No dia da primeira sessão do novo parlamento do período pós-Mubarak, fala o porta-voz da Igreja Católica no Egito.
A reportagem é do sítio Vatican Insider, 24-01-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"A vitória dos partidos islâmicos dá medo aos cristãos, mas expressa a vontade da população egípcia". É o que afirma à AsiaNews o padre Rafiq Greich, porta-voz da Igreja Católica egípcia, na subida ao poder da Irmandade Muçulmana e dos salafistas que, nas recentes eleições, receberam mais de 60% dos votos. "Durante a votação – continua o padre –, eles cometeram muitas irregularidades, mas nada comparável às eleições falsas dos anos de Mubarak". "Para não perder o consenso – explica –, os partidos islâmicos estão mantendo nesta fase inicial um perfil baixo. Nos últimos dias, declararam mais de uma vez que os cristãos e as minorias religiosas terão os mesmos direitos que os cidadãos muçulmanos, mas ainda é prematuro fazer prognósticos positivos ou negativos".
A primeira sessão do parlamento egípcio depois da deposição de Mubarak foi aberta na manhã desta segunda-feira, 23 de janeiro, às 11h (hora local), com um minuto de silêncio para rememorar os mártires da Revolução dos Jasmins e continuará durante toda a tarde. Em pauta, está a nomeação do presidente da Câmara Baixa: Mohamed el-Katatni, do Justiça e Liberdade. Nos próximos dias, os deputados irão eleger os 200 membros da Assembleia Constituinte e discutirão a passagem do poder legislativo do Conselho Superior do Exército (Scaf) ao novo parlamento.
As eleições para a Câmara Baixa ocorreram entre novembro de 2011 e janeiro de 2012 e foram vencidas pelo Partido Justiça e Liberdade (Irmandade Muçulmana), a primeira força política do país com 45% dos votos e 235 assentos no parlamento de um total de 498. Al-Nour, formação ligada aos salafistas, grupo extremista islâmico, obteve mais de 20% das preferências, iguais a 123 assentos. Os principais partidos seculares nascidos durante a Revolução dos Jasmins, Wafd e o Egyptian Bloc ganharam 38 e 34 cadeiras.
Segundo o Pe. Greich, as forças moderadas presentes no parlamento deverão observar com atenção os movimentos da maioria e permanecer unidas para combater a força das alas mais extremistas.
"O primeiro campo de confronto – explica – será escrever a nova Constituição da qual dependerá o futuro democrático do Egito". O sacerdote salienta, no entanto, que todos os poderes ainda estão nas mãos do Exército. "Nessa fase de transição – comenta –, os militares têm o direito de veto sobre as emendas do parlamento e influenciarão a seu favor a nova Constituição. No entanto, para ter um quadro claro da situação, teremos que esperar pelas eleições presidenciais de junho, data em que o Exército assegurou a sua saída da cena política egípcia".
Enquanto isso, temem-se novos protestos em vista do aniversário da Revolução dos Jasmins, que será celebrado no próximo dia 25 de janeiro. Nos últimos dias, o general Tantawi, chefe do Scaf, reiterou a política de tolerância zero contra manifestações violentas e destacou o risco de uma conspiração estrangeira contra o país. Para mostrar a sua boa vontade, no último dia 21 de setembro, o Scaf concedeu a liberdade para 1.959 pessoas presas durante os protestos de 2011.
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/506089-egito-os-islamicos-nos-dao-medo-mas-venceram-as-eleicoes
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