Ainda que se possa afirmar que o “lobby judaico” desempenhe papel influente no processo de tomada de decisões nos Estados Unidos, ele foi apenas um entre muitos fatores que contribuíram para a aproximação do país com Israel, entre 1957 e 1966. Outras forças, como a recomendação interna do corpo técnico permanente do governo, assim como fatores econômicos (a necessidade de estabilizar o Oriente Médio, por sua posição central na produção de petróleo) e a realidade da Guerra Fria também foram decisivos.
Primeiramente, em vista da crescente importância do Oriente Médio como produtor de petróleo, em substituição à recém-sovietizada Europa Oriental, os EUA precisavam garantir a estabilidade da região para extração e exportação da matéria prima. Enquanto alguns países – como o Egito e a Síria – se tornavam mais revisionistas em função das mudanças de poder ocorridas desde a década de 1950, havia uma crescente necessidade de construir e fortalecer um bloco de nações conservadoras, cujos governos fossem confiáveis. O Estado de Israel era visto como um entre esses países, junto com a Arábia Saudita, a Jordânia e o Irã.
Adicionalmente, havia a necessidade de limitar o desenvolvimento do programa nuclear israelense. Uma vez que o programa vinha sendo realizado com apoio do principal aliado israelense à época – a França - os EUA precisaram “comprar” seu lugar como parceiro militar de Israel para evitar uma corrida nuclear na região. Ainda que não tenha sido possível cancelar o programa nuclear israelense como um todo, as negociações acerca de seu desenvolvimento e de seu controle externo levaram a importantes acordos de venda de armas que aproximaram os dois países.
Tendo em vista a batalha entre os EUA e a União Soviética para ser o principal parceiro do Egito, Israel conseguiu usar seu programa nuclear como barganha. Esta política permitiu ao país ser considerado um aliado tão importante quanto o Egito, a maior e mais desenvolvida nação árabe à época, com dezenas de milhões de habitantes.
Outro aspecto importante era que, em contradição com as recomendações dos funcionários dos departamentos de Estado e Defesa cuja nomeação era política, o corpo permanente de analistas técnicos do governo americano recomendava ao presidente apoiar Israel. Não sendo dependentes de favores políticos e resultados eleitorais, estes funcionários públicos preocupavam-se menos em evitar incomodar os países árabes e estavam mais inclinados a apoiar Israel, um dos poucos Estados criados após a II Guerra Mundial que mantinham-se democráticos e apresentavam bons resultados econômicos. Os corpos técnicos do Departamento de Defesa e do Pentágono consideravam Israel um bom exemplo, merecedor de apoio.
Finalmente, o poder do “lobby judaico” não pode ser descartado. Ainda que a relação com os presidentes John F. Kennedy e Lyndon B. Johnson pudesse ser classificada apenas como morna, sempre haviam importantes deputados e senadores para levar a causa israelense ao centro das discussões e aprovar legislações que a apoiassem. E quando os dois presidentes democratas – pelos quais a esmagadora maioria do eleitorado judaico americano havia votado – enfrentavam a oposição popular à Guerra do Vietnã, apoiar Israel também era visto como uma forma de garantir simpatia entre sua base eleitoral.
Pode-se concluir, então, que o “lobby judaico” foi acompanhado por uma série de outros fatores em seus esforços para aproximar os Estados Unidos e Israel. Mas, muito além de seus votos e sua influência, o governo americano optou por fortalecer sua relação com o Estado de Israel também em função de suas prioridades de economia e política externa, até que se chegou ao ponto em que era possível afirmar que “há duas coisas intocáveis no Oriente Médio: petróleo e Israel”.
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Tradução da resposta à questão “É possível afirmar que o lobby judaico desempenhou papel central na aproximação entre os Estados Unidos e Israel entre os anos 1957-1966?”, em prova do curso Israel e os sistemas regional e internacional.
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