Postado por Jayme Fucs Bar em 7 de Novembro de 2009 às 8:30am
ENTREVISTA Shimon Peres a Renata Malkes Especial para O GLOBO
JERUSALÉM. Do alto de seus 86 anos e da figura de estadista consagrado, o bom humor e a vitalidade de Shimon Peres impressionam.
O presidente de Israel desembarca na próxima terça-feira em Brasília acompanhado de 40 empresários para uma visita oficial de cinco dias. Ele passa ainda por Rio e São Paulo, disposto a conhecer o que chama de “novo Brasil”, antes de seguir para a Argentina.
Num bate-papo informal com a imprensa brasileira em sua residência em Jerusalém, Peres se mostrou tranquilo quanto à estabilidade das relações entre Israel e a América Latina. O veterano político garante que a visita não é uma jornada de propaganda e não se perturba diante da aproximação do Brasil com o Irã.
Renata Malkes Especial para O GLOBO
É a primeira visita de um presidente israelense ao Brasil em 40 anos. Quais são suas expectativas?
SHIMON PERES: Meu objetivo é aprender. O Brasil não é mais um país apenas de carnaval e diversão, mas uma revelação política, social e econômica. Dá ênfase ao desenvolvimento social e acredita que a economia deve servir à sociedade. A ascensão brasileira é impressionante.
Quero ver as novidades; como lidaram com o apagão, o programa Fome Zero, as pesquisas sobre o etanol. Temos excelentes relações e vamos avaliar como melhorá-las.
Que papel o Brasil pode desempenhar numa participação mais ativa na diplomacia do Oriente Médio?
PERES: A paz é tema de interesse mundial. Para isso, é preciso combater a ameaça do terrorismo e recrutar apoio à causa da paz. Se o Brasil está ciente destes desafios, gostaria de vê-lo participando mais.
Duas semanas após sua visita, o presidente Lula recebe também o líder iraniano, Mahmoud Ahmadinejad. Como o senhor vê essa aproximação?
PERES: Minha visita é ao Brasil e não pretendo discutir o tema Ahmadinejad. Há, sim, uma voz dissidente, que tenta destruir outro país, patrocinar o terror... Pessoalmente não vou tocar nesse tema. Devo mencionálo de forma privada. Não acho correto visitar um país e debater sobre outro.
Mas o Brasil alega que pode ser um intermediário nas negociações com Teerã...
PERES: Se alguém pode oferecer ao mundo uma ponte, por que não? Os iranianos não são nossos inimigos. Tampouco os árabes ou os muçulmanos. Nossos inimigos são a guerra, as ameaças, o terror e a destruição.
Sobre o presidente do Irã, todos sabem quem ele é e quais são suas posições. Não vou ditar nossas opiniões ao governo brasileiro. Estaríamos criando uma impressão falsa de que estamos lutando contra os iranianos.
Estamos apenas defendendo nossa própria vida.
Se a diplomacia falhar, um ataque israelense às instalações nucleares do Irã é uma opção?
PERES: Israel não quer monopolizar a questão iraniana. O Irã é problema do mundo, não só de Israel. Não colocaria uma ação militar no topo das opções, pois temos que fazer o possível para uma solução pacífica. Há formas políticas e psicológicas, e todos os líderes mundiais com quem conversei, Medvedev, Putin, Obama, Sarkozy, Brown, Merkel, garantiram que não permitirão um Irã nuclear. Deixemos que cuidem disso.
Israel recebeu duras críticas durante a ofensiva à Faixa de Gaza, em janeiro passado.
Como estão as relações de Israel com a América Latina?
PERES: Enfrentamos altos e baixos. Normalmente são cordiais, mas a própria realidade da América Latina tem altos e baixos.
A região conseguiu se libertar de ditaduras militares e houve esforços para alcançar também uma economia democrática.
Há exceções, como o senhor Hugo Chávez. Se um homem decide ser super-herói, saindo por aí, fazendo alianças, condenando Israel... Por quê? Para quê? O que Israel fez para a Venezuela? (risos) O povo venezuelano é amável. Fico imaginando como alguém pode injetar o extremismo na veia dos venezuelanos....
Chávez é um líder peculiar... O que posso dizer? (risos)
O presidente Lula já esteve várias vezes no Oriente Médio e não visitou Israel. Por quê?
PERES: Espero que Lula encontre tempo para a visita. Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé. (risos). Melhor deixar para lá, é ofensivo.
Lula tem prioridades. Nós o consideramos um amigo e eu o conheço há muito tempo, viemos do mesmo berço socialista. Posso dizer que somos amigos de infância. Claro que o convidarei.
Mas, apesar da cordialidade, tradicionalmente o Brasil vota na ONU contra Israel.
PERES: Não cabe a mim explicar.
Considero um erro de julgamento, mas debato com qualquer crítico de Israel. Há um problema de imagem. Somos um país que respeita as leis e luta contra o terror. Os atos terroristas não são fotografados. Quando um terrorista mata alguém, ele chega sem a companhia de jornalistas. Quando explode um ônibus, não leva fotógrafos. O que é fotografado são as reações, não as ações. As pessoas perguntam: por que Israel está bombardeando? Somos loucos? Acordamos um dia de manhã e começamos a bombardear? As razões não são mostradas.
O senhor culpa alguém por isso? A imprensa, por exemplo?
PERES: Ninguém. A única pessoa que posso culpar é a mim mesmo, se erro. Não sou um sacerdote.
Não sou o professor do mundo. Faço o máximo que um homem como eu pode: fazer de tudo para que sejamos leais a nós mesmos, aos nossos valores e virtudes. Israel não é uma empresa de relações públicas.
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