Diário de Guerra 7 - Hamas: a verdadeira face do terror — Jayme Fucs Bar
Há muito anos, conheci um árabe muçulmano que vivia em Jerusalém Oriental. Ele era uma pessoa muito especial, um teólogo e intelectual, muito culto, enfim, um homem de muitas sabedorias. Era sempre um prazer ouvir suas interpretações do Alcorão e perceber o respeito que ele tinha pelos mandamentos da Torá e seus profetas, por Jesus e as passagens do Novo Testamento.
Na época, ele era muito crítico à transformação e ao uso da religião islâmica para objetivos de grupos políticos e terrorismo, tudo em nome de Alá.
Ele desejava ver a criação do Estado da Palestina, mas sem o uso de qualquer tipo de violência. Das vezes em que tive a oportunidade de conversar com ele, eu sempre saía otimista, acreditando que ainda havia esperança.
A última vez em que me encontrei com ele, percebi que ele estava meio abalado e temeroso, até se lamentou comigo e me contou que foi convidado para participar de um fórum teológico islâmico, no qual estavam presentes várias pessoas, muitas representando o Hamas Estado Islâmico. Ele sentiu que aquilo não era um simples encontro, e sim uma armadilha. Mesmo assim, ele teve a coragem de dizer o que pensava e de questionar onde está escrito que Alá manda matar seres humanos inocentes.
Ele também disse que a verdadeira interpretação de jihad não é trazer a morte e a violência para o mundo, e sim procurar realizar o que Alá deseja para a humanidade, que é a paz e a valorização da vida e do amor ao próximo. E continuou: “Não existe um Deus particular dos muçulmanos, dos judeus ou dos cristãos. Deus é único para todos.”
Essa pessoa, cujo nome não posso citar, ao terminar o encontro, recebeu uma mensagem de ameaça de morte, pois foi classificado como herege, traidor da causa islâmica. Nunca mais o vi ou ouvi sobre ele. Conheço seus familiares, alguns até trabalham comigo como motoristas de grupos de turistas. Depois de minha insistência, alguém me disse: “Ele teve que fugir e se exilar, ficar em silêncio em algum lugar do mundo para não ser assassinado, ele e sua família.”
Conto essa história para vocês entenderem que não estamos aqui falando sobre a legitimidade dos direitos dos palestinos.
O que está acontecendo agora em Israel não é uma luta entre israelenses e palestinos, já que muitos dos palestinos e do mundo árabe estão doidos para se livrar dessa corja de terroristas do Hamas, cada vez mais fortes e ameaçadores, não somente para a existência de Israel, mas para milhões de muçulmanos.
Para quem não sabe, o Hamas é considerado uma extensão do movimento islâmico mundial ISIS ou Estado Islâmico, cujo principal líder ideológico foi o sheik Ahmad Yassin, morto por Israel na faixa de Gaza em 2004.
O principal objetivo do Hamas sempre foi eliminar o Estado de Israel. Por isso, não existe nenhuma possibilidade de qualquer negociação com Israel. Para o Hamas, a paz ou qualquer acordo é inaceitável, pois seu compromisso declarado e irreversível é com a destruição do Estado de Israel.
O Hamas, além de um movimento nacionalista palestino, propõe a substituição da Palestina por um Estado Islâmico e o hasteamento da “bandeira de Alá sobre cada centímetro da Palestina”.
Para entender melhor o que vem a ser a estratégia desse movimento terrorista Hamas, veja suas quatro estratégias principais:
1. A construção de uma forte estrutura assistencialista para atendimento dos mais pobres como forma de garantir apoio para a organização, e também dependência direta, fazendo o papel social que deveria estar na competência de seu grande rival a OLP e a AP (Autoridade Nacional Palestina). Eles exigem que sejam reconhecidos como os únicos e legítimos representantes do povo palestino e do movimento islâmico.
2. O uso de uma estrutura bélica forte e bem treinada com apoio militar e financeiro de organizações e nações islâmicas como Irã, Hezbollah, Catar, Turquia e, logicamente, a Irmandade Muçulmana, que tem ramificações por todo o mundo como forma de fomentar e ampliar os ataques terroristas contra Israel e no mundo.
3. A visão maximalista de não diferenciação entre civis e militares, uma vez que todos os judeus em Israel são inimigos, e, portanto, devem ser exterminados, independentemente de serem crianças, mulheres, idosos etc. Sua plataforma de extermínio não exclui os "hereges" não judeus que vivem em Israel, como as comunidades de cristãos, drusos, Bahay, até mesmo as comunidades de muçulmanos que cooperam e desejam viver em paz no Estado de Israel.
4. Ações contra qualquer tipo de ocidentalização e secularização da sociedade muçulmana, e uma luta sem trégua para a restauração das terras que foram tomadas dos muçulmanos no período dos califados, que inclui toda a Ibéria, Malta, Itália, Armênia, Países Bálticos, Geórgia e outros.
O Hamas é nada mais do que um componente de uma estratégia muito maior que na sua luta pela Palestina e pelo extermínio de Israel, na sua visão política e teológica, a única forma de existir uma paz mundial é pela submissão do mundo na sua totalidade à bandeira islâmica.
A jihad é o caminho para essa paz mundial. Inicialmente deve haver muitas guerras santas, finalizando com a vitória dos "guerreiros de Alá" e a rendição do mundo ao islamismo.
Veja abaixo o que está escrito em sua plataforma ideológica:
"A luta pessoal pela moralidade e virtude, que é a resistência sancionada contra todos que vão contra o islamismo. Neste mundo somente o islamismo e as leis de Alá têm o direito de existir."
“Alá é o maior e único objetivo, o Profeta é o nosso modelo, o Alcorão é a nossa constituição. A jihad é o seu caminho e a morte em nome de Alá é o mais elevado dos seus desejos.”
Dessa forma, o Hamas combina o elemento religioso com o elemento nacionalista, mas seu objetivo é mundialista.
A guerra atual é contra o fundamentalismo religioso do Hamas. O Estado Islâmico não é uma ameaça somente para a existência de Israel, mas para todos os que desejam e amam a liberdade, inclusive milhões de fiéis e verdadeiros muçulmanos, como é o caso daquele meu corajoso amigo que hoje vive em algum lugar em silêncio e com medo de ser encontrado.
Fontes: ( MAQDSI, Muhammad (1993). Charter of the Islamic Resistance Movement (Hamas) of Palestine. Journal of Palestine Studies, 22(4), 122-134., p. 124)
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