmente seu nome.
O que sabemos é que esse povo vivia nas ilhas do Mar Egeu, hoje ilhas Gregas e que, provavelmente, por causa de um grande terremoto ou causas climáticas, tiveram que abandonar seu habitat original.
Os filisteus abandonaram seu território e emigraram para a costa da área litorânea, que hoje corresponde as cidades de Asdod, Asquelon e Gaza. Na Bíblia podemos ler muito sobre os filisteus, principalmente no livro de Samuel, onde esses locais aparecem como "terra dos Plistin" (terra dos filisteus).
Esse apelido foi dado pelos próprios israelitas e é um nome pejorativo que vem da raiz da palavra hebraica POLES, que quer dizer INVASOR. Esse povo também vai aparecer na bíblia com um outro apelido, também pejorativo, de GOY YAM (os gentios do mar). Mas o uso do nome Plistin (filisteus) será o nome que ficará consagrado e conhecido na História.
O Povo Filisteu, como muitos outros povos da região como os Fenícios, Cananeus, Amonitas, Moabitas, Edomitas etc., vão desaparecer da história em consequência das invasões dos grandes impérios, que conquistaram toda essa região. Sabemos que os Filisteus deixaram de existir na conquista dos Babilônios em 604 aC.
O uso do nome “Philisteia”, hoje Palestina, foi usado para definir uma localização geográfica por um grande historiador da época antiga chamado Heródoto, que viveu no século V aC.
Segundo seu depoimento, ele visitou a planície costeira da Terra de Israel nas cidades de Gaza e Ashkelon, e lá ele aprendeu sobre os filisteus que viveram na região e foram exterminados sobre o domínio de Nabucodonosor, o rei da Babilônia. Daí o nome que Heródoto deu em seus escritos a esse pedaço de terra: Philisteia, mais tarde Palestina.
No entanto, o nome Yehuda (Judá) vai prevalecer como o grande nome dessa região, assim conhecida entre as nações do mundo antigo. A prova disso foi quando o Império Romano, em 63 a.C, assumiu o controle de Israel e chamou essa região de "Província de Judá".
Este nome também aparece nas moedas da vitória de Vespasiano, depois que seu filho Tito derrotou a grande rebelião judaica e destruiu o segundo Templo. Na moeda está escrito: Judea capta (Judéia conquistada).
Então como acontece a mudança do nome dessa região de Judeia para Philisteia/Palestina?
Com a rebelião de Bar Kochba em 132 d.C., e em consequência da expulsão dos romanos da Judeia, o imperador Adriano vai ser humilhado por um pequeno grupo de guerreiros judeus, que conseguiu realizar uma proeza considerada única naqueles tempos. Expulsaram e aniquilaram o poderoso império romano da Judeia e se tornaram uma nação livre durante 3 anos e meio.
Essa realidade levou o Imperador Adriano a uma fúria imaginável contra os judeus. Ele reconquistou a Judeia em 135 d.C, realizando uma carnificina muito bem descrita na época pelo historiador romano Cassius Dio: "985 de suas aldeias foram arrasadas. 580.000 homens foram mortos e o número daqueles que morreram de fome, doenças e incêndios era incompreensível. Assim, quase toda a Judéia ficou desolada.”
Independente do número de mortos descritos pelo historiador romano Cassius Dio parecer bastante exagerado, a ideia aqui é descrever a vitória romana sobre os judeus, não somente pelo massacre, mas também pela grande vingança de Adriano. Veja como Cassius Dio descreve, ainda nesses dias em seus escritos o nome da região como Judeia. Porém, a partir desse momento tudo vai mudar nessa região, não só o nome.
O Imperador Adriano vai ter um só intuito: procurar apagar de uma vez por todas a memória dos judeus nessa terra. Ele não vai se contentar apenas em deportar milhares de judeus sobreviventes, agora como escravos, para outras regiões do Império Romano. Ele vai também mudar o nome de Jerusalém para Helia Capitolina, além de criar no local do templo dos judeus o templo de Júpiter.
Mas o mais importante será a mudança do nome oficial da província rebelde de Yehuda (Judá) para Philisteia ou Palestina prima e Palestina segunda, um nome que ele conhecia dos livros gregos de Heródoto.
Mais tarde, o nome Palestina torna-se a designação dominante para a Terra de Israel, que passou a fazer parte dos Impérios que vão governar futuramente essa região (romanos, bizantinos, árabes, cruzados, mamelucos, turcos até chegar no Mandato Britânico).
Como surgiu a identidade nacional Palestina?
Importante entender que, anterior ao Mandato Britânico, nunca houve um país ou uma Identidade nacional chamada Palestina. A população que vivia nessa região era, em sua grande maioria, de cultura árabe muçulmana. Estes chegaram a essa região através da Península Arábica em 632 d.C, dominando esse território por mais de 1300 anos até a conquista dos Ingleses e Franceses, em 1917.
A prova disso é que nos primeiros conflitos entre árabes e judeus, durante o Mandato Britânico, a instituição mais importante que representava os árabes na região era o "Comitê Árabe Supremo", e nele não houve em momento qualquer menção sobre um povo chamado palestino.
De Fato, o termo "povo palestino" para designar os árabes da Terra de Israel aparece pela primeira vez na Carta Palestina da OLP, em 1964.
Portanto, ao contrário de outros povos do mundo que formaram a sua identidade nacional ao longo de muitos séculos, o povo palestino, como muitos povos dessa região, nasceu de repente, dentro de uma necessidade estratégica do que foi o retalhamento das terras do antigo Império Turco pelos ingleses e franceses, que criaram países e novas identidades nacionais inexistentes até aquele momento.
Não somente a Palestina, mas novos países e novas identidades nacionais surgiram como por exemplo a Jordânia, o Líbano, a Arábia Saudita, os Emirados Árabes etc.
Muitos historiadores alegam que o nacionalismo palestino nasceu graças ao conflito árabe-israelense. Outros dizem que a criação da identidade nacional palestina deve a sua existência nacional ao movimento sionista. Se o Sionismo não existisse, os palestinos como uma nova identidade nacional não existiria. Provavelmente seriam parte desse novo país criado pelos ingleses chamado Jordânia.
Não existe para mim nenhuma discussão, dentro da realidade atual, sobre a criação de um estado palestino ao lado do Estado Judeu (dois povos dois países). Isso é uma necessidade estratégica para os interesses do Estado de Israel.
Eu sei que parece um paradoxo, mas é um fato. Sem o movimento sionista que tantos odeiam, não existiria o que hoje chamamos de povo palestino. E, se um dia o Estado Israel deixar de existir, o povo palestino também desaparecerá, pois ele nasceu por razões políticas, relacionadas ao interesse dos modernos conquistadores dessa região.
Os Ingleses e franceses, apesar de seu curto domínio nessa região (nada mais que 30 anos), deixaram seus rastros em todo o Oriente Médio. Isso é sentido até hoje entre judeus e palestinos, pois somos todos "herdeiros" desse caos criado por essas potências. Para mim pessoalmente fica sempre difícil ouvir seus pronunciamentos cínicos e hipócritas, quando falam sobre os conflitos entre Israel e palestinos, como se eles não tivessem culpa no cartório.
O que devemos saber de toda essa História?
Existe alguns fatos óbvios em todo esse meu relato, que são importantes para vocês saberem e terem isso muito claro. Vivemos num mundo conturbado de desinformação e de criação de novas realidades e mentiras. Gostaria de resumir cinco fatos importantes do meu texto:
1. Os Israelitas (judeus) são como os índios brasileiros. O povo originário da terra de Israel ou, se desejarem, originário da região da Judeia/Palestina;
2. Os Israelitas (judeus) são um povo de 3.500 anos, que sobreviveu na história. Sua cultura, história, tradição e religião são inseparáveis da Terra de Israel;
3. O Povo que hoje se autodefine como palestino não tem nenhuma relação com o povo filisteu, que viveu na Antiguidade. Nem sua cultura, história, tradições ou religião;
4. Na modernidade surgiram vários movimentos nacionalistas e, com isso, um novo povo se autodenominou palestino. Porém sua origem é da Península Arábica. Sua cultura e tradição são árabes e, na sua maioria, muçulmanos;
5. Os palestinos, assim como a Jordânia, Líbano, Arábia Saudita, Emirados Árabes entre outros foram criados pelos ingleses e franceses, a partir dos anos 40. Eles se transformaram em novos países e povos na região. Em comum todos são árabes de maioria muçulmana. Mas, como uma nova nação, carecem de uma identidade nacional ainda sem raízes, sem história e sem tradições.
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Comentários

  • Ótimo artigo Jayme!

    Tomamos a liberdade de divulgar no nosso blog.

    https://oqueejudaismo.blogspot.com/2023/12/palestina-e-sua-identida...

     

    Palestina e sua identidade nacional – Jayme Fucs Bar
    O que é Judaísmo é um site que objetiva satisfazer os anseios das pessoas que buscam conhecer mais e mais profundamente o universo da Torá.
  • Concordo com este relato bem elaborado, mas tenho que apontar mais uma vez ao fato que grande parte desta “nova nação” de palestinos é, como eu, descendente de jeito de “marranos”. Nos dias de Jesus, cerca de dez por cento da população do Império Romano eram judeus. Entre cinco e sete milhões de judeus viveram na “diáspora” e não mais de um milhão na Palestina. E desta minoria vivendo na Terra Prometida, após das duas derrotas dos anos 70 e 135 a grande maioria dos sobreviventes ficou aderindo ao solo dos ancestrais, mudando antes a sua fé do que a pátria. Em 1917, o sionista Ben-Gurion chamou os palestinos o am ha’aretz (povo da terra) “que sob as pressões das épocas preferiam negar a sua fé enquanto não fossem desenraizados do solo.” Nos nossos dias, até Yehuda Etzion, um dos fundadores do movimento dos colonos, aprecia o fato que “diferente dos judeus seculares urbanos, os árabes rurais eram um com a terra. (Veja Rabbi Dov Stein e outros, no documentário “Palestinian Jews”, youtube.com/watch?v=L1gLziSsIe4).” Não muito diferente dos marranos ibericos, muitos dos palestinos muçulmanos ainda preservam vestígios de costumes judaicos, e a metade desta população é consciente da sua ascendência judaica uma ascendência confirmada por testes genéticos mostrando que “mais de 70 por cento dos homens judeus e 82 por cento dos homens árabes cujo DNA foi estudado, tinham herdado os seu cromossomos Y dos mesmos ancestrais paternos que viviam na região durante os últimos poucos milénios”. Quer dizer que mais de 80 por cento dos palestinos descendem dos judeus que ficaram na sua terra nas colinas, enquanto partes da população mais afluente e móvel urbana optaram pelo exílio. Muitos palestinos tem mais DNAbraham do que os israelenses cujos pais fugiram do antissemitismo europeu. Por exemplo, muito rara lá no norte e muito típico “judeu”, o haplogrupo J1 do DNA do cromossomo Y marca 38.5 por cento dos palestinos, 22 por cento dos judeus Sefarditas (ibéricos) e 19 por cento dos judeus Asquenaz (Europa Central e do Leste). Ao (meu) haplogrupo T1, globalmente muito raro mas frequente no norte de Portugal (por causa da inquisição espanhola), pertencem 7 por cento dos palestinos, 6 por cento dos Sefardim e 2 por cento dos Asquenazim como o loiro Tuvia Tenenbom que não dúvida de que Shlomo Sand explica pra ele: “Um palestino nascido em Hebron é com maior probabilidade um descendente direto dos judeus da antiguidade do que Tuvia.” (www.eupedia.com/europe/Haplogroup_T_Y-DNA.shtml; Tenenbom 2014, p.397; Tenbom, Tuvia: Allein unter Juden. Eine Entdeckungsreise durch Israel. Berlim 2014, p.397).

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