Diario de Guerra 3 - Nós nos negamos a sair da História - Jayme Fucs Bar
“Judaísmo é uma religião para adultos”, assim bem definiu Emmanuel Levinas. Ser judeu é ter uma maturidade emocional e psíquica para continuar a existir através da história.
O que fizemos para que tanto nos odeiem?
Somente judeus e judias se fazem esse tipo de pergunta. Essa é uma pergunta puramente judaica, para a qual jamais encontramos as respostas!
O que nos ajuda é saber que não estamos sozinhos neste mundo, e
que nem todos no mundo nos odeiam!
A prova disso foi ver de imediato as mensagens de centenas de amigos e amigas na maioria não Judeus se preocupando com minha familia e com os familiares de mais de 1300 civis assasinados pelos terroristas da Hamas - Estado islamico.
A Preocupação dessas pessoas que muitos nem conheço , me tras um conforto e uma alegria imensa, saber que, iguais a elas, existem milhões de pessoas neste mundo que reagem dessa forma, e isso me fez lembrar um grande amigo que conheci no princípio da década de 1980: o Carlinhos.
Éramos estudantes de história e ativistas no Movimento Estudantil na Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro, em pleno período da Ditadura Militar.
Carlinhos, de família de mestiços, índio e negro; e eu, judeu, compartilhávamos uma mesma casa em Laranjeiras e esse espaço nos dava a liberdade de manter preciosas discussões filosóficas e políticas noites adentro.
Falávamos sobre tudo, mas, principalmente, sobre nossas ascendências e raízes culturais.
Carlinhos me contou histórias amargas de como seus bisavôs foram expulsos de suas terras na região de Angra dos Reis. Ele sempre me impressionava por seu raciocínio claro e complexo e por suas palavras sempre diretas e precisas.
Conversávamos muito sobre nossas dores e sobre os preconceitos
que vivíamos, eu por ser judeu, e ele por ser mestiço! Recordo-me que, numa dessas longas conversas, Carlinhos uma vez me perguntou:
“Jayminho, sabe por que o mundo odeia os judeus e o Estado de Israel?”.
Procurei dar uma resposta para ele, mas me enrolei todo e não
consegui.
Carlinhos, então, me interrompeu e me disse uma frase que veio como uma flecha disparada direto no meu coração:
“É que vocês se negam a desaparecer da história da humanidade!”.
Essa frase do Carlinhos me acompanha por toda a minha vida!
Jamais consegui achar as palavras para entender esse fenômeno, que emana de parte da sociedade humana há muitas e muitas gerações, esse ódio contra os judeus e contra o Estado de Israel, mas, com o tempo e com os anos, as palavras do Carlinhos fazem cada vez mais sentido nessa triste realidade de como o mundo se apresenta frente aos judeus e frente ao Estado de Israel!
Nego-me a crer que humanidade não possa se curar dessa doença
crônica que é o ódio contra os judeus; mas Carlinhos, naquela noite, tentou me ensinar o que somente compreendo hoje: que o grande desejo de muita gente e de até nações é que os judeus deveriam ser uma página a mais nos livros de história antiga, que os judeus deveriam ser uma simples página amarelada e empoeirada nas prateleiras dos povos desaparecidos da história da humanidade, como os assírios, os caldeus, os gregos, os romanos, os fenícios e os egípcios...
Num mundo de caos, corrupção, desordem e medo, há algo que une e ameniza as tensões que vêm do mundo e de seus dirigentes: o anseio de demonizar e deslegitimar o Estado Judeu!
Por que o mundo está sempre colocando em foco os judeus e o Estado de Israel?
Carlinhos rapidamente iria me responder: “É porque vocês se negam a desaparecer da história da humanidade!”.
E é por isso que é possível neste mundo até mesmo tapar o sol com a peneira!
Tantos problemas existem em nosso mundo, mas a prioridade e demonizar o estado de Israel, mesmo quando bandos de sanquinários terroristas invadem Israel, assasinam milhares de civis, queimam vivas famílias inteiras , degolam crianças , estrupam mulheres e meninas . Fazem um verdadeiro pogrom.
E ainda tem gente que culpa Israel e justifica esses atos!
Mais uma vez, me faltam palavras para definir essa situação: Trágica? Absurda? Ridícula? Não sei! Faltam-me as palavras!
Sempre que me encontro com o Carlinhos no Brasil ele me pergunta, num tom de ironia:
“Oh, meu companheiro, está preocupado com o quê?”
Eu sempre respondo: “Não há nada de novo sob o sol”.
Ele ri e me rebate: “Há sim, camarada, gostem ou não, Israel existe e é uma realidade e eu estou do seu lado!”.
Como é bom ouvir essas palavras de um não judeu neste mundo tão conflitante e ameaçador!
As palavras do Carlinhos, meu amigo, irmão, camarada, me trazem certa esperança: a de saber que não estamos sozinhos neste mundo.
Shabat Shalom!
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